Lampião no Município de Aurora Parte 2 Por: Amarílio Gonçalves Tavares

Arte de Aldemir Martins

"Fugindo de Mossoró e tendo no encalço as forças volantes do Rio Grande do Norte e Paraíba, totalizando mais de 200 homens, Lampião descamba para a região do Cariri cearense, rumo a Aurora, para o refúgio de Izaias Arruda...Chegando ao lugar Ribeiro..."

A tropa que teve encontro com os bandoleiros foi a do tenente Arruda, em piquetada no sítio Ribeiro, onde aconteceu um fato tão misterioso, quanto engraçado. Não obstante o lugar se achar “ bem guarnecido “, ao clarear a barra , “ O Grupo de Bandoleiros, sem sofrer o menor revés, passou entre as trincheiras, nas quais os soldados dormiam, para só despertarem depois, com cerrada fuzilaria, quando os bandidos não estavam mais ao alcance da pontaria da polícia” O Grupo ocultou-se no vale do Bordão de velho.

Do local onde estava, lampião enviou dois cabras ‘a casa de João Cabral, morador ali perto, convidando-o a vir a sua presença. João Cabral atendeu e Lampião disse-lhe estar com fome e sede, pedindo alimento e água para o grupo, no qual foi atendido. Marchando pelo pé da Serra da Várzea Grande, Lampião chega a fazenda Malhada Funda, onde faz alto, sendo recebido por Gregório Gonçalves, que, após saber com quem estava falando, perguntou a Lampião em eu podia servi-lo.


Amarílio Gonçalves Tavares

Este respondeu “ só quero comida para minha rapaziada. Gregório Mandou matar o boi que estava no curral, e duas ou três ovelhas. Os cangaceiros estavam com tanta fome, que não esperaram. Comendo as carnes sapecadas. Os quartos de Ovelha, eles colocaram nos bornais sobressalentes, junto com farinha e rapadura. Ao retirar-se, Lampião levou João Teófilo como guia. Este saiu montado num burro que o bandoleiro havia tomado de um cidadão que estava comprando rapaduras. O Bando saiu na direção sudeste do município. Lá muito adiante, o guia foi substituído por outro de nome David Silva, tendo Lampião recomendado a João Teófilo pra só voltar quando escurecesse, e que não fosse pelo mesmo caminho.

Continuamos a narrativa, baseada no livro do Major: “Em sua marcha, Lampião procurou a Serra do Coxá, na divisa do município de Aurora com o de Milagres, burlando a vigilância dos policiais, de tal modo que estes se afastavam do ponto em que estavam os bandidos, tomando o rumo de Boa Esperança, serrote do Cachimbo, Riacho dos Cavalos, Ingazeiras e Milagres. Como se Vê, Lampião era um perito em estratégia Militar. Uma de suas táticas consistia em ludibriar a polícia que andava no seu encalço, como fez, quando procurou a Serra do Coxá. Deste modo, tornou-se inócua a providência do Major Moisés, designando o tenente Caminha para colocar piquetes nas estradas, uma vez que, por estas, não passarias o grupo de bandidos.


Enquanto Lampião ficava escondido na Serra do Coxá, O tenente Manoel Firmo seguia para o lado oposto, isto é com a sua tropa, passava de trem por Aurora, em demanda ao cariri, sem dar satisfações ao seu chefe, major Moisés, que naqueles dias se encontrava em nossa cidade, em tratamento de saúde. Com o tenente Manoel Firmo, viajavam os tenentes Luis Leite, Laurentino, Moura Germano, em passeio a Juazeiro e Crato, totalmente despreocupados com os bandidos. Para piorar a situação do “comandante das tropas“ em operações”, chegavam em Aurora o contingente comandado pelo tenente Agripino de Lima, que conduzia trinta e quatro animais de montaria, tomados a fazendeiros de Icó, Pereiro e Jaguaribe.

Virgulino Lampião

Quando o Major pensava que o oficial vinha em seu auxilio, o tenente Agripino comunicava-lhe que resolvera abandonar a campanha e voltar pra o Rio Grande do Norte. Diante disso, o Major Moisés apreendeu os referidos animais, entregando ao sr. Vicente Leite de Macedo, com a recomendação de devolvê-los aos respectivos donos. Além dos animais tomados a sertanejos, o Major Moisés constatou irregularidades na tropa do tenente Agripino, como a venda de munição feita por praças e muitas destas se entregando ‘a embriaguez. A Atitude do tenente Manoel Firmo, viajando para juazeiro e Crato, arrastando o grosso da tropa e quatro tenentes, deixou o comandante Moisés “num mato sem cachorro“ . O Major viu-se na contingência de pedir ajuda – imagine o leitor a quem _ Ao coronel Isaias Arruda, o mesmo que, tempos atrás, havia acoitado Lampião,mas que, agora, dava uma de perseguidor do bandoleiro, pondo oitenta e sete cabras á disposição do major Moises.

Se no combate travado com os bandidos, na serra da Macambira, havia cerca de 400 praças, como se explica ter o major Moisés levado para Ipueiras apenas 15 soldados. Descoberto o paradeiro de Lampião no alto da serra do Coxá, destacaram-se elementos de confiança para, aproximando-se do grupo, conhecerem melhor a sua posição, dentre eles Miguel Saraiva, tio de um dos bandoleiros e morador nas proximidades. Foi então que o Major Moisés e Isaías Arruda conceberam um estratagema, que consistia em preparar um almoço para Lampião e seus cabras, na casa de José Cardoso, em Ipueiras, e juntos, abaterem o bandido, e juntos, abaterem o bandido nas hora conveniente.

Miguel Saraiva se faz acompanhar de oito homens que se apresentam a Lampião, fingindo que são perseguidos pela polícia, e para melhor comover o chefe do bandoleiros, lamentam e choram a sua desgraça, tentando com isso, infiltrar-se no bando. “Alguns bandoleiros aceitaram a presença de novos companheiros, mas Lampião logo faz sentir que não acolhia em seu grupo pessoas que lhe fossem estranhas” os oito homens de Miguel Saraiva tinham recebido instruções para atacar os bandido na hora em que o grupo “ descansasse” a armas para almoçar.
Simultaneamente, os soldados e jagunços puseram-se discretamente em volta de casa, prontos para fechar o cerco aos bandidos, no momento oportuno. Mas o ardil fracassou, porque Lampião, sagaz, arisco e desconfiado, chegou e rejeitou o almoço oferecido por Miguel Saraiva. E colocou sua gente em pontos diversos e estratégicos.Eis como o major Moisés descreveu o tiroteio:


Izaias Arruda

“ Conhecido o fracasso do estratagema, fomos impelidos a atacar os bandidos, com ímpeto, de sorte que, em pouco tempo, estavam debaixo de cerrada fuzilaria. A luta teve início pouco mais ou menos ‘as 12 horas do dia 7 de julho, tendo uma duração de mais de três horas, terminou infelizmente, porque os bandido caíram em fuga, e no campo deixaram dois mortos, um queimado, que recebeu vários ferimentos, e outro também morto na ocasião em que fugia”. Essa foi a história narrada pelo major Moisés no citado livro. Entretanto, existe outra versão para o episódio segundo nos contaram Róseo Ferreira e Vicente Ricante que , na época, moravam nas proximidades da fazenda Ipueiras, a coisa aconteceu assim.

O Major Moisés Leite e o Coronel Isaías Arruda combinaram um plano de acabar com Lampião, assim que este chegasse em Ipueiras, pois sabiam que o grupo vinha desmuniciado e bastante desfalcado, em conseqüência da derrota sofrida em Mossoró e das deserções que se seguiram ao frustrado ataque aquela cidade norte riograndense. Lampião ficara na manga com a cabroeira. Convidado pra almoçar na casa de José Cardoso, na citada fazenda Ipueiras, o Rei do Cangaço compareceu com alguns dos seus rapazes. Quando Miguel Saraiva chegou e pôs sobre a mesa o alguidar contendo o almoço envenenado, Lampião tirou do bornal um colher de latão e meteu-a na comida. Quando puxou a colher, o bandido notou mudança de cor e deu alarme.
“ninguém come desta comida. Esta comida está envenenada! Nisso, Lampião e seus cabras conseguem romper o cerco de um cordão de jagunços e soldados a paisana que se formara em volta da casa, e correm pra a manga onde ficara a maior parte da cabroeira, sendo atacados pelo cabras de Isaías e soldados do major Moisés.


Arte de Aldemir Martins

Ao mesmo tempo em que estrugiu a fuzilaria, os atacantes lançaram fogo na manga, por todos os lados do local em que estavam os cangaceiros. Lampião investiu várias vezes contra os atacantes, conseguindo, por fim, escapar por um corredor. Lampião perdeu dois cangaceiros, um queimado e ferido por ocasião do ataque. O Outro, com ferimento no ouvido, ficou em Ipueiras, em tratamento, mas os coiteiros acabaram de mata-lo, tocando fogo no cadáver... Ao escapar do cerco de Ipueiras, lampião tomou o rumo da serra do Góes, perto de São Pedro do Cariri, atual Caririaçu. Veja o leitor o Zig- zag feito por Lampião para confundir a polícia. No dia 7 de julho, saiu de Ipueiras, desceu pelo riacho do Pau Branco, atravessou o rio Salgado no lugar Barro Vermelho, passou pelos sítios Jatobá e Brandão, fazendo “ alto “ em Vazantes.

Na serra dos quintos, fez um refém – o Sitiante Joaquim de Lira – para ensinar o caminho para a serra do Góes, onde chegou, no início da noite. Na manhã do dia 9, Lampião deixou a serra do do Góes e rumou para o município de Milagres, atravessando a via ferrea no lugar Morro Dourado. O Major Moisés havia mandado tomar as ladeiras da Serra do Mãozinha e São Felipe, por onde poderia passar o bandoleiro. Mas Lampião, mais uma vez, conseguiu burlar a força policial e penetrou no estado da Paraíba, pela serra de Santa Inês, no rumo de Conceição do Piancó, de onde prosseguiu em fuga para Pernanbuco.

Amarílio Gonçalves Tavares
TEXTO RETIRADO NA INTEGRA DO LIVRO AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE, 
AMARÍLIO GONÇALVES TAVARES P. DE 138 A 146 IOCE, 1993 - CAPÍTULO 15
(Cortesia do Envio: Luiz Domingos de Luna)
FONTE:http://www.icoenoticia.com/2009/05/lampiao-no-municipio-de-aurora.html

Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture Por:Socorro Cavalcanti

Francisco Clementino, presidente da ACE


Em março de 2014, ao ser empossada em Paris como Embaixadora da Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture, aceitei o desafio de trazer à Fortaleza a Presidente dessa Academia – Diva Pavesi, para: com o apoio das Academias de Letras, filiar 30 cearenses e norte-rio-grandenses como membros de Honra dessa Academia e organizar uma coletânea bilíngüe (Português e Francês), para ser lançada no 35º Salão do Livro de Paris, em março de 2015. 

Coordenei esse Projeto e com a adesão da ACE e o respaldo de 12 Academias do Ceará e 03 de Mossoró e Natal-RN (Museu do Sertão, SBEC e Instituto Câmara Cascudo), realizamos esse sonho, a Presidente Diva Pavesi veio à Fortaleza e no dia 13.12.2014 empossou 31 Membros de Honra, outorgou altas insígnias à personalidades governamentais, militares e eclesiástica (Bispo Diocesano, Governador, vice-governadora eleita, Comandante da Policia Militar do Ceará e os presidentes das Academias de Letras do Ceará e de Caucaia), através de uma linda solenidade, tida como extraordinária - singular, nunca vista no nordeste brasileiro. 

Socorro Cavalcanti apresenta a Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture

Para completar esse sonho, em março de 2015, será lançada no Salão do Livro de Paris, a Coletânea bilíngue CEARÁ EM CENA, composta de 32 escritores e poetas do Ceará e do Rio Grande do Norte. Com vistas a esse lançamento em Paris, na cidade da Luz, 22 pessoas já estão com passagens compradas e hotel reservado.

Para tanto, de mãos dadas, fizemos o máximo e esperamos que os erros cometidos, involuntariamente, sejam perdoados e por nós da equipe do Projeto Cultural França Brasil sejam encarados com humildade e consciência, para melhorarmos os próximos eventos!


Socorro Cavalcanti
Fortaleza, Ceara

A Lendária Fazenda Abóboras Parte 2 Por: Rostand Medeiros

Rostand Medeiros ao lado de Ivanildo Silveira, João de Sousa, Lívio Ferraz, Kiko Monteiro e Paulo Gastão; no Cariri Cangaço em Crato

Outros Episódios do Ciclo do Cangaço na Fazenda Abóbora...

Pelos muitos autores que se debruçaram sobre o tema cangaço e pelos relatos da região está mais que provado a franca convivência entre os membros da família Diniz e os cangaceiros no seu verdadeiro feudo na Abóbora. Mas no meio desta história, onde estava o aparato de segurança do estado? Segundo informações colhidas pelo autor deste artigo, que esteve na região em várias ocasiões, a polícia frequentava a Fazenda Abóbora, mas o poder dos Diniz era tal, que os homens da lei tinham que avisar com antecedência que iriam lá.

Daí, no caso de cangaceiros estarem acoitados na grande gleba, estes eram informados por Marçal, Marcolino ou alguém de confiança, e seguiam tranquilamente para coitos nas Serras Comprida, da Pintada, ou da Bernarda, ou nas propriedades denominadas Xiquexique, Pau Branco, Areias do pelo Sinal e outras. Essa verdadeira promiscuidade praticamente só vai ter um fim diante da extrema repercussão do ataque dos cangaceiros a cidade de Sousa, na Paraíba. Ocorrido na noite de 27 de julho de 1924, o fato logo ganha destaque nas páginas de vários jornais e assusta as autoridades nas capitais da Paraíba e de Pernambuco. Em pouco tempo os líderes sertanejos são instados a negarem a proteção dada aos bandos de cangaceiros. [8]

Theophanes Ferraz Torres

Tanto assim que três dias após o assalto a Sousa, ao meio dia, uma força volante sob o comando do major Theophanes Ferraz Torres, trava um combate contra um grupo de cangaceiros comandados por Sabino, que foge sem dar prosseguimento à luta. Certamente Sabino tentava chegar ao seu conhecido “lar” e teve esta desagradável surpresa. [9] Ao longo do mês de agosto de 1924 vários combates serão travados na região. Tiroteios nos lugares Areias do Pelo Sinal, Serra do Pau Ferrado, Tataíra e outros vão marcar a história de luta contra os cangaceiros. Não havia propriedade que não pudesse ser adentrada e varejada pela polícia. Mas não seria o fim da presença de cangaceiros no local.

"Diário de Pernambuco", 4 de agosto de 1926

Em uma pequena nota existente na página quatro do jornal “Diário de Pernambuco”, edição de quarta feira, 4 de agosto de 1926,  encontramos a informação que por volta das três horas da tarde do dia 30 de julho, na área da Fazenda Abóbora, foram mortos pela polícia pernambucana e paisanos, depois de demorado tiroteio, os cangaceiros Juriti e Vicente da Penha. Juriti era erroneamente apontado pelo jornal como sendo o comandante de um ataque ocorrido no dia 7 daquele mesmo mês, a uma casa comercial em Triunfo. No caso o comandante da ação foi Sabino.

O “Coito” do Coronel José Pereira...

Com o declínio da ação de cangaceiros na região de Triunfo, discretamente a Fazenda Abóbora deixa de ser local de combates, mas não deixaria de servir como um ótimo esconderijo. Em 1930, eclodiu um grave conflito armado na vizinha Paraíba, mais precisamente no município de Princesa. Entre as origens deste sério problema, estavam as divergências entre o governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, e os coronéis monopolizadores da economia e política do interior do estado.

João Pessoa discordava da forma como este grupo político, que o elegera, conduzia a política paraibana. Entre estes poderosos era valorizado o grande latifúndio de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo de algodão e na pecuária. Estes fazendeiros, como vimos no exemplo de Marçal Diniz, atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupos de jagunços armados, da conivência com cangaceiros e outras ações as quais o novo governo não concordava.

Um dos pontos mais fortes da discórdia era cobrança de taxas de exportação do algodão. Os ditos coronéis paraibanos exportavam a produção desta malvácia pelo porto do Recife, causando perdas tributárias para o estado da Paraíba. O governador estabelece diversos postos de fiscalização nas fronteiras do Estado. Por esse motivo os coronéis do interior passaram a apelidar João Pessoa de “João Cancela”.

José Pereira

O fazendeiro e líder político José Pereira Lima, mais conhecido como “Coronel Zé Pereira”, da cidade de Princesa, era o mais poderoso entre todas as lideranças do latifúndio na sua região. Para muitos ele é descrito como verdadeiro imperador do oeste da Paraíba, na área da fronteira com o estado de Pernambuco. Zé Pereira contava com o apoio dos governadores de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, respectivamente Estácio de Albuquerque Coimbra e Juvenal Lamartine de Faria. Diante do impasse com o governador João Pessoa, Pereira declarou Princesa “Território Livre”, separando-o do estado da Paraíba, tornando-o absolutamente autônomo.

A reação do governo estadual foi pesada e uma verdadeira guerra começou. Princesa se tornou uma fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao governador João Pessoa. O exército particular do Coronel José Pereira era estimado em mais de 1.800 combatentes, onde diversos lutadores eram egressos das hostes do cangaço e muitos eram desertores da própria polícia paraibana.

Combatentes da Guerra de Princesa-Fonte - http:rotamogiana.blogspot.com

A força do governador João Pessoa possuia cerca de 890 homens, organizados em colunas volantes. Essas colunas eram chefiadas pelo coronel comandante da Polícia Militar da Paraíba, Elísio Sobreira, pelo Delegado Geral do Estado, o Dr. Severino Procópio e José Américo de Almeida (Secretário de Interior e Justiça). Marçal Florentino Diniz e Marcolino, ligados por parentesco com José Pereira, se juntam a luta na região. Houve muitos episódios sangrentos na conhecida Guerra ou Sedição de Princesa.

João Pessoa assassinado. Estopim da Revolução de 30

Após a morte do governador João Pessoa, ocorrida em Recife, houve a consequente eclosão da Revolução de 30 e o conflito em Princesa acabou. Durante os quatro meses e vinte e oito dias que durou sua resistência, Princesa não foi conquistada pela polícia paraibana. Após a eclosão da Revolução, as tropas do Exército Brasileiro, de forma tranquila, ocuparam a cidade.Para muitos pesquisadores José Pereira Lima organizou de tal maneira a defesa dos seus domínios, que provocou baixas estrondosas à força pública paraibana.Diante da derrota, José Pereira e muitos dos que lutaram com ele fugiram da região. A família Diniz se retraiu diante do novo sistema governamental imposto e a fortuna de Marçal e Marcolino ficou seriamente comprometida.

O tempo dos caudilhos do sertão estava chegando ao fim, pelo menos naquele formato utilizado por Marçal Diniz e José Pereira. José Pereira deixa Princesa no dia 5 de outubro de 1930 e fica escondido em propriedades de pessoas amigas, em diversas localidades existentes em outros estados. Segundo o Sr. Antônio Antas, depois de percorrer vários locais, segundo lhe informou o próprio Marcolino Diniz, José Pereira passou muito tempo escondido na Fazenda Abóbora, até que em 1934 o novo regime lhe concedeu anistia e ele decidiu permanecer em território pernambucano.

Antônio Antas, conviveu quando jovem com Marcolino Diniz, seu parente. Um grande amigo e memória viva da história de sua região

Mas segundo o Sr. Antônio Antas, a situação na Fazenda Abóbora não foi fácil. Um ano depois da anistia, por ordens de Agamenon Magalhães, então Interventor Federal em Pernambuco, a polícia estadual cerca a Fazenda Abóbora. José Pereira escapa, volta a Princesa e recebe garantias dos líderes estaduais paraibanos.

Rostand Medeiros, pesquisador e escritor
Fonte:tokdehistoria.com

[8] Sobre o ataque a Sousa ver o livro “Vingança, Não”, de Francisco Pereira Nóbrega.
[9] Sobre este combate ver “Pernambuco no tempo do Cangaço – Theophanes Ferraz Torres, um bravo militar (2 volumes)”, de Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho, págs. 379 e 380.

As Excentricidades do Banditismo Por: Donatello Grieco

Ranulfo Prata e o seu Livro sobre Lampião...

Ainda outro dia um jornalista francês falou da “decadência do documentário”. Apontava exemplos significativos: os livros de “choses-vues”, de reportagens sensacionais, de viagens pelo Tibete, arrancadas pelo Saara, “visões da China”, “espelhos do Alasca”, “infernos dos vivos”, etc. etc., eram todos, muitas vezes, frutos de imaginação excitada. Nem sempre os “fatos descritos correspondiam à mínima partícula da realidade, ou os “gestos” exaltados apresentavam dez por cento de caracteres de autenticidade de fácil comprovação. Assim, o foliculário gaulês decretava a morte do documentário.

Sem querer incidir no vício brasileiro de achar que no Brasil tudo é assombroso, formidável, gigantesco, eu chamaria a atenção de tal jornalista, e de todos os descrentes nas obras de honestidade de documentação, para o volume que o senhor Ranulfo Prata acaba de publicar sobre Lampião. O assunto é velho. Como antiga é a fama do bandoleiro, e antiga a descrença dos nordestinos em qualquer possível medida para o extermínio do mal.

Ainda, há meses, em Propriá, cidadezinha perdida às margens de um São Francisco muito minguado (uma desilusão, o São Francisco!), um caboclo narrava à assistência extasiada, de jornalistas do Sul, “fatos” e “gestos” de Lampião. Mas com uma perfeição de detalhes que tornava todos os aspectos da narrativa ainda mais saborosos. Perguntei-lhe então como conseguira tanta minúcia interessante a respeito. E ele:


Lampião em foto de 1926

- Ora, todo mundo sabe. Nós todos somos repórteres “formados” em Lampião. Pois ele não anda por aí, soltinho?...

Nos primeiros tempos, o caboclo encarou o banditismo como uma praga. Depois, o espírito brasileiro dos filhos do Norte foi se acostumando com o flagelo; a praga, já que apresentava caracteres de eternidade, devia ser encarada de outro modo. Por exemplo, como a seca. A seca é uma praga, contra a qual não há remédio. O banditismo será também encarado como a seca. Essa a filosofia do caboclo.

Já o senhor Ranulfo Prata, que passou pelos bancos dos cursos secundários e de uma escola de medicina, não tem (nem podia ter) essa opinião resignada, apalermada, admirativa, mesmo, do flagelado diante do flagelo. Ele chega por vezes mesmo a ter palavras violentas. Os vocábulos “chaga” e “vergonha” aparecem a cada passo. Terá o senhor Ranulfo vantagem com isso?

Em qualquer país, um livro como “Lampião” causaria crises ministeriais e quedas de gabinetes. No Brasil, quando muito, arrancará gritos de indignação dos burgueses e fará com que se levantem os punhos rotos dos revoltados. Uns gritarão: “É uma miséria!” E outros: “São os defeitos do regime!” Mas aqueles que deveriam gritar, não gritam. Esses preferem o assento cômodo das poltronas de sua burocracia deleitosa, o retrato nos jornais, a palavra pelos microfones. Que fazer contra um inimigo tão incômodo? E depois, fica tão longe! E onde arranjar a verba para combater o facínora?



Mas o livro do senhor Ranulfo ficará como documento. Nesse sentido, ele é admirável. Tem trechos que reunidos dariam ótimas monografias sobre as “Excentricidades do Banditismo” ou sobre a “Despreocupação virgiliana dos governos”. Mas está tudo isso no livro, e repetir os fatos seria estragar o gosto da leitura dos que abrirem o “Lampião”.

Aqui fica o registro, e o protesto diante do jornalista que falou na “decadência do documentário”. Se o português não fosse uma língua tumular, o tal francês, diante de casos como o do morticínio do sítio Almacega, da sangueira da vila Queimadas ou da matança de Aquidabã, seria forçado a acreditar que estava mesmo diante da “verdade”, e que nenhuma imaginação, nem mesmo a imaginação tropical, que pudesse ser um dos dotes do senhor Ranulfo Prata, poderia compor tantos detalhes sangrentos em tão poucas linhas.

Porque o senhor Ranulfo não fala só no passado, nem só no presente. Também faz profecias. As suas linhas sobre a passagem triunfal de Lampião pela avenida Rio Branco da Capital Federal são (com licença do objetivo) gostosíssimas.

E – quem nos afirma ao contrário? – com todas as probabilidades de realização em um futuro que seria falta de patriotismo avaliar muito distante.

DONATELLO GRIECO
Extraído da “Folha da Manhã”, de São Paulo, 
de 28 de janeiro de 1934.
Cortesia da Postagem e Fotos: Antonio Correa Sobrinho

Abrahão e Virgulino em Baile Perfumado Por:Manoel Severo

Luiz Carlos Vasconcelos em o Baile Perfumado...

Sem dúvidas os admiradores da temática Cangaço hão de concordar que de todas as películas até hoje produzidas pelo cinema nacional sobre essa saga do sertão, se destaca o sensacional Baile Perfumado; um espetacular recorte sobre o mito de Virgulino ( ator: Luiz Carlos Vasconcelos), a partir da controversa história biográfica do sensacional imigrante libanês Benjamin Abrahão (ator: Duda Mamberti). 

O filme parte da morte do Santo de Juazeiro em 1934 e vai até 1938, ano do fatídico Angico; com uma produção primorosa, com direção de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, o drama contou ainda no elenco com Aramis Trindade, Chico Díaz, Cláudio Mamberti, e Jofre Soares. "Baile Perfumado enfoca um Lampião que se deslumbra com os primeiros rasgos de modernidade no sertão, coisas como o uísque escocês, a máquina fotográfica e o perfume francês, que utilizava em grandes bailes. Um personagem diferente daquele lembrado por tiros e emboscadas." O filme é de 1997 e sem dúvidas vale a pena ver...


Vamos acompanhar na íntegra 
O Baile Perfumado...



O Baile Perfumado: Fonte - Youtube


Com vocês Verônica Kobs...

"Em Baile Perfumado, Lampião também é libertado do peso imposto pelo mito. O rei do cangaço interpretado por Vasconcelos é sorridente, vaidoso, adora promover festas e nunca deixa de ajudar um amigo. O mesmo tom é usado para retratar Benjamin Abrahão. No filme, o fotógrafo não é absolutamente sério e apenas enaltecido pelo imenso acervo histórico que deixou como legado. Abrahão é um homem comum, namorador e com uma forte queda por mulheres casadas. Diante disso, é como se houvesse uma concordância implícita dos diretores de Baile perfumado em relação à concepção que Benjamin Abrahão Botto tinha da arte e do gênero documentário.

Em síntese, pode-se afirmar que Baile Perfumado, em vários momentos, utiliza a técnica da duplicação ou do decalque como forma de apologia ao trabalho de Botto e ao Lampião concebido por ele. Sem dúvida, esse processo é possibilitado pela representação de parte da vida de um personagem histórico e, novamente, pela metalinguagem, porque, tanto no filme de Benjamin Abrahão como no filme de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, “a realidade é apresentada como resultado da mediação da tecnologia como possibilidade de registro permanente”.

Verônica Daniel Kobs; Doutora em Letras pela Universidade Federal do Paraná Professora do Curso de Mestrado em Teoria Literária do Centro Universitário Campos de Andrade; Coordenadora do Curso de Mestrado em Teoria Literária do Centro Universitário Campos de Andrade; Professora do Curso de Graduação de Letras da FACEL; Consultora e língua portuguesa e linguagens da RPC TV e da Ó TV.

Manoel Severo

Curador do Cariri Cangaço

Coronel Cândido do Pavão Por: João Tavares Calixto Junior


João Tavares Calixto Junior e Manoel Severo no Cariri Cangaço Lavras da Mangabeira

O Coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido Fernandes da Silva), conhecido em seu tempo por Cândido do Pavão, era natural do sítio Antas em Aurora. Filho de Matias Fernandes da Silva (pedreiro que trabalhou na ampliação da Capela do Senhor Menino Deus em 1864) e Antônia da Encarnação Monteiro, substituiu o sobrenome Fernandes da Silva por Ribeiro Campos, por ocasião de “qualificar-se”, para tirar o título eleitoral. Foi um dos mais importantes chefes políticos do Cariri em sua época, e pai de prole numerosa, sendo o Padre Januário Campos, o filho de atuação mais marcante.


Casou-se com Ana Maria de Jesus (Naninha), instalando-se no sítio Martins, de seu tio materno João Monteiro. Transferiu-se em 1902 para o sítio Pavão, antiga propriedade do mosteiro de São Bento, de Olinda, à época, em poder do padre Cícero Romão Batista, que a havia comprado. Era encarregado da cobrança dos dízimos dos que ocupavam as terras sob o domínio eclesiástico, as quais mediam três léguas de comprimento por uma légua de largura, de ambos os lados do rio Salgado, estendendo-se do riacho dos Mocós até o riacho do Juiz.

Cândido Pavão

Tornou-se, por força da arrecadação das alíquotas, de grande confiança do Padre Cícero Romão Batista, o que lhe conferiu notoriedade, ocupando cargos importantes em Aurora, como o de suplente de Juiz substituto, presidente da Câmara e Prefeito Municipal, cargo, este último, ocupado em face aos fatídicos episódios de 1908, onde, com a deposição do coronel Totonho do Monte Alegre, assume ele, Cândido do Pavão, o cargo de Intendente Municipal de 1908 a 1914, e posteriormente, de 1921 a 1926. 

 Jagunços de 1908 e Aurora


Em carta do Padre Cícero ao Cel. Cândido do Pavão, datada de 13 de outubro de 1916, observa-se referências sobre a situação de perda de seu rebanho bovino, ora localizado em suas terras em Aurora. Segue trecho do lançamento:

“... A paz de Deus o guarde e família. Tendo precisão de fazer minha criação de gado e animais nesta propriedade que comprei aos padres de S. Bento, mandei lá José Xavier e o meu vaqueiro e disseram-me eles que o lugar que presta é o Pavão. Havia passado procuração bastante ao Sr. José Xavier para tratar de qualquer negócio com qualquer um que estivesse no lugar mais apropriado, e resolver, como fosse justo. O Pavão foi o melhor que acharam. Portanto, não estranhe em exigir para estabelecer-me que boto aí, eu perco o resto da criação que está mal colocada. Portanto, lhe aviso que não posso mais arrendar aí, e em janeiro mandarei o José e o vaqueiro para aí. A respeito de sua casa, cercados, indenizo por preço razoável. Eu lhe digo com pena porque lhe desejo a si e a todos todo bem que posso desejar, porém não tenho outro lugar que se preste para a criação que já estou perdendo. É muito melhor que compre uma propriedade onde firme seus trabalhos e deixe sua família colocada em propriedade sua. Reflita bem que verá que é mais justo e melhor. De seu amigo e compadre.
P. Cícero Romão Batista”. 

Participante no famoso episódio do "Pacto dos Coronéis", representando o município de Aurora, Cândido atuou de forma ativa na truculenta briga pelo litígio do poder no Cariri, figurando em diversas cenas do coronelismo regional, como na "Questão do Coxá", Ataque de 8 em Aurora, Morte de Izaías Arruda, entre outros. Veio a falecer aos 24 de julho de 1936.

João Tavares Calixto Junior
Pesquisador e escritor
Juazeiro do Norte, Ceará

O Primeiro Cariri Cangaço a gente nunca esquece !!! Por: Laser Vídeo


Com o talento da equipe da Laser Vídeo, de nosso Conselheiro Aderbal Nogueira, convidamos a todos para relembrar o Grande Cariri Cangaço 2009 - "Lampião no Ceará - Verdades e Mentiras" , o inicio de uma epopeia que hoje reúne as maiores autoridades da temática no Brasil; consolidando como o maior e mais respeitado evento do gênero, já realizado. vale a pena conhecer 
como tudo começou...



Fonte: YouTube

Lampião no Município de Aurora Parte 1 Por:Amarílio Gonçalves Tavares



Em virtude da amizade com o Coronel Isaias Arruda, na verdade um dos grandes coiteiros de Lampião no Ceará, o rei do cangaço, como era chamado, esteve, mais de uma vez, no município de Aurora. Em suas incursões pelo município sul-cearense, o bandoleiro se acoitava na fazenda Ipueiras, de José Cardoso, cunhado de Isaias. Uma dessas vezes foi nos primeiros dias de junho de 1927. Na fazenda Ipueiras, onde já se encontrava Massilon Leite, que chefiava pequeno grupo de cangaceiros, Lampião foi incentivado a atacar a cidade norte-riograndese de Mossoró – Um plano que o bandoleiro poria em prática no dia 13 do citado mês.

Massilon

Em razão do incentivo, Lampião adquiriu do coronel um alentado lote de munição de fuzil que, de mão beijada, Isaias havia recebido do governo Federal ( Artur Bernardes, quando este promoveu farta distribuição de armas a coronéis para alimentar o combate dos batalhões patrióticos ‘a coluna prestes(54). Presente aquela negociação, que rendeu ao coronel Isaias a considerável quantia de trinta e cinco contos de réis, esteve o cangaceiro Massilon, que teve valiosa influência junto a Lampião, no sentido de atacar Mossoró, cujos preparativos tiveram lugar na fazenda ipueiras. Consta que Massilon Leite – associado a Lampião no sinistro empreendimento – tinha em mente assaltar a agência local do Banco do Brasil e sequestrar uma filha do coronel Rodolfo Fernandes.



O Bando de Lampião que chegou à Aurora era composto de uns cinquenta cangaceiros, dentre os quais Rouxinol, Jararaca e Severiano, os quais já se encontravam, há dias, na aludida fazenda acoitados por José Cardoso. De Aurora, Lampião levou José de Lúcio, José de Roque e José Cocô ( José dos Santos Chumbim), todos naturais da região de Antas, tendo sido incluídos no subgrupo de Massilon. No dia 13 de junho de 1927, Lampião ataca a cidade de Mossoró, a mais importante do interior do Estado potiguar. “ Após quarenta minutos de fogo, já tendo tomado duas ruas, Lampião ordena a retirada. Fracassara o seu maior plano.

Bando de Lampião em Limoeiro



Após o frustrado ataque ‘a cidade norte –riograndense, Lampião bate em retirada, entrando no Ceará pela cidade de Limoeiro, onde não é importunado. Ali fez dois reféns a resgate – pessoas idosas e de destaque social- e teve a petulância de , com seu grupo, posar para uma foto, no dia 16 daquele mês. Ante a ameaça de invasão das cidades da zona Jaguaribana e já havendo um plano de combate ao famigerado bando, juntaram-se contingentes policiais de três estados – Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba – numa quixotesca campanha contra Lampião, tendo sido nomeado “ comandante geral das forças em operações “ o oficial cearense, Moisés Leite de Figueiredo ( Major ).

No dia 16 de junho, a força paraibana havia seguido para Limoeiro, mas ao chegar ali, Lampião já tinha levantado acampamento. Prosseguindo em sua retirada pelo território cearense, com um grupo reduzido a trinta e poucos homens, em virtude da morte de dois dos mais temíveis cangaceiros – Jararaca e colchete – e das deserções que se seguiram ao malogrado ataque, inclusive a de Massilon Leite e seu sub-grupo, Lampião é perseguido por volantes, com as quais tava combates.

Dentre estes, o mais intenso foi o travado no dia 25 de junho, na Serra da Macambira,, município de Riacho do Sangue, no qual Lampião, mais um vez, provou a sua invencibilidade. Enfrentando uma força de mais de trezentas praças, sob o comando exclusivo do tenente Manoel Firmo, este sendo auxiliado por nove tenentes – José Bezerra, Ózimo de Alencar, Luiz David, Veríssimo Alves, Antonio Pereira, Germano Sólon, Gomes de Matos, João Costa e Joaquim Moura, Lampião pôs-se em fuga incólume, deixando quatro soldados mortos. Seguram-se combates menores em cacimbas (Icó), Ribeiro, no vale do Bordão de Velho, e Ipueiras os dois últimos no município de Aurora, com o rei do cangaço levando a melhor.

Izaias Arruda

No dia 28 de junho, Lampião contorna a serra do Pereiro, passando pelas serras vermelhas, Michaela e Bastiões- o Grupo marchava a pé, por veredas e nunca por estradas – tendo a tropa em seu encalço. É ai que Lampião resolve derivar para o lado do cariri e continuar a retirada em direção ao município de Aurora, onde esperava encontrar refúgio no valha Couto do seu “amigo” Isaias Arruda.

Em seu livro “ lampião no Ceará, narra o major Moisés Leite Figuiredo que, no dia 1º de julho de 1927, Lampião cm seu grupo estacionava no alto da serra de Várzea Grande no lugar olho d’água das éguas, e que ali perto, no lugar Ribeiro, já se encontravam as forças do tenente Agripino Lima, José Guedes e Manoel Arruda – o primeiro, da polícia do rio grande do norte, e os dois últimos, da polícia paraibana -, valendo salientar que tais contingentes totalizavam “ cerca de duzentos homens, bem aparelhados, no dizer do major Moisés...

Continua...

Amarílio Gonçalves Tavares
TEXTO RETIRADO NA INTEGRA DO LIVRO AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE, 
AMARÍLIO GONÇALVES TAVARES P. DE 138 A 146 IOCE, 1993 - CAPÍTULO 15
(Cortesia do Envio: Luiz Domingos de Luna)
FONTE:http://www.icoenoticia.com/2009/05/lampiao-no-municipio-de-aurora.html



 

A Bodega de Antônio Siqueira Por:José Cícero


Nunca me esqueço do Seu Antonio Siqueira... da sua bodega; do designer de seu belo balcão de cedro curvado e liso pela ação dos anos. Do seu jeito manso, austero e fino - o homem mais bem informado daquele lugar num tempo em que até o rádio era um privilégio para poucos. 

Menino curioso sempre o escutava contando as notícias que ouvia no seu aparelho de válvulas, para o povo da comunidade. Todos o tinham como um delegado (juiz de paz), resolvia muitas encrencas entre os matutos com a tenacidade da sua voz embasada no bom conceito que detinha. Era uma uma figura singular e respeitado por todos. 




Longe e já homem feito fiquei profundamente triste quando soube que morrera tragicamente em Missão Velha num acidente rodoviário. Triste fiquei igualmente quando estes dias vindo do Juazeiro onde fui escolher um carro resolvi à francesa entrar na Missão Nova. O pequeno povoado dantes alegre em que vivi parte importante da minha infância. 

contudo fiquei desolado quando não avistei o velho prédio da sua bodega (agora totalmente descaracterizado, tampouco a casa da minha vó), nem o brejo, nem as árvores, nem a cacimba, nem o engenho, nem a levada-riacho que trazia a água do pé da serra, nada... apenas a capela ainda está lá quase como no passado agora com um Santo Antonio (assim como eu) meio desolado pela saudades de um passado que não voltará jamais. 

Missão Nova agora é apenas uma grande lembrança que nunca me deixará; onde quer que eu vá, onde quer que eu ande. 
E seu Antonio Siqueira seguramente é parte desta minha história, dentre tantos outros personagens da velha Missão Nova que não existe mais.


José Cícero - Aurora, CE
Pesquisador, Escritor
Conselheiro do Cariri Cangaço