Os Filhos de Martinho de Souza... Por Lampião, Cangaço e Nordeste

Volante composta pelos filhos e primos de Martinho 

Em 10 de março de 1934, O subgrupo do cangaceiro Zé Baiano, em terras sergipanas, assassinou o fazendeiro Martinho de Sousa Freire, O vaqueiro Joãozinho de Vítor e o pai deste. Com o assassinato do velho Martinho, seu sobrinho Antonio Conrado foi até o Governador do Estado, o Dr. Eronides de Carvalho, seu amigo, e comunicou-lhe o crime cometido pelos bandidos contra seu tio, pedindo-lhe para incluir os filhos do finado no combate ao Bando de Lampião. Aceito o pedido, foi criada uma Força Volante , composta de 10 homens, sendo 05 deles filhos do morto: Felinto, José, Filomeno, Pedro e Alcino, e mais 05 primos deles, todos dispostos a tudo..

Essa volante deu vários combates com os cangaceiros e, em um deles, auxiliando a volante do Tenente Zé Rufino, mataram o cangaceiro Zepelin.
Fonte do Texto: Carira, do autor João Hélio de Almeida..

Lampião, Cangaço e Nordeste
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A Real Historia do Cangaço sendo Recuperada Por:Raul Meneleu

Conselheiro Cariri Cangaço, Raul Meneleu Mascarenhas

Os poetas, escritores, cineastas profissionais ou amadores, exercendo atividades criativas e técnicas, podem tudo. Podem contar a história como foi e é, mas também podem viajar na ficção, deixando que suas mentes vagueiem na criação de situações que nunca ocorreram, ou enfeitarem a narrativa e o visual, com a percepção ficcional. 

Já os historiadores e pesquisadores, ao fornecerem material colhido, devem ser isentos e registrarem literalmente o que ocorreu, deixando tudo como aconteceu, fazendo apenas a narrativa que encontraram, sem envolvimento emocional de pender para quaisquer lado. Apenas a realidade do passado e presente interessa para tais.

Muitos livros trazem como objetivo principal trazer esclarecimentos considerados extremamente valiosos no que se refere à história. E na história do cangaço na época de Virgulino Ferreira da Silva, o célebre "Lampião", não pode ser diferente. Os historiadores e pesquisadores, de posse desse material, e que também se tornam escritores, devem mostrar o real papel de homens e mulheres envolvidos na saga, como bem o diz Manoel de Souza Ferraz, o Manoel Flor, um dos principais combatentes de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião; quando mostra que o cangaço "foi exaltado pela literatura popular sertaneja, mormente em sua forma mais difundida, a poesia. Nela, até os criminosos reconhecidamente empedernidos podiam ser glorificados nas ilusões do cancioneiro." - (1) ***

Trago aqui para os amigos, que não tiveram ainda a oportunidade de ler esse relato, desse bravo filho de Nazaré, que em seu depoimento referindo-se a essa veia poética que praticamente endeusava os criminosos, sabendo que o sertanejo tem uma grande simpatia por homens e mulheres valentes, chama-nos a atenção para a correção dessas narrativas desviadas da realidade. Vamos ao relato, retirado de suas memórias, pela professora, jornalista e escritora Marilourdes Ferraz em seu livro O Canto do Acauã - 2ª Edição:

Marilourdes Ferraz

"O trabalho aqui exposto revela a necessidade em trazer a público um depoimento que mude os conceitos, quase sempre distorcidos, impostos e disseminados sobre a era do cangaço no sertão do Nordeste. Esta urgência é justificada porque são poucos os sobreviventes que maior participação tiveram nos acontecimentos e os quais se ressentem da deturpação dos fatos que viveram e presenciaram. Nosso objetivo é o de expor um relato, autêntico e verídico, daquele tempo conturbado, centralizando-o na região do rio Pajeú, em Pernambuco. O termo cangaceiro descreve um personagem de determinadas características que atuou no Nordeste; o termo engloba tanto o bandoleiro que formasse um grupo armado como o fazendeiro que possuísse a mesma atividade ou o simples agregado que defendesse os interesses do patrão por meio das armas. Sua principal característica era a valentia; era relevante que fosse ousado e mesmo insensato nos seus feitos. Os aspectos de valentia e coragem pertencem à admiração popular nas diversas culturas e épocas; também o cangaço foi exaltado pela literatura popular sertaneja, mormente em sua forma mais difundida, a poesia.

Nela, até os criminosos reconhecidamente empedernidos podiam ser glorificados nas ilusões do cancioneiro. Nas porfias entre grupos rivais o povo tomava partido como atualmente nos esportes e os entusiastas comentavam os últimos combates e defendiam com ardor apaixonado a facção que lhes parecia mais simpática. No sertão, naqueles tempos de enorme carência de apoio à população, principalmente no setor educacional e na estrutura jurídica que coibisse os abusos de poder do homem para com o seu semelhante, a criminalidade proliferou. 

Os habitantes dependiam do próprio valor pessoal para manter a sua integridade física e moral, e o uso amplo da força em seu pleno sentido já era estimulado na luta pela sobrevivência com a Natureza agressiva em tempo de estiagem. O grupo etário mais vulnerável a esse conjunto do influências era exatamente a infância, seguindo-se-lhe a adolescência. Dependendo da intensidade dos diversos fatores e da orientação familiar poderia haver conseqüências desastrosas ou benéficas á vida dos moços. A estrutura básica para o fortalecimento do caráter e a formação da personalidade estava no lar, secundada pela orientação dos poucos mestres-escola e dos religiosos que assistiam a população. isso se tornou ainda mais notável na citada região do Pajeú, onde cresceram os irmãos Ferreira e os homens que os combateriam até o fim do ciclo. 
Manoel de Souza Ferraz

Os futuros grupos conflitantes, cangaceiros e policiais, receberam a mesma carga de influências culturais e do meio ambiente, frequentaram as mesmas escolas improvisadas ao ar livre e tiveram dificuldades como todos os sertanejos. Lampião conviveu e recebeu a mesma educação de muitos conterrâneos, mas com a vantagem de possuir sua família uma situação financeira bem melhor que a de inúmeros sertanejos. Assim, no estudo de sua adesão ao banditismo, é importante que haja uma análise dentro do contexto da época, da região e de sua conjuntura sócio-cultural. 

A personalidade agressiva e contraditória do famoso cangaceiro foi alimentada pelas variadas influências que também agiram sobre os seus contemporâneos. No decorrer dos anos a versão dos acontecimentos da época foi de tal modo deturpada, principalmente por motivos políticos e ideológicos, que se tornou comum atualmente uma profusão de mitos e inverdades, acarretando equívocas tentativas de explicar o personagem Virgulino Ferreira da Silva, em particular, e o contexto histórico-social que, indiretamente, representava. 

É difundida e alimentada a crença de que a Polícia executou nos sertões apenas o papel de verdugo em sua represália contra o banditismo; seus presumíveis atos de vandalismo teriam estimulado a proliferação de homens que, como Virgulino, se tornavam cangaceiros a fim de praticar justiça com as próprias mãos; por inexplicável ódio, o fazendeiro José Saturnino, pretextando o furto de um simples chocalho pelos jovens Ferreira, perseguiu-os com requintes de crueldade, forçando sua adesão ao mundo do crime como único caminho para a sua sobrevivência; que esses pacatos e ordeiros rapazes foram obrigados a lutas intermináveis contra as injustiças, lembrando Robin Hood a castigar os maus e ajudar os infortunados; e ainda que o povo sertanejo teria depositado enorme confiança naqueles "paladinos" da Justiça. 


Tais incorreções foram alimentadas por deficiências na coleta e interpretação dos dados históricos e também por deturpação nos depoimentos fornecidos a alguns escritores que, por exemplo, chegaram a basear seu trabalho exclusivamente em versões de ex-cangaceiros ou de pessoas não possuidoras do necessário conhecimento dos fatos ou que os procuraram alterar em conveniência própria devido a estarem comprometedoramente envolvidos nos episódios da época, em detrimento de uma realidade mais ampla. 

Entretanto, não nos arrogamos na posse absoluta da Verdade nem procuramos rotular os cangaceiros de apenas bandoleiros ou transformar os soldados sertanejos que os enfrentaram em heróis isentos de erros; eram todos seres humanos e, como tais, vulneráveis equívocos e às forças que movem os povos e determinam a marcha da História; todos participaram de uma batalha de múltiplas origens e conseqüências, não sendo totalmente vilões ou totalmente santos muitos dos visados por preconceitos. 

Podemos, no entanto, afirmar com segurança que Virgulino Ferreira da Silva não foi obrigado por perseguições a adotar uma vida de banditismo; ao contrário, foi combatido por ter-se transformado em temível bandoleiro. Seu pai teve o fim precipitado pela turbulenta vida dos três célebres filhos. Antes que fosse muito tarde, Lampião recebeu conselhos e advertências e, o mais importante, o exemplo de numerosos habitantes da região em que vivia; contudo, fustigou-os de tal forma que os obrigou a se transformar de pessoas reconhecidamente pacíficas em argui-inimigas do cangaço quando perderam a crença em sua sobrevivência sem os recursos da luta armada. 


Os irmãos Ferreira assaltavam indiscriminadamente e faziam conluios com pobres ou ricos para os mais diversos fins; os seus prisioneiros eram muitas vezes mortos com requintes de sadismo e a sua fúria não poupava idade ou sexo das vítimas; inúmeras famílias sofreram com a perda de seus haveres e entes queridos. Como Lampião conseguiu atravessar longos anos sem ser detido? Em conseqüência do secular abandono da região sertaneja, as autoridades governamentais não possuíam os meios adequados para encerrar em curto prazo tão calamitosa situação. 

A falta de estradas e meios de transporte, o reduzido número de policiais, o deslocamento de tropas de Estado para Estado, o alistamento de pessoas que não se adaptavam aos rigores da luta, foram algumas das dificuldades encontradas. Os sertanejos tiveram que, praticamente sós, iniciar e manter por longo período o combate a mais um dos flagelos que tão frequentemente os assolavam, enfrentando carência de abastecimento, munições e armamentos, às vezes comprados com seus soldos. 

As forças que combatiam o cangaço se compunham de unidades móveis denominadas "volantes", as quais realizaram verdadeira epopeia, anos a fio, em esgotantes travessias do sertão de vários Estados nordestinos. Entretanto, são hoje cada vez menos compreendidas em seu papel. Também a opinião popular, que exaltava os feitos de bravura da Polícia, do mesmo modo tendia a depreciá-la, fornecendo errôneas explicações da razão de ser da vida de bandoleiro de Lampião, como nos versos seguintes:

"Assim como sucedeu
Ao grande Antônio Silvino
Sucedeu da mesma forma
Com Lampião Virgulino
Que abraçou o cangaço
Forçado pelo Destino... 
Porque no ano de Vinte
Seu pai fora assassinado. . ." (2)

Certamente houve atos impensados por parte de policiais, mas não foram comuns e geralmente ocasionados pelas contingências da luta. A dureza da campanha e as condições em que se desenrolaram os combates podem explicar algumas dessas atitudes. Não se pode esquecer o indescritível desgaste físico provocado pelas marchas prolongadas e pelas emboscadas associadas à sede e à fome no semi-deserto sertanejo. 

A enorme dedicação dos soldados visava a que seus contemporâneos um dia usufruíssem da tranqüilidade desejada. Muitos moços perderam a vida, outros a saúde física e mental; os verdes anos da juventude foram irremediavelmente gastos na luta. Apesar de tudo o que se diz, as pessoas de bem tinham confiança na atuação dos policiais. Isso é o que não pode ser omitido. Os erros de poucos não podem turvar a atuação de valorosos combatentes. Os que viveram os dias difíceis daquela época não poderiam mais calar ante as injustiças cometidas pelos que tentaram enlamear o sacrifício dos bravos componentes das Forças Volantes."

Do depoimento de Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor) 

Raul Meneleu, pesquisador, escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Aracaju SE
Fonte:http://meneleu.blogspot.com.br/

Sila e o Cangaço que Todos Conhecemos Por:Alfredo Bonessi

Alfredo Bonessi

O Cangaço foi um fenômeno social que teve como berço o sertão Brasileiro. Originou-se logo após o descobrimento do Brasil e germinou nas cidades interioranas do Nordeste Brasileiro,  onde a lei era a vontade do mais forte, o  senhor dono das terras. Esse fenômeno surgiu como um grito de revolta e indignação aos desmandos desse poder absoluto,  que estava acima de todos e até mesmo da própria lei – pode-se dizer que o Cangaço foi uma revolta de homens valentes contra as formalidades  sociais da época – insurretos – insubordinados contra as normas vigentes de uma sociedade em transição entre a burguesia portuguesa escravocrata e preconceituosa  e o pobre sertanejo de enxada na mão, escravo da fé, do dogma religioso,  da superstição,  vítima da natureza inclemente que não aceitava a intromissão  de pessoas frágeis, sem vontade de viver e fáceis  de matar.  

O Cangaço foi composto por gente sertaneja, da terra, que nada temia, nem mesmo a morte. Não se tem noticias que  um Cangaceiro não tenha se comportado com valentia e dignidade na hora da morte, mesmo ferido e sabendo que a hora derradeira havia chegado.

Na guerra contra o  Cangaço valia  tudo, e nunca na história das sociedades a fofoca matara tanta gente. Bastava falar mal de um inimigo, inocente ou não, tanto para a polícia  como para os cangaceiros, que seria morte certa dessa pessoa.

O Cangaço como todo o movimento social fora-da-lei cometeu exageros e crimes hediondos, a maioria injustificáveis, às vezes contra pessoas inocentes, algumas delas a serviço da lei, como prova de desacato e provocação a corporação a que serviam.

Sila ao lado de seu companheiro Zé Sereno e grupo

O Cangaço começou a definhar quando atrapalhou o comercio, impedindo o progresso local, e quando surgiram as estradas e o rádio de comunicação, quando veículos motorizados foram empregados em sua perseguição e quando sertanejos foram colocados como guias a frente  das volantes a procura dos cangaceiros. Podemos afirmar que Lampião, principal chefe de bando e considerado o Rei dos Cangaceiros, morreu sem saber da tática principal da policia que acabaria o levando a morte:

-  a intriga entre um coiteiro e outro;
- quando a policia descobria um coiteiro, o deixava de molho, a espera de uma boa oportunidade para agir contra ele, normalmente o aliciava como informante, ao invés de puni-lo com a chibata e a tortura;
- o cerco de várias volantes ao mesmo tempo, se reunindo em um lugar pré-determinado pelo comandante - chegando ali recebiam novas ordens e novos itinerários de busca;

Essa estratégia, uma nova forma de combater,  longe dos olhos dos coiteiros, fazia com que os informes dos movimentos da policia  que chegavam a Lampião eram aqueles que a policia desejava que ele  soubesse, mas não eram verdadeiros,  o único objetivo era deixar transparecer que a força estava inativa, inoperante, estava acomodada, quando na verdade mais de 3 mil homens se movimentavam sem cessar, diuturnamente, fechando o cerco contra o bando de cangaceiros.

Muitos chefes de bando e historiadores culpam as mulheres como o principal fator de extinção do Cangaço – na minha ótica, a mulher favoreceu ao afrouxamento das regras de sobrevivência do cangaço, por questões obvias: elas não combatiam, não cozinhavam, eram mais sensíveis e delicadas,  simplesmente eram mulheres mesmo do pessoal e por tudo isso o bando precisava  sempre andar beirando a água, sejam  nascentes ou rios ou caldeirões de água depositadas pela chuvas.

Nenem de Luiz Pedro, Maria Bonita

A presença da mulher foi marcante no bando dos cangaceiros porque o número de estupros das sertanejas diminuíram;  muitas mulheres do bando mandavam mais que os homens, davam as suas opiniões pessoais nas questões internas do grupo, salvaram pessoas da ponta do punhal, e foram algozes na  condenação de outras cangaceiras a morte, nos casos de saídas do bando. Pode-se dizer que com a chegada das mulheres a tenacidade guerreira do grupo de cangaceiros arrefeceu um pouco, os homens se acalmaram mais – o bando virou um feudo do crime, onde havia rei e rainha, quem mandava e quem obedecia; todos os olhares e toda a consideração eram  para as mulheres, principalmente a mulher do chefe. 

Os homens eram ferozes, valentes, justiceiros, guerreiros, altivos, prepotentes, arrogantes, mandões, para os de fora do bando, mas dóceis, afáveis, atenciosos, cortejadores, galantes para com as suas mulheres – as mulheres eram para eles um precioso objeto, um bem valioso, mais que a sua própria vida – a mulher representava  a  honra, o  status, o  poder de seu dono -   por isso era  coberta de jóias - era o centro de todas as atenções  por parte dos membros do grupo – por causa disso  a cangaceira  era o alvo preferido das piadas e descompostura dos policiais durante os combates.

Enedina e Sila na época do cangaço

Sila era uma criança quando se comprometeu que seguiria com o cangaceiro Zé Bahiano, mas  acabou fugindo de casa com  Zé Sereno, primo desse. Em termos de sanguinário e violento não se sabe quem era o maior, mas quando os comparamos ao dinheiro e  a agiotagem,  Zé Bahiano era infinitamente mais rico que Zé Sereno. Sila alegou sempre para a imprensa que a entrevistava,  que seguiu Zé Sereno porque esse ameaçou toda a sua família – não acreditamos nisso. 

O fato é que esses cangaceiros deixavam transparecer uma riqueza e um poder que só existia na mente deles, simplesmente impressionava as mocinhas da época, que viviam em completa servidão na casa dos pais, longe de tudo e que precisavam sobreviver da roça queimada pelo sol, da escassa chuva quando havia, nutrindo a esperança de ver  qualquer um   homem  que raramente  passava pela frente de sua casa. Normalmente a vida da sertaneja se resumia entre a roça e o curral, a cozinha, e as noites enluaradas, onde  contemplava as estrelas do firmamento, deixando-se embalar pelos  devaneios dos causos e das historinhas contadas pela avó e pela mãe – até que o sono as separavam em mais uma noite de sonhos e de ilusões.

Ex-cangaceira Sila, em foto de década de 90

Acertada a fuga,  Sila saiu pela janela de sal casa e logo adiante, na primeira noite,  foi estuprada em cima de uma enorme pedra -  foi mulher como devia ser a mulher de um cangaceiro – escolha feita por ela, fato esse marcante para sua mente juvenil de 14 anos, e que nunca mais saiu de sua memória. Daí por diante foram  correrias, fugas espetaculares da polícia,  noites mal dormidas, chuva, frio, fome, sede e abortos provocados,  algumas raras vezes o sossego a beira de uma fogueira, os encontros com os outros bandos, a carne assada nas trempes, o café delicioso  e o dedo de prosa com as amigas, as costuras e os bordados das roupas do pessoal e o preparo do enxoval do novo filho. 

Mas amor de sonho de menina nunca houve – Zé Sereno tinha muita coisa para se preocupar – precisava viver daquilo e sobreviver como fera em um  ambiente hostil e ainda ludibriar a polícia – dependia do coiteiro para tudo – o cangaço era movimento  e o grupo de cangaceiros, chefiado por ele,  não podia ficar parado em um só lugar. Viver aquela vida,  que não era vida e que não podia deixar de vive-la, foi um tormento para Sila.

Pesquisador Alfredo Bonessi

Ao romper do dia naquela manhã de 28 de julho de 1938 estava acordada quanto um tiro isolado despertou a natureza na Grota de Angicos – Sergipe. Em seguida mais tiros,  levantou-se rapidamente e saiu  correndo em uma direção seguida de alguns companheiros. Balas ricocheteavam por todos os lados, a macega espinhenta se dobrava a sua frente pelo corte dos projéteis. Não teve tempo de olhar para atrás . Viu uma amiga cair morta,  amparou um cangaceiro que estava com o braço dependurado e quando os tiros ficaram mais longe se reuniu com os sobreviventes do grupo de cangaceiros para tomar um fôlego – estava milagrosamente  salva, mas toda lanhada nas pernas pela ação dos espinhos da caatinga.    

Depois vieram  as entregas – rendição para a policia – a viagem a São Paulo – o encontro com a cidade grande, berço de recolhimento de todo retirante nordestino. Seria nova vida ? – não foi. Apesar de ir fazer aquilo que mais gostava – costurar – sofreu  os efeitos que uma cidade grande provoca em todos os seus habitantes: a indiferença. Em um aglomerado urbano de milhões de pessoas, a atenção, o carinho e a afeição passam despercebidos,  de nada valeria gritar para a multidão que foi cangaceira.  Restou  criar os filhos e netos e conviver com o marido feroz e violento.


Em dado momento ressurgiu para as noticias de jornais, rádios e TVs onde tentava explicar o inexplicável: como foi que entrou para o cangaço. Viajou para muitos lugares, encontrou-se com outros remanescentes do cangaço – todos tinham algo a contar e a explicar, mas a grande maioria confundia datas e fatos, alguns escondiam mal feitos, outros não se lembravam de nada, mas grande parte deles  guardavam  silencio, ainda receosos da ação da justiça e da vingança por parte dos familiares das vítimas do cangaço.

Muito se tem escrito sobre  a guerra cangaceira – muito ainda se há de escrever – o tema é inesgotável. Sobreviveu a terra, o sol,  a caatinga. Ainda hoje o chão está marcado pelo  sangue dos policiais e dos cangaceiros – ainda hoje se pode ver as marcas das balas encravadas nas pedras e nos matos – ainda hoje os espíritos desses guerreiros se encontram nos caldeirões, nas aguadas da vida espiritual  para trocarem pensamentos dos feitos da guerra cangaceira  vivida na  terra.

Para o sertanejo nada mudou. A terra é a mesma, a política é a mesma, o gado morre do mesmo jeito, o sertanejo anda de moto, usa iPhone e possui computador. Em cada sertanejo de hoje existe um pouquinho de cangaceiro e um pouquinho de volante – e o pior bandido de todos que existe nesse momento são os políticos – com uma grande diferença dos guerreiros daqueles tempos – agem em nome da legalidade e são protegidos por lei.

Resta-nos  trazer aqui as palavras finais do grande chefe volante, Coronel João Bezerra,  que eliminou o Rei dos Cangaceiros, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião: "Hoje eu não perseguiria Lampião. Hoje eu acho que ele não era bandido. Hoje existem bandidos bem piores do que ele".

Alfredo Bonessi
Pesquisador do Cangaço

Vem aí, Serra Grande de Louro Teles Por:Manoel Severo

Louro Teles

Serra Grande, pedaço de chão encravado no sertão pernambucano de Virgulino Ferreira, serra enigmática com seus mais de 900 metros de altitude situada entre os municípios de Calumbi, Flores e Serra Talhada, no famoso Vale do Pajeú. Serra Grande, palco do maior combate que o cangaço de Lampião protagonizou ao longo de seus 20 anos de reinado.

O pesquisador Lourinaldo Teles, unindo seu talento nato de farejador das caatingas a um senso de determinação impressionante nos traz sua primeira Obra, com um olhar totalmente diferenciado sobre esse que sem duvidas trata-se de um dos episódios mais importantes desta saga nordestina. Calumbi; seu berço e terra natal entra para a historiografia do cangaço como o cenário da maior batalha de todos os tempos, envolvendo cangaceiros e volantes. 

Louro Teles como é mais conhecido o autor, veio ao longo dos anos aprimorando sua capacidade de investigar. Inúmeras entrevistas, checagens, confrontos de informações, vasta documentação, visitas iminentemente técnicas ao cenário de “guerra” unido a uma pesquisa criteriosa à bibliografia sobre o tema, nos permitem agora receber essa obra realmente valiosa sobre Serra Grande, inclusive com o passo a passo da estratégia dos cangaceiros liderados por Virgulino Ferreira da Silva, que impuseram uma derrota impressionante às forças volantes.


Louro Teles nos leva e desvenda Serra Grande...

Os números são impressionantes até para aqueles que são afeitos ao estudo do fenômeno: 10 mortos, 14 feridos, quase 300 militares numa sanha desesperada em busca de dar fim a Virgulino com seus mais de 115 cangaceiros; foram cerca de 3 mil tiros em quase 10 horas de combate naquele longínquo 26 de novembro de 1926.

O combate de Serra Grande vem situar-se entre duas das mais polêmicas passagens da saga do filho de seu Zé Ferreira, vulgo Lampião, a saber; em Março do mesmo ano o rei dos cangaceiros visita Juazeiro do Norte para se integrar às forças dos Batalhões Patrióticos e receber fardamento e armas na Meca de padre Cícero Romão Batista e logo em seguida ao combate que ocorreu em novembro, escreveria a ousada carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, sugerindo a divisão do território pernambucano entre os dois.


Manoel Severo e Louro Teles

Outra polêmica acaba nos conduzindo ao grande combate; o que teria realmente acontecido em relação à morte do irmão do cangaceiro mais famoso da história? Antonio Ferreira; irmão de Virgulino e seu braço direito; teria tido sua vida ceifada a partir de um “sucesso” envolvendo Luiz Pedro na fazenda Poço do Ferro, de Ângelo da Gia, em meados de 1926 ou inicio de 1927, mas existem pesquisadores que defendem a hipótese que a morte estaria diretamente ligada a ferimentos recebidos pelo cangaceiro no sangrento combate de Serra Grande, onde está a verdade?

Louro Teles ainda nos traz outro foco na presente obra: A ligação de Lampião com Calumbi. Desde os tempos em que a família Ferreira dedicava-se ao oficio de almocreve. O autor nos apresenta a amizade do rei do cangaço com moradores do lugar, os coiteiros, os amigos, os inimigos, um surpreendente romance e até um suposto filho do rei cego com uma menina chamada Tatu. Estupro, a briga de Lampião com o primeiro prefeito, o processo movido pelo delegado da cidade e a invasão de Calumbi por Lampião e 50 cangaceiros, fazem da obra, o mais autentico registro da passagem de Virgulino Ferreira no antigo distrito de Flores: Calumbi.


Louro Teles, João de Sousa Lima, Manoel Severo e Afrânio Gomes

“A maior batalha de Lampião: Serra Grande e a Invasão de Calumbi” é uma dessas obras imprescindíveis não só para os amantes da temática, mas e principalmente para os pesquisadores, pelo conjunto responsável de informações e pela riqueza de detalhes que envolve um dos episódios mais comentados dos vinte anos de reinado de Lampião.

A leitura se torna fácil e extremamente atraente, a linguagem utilizada por Louro Teles nos envolve e nos transporta no tempo e ao lugar. Em determinadas passagens podemos ate crer que a qualquer momento seremos surpreendidos pelos cabras de Virgulino ou mesmo por homens de Quelé ou Mané Neto por entre a caatinga e o relevo de Serra Grande.

Uma obra que veio para ficar, dentre as centenas que já podem ser encontradas na bibliografia cangaceira, na verdade todos estamos de parabéns: O autor Louro Teles, a cidade de Calumbi, a história do cangaço e principalmente os leitores. Boa leitura em breve... 

Prefácio da Obra por:
Manoel Severo Barbosa, Curador do Cariri Cangaço
Diretor da SBEC – Sócio do GECC, GPEC e GFEC
Fortaleza, Ceará

A Maior Batalha de Lampião: Serra Grande e a Invasão de Calumbi
Autor:Louro Teles
LANÇAMENTO PREVISTO PARA NOVEMBRO DE 2016...

Sangue no Sertão e o Fanatismo da Pedro do Reino Por:Narciso Dias


No dia 24 de junho de 1578, um Exército de 24 mil portugueses, comandado pelo seu rei dom Sebastião I, partiu de Lisboa e após quase um mês navegando pelo Atlântico em 847 embarcações chegou a Tânger, no Marrocos. Dali marchou por sete dias até a cidade de Alcácer-Quibir. O objetivo era atacar, com seus cavaleiros, lanças, espadas, arcabuzes e canhões, o rei marroquino Abd al-Malik. A vitória mataria dois coelhos: afastaria as ameaças dos muçulmanos ao litoral português e o país seria o protagonista de um processo de cristianização e colonização do norte da África.

Mas o desastre foi total para os portugueses. Abd al-Malik também tinha cavaleiros, lanças, espadas, arcabuzes e canhões. E a vantagem de um Exército de 60 mil homens. Três marroquinos para cada português. Metade do Exército lusitano foi morto na batalha e a outra metade, presa.

O corpo de dom Sebastião nunca seria encontrado. Aos 24 anos, o rei não deixou herdeiro ao trono e Portugal seria governado pela Espanha por 60 anos. Do fim misterioso de dom Sebastião surgiu o sebastianismo, a crença mística de que ele voltaria para afastar o domínio estrangeiro ou para livrar dos seus opressores os pobres e infelizes. O mais popular divulgador do sebastianismo foi o sapateiro da vila portuguesa de Trancoso Gonçalo Annes Bandarra, que previu, em poemas, a volta de dom Sebastião, “o Desejado”. 


Suas Trovas fizeram enorme sucesso. Foram proibidas pela Inquisição, mas continuaram circulando clandestinamente por décadas, mesmo após sua morte. A lenda se espalhou por Portugal e, 260 anos mais tarde, tornou-se realidade no alto de uma montanha próxima à cidade de São José do Belmonte, sertão de Pernambuco, transformando-se em um dos episódios mais bizarros e sinistros da história brasileira.

Tudo começou em 1838, na Pedra Bonita (hoje, Pedra do Reino) – um platô encimado por dois rochedos paralelos, cada um com 30 m de altura –, quando João Antônio Vieira dos Santos começou a abordar os habitantes mostrando-lhes duas pepitas, as quais ele dizia serem preciosas. João Antônio afirmava que as havia conseguido graças ao rei dom Sebastião, que o conduzia todos os dias em sonho a seu esconderijo. O rei português ainda lhe teria indicado que o desencanto e a revelação de seu reino estariam próximos e, assim que isso acontecesse, ele retornaria ao mundo como o Messias. Para dar fundamento, digamos, acadêmico a seus argumentos, o profeta levava consigo, além das pedrinhas, os textos de As Trovas do Bandarra, que tanto sucesso haviam feito em Portugal.


“Esse fato demonstra a perspicácia do falso profeta, que, conhecendo o nível de esclarecimento de seus ouvintes, apropriou-se de uma narrativa de convencimento”, diz Marcio Honorio de Godoy, da PUC-SP e autor de O Desejado e o Encoberto, sobre o sebastianismo. Moradores de sítios vizinhos começaram a aderir à crença e visitar o complexo rochoso encantado, onde dom Sebastião dormia, segundo suas pregações. Com a popularidade crescendo, o profeta foi coroado rei de Pedra Bonita, cargo provisório enquanto dom Sebastião não despertava. Mas a agitação atraiu os olhares das autoridades.

O movimento provocava o esvaziamento da mão de obra rural e disseminava uma seita pagã. Enfim, um caso de polícia e de Igreja. O padre Francisco José Correia, respeitado na região, foi acionado. “O embusteiro João Antônio então se apresentou ao sacerdote, arrependeu-se de sua conduta e devolveu-lhe as falsas pedras”, conta Belarmino de Souza Neto, historiador e autor de Flores do Pajeú: História e Tradições.

O que deveria ser o fim do sebastianismo sertanejo gerou uma crença ainda mais fanática e perigosa. João Antônio assumiu a farsa e saiu da cidade, mas antes passou a coroa para o cunhado João Ferreira. O segundo rei de Pedra Bonita também dizia ter visões de dom Sebastião e intensificou a divulgação da profecia. Carismático, ganhou muita popularidade e conseguiu aumentar o número de seguidores para 300. Eles o chamavam de “Sua Santidade El-Rei” e beijavam-lhe os pés. Decidiu estabelecer sua corte ali mesmo, junto às duas grandes rochas de Pedra Bonita – local de rituais de desencantamento que permitiram ao outro rei, o desaparecido em Alcácer-Quibir, e que no momento dormia, voltar ao mundo real.


É nesse momento que as coisas começaram a degringolar. Ferreira decidiu estabelecer sua casa em um dos blocos de rocha. Nela, eram promovidos festejos e beberagens entre seus associados, que se drogavam com manacá e jurema, ervas com propriedades alucinógenas, para conseguir “entrar” no reino de dom Sebastião. Na segunda torre de pedra, foi escavado o santuário – que servia de refeitório e para os rituais de desvirginamento, nos quais, após cerimônias de casamento, as noivas eram oferecidas em primeira mão ao monarca.

O que o novo rei pregava foi registrado, em 1875, por Antônio Attico de Souza Leite, do Instituto Arqueológico da Província de Pernambuco. “Um iluminado ali congregou toda a população para o advento do reino encantado do rei dom Sebastião, que irromperia castigando, inexorável, a humanidade ingrata”, escreveu. O dia a dia dos sebastianistas era ocupado por rezas e cantorias. Na rotina não entravam a preocupação com vestimentas ou com a higiene. Também não se tomava o cuidado de cultivar vegetais ou criar animais. Caravanas de jagunços de confiança do rei eram despachadas para recolher doações ou saquear fazendas vizinhas e, se possível, buscar novos adeptos.

Ferreira tinha ideias próprias de quais seriam os rituais exigidos para promover o desencantamento de dom Sebastião. “Era necessário banhar as pedras e regar todo o campo vizinho com sangue dos velhos, dos moços, das crianças e dos irracionais”, registrou Antônio Attico. A loucura começaria para valer na manhã de 14 de maio de 1838. Ferreira anunciou que, numa visão, dom Sebastião lhe garantira que o sangue dos seguidores o traria de volta.



Durante três dias, os fiéis, embalados por gritos, danças hipnóticas, música e bebidas alcoólicas, mataram 30 crianças, 12 homens, 11 mulheres e 14 cães. Pais e mães traziam como oferendas partes do corpo dos filhos. Aos pés do rei, arrancavam orelhas, línguas, dedos dos pés, das mãos ou genitais, relata Antônio Attico, baseado em testemunhas. Os cadáveres amontoavam-se e eram colocados na base das duas pedras de maneira simétrica, separados por sexo, idade e “qualidade”, esta última determinada de acordo com o tipo de promessa e da entrega de entes queridos ao sacrifício que eles houvessem feito. Quem se recusava ao sacrifício era tido como infiel e desprezível. “Os mais fanáticos entendiam tal recusa como uma quebra na continuidade do ritual de desencanto”, afirma Honorio de Godoy.

A loucura assassina de Sua Santidade El-Rei fez surgir um terceiro personagem. Pedro Antônio Viera dos Santos, irmão do primeiro rei, João Antônio, resolveu frear o ritual. Tomou a palavra e fez um discurso carismático anunciando que ele também tinha uma mensagem de dom Sebastião para divulgar. “Ele anunciou que dom Sebastião lhe apareceu em uma visão cobrando o sangue do segundo rei para o desencantamento ser concluído”, afirma o historiador Belarmino de Souza.

Os fiéis apoiaram imediatamente a sugestão e começaram a gritar: “Viva El-Rei dom Sebastião! Viva nosso irmão Pedro Antônio!” Deposto do seu título e na condição de um simples súdito, João Ferreira, o amalucado messias, foi arrastado ao sacrifício. Seu crânio foi esmigalhado e o corpo amarrado, pés e mãos, ao tronco de duas árvores grossas. Ao vencedor, Pedro Antônio, foi passada a coroa. Era ele, agora, o terceiro regente de Pedra Bonita. Sua primeira medida foi decretar a suspensão imediata dos assassinatos.


Mas tamanho horror não poderia escapar às autoridades. Enquanto no alto do morro a transição entre os dois reinados acontecia, as denúncias dos sacrifícios humanos chegavam ao conhecimento do major Manuel Pereira da Silva, autoridade militar de São José do Belmonte. Um vaqueiro, José Gomes, fugido de Pedra Bonita, relatou as barbaridades. Curiosamente, o delator destacava a frustração dos integrantes por terem sacrificado inocentes em vão, já que dom Sebastião não havia desencantado.

O major partiu no dia seguinte rumo à Pedra Bonita. Liderava um grupo formado por dois de seus irmãos, Cypriano e Alexandre, e 26 soldados. Após um dia de caminhada, e ainda distante do local da seita, a caravana fez uma pausa embaixo de alguns umbuzeiros. A poucos metros do abrigo, no entanto, encontrou-se de frente com o novo rei dos sebastianistas, Pedro Antônio, acompanhado de um séquito numeroso de pessoas armadas com porretes e facões.O rei e sua corte haviam deixado Pedra Bonita fugindo do cheiro dos cadáveres insepultos.

O encontro pegou os dois grupos de surpresa. Os militares, em campo aberto, pareciam em desvantagem diante dos sebastianistas. Mas estes estavam exaustos. Na batalha que se seguiu, o major ganhou a guerra, mas pagou caro pela vitória. O rei, Pedro Antônio, e 16 de seus seguidores foram mortos. Do lado dos militares, cinco vítimas fatais, inclusive os dois irmãos do major. Ali, debaixo dos umbuzeiros, terminava, em 17 de maio de 1840, o sangrento reinado dos sebastianistas da Pedra Bonita, sem que dom Sebastião acordasse para socorrê-los. O messianismo não se extinguira no imaginário brasileiro. Grupos semelhantes surgiram. Um dos maiores, no interior da Bahia, em 1896, foi liderado por Antônio Conselheiro e gerou a Guerra de Canudos.

Postagem por Narciso Dias - Conselheiro Cariri Cangaço
Fonte: Facebook

SAIBA MAIS - LIVROS
No Reino do Desejado: A Construção do Sebastianismo em Portugal nos Séculos XVI e XVII -
Jacqueline Hermann
Companhia das Letras, 1998.
Flores do Pajeú: História e Tradições
Belarmino de Souza Neto
Biblioteca Pernambucana de História Municipal, 2004

Cabaceiras: A Roliude Nordestina Por:Kydelmir Dantas


Quem não conhece precisa ir a Cabaceiras - A ROLIÚDE NORDESTINA - cidade paraibana onde foram filmados O AUTO DA COMPADECIDA e mais 24 filmes entre curtas e longas... Excelente a estadia no Hotel Fazenda Pai Mateus. Alguns prédios usados nas locações do 'Auto' estão lá intactos; há o Museu Histórico e o Memorial Cinematográfico; a Casa de Cultura - antiga Cadeia Pública que foi invadida pelo cangaceiro Antônio Silvino - abriga os movimentos ligados às Artes na cidade. 


Com certeza se encontra na rua principal o poeta PAULINHO de Cabaceiras e, com sorte, a cordelista JULIANA SOARES; o encantador de viúvas ZÉ DE CILA, que foi o dublê do Padre - interpretado pelo Rogério Cardoso - em algumas cenas do filme, você encontra em sua Bodega com muita conversa e agrado. E as meninas do Museu Histórico lhe tratam com o devida atenção passando as informações sobre sua cidade e região; do Lajedo Pai Mateus se vê a maravilha do por-do-sol... Ou o nascimento da lua... Só indo pra ver.

Kydelmir Dantas
Conselheiro Cariri Cangaço

Memórias da Policia Militar da Bahia - O Massacre de Queimadas



Publicado em 4 de agosto de 2016
Em 1929 o bando de Lampião esteve no município de Queimadas, saqueando a cidade que contava com 8 policiais militares em sua guarnição. 
Este documentário conta o desfecho sangrento dessa investida
 criminosa do cangaceiro.


PRODUÇÃO:
Cap PM Bandarra /  Cap PM Danillo Ferreira/ St PM Luciano Macêdo
ROTEIRO:
Cap PM Raimundo Marins/Cap PM Danillo Ferreira
PESQUISA:
Cel PM Souza Neto/Cap PM Raimundo Marins
DIREÇÃO E EDIÇÃO:
Cap PM Danillo Ferreira
IMAGENS:
ST PM Luciano Macêdo/SD PM Orlando Junior
Daniel Pujol/Jonatan Costa
ASSISTENTES:
SD PM Orlando Junior/SD PM Igor Freitas
AGRADECIMENTOS
Moacir Mancha e ao povo de Queimadas
REALIZAÇÃO:
Polícia Militar da Bahia
Departamento de Comunicação Social  

Abram Alas para o Movimento Armorial Por:Manoel Severo


Quando falamos que o Cariri Cangaço é uma das construções coletivas mais exitosas dentro do conjunto de manifestações culturais nordestinas, estamos falando de um conjunto de pessoas; homens e mulheres; pesquisadores, escritores, artistas, produtores culturais, personagens apaixonados por nossa matriz cultural, enfim, que se unem não só em torno de um evento, mas, se unem em torno de um sentimento e a partir dali, olham na mesma direção.

Ao longo dos anos, além do Conselho Consultivo Alcino Alves Costa, hoje composto por 30 membros, pesquisadores notáveis de todo o Brasil; o Cariri Cangaço possui ainda uma imensidão de mais mil colaboradores de todo o Brasil, que ajudam a construir nossa história. Cada evento, cada movimento, cada ação, possui a alma de muitos desses heróis do sertão... Eles são os grandes responsáveis pelas diretrizes, pelo formato, pelas temáticas, enfim, assim vamos construindo, passo a passo o Cariri Cangaço.

Carlos Alberto, Camilo Lemos, Manoel Severo e Mucio Procópio

Nesta última semana, em mais uma oportunidade nos reunimos com companheiros de Cariri Cangaço, desta vez em Natal, Rio Grande do Norte; para nos debruçarmos sobre os desafios da Marca para o anos de 2017, 2018...enfim. Encontros como muitos outros anteriores e como muitos outros que irão se repetir pelos próximos quatro meses, em varias cidades do Brasil, na direção do planejamento de nossas próximas agendas.

No restaurante Mangai, de comida típica regional; Manoel Severo, Mucio Procópio, Carlos Alberto e Camilo Lemos; estivemos por longas horas compartilhando ideias sobre o desenvolvimento do Cariri Cangaço, as novas sedes e projetos como também os temas para os próximos anos. Naturalmente quando nos debruçamos sobre nosso principal objeto de paixão, a conversa flui sem tempo e sem compromisso, tornando o encontro de trabalho em algo simplesmente sensacional, uma noite preciosa...

Cariri Cangaço em noite de conversa em Natal

O Cariri Cangaço tem como temática principal o Cangaço, entretanto desde suas primeiras edições vem se configurando como um grande e dinâmico palco por onde se apresentam todas as faces desta maravilhosa historia e cultura nordestina: Cangaço, messianismo, coronelismo, religiosidade, enfim, como também todas as suas manifestações  através das artes; musica, dança, teatro, cinema, poesia, literatura, fotografia, escultura, pintura, cordel, cantoria...

Para 2017 e 2018, estamos nos dedicando a construir uma agenda que nos permita consolidar esse sentimento de fomento de todas essas manifestações. A chegada aos municípios de Exu, Serrita, Paulo Afonso, Delmiro Gouveia, e em nossas esperadas reedições em Floresta-Nazaré, Piranhas-Água Branca, Princesa Isabel, depois em nosso Ceará e ainda as ousadas empreitadas das capitais nordestinas; em principio João Pessoa e Teresina;, e da surpreendente Lisboa, haverão de tornar esse biênio que se aproxima em um momento verdadeiramente especial.


Uma das grandes novidades da agenda 2017/2018, será sem dúvidas a chegada em grande estilo do Movimento Armorial ao Cariri Cangaço. A espetacular Arte Armorial Brasileira, que se traduz no Movimento Armorial; nascido a partir do gênio incomparável de Ariano Suassuna e que como traço comum principal tem a ligação com o espírito mágico dos "folhetos" do Romanceiro Popular do Nordeste, a nossa sensacional Literatura de Cordel; se configura como uma das mais autenticas manifestações da verdadeira alma nordestina.

"A vida é a arte do encontro..." e estamos todos comprometidos em promover esse grande encontro entre o povo e sua origem , que passa e se fortalece necessariamente através de nossa cultura de raiz" comenta o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo. Para o pesquisador Carlos Alberto "já era tempo do Cariri Cangaço abrir suas portas para o espetacular Movimento Armorial, a literatura de cordel, a musica de viola e rabeca, a xilogravura, os ferros de marcar gado, sem duvidas será sensacional".

Conselheiro Múcio Procópio e Manoel Severo

O Conselheiro Cariri Cangaço Múcio Procópio completa, "todos temos experiencias ricas quando se trata dessa cultura de raiz nordestina, o Cariri Cangaço presta um serviço importantíssimo na divulgação e preservação desse movimento". Para Ariano Suassuna "sendo "armorial" o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa. Desse modo, o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras." Camilo Lemos ressalta o esforço "de todos os que fazem o Cariri Cangaço na direção de fortalecer essa mesma cultura, isso é fenomenal."

Segundo Manoel Severo,"estaremos inaugurando neste 2017, algumas iniciativas ousadas e com certeza haveremos de trazer o  Movimento Armorial para dentro do Cariri Cangaço, começaremos com o "Ferro de Marcar Boi" e o "Cordel", acho que será muito bacana".

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço