Cortar a Cabeça de Cangaceiro...O Por quê ! Por:Iaperi Araujo


Cortar cabeças, ou morte por degola ou a separação da cabeça do corpo é uma prática muito antiga. Ela tem um significado politico, ou seja, o da subjugação do vencido. Sob, o aspecto religioso cristão, a cabeça separada do corpo, não permitiria a ressurreição do morto. A bíblia fala do corte da cabeça de João Batista, a pedido de Salomé. Em Canudos, após a derrota de Conselheiro a degola, foi geral (triste página de nossa história...). Mesmo, após sua morte, foi procedida a exumação e o corte de sua cabeça.
Em 1926, quando da passagem da Coluna Prestes pelo nordeste, ocorreram casos de degola tanto feita pelos revoltosos, quanto pelos legalistas. No cangaço, esse procedimento teve uma ocorrência muito grande, sobretudo na 2ª fase do fenômeno, em que as cabeças eram apresentadas às autoridades, e, os matadores eram promovidos. A ordem era geral, ou seja, matar e trazer a cabeça. 

Cabeças de Serra Branca, Eleonora e Ameaça.
A separação da cabeça do resto do corpo, mutilando-o, fragmenta a ideia da imortalidade. No caso da degola procedida em Angico (morte de Lampião, Maria e mais 9 cangaceiros), por ocasião da degola de MARIA, após o corte da cabeça, alguns policiais informaram que colocaram o dedo no canal medular extraindo parte da massa cinzenta-encefálica.
O próprio Tenente João Bezerra informou que após as mortes de cangaceiros em Angico, as cabeças tiveram que ser cortadas, pois ficava impossível, trazer os corpos em face das dificuldades encontradas.

Professor Iaperi Araujo
Rio Grande do Norte

As Mulheres Cangaceiras Por:Kydelmir Dantas


Num levantamento de mais de 1000 títulos, a maioria no acervo pessoal, são poucas a Mulheres Cangaceiras que foram contempladas pelo ‘jornal do povo’: Os folhetos ou romances de cordéis. Logicamente, a mais ‘biografada foi Maria Bonita, em seguida Dadá e pronto... 

Afora Sila e Lídia, praticamente mais nenhuma teve ‘direito’ a uma biografia não autorizada. Este trabalho, apresenta os nomes de 86 Mulheres que, por qualquer motivo  (amor, aventura, ilusão ou rapto) ingressaram no cangaço a partir de 1930. Foi baseado nas fontes de pesquisas seguintes: 

AMANTES E GUERREIRAS - Geraldo Maia do Nascimento. Mossoró - RN, Coleção Mossoroense, 2016; CANGACEIROS. Élise Jasmin. Terceiro Nome, 2006. DADÁ. José Umberto Dias. Salvador - BA, 1989. DICIONÁRIO BIOGRÁFICO: CANGACEIROS & JAGUNÇOS. Renato Luis Bandeira. Salvador. 2ª ed. 2015; GUERREIROS DO SOL. Frederico Pernambucano de Mello. Recife, 1985; LAMPIÃO: AS MULHERES E O CANGAÇO – Antônio Amaury Correia de Araújo. São Paulo - SP, 1984; LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO: MENTIRAS E MISTÉRIOS DO ANGICO. Alcino Alves Costa. Aracaju – SE. 1999; MARIA BONITA: A TRAJETÓRIA GUERREIRA DA RAINHA DO CANGAÇO. João de Sousa Lima. Paulo Afonso – BA. 2005.

Kydelmir Dantas, autor.
Poeta e Escritor, Sócio da SBEC
Conselheiro Cariri Cangaço 

Turismo Rural:Casarão em Água Branca pode se transformar em Museu

Fazenda Cobra, em Água Branca

Os assentados que residem na Fazenda Cobra, em Água Branca, pedem ao Governo do Estado que transforme o o casarão do lendário coronel Ulisses Luna,  seja transformado em um museu rural para visitação pública. O Casarão tem mais de 150 anos e pertenceu ao colonizador do Sertão de Alagoas Ulisses Luna e atualmente está prestes a desabar necessitando de reparos para continuar de pé.

O imóvel teve seus moveis levados pela família do coronel Ulisses Luna e atualmente o local possui espaço para se implantar um projeto de turismo rural, já que possui área estacionamento nos jardins que ainda tem resquícios do período que o lendário coronel viveu com sua família. Uma pequena capela também existe no local com o túmulos da esposa e da filha do colonizador do Sertão. O velho casarão foi usado também para gravação e várias cenas da novela Velho Chico e filmes e no inicio do seculo 20 abrigou o industrial Delmiro da Cruz Gouveia, que havia fugido de Pernambuco com a filha do governador daquele estado.
O casarão do coronel Ulisses Luna era usado para reuniões políticas daquela região e também foi um dos redutos, que o cangaceiro Lampião nunca tentou tomar ou saquear, pois temia o velho líder político. O casarão, segundo Maria Aparecida Sandes, neta do coronel Ulisses Luna, era uma dos mais belos do Sertão de Alagoas.  Possuía um lindo jardim com muitas rosas e arvores. Ao lado uma capela erguida para as celebrações religiosas da família, principalmente no Natal, quando todos se reuniam. A Capela ainda resiste ao tempo junto com o casarão.
A estrada em frente ao Engenho Cobra era passagem obrigatória dos colonos da época, que tinham o costume de sempre reverenciar o velho líder político. Os homens tiravam o chapéu e as mulheres se inclinavam um pouco, em respeito ao “coroné”, que era o protetor de todos na região. Engenho produzia cana e havia também a criação de gado e cabras e ovelhas.


Coronel Ulisses Luna
Atualmente o antigo Engenho Cobra pertence aos assentados do Movimento Sem Terra. São doze famílias que foram beneficiadas com a propriedade do local que havia sido abandonada pela família do Coronel Ulisses Luna. O imóvel possuía um mobiliário raro do século 19 e inicio do século 20. Peças lindíssimas foram retiradas pela família e levadas, que segundo relatos dos moradores atuais, para o estado do Rio de Janeiro.
Atualmente o velho casarão se encontra em precárias condições, já que é de todo de sapé e possui um sobrado, que pesa sobre a estrutura, precisando urgentemente de reparos. Os lideres do MST, que são hoje os proprietários das terras, utilizavam até pouco tempo atrás, o casarão para o funcionamento de uma escola de crianças, mas diante do perigo de desabamento, as atividades foram suspensas. O local também foi utilizado nos últimos meses como cenário para gravação de cenas da telenovela Velho Chico, da Rede Globo.
Mozart Luna: Jornalista graduado pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduado em Gestão Estratégica de Empresas e Markenting pelo Cesmac/Maceió. Exerceu o cargo de coordenador de sucursais da Gazeta de Alagoas e O Jornal.Foi apresentador e diretor executivo do Programa Circuito Alagoas na TV Pajuçara (Record)e TV Alagoas (SBT) durante 11 anos.Atualmente é produtor de programas de televisão e apresentador dos programas de televisão Conheça Alagoas e Conexão Municípios da TV Mar, canal 25 da net. Editor da Coluna Integração da Gazeta de Alagoas,e repórter do Boletim Integração da Rádio Gazeta de Alagoas.
Fonte:http://meioambienteeturismo.blogsdagazetaweb.com/2016/12/06/assentados-cobram-recuperacao-de-casarao-para-se-transformar-em-museu-do-sertao/

Significado Histórico de Lampião e o Cangaço Por:Jadson Oliveira


Como entender hoje, numa realidade social marcada pelo capitalismo neoliberal e globalizado – em crise -, o fenômeno do cangaço que dominou vastas áreas do ainda feudal Nordeste brasileiro de quase 100 anos atrás? Esta questão deve estar rondando a cabeça de intelectuais baianos que vão discutir na manhã do próximo sábado, dia 26, em Salvador, o significado da ação dos cangaceiros, em particular do grupo mais famoso chefiado pelo temido “capitão” Virgulino Ferreira, o Lampião, conhecido como o Rei do Cangaço e considerado por uns como um reles bandido e por outros como o maior guerrilheiro das Américas.
O debate – no auditório 2 (Mastaba) da Faculdade de Arquitetura da UFBa (bairro da Federação), das 8:30 às 13:30 horas – será feito a partir do livro LAMPIÃO, A RAPOSA DAS CAATINGAS, cujo autor, o sergipano residente na capital baiana José Bezerra Lima Irmão, fará a exposição inicial. 

Trata-se dum “alentado livro que deveria ser do conhecimento do público em geral, pelo que traz, nas suas 740 páginas de pesquisa séria, metódica e permeada de ilações de um seguro teor teórico e senso crítico, a par de um estilo literário simples, escorreito e sem as afetações dos escritos acadêmicos, que muito  proveito decerto traria para leitores de todas as idades, etnias e credos políticos e religiosos”.

José Bezerra Lima Irmão e João de Sousa Lima no Cariri Cangaço Piranhas

Tal avaliação é do professor Edmilson Carvalho, que compõe, junto com Jorge Oliver, a Comissão de Organização do evento. Ele diz ainda que o encontro do sábado é uma grande oportunidade “para um velho sonho, sonhado por quantos se dedicam à pesquisa historiográfica do tema do cangaço, por uma ótica renovada, a saber, inserida num contexto de uma sociedade em crise, na qual os mais diversos segmentos da sociedade jogam suas propostas sobre a mesa para o debate”.

Devem participar da discussão reconhecidos representantes da intelectualidade baiana, alguns deles com vasta bagagem em pesquisas e obras relacionadas com o assunto – e correlatas como é o caso da Guerra de Canudos. Dentre eles, Valdélio Silva, Sérgio Guerra, Oleone Coelho Fontes e José Guilherme da Cunha.

Ao apresentar seu livro no blog raposadascaatingas.blogspot.com.br , o autor diz, em texto datado de abril de 2014, que ele é fruto de 11 anos de pesquisas e mais de 30 viagens por sete estados do Nordeste. Explica que “analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda”.

E arremata: “Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase 20 anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete estados”. 

Faz 78 anos que Lampião (teria então 40 anos de idade), sua mulher de apelido Maria Bonita e componentes do seu bando foram mortos. Embora haja controvérsias, a história oficial registra que foram vítimas duma emboscada comandada pelo tenente João Bezerra, da polícia de Alagoas, no local denominado Angicos,  sertão de Sergipe, ao amanhecer do dia 28 de julho de 1938.

Jadson Oliveira é jornalista
http://midialampiao.com.br/2016/11/23/intelectuais-baianos-aprofundam-significado-historico-de-lampiao-e-o-cangaco/

Revivendo a Intrigante Maranduba Por:Manoel Severo

Juliana Pereira e Alcino Costa e a Caravana Cariri Cangaço na Maranduba

Na semana passada, dia 26 de novembro, revivemos a grande batalha da Serra Grande, em seus 90 anos de história, sem dúvidas um marco dentro da historiografia cangaceira. Dentre outros registros tivemos a expedição dos confrades Louro Teles e Marcelo Alves, artigo postado neste mesmo blog. Quando falamos em Serra Grande, nos remetemos invariavelmente a outros dois combates célebres: Serrote Preto e Maranduba, que formam o mais famoso triunvirato  dos confrontos entre o rei vesgo, Lampião e as forças volantes...

Permitam nos transportar para as terras áridas da acolhedora Poço Redondo em Sergipe; berço do querido e inesquecível Alcino Alves Costa, patrono do Conselho Consultivo do Cariri Cangaço; ali, quando ainda era Porto da Folha, está localizada a Fazenda Maranduba, onde em janeiro de 1932 teríamos o emblemático "combate da Maranduba". "Nunca vi tanta bala como em Maranduba..." confessa Manoel Neto, o "Mané Fumaça" Nazareno...

Estive em Maranduba por quatro vezes; 2009 e 2010 ao lado de Alcino Alves Costa e ainda no carnaval de 2012 em Caravana Cariri Cangaço, ao lado do mesmo Alcino, Juliana Pereira, João de Sousa Lima, Aderbal Nogueira, Múcio Procópio, Lívio Ferraz, Afrânio Gomes e Luiz Camelo, depois mais recentemente em grande visita com mais de 150 pesquisadores durante o Cariri Cangaço Piranhas 2015, tendo a frente Archimedes e Elane Marques.

 Fazenda Maranduba e os Umbuzeiros históricos...
 Manoel Severo e a Cruz dos Nazarenos... 

A literatura do cangaço, a partir de pesquisas dedicados e criteriosas de vários escritores, vaqueiros da historia , como também depoimentos de remanescentes do fenomenal "fogo da Maranduba" nos trazem um cenário e um desfecho extremamente surpreendentes. As circunstancias tanto anteriores, como o próprio fogo e suas consequências nos colocam mais uma vez diante de um dos mitos do cangaço: A genialidade de Virgulino Ferreira da Silva

Maranduba ficou célebre na historia do cangaço e na memória de quem viveu o episódio, vamos recorrer a relatos de contemporâneos dos acontecimentos “uma coisa que foi muito comentada e com curiosidade, foi que no local em que aconteceu o fogo de Maranduba, durante vários anos, das árvores e dos matos rasteiros não ficaram folhas. Tudo era preto, como se tivesse passado um grande fogo. As árvores ficaram completamente descascadas de cima abaixo, de balas”, verdadeiramente um cenário de guerra...
 Escombros da antiga casa da Fazenda Maranduba
 Aderbal Nogueira, Lívio Ferraz, Afrânio Gomes e Mucio Procópio na 
Caravana Cariri Cangaço na Maranduba. 

Como em Serra Grande, o que poderia ter sido determinante para a fragorosa derrota das forças volantes em Maranduba ? Mesmo de maneira empírica, ficamos por várias horas olhando aquela imensidão de caatinga, relva rala, vegetação rasteira e mesmo compreendendo as mudanças que o tempo invariavelmente impôs ao lugar, parecia que era realmente uma loucura a investida do grupo militar em circunstancia tão adversa de terreno e localização. Será que mesmo depois de tanto tempo perseguido e combatendo Lampião, homens experimentados como Manoel Neto, Liberato de Carvalho, Zé Rufino dentre outros valorosos volantes, haveriam de mais uma vez menosprezar a capacidade estratégica de combate do rei dos cangaceiros ?

Pouco tempo antes havíamos tido o episódio das "ferrações" na vizinha Canindé do São Francisco, tendo como personagem principal Zé Baiano. Será que a perversidade do selvagem ato dos cangaceiros unido ao cansaço de longa perseguição ao bando acabou de alguma forma interferido na lucidez e zelo dos comandantes das tropas diante da eminente possibilidade de "pegar" Lampião ? Novamente o fator numérico se fez de rogado e a superioridade numérica dos soldados não se mostrou eficaz...

Manoel Neto

Muito se fala do espetacular senso estratégico de Virgulino, sua sagacidade em combate e sua lucidez que acabam se confirmando novamente em Maranduba. O confronto se deu lá pelo meio dia e se prolongou até o final da tarde. Relatos indicam que o bando estava se preparando para comer distribuídos entre os sete famosos umbuzeiros e as pias; depressões naturais nas rochas; fonte preciosa de água . Até que ponto e em que momento crucial Lampião identificou a aproximação das volantes e que tempo teve para "arquitetar" a ação de seus homens ? Em nossas visitas ficávamos a imaginar como poderia ter se dado...

Mané Neto comandava seus homens, dentre esses; inúmeros Nazarenos, já cansados da longa jornada desde Jatobá e estavam na vanguarda do combate. Em seguida se aproximavam os baianos de Liberato de Carvalho, dentre esses, Zé Rufino, que estavam na Malhada da Caiçara quando souberam do acontecido em Canindé ... As tropas desesperadas no encalço de Lampião acabariam envolvidas pelo gênio beligerante de Virgulino que acabou deixando os soldados sob várias linhas de tiro e que durante cerca de cinco horas haveriam de decretar mais uma vexatória derrota das volantes.

Ex-Cangaceiro Ângelo Roque

Vamos nos remeter ao depoimento de Labareda; cangaceiro Ângelo Roque que participou nesta batalha, prestado a Estácio Lima e publicado no livro O Mundo Estranho dos Cangaceiros, descreve o que aconteceu, neste dia, no seu linguajar típico: “... Nóis cheguêmo na caatinga de Maranduba, pru vorta di maio dia, i tratemo di discansá i fazê fogo prôs dicumê, i nóis armoçá. Mas a gente num si descôidava um tico, i nóis sabia qui as volante andava pirigosa. Inquanto nóis discansava, botemo imboscada forte, di déiz cabra pra atacá us macaco qui si proximasse. Nóis cunhicia us terreno daqueles mundão, parmo a parmo. Us macaco num sabia tanto cuma nóis. Todos buraco, pedreguio, levação, pé di pau, pru perto, nóis sabia di ôio-fechado, i pudia tirá di pontaria sem sê vistado. Nisso, vem cheganou’a das maió macacada qui tivemos di infrentá. I us cumandante todo di dispusição prá daná: Manué Neto, qui us cangacêro tamém chamava Mané Fumaça, Odilon, Euclides, Arconso e Afonso Frô. Tamém um Noguêra. Nesse bucadão di macaco tava u Capitão ou Tenente Liberato, du izérto. Dizia us povo qui ele era duro di ruê. I era mesmo. Brigava cuma gente grande, i marvado cumo minino. Mas porém, valente cumo u capêta. Di nada sirvia a gente gostá i tratá com côidado um mano qui êle tinha na Serra Nêga. Essa Força toda dus macaco si pegô mais nóis na Maranduba. Nóis era trinta e dois cabra bom. U Capitão Virgulino tinha di junto, nessa brigada, us principá cangacêro: Virgino, Izequié, Zé Baiano, Luiz Pêdo, i seu criado Labareda. Dus maiorá só fartava mesmo Curisco sempre gostô di trabaiá sozinho, num grupo isculido dicangacêro, mais Dadá. Briguemo na Maranduba a tarde toda i nóis cum as vantage cumpreta das pusição, apôis us macaco num pudia vê nóis. A volante di Nazaré deve tê murrido quaji toda. Caiu, tamém, matado di ua vêis, um dus Frô, qui si bem mi alembro, foi u Afonso. Cumpade Lampião chegô pra di junto do finado i abriu di faca a capanga dêle, i achô um papé qui tinha iscrito um decreto dizeno qu ele já tinha dado vinte i quatro combate cum u cumpade Lampião. Veio morrê nu vinte i cinco. A valia qui tivemo nessa brigada foi us iscundirijo. Morrero, aí, trêiz cangacêro i trêiz ficô baliado. Us istrago qui fizemo nessa brigada foi danado ! Matemo macaco di horrô !”

Alcino Alves  Costa e Manoel Severo, retornando da Maranduba ainda em 2009.

O olhar sereno e perdido do mestre Alcino Alves Costa, parecia vislumbrar as nuances e detalhes da batalha, a qualquer momento poderíamos ouvir os estampidos do emblemático confronto. E o Caipira de Poço Redondo confessa: "Severo, esse Virgulino era mesmo genial !" E humildemente precisei me render ao velho amigo.

Hoje Maranduba mantem os velhos umbuzeiros, testemunhas mudas da grande batalha, do horror e da genialidade do rei Lampião, ali ainda podemos ver a "Cruz dos Nazarenos", onde foram sepultados 4 homens de Nazaré: Hercílio de Souza Nogueira e seu irmão Adalgiso de Souza Nogueira (primos dos irmãos Flor), João Cavalcanti de Albuquerque (tio de Neco Gregório) e Antônio Benedito da Silva (irmão por parte de mãe de Lulu Nogueira, filho de Odilon Flor).

Alguns Flagrantes do Cariri Cangaço Piranhas 2015 em visita a Maranduba

Vendo de perto a lendária Maranduba, sua geografia, vegetação, pisando aquele chão, vendo in loco como as tropas da policia se posicionaram e se aproximaram, o recuo estratégico dos cangaceiros;  o cerco, a emboscada, só assim, vamos entender o quanto foi surpreendente o desempenho e a resistência dos 32 homens de Virgulino contra as forças de baianos e pernambucanos de Manoel Neto e Liberato de Carvalho. Realmente a intrigante Maranduba ficou para a história...

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço