A dor de uma cidade que amamos! Por:Manoel Severo

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Queridos amigos da família Cariri Cangaço, gostaria de compartilhar com todos vocês os desafios deste último dia. O nosso Crato, berço do Cariri Cangaço, amanheceu perplexo. Uma enorme onda de chuva que persistiu da última noite até manhã de hoje acabou trazendo sérias preocupações e muito angustia para muitos amigos.

Choveu em apenas uma noite o equivalente ao mês inteiro, o canal do rio Granjeiro, que corta toda a cidade acabou rompendo e trouxe consigo o desespero para muitas famílias. Durante todo o dia de hoje estivemos reunidos em Crato, andando pelas ruas, ajudando os desabrigados, confortando as famílias e em constante oração. Queridos amigos; alguns dos nosso valorosos colaboradores, que estiveram nos bastidores de nosso Cariri Cangaço, se esforçando para dá o melhor de si e fazer o melhor evento para todos os nossos convidados; foram vitimas do destino, alguns perderam tudo: roupas, utensilios, moveis, eletrodomesticos...e a propria casa.

Este blog que se acostumou em trazer momentos de alegria e felicidade, hoje traz momentos de dor e apreensão. Crato se une para cuidar dos muitos que se encontram em dificuldade.

Um abraço a todos,

Manoel Severo e Danielle Esmeraldo
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Pesquisadores recebidos em Aurora Por:José Cícero

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Josué, Zé Cícero e Lili

Dois importantes pesquisadores e entusiastas da história do cangaço nordestino estiveram visitando Aurora na manhã de sábado(22) quando foram recebidos pelo também aficionado da história lampiônica, o secretário de Cultura do município, professor José Cícero.

Trata-se do carioca de Saquarema Josué Santana de Macedo e da historiadora mineira de BH Nely Maria da Conceição(Lili) – filha da dupla de cangaceiros do bando de Lampião: Moreno e Durvinha. Lili que por sinal já estivera em Aurora em agosto do ano passado por ocasião do Seminário Cariri Cangaço comemorativo aos 83 anos da passagem de Lampião e seu bando pelo território aurorense.

Depois de visitarem o prédio da secretaria de cultura, os dois pesquisadores ciceroneados pelo secretário empreenderam visita até a fazenda Ipueiras antiga propriedade do célebre coronel Izaías Arruda e Zé Cardoso. O local ficou famoso por ter sido palco de dois dos mais importantes momentos na história de Lampião na região do Cariri. O primeiro por está diretamente relacionado a trama para a invasão de Mossoró, posto que foi toda ela, arquitetada na Ipueiras de Aurora, sob a logística e o patrocínio direto do coronel Izaías, Zé Cardoso e Massilon Leite.

Nas Ipueiras de Zé Cardoso e Izaias Arruda


E depois, por ter sido também, quando do retorno de Lampião, o exato local onde ocorreu a famosa tentativa de envenenamento do bando lampiônico ante a traição do coronel e, em seguida, um dos mais intensos e enigmáticos confrontos de Lampião contra a volante do major Moisés de Figueiredo auxiliado pelos jagunços de Izaías; até então considerado um dos maiores coiteiros do rei do cangaço na região.

Na oportunidade, os pesquisadores, ao lado de José Cícero conheceram de perto o sítio Ipueiras, localizado a cerca de 12 km da sede do município. Assim como as ruínas da residência do coronel onde aconteceram as negociatas e reuniões para o traçamento das estratégias com vistas ao histórico assalto a cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte em 1927.

Os pesquisadores visitaram ainda a antiga casa (ainda de pé), do vaqueiro do coronel Izaías e Zé Cardoso, sendo tudo registrado em fotografias. No retorno Josué e Lili foram convidados para um almoço na residência do secretário de Cultura ao lado da sua esposa a professora Cláudia Maria.

Depois de Aurora a dupla se dirigiu para o estado do Pernambuco(Buíque) e de lá para Alagoas(Piranha e Poço Redondo) e Sergipe onde finalizam o roteiro de visitas a alguns dos locais marcantes da história do cangaço nordestino. De lá retornarão para os seus estados de origem. Desde o dia 14 que os mesmos estão viajando pelas paragens nordestinas seguindo, literalmente, as pegadas de Lampião e seu bando. A previsão é de que as visitações sejam concluídas dia 27. Juazeiro, Brejo Santo, Missão Velha, Limoeiro do Norte e AURORA foram alguns dos municípios visitados no Ceará, além de Cajazeiras, Uiraúna e Nazaré na PB, Jeremoabo, Paulo Afonso na BA, Serra Talhada, São José do Belmonte e Buíque no PE, bem como Mossoró e Apodi no RN, dentre outros em Alagoas e Sergipe. Tanto Josué quanto Lili já confirmaram presenças no Cariri Cangaço edição 2011.

FONTE: http://blogdaaurorajc.blogspot.com
Redação do Blog de Aurora e da Seculte
José Cícero - Secretário de Cultura de Aurora
Pesquisador do Cangaço

NOTA CARIRI CANGAÇO: Nosso abraço ao grande amigo José Cícero, competente e dinâmico Secretário de Cultura de Aurora, que com a maestria que lhes é peculiar recebeu nesta última semana os amigos Josué e a querida Neli. É a família Cariri Cangaço se reencontrando até setembro chegar... Aurora e José Cícero são um dos anfitriões do Cariri cangaço 2011.
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Depois de Aurora, Paulo Afonso...

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Caravana do confrade João de Sousa Lima com Teófilo Pires

Saímos de Paulo Afonso, eu (João de Sousa lima), Nely Conceição e Josué, adentramos o Raso da Catarina, cruzamos o povoado Salgadinho e fomos ver a casa onde nasceu a cangaceira Lídia, a mais bela mulher do cangaço.

Lateral a casa aonde ela nasceu, encontramos José Luiz, "Sinhozinho", o último irmão vivo da cangaceira. Do Salgadinho seguimos até o povoado Juá, lugar que viu muitos filhos e filhas irem para os diversos bandos de cangaceiros; No Juá fotografamos alguns pontos vistados pelos cangaceiros e os escombros da casa de João Lima, morto pela volante do sargento Pessoa, acusado de ser um dos coiteiros de Lampião; Do Juá partimos em direção ao Brejo do Burgo, reserva indígena dos Pankararé, lá visitamos dona Germana, com 102 anos de idade, irmã de João de Clemente, jovem morto por Lampião, no povoado Serrote.

Além de dona Germana estivemos com "Seu Coquinho", primo do cangaceiro Arvoredo e irmão do soldado volante Artur Figueiredo; do Brejo cruzamos o Raso; Passamos no Salgado do Melão, lugar onde reside Joana, a irmã mais nova da cangaceira Dadá; Passamos na "Baixa do Ribeiro", localidade onde nasceu Dadá, centro do raso da Catarina, bela paisagem circundada pela exuberante Serra Tonã; adiantamos e chegamos em Macururé, tomamos uma água gelada e seguimos até o povoado São José, encontrando o ex-soldado de volante, Teófilo Pires do Nascimento, com ele visitamos a igreja do povoado, espaço sagrado para a comunidade; Nessa igreja Lampião, Corisco e mais alguns companheiros assistiram missa em 1928; Teófilo e sua família nos serviram um delicioso almoço, sentamos na calçada, conversamos, os amigos do velho sertanejo se fizeram presentes, demonstrando o verdadeiro carinho do Nordestino.

Fizemos uma tarde de autógrafos e presenteamos alguns livros; Chegou a hora de partir e fomos até Chorrochó, fotografar a igreja construída pelo Antônio Conselheiro, chegamos lá com o sol se pondo, fotos tiradas e seguimos na direção do Ibó, atravessamos a ponte, noite escura, animais na pista, uma vaca cruza repentinamente meu caminho, freio bruscamente o carro, ele derrapa e segue na direção do animal, puxo o volante na tentativa de evitar o impacto; o atrito do pneu freado com o asfalto soa como forte grito, a vaca se assusta, volta na direção do carro, o carro continua andando mesmo com os freios acionados, o impacto é inevitável, estrondo, gritos, vidro quebrado, respiro forte, olho os amigos e a esposa, todos bem, a vaca ainda deitada, carros vindo, me certifico que todos estão bem e sigo viagem, cruzando Floresta, Petrolândia e enfim as luzes de Paulo Afonso, 23:30h , chegamos, fizemos o relatório da viagem, risos, recordações, lembranças só boas, roteiro cansativo mais gratificante e uma coisa em comum: lembranças da tarde ao lado daquele home de voz grossa, alto, forte, com seus 94 anos e brincando de ser menino, tratando todos com carinho, amigo verdadeiro, difícil não gostar dele. Até a próxima.......

João de Sousa Lima
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Vem aí o Centenário de Maria Bonita

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João de Sousa Lima, Sílvia de Oliveira e Jairo Luiz

O centenário de Maria Bonita terá novas parcerias e será realizado nas cidades de Paulo Afonso, Canindé do São Francisco e Piranhas.

Dando andamento ao projeto que envolve essas cidades, com Os Roteiros Integrados do Cangaço, João de Sousa Lima, Coordenador de Cultura de Paulo Afonso, Silvia de Oliveira, Secretária de Turismo de Canindé e Jairo Luiz, Diretor de Turismo de Piranhas, bateram o martelo e recepcionarão escritores, pesquisadores e palestrantes do Seminário Internacional do Centenário de Nascimento de Maria Bonita.

o evento acontecerá
dias 23 a 26 de março .
 A programação completa
sairá ainda esse mês.

Fonte:joaodesousalimablogspot.com.br
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Lenha na Fogueira ! Ademar ou Benjamim? Por:Renato Casimiro

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Renato Casimiro

Caro Severo,
Você me pede uma opinião sobre o excelente depoimento de Nirez, com respeito à participação de Ademar Bezerra Albuquerque na realização do filme com Lampião. A rigor, não ouvi ali nada do que não seja o restabelecimento da verdade. Nirez tem a seu favor um zelo muito grande por tudo que lhe cerca, seja na fotografia, na música e em todas as suas manifestações de grande memorialista.

Não há dúvida que o seu depoimento procura esclarecer a verdade sobre aquilo que, historicamente, se aceitou como sendo uma ação de Benjamim Abraão.

É perfeitamente factível que as atenções de Ademar Bezerra Albuquerque para não perder a oportunidade de realizar o trabalho, através de Benjamim, sejam verdadeiras e incontestáveis. E nisto o Nirez juntou detalhes fornecidos pelo Chico Albuquerque com grande propriedade para firmar a veracidade das afirmativas. Procurando imagens do Juazeiro antigo, não encontrei em muitos anos uma só que pudesse ser referida ao “fotógrafo” Benjamim. E olhe que ele tinha tudo para fazê-lo, pois no período em que foi secretário do Pe. Cícero, Juazeiro se viu descoberto por uma quantidade enorme de visitantes ilustrados e o dia-a-dia da casa do padre era muito favorável a isto.

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Efetivamente, este período de Juazeiro e do Pe. Cícero (época em que Benjamim servia à casa do padre) é muito rico em imagens fotográficas e filmes. A propósito destes filmes, reproduzo o texto que apresentei em nosso então jornal eletrônico Juazeiro on line, na sua edição de 18.01.2009, numa coluna denominada Juazeiro, por aí, que ainda pode ser encontrado disponível em http://www.juaonline.info/.
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FILMOGRAFIA(I)...

Numa consulta à Cinemateca Brasileira (Secretaria do Audiovisual/Minc), São Paulo, localizei dados sobre os filmes realizados pelo sr. Lauro Reis Vidal, durante sua visita a Juazeiro, em 1925. Foram três películas: um filme original, de 1925, e dois outros montados nos anos 1939 e 1955.
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FILMOGRAFIA(II)...

O JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO (Infelizmente, a Cinemateca Brasileira não possui este filme), é um documentário inscrito na categoria de curta-metragem/silencioso/não-ficção. O material original foi em 35mm, BP, 16q. Produção de 1925, em Fortaleza, onde foi lançado em 08.12.1925, no Cine Moderno. A produtora foi a Aba Film, de Adhemar Albuquerque, que fez a direção. Sinopses: "Surpreendente filme natural apresentando magníficos aspectos da região do Cariri em que se vêem: Joazeiro, Crato, Barbalha e outros lugares, assim como Missão Velha, Lavras, Quixadá, Ingazeiras, Fortaleza, etc. Impressionante vista do grande açude do Cedro". (Jornal do Comércio, 28.11.1926). "Trata-se de uma bela reportagem cinematográfica do Cariri, zona em que o padre Cícero exerce a sua infatigável atividade e o seu grande prestígio. O Joazeiro, a cidade do padre Cícero, é apresentada em seus diversos aspectos, mostrando o seu progresso, o seu povo, enfim tudo o que ali existe de importante. Além do Joazeiro, o público aprecia outros bonitos pontos do sertão cearense, destacando-se o Crato, Barbalha, Missão Velha e o colossal açude do Cedro, obra grandiosa da engenharia brasileira. De Fortaleza há algumas, como sejam o porto, o passeio Público e o Parque da Liberdade. Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. É um filme digno de ser apreciado. Não fatiga o espectador. Ao contrário, torna-se atraente pela variedade de cenas, que desenrola. Além disto satisfaz uma curiosidade: mostra o maior domador de homens dos sertões, o padre Cícero Romão Baptista, que se apresenta em diferentes cenas, entre o povo que o aclama, em sua residencia trabalhando, abençoando afilhados e romeiros, discursando, enfim de diversas maneiras é ele visto na tela". (Jornal do Comércio, 02.12.1926)
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FILMOGRAFIA(III)...

O JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO, o segundo documentário, foi realizado em 1939, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir de um material original anterior, em 35mm, BP, com duração de 8min, 220m, 24q. A produção foi de Lauro Reis Vidal, no Rio de Janeiro.
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FILMOGRAFIA(IV)...

PADRE CÍCERO, O PATRIARCA DO JUAZEIRO, o terceiro documentário, foi realizado em 1955, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir do material original em 35mm, BP, com duração de 11min, 300m, 24q. A produtora foi a Filmes Artísticos Nacionais, do Rio de Janeiro, e a co-produção foi de Lauro Reis Vidal, tendo como direção Alexandre Wulfes. Por exigência da época, o documentário passou pela censura em 19.01.1955, com o certificado 31942, válido até 19 de janeiro de 1960.
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FILMOGRAFIA(V)...

Comentários: Observe que fotos de Lampião são referidas em período anterior à sua visita a Juazeiro, em 1926. Algumas das cenas destes documentários podem ser vistas em outras produções recentes, tanto para cinema como para tv. Na ilustração da coluna de hoje, o arquivo do Juaonline apresenta algumas delas, em fotos que foram obtidas por Raymundo Gomes de Figueiredo (anos 50), a partir de fotogramas destas películas. Especialmente sobre esta primeira película, encontro um registro cartorial firmado pelo Pe. Cícero nos seguintes termos:
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1931, 13 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA, AO SR. LAURO DOS REIS VIDAL, PARA EXIBIÇÃO DO FILME" JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "ÍNTEGRA: " Amigo e Sr. Laudo Reis Vidal. Saudações. Consoante os seus desejos, pela presente, dou a V.S. a exclusividade absoluta para exibição e representação cinematográfica em "qualquer parte do país e fora dele" de filme que diz respeito a aspectos deste município ou fora dele, nos quais figure a minha pessoa. Assim autorizado poderá V.S. fazer a exibição de qualquer película authentica que tenha obtido, ou que possa obter, conforme melhormente consulte as suas conveniencias e as aspirações gerais do povo, a exemplo da que já é de sua propriedade. Joazeiro, 13, de outubro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.(Lo. B-l, N° de Ordem 10, p. 18)

No dia seguinte, o Pe. Cícero faz constar no mesmo livro do primeiro tabelionato uma outra comunicação, reafirmando a concessão do dia anterior e ampliando suas prerrogativas: 1931, 14 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA AO SR. LAURO REIS VIDAL, PARA IXIBIÇÃO DO FILME "JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "Integra: "Amigo e Sr. Lauro Reis Vidal. Local. Reportando-me a minha carta passada onde lhe concedo a exclusividade de minha exibição cinematográfica ficando V.S. com plena autorização por ser o único habilitado a propagar o município de Joazeiro e minha pessoa, através da mesma exclusividade, em todos os tempos, como proprietário do filme "Joazeiro, do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" ou outro qualquer filme que possa obter; sirvo-me da presente para juntar as fotografias e documentos que solicitou, em relação separada e por mim assignada, como elementos precisos para a via de propaganda acima citada. Encerrando, cumpre-me, de já, agradecer a sua manifesta boa vontade para comigo, os meus amigos e as coisas do Joazeiro. Saudações. Joazeiro, 14 de novembro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.( Lo.B-l, N° de Ordem 12, p. 19/20).
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O ano de 1925 foi pródigo para filmagens em Juazeiro. Conhecemos a película realizada em 11 de janeiro, quando da inauguração da estátua ao Pe. Cícero, na Praça Alm. Alexandrino de Alencar; conhecemos a película realizada em setembro, quando da visita da comitiva do presidente Moreira da Rocha; conhecemos a que foi realizada por Ademar Albuquerque/Reis Vidal; mas não conhecemos uma que teria sido realizada por iniciativa do então deputado estadual Godofredo de Castro, neste mesmo ano.

É muito mais provável que Ademar esteja como realizador em todas estas películas e este relacionamento teria servido para oferecer um treinamento mínimo para o que viria anos depois com o filme de Lampião, pois é neste ponto que o testemunho de Chico Albuquerque a Nirez é importante.

Não tenho dúvida em aceitar que Ademar e Benjamim tornaram-se parceiros, sendo este cliente daquele e a quem poderia realizar pelo motivo apresentado por Chico Albuquerque e Nirez, o da confiança de alguém que não o punha, e a seu grupo, em apuros com a repressão policial.
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Embora tenha feito isto, publicamente, em depoimento durante uma edição do Cine Ceará, anos atrás, aproveito a oportunidade para relatar brevemente o que me foi ensejado conhecer desta atividade cinematográfica de Benjamim. No início dos anos 80, eu e Daniel Walker adquirimos uma coleção de fotografias antigas de Juazeiro e alguns pequenos pedaços destas películas que o seu proprietário, Raymundo Gomes de Figueiredo, cidadão juazeirense, mantinha como acervo e no qual se incluíam livros e jornais, e a que deu o nome de Arquivo Benjamim Abraão.

Quando adquirimos e isto foi divulgado pelo Diário do Nordeste, o fato foi relevado como se tivéssemos adquirido o Arquivo “de” Benjamim Abraão. A família de Benjamim, através de seu filho, então residente em Niteroi e comerciante no Rio de Janeiro, Atalah Abraão, instruído por Eusélio Oliveira, resolveu mover uma ação contra nós dois e a levou adiante nas instâncias de Juazeiro do Norte e Fortaleza. Vencemos nas duas e o material nos foi devolvido, anos depois. Mais adiante, numa conversa com o ex-senador da república, José Reginaldo Duarte, cuja família criou nos arredores de Juazeiro, o filho de Benjamim, o sr. Atalah, nos chamou para uma conversa onde algumas coisas foram faladas a respeito da frustração que aquele ato determinou para nós e para a família, sobretudo porque ficou demonstrado que nós não havíamos comprado nenhum roubo, portanto, não éramos receptadores de um acervo, até então procurado.

O sr. Reginaldo Duarte nos lembrou, inclusive, que por vários anos, encontrando-se diversos rolos de filmes pertencentes a Benjamim (não se sabe se apenas outros que não o relativo a Lampião) num canto da casa, na localidade de Brejo Seco, proximidades do atual Aeroporto Regional do Cariri, guardados em latas...

...a garotada do sítio tomava aqueles rolos e os queimavam durante as festas juninas. Certamente que por conta do material cinematográfico de então, sua queima se assemelhava a uma chuva de prata, coisa que fazia a garotada delirar.

Este é o fim trágico, pelo qual, inclusive tivemos que pagar duramente por uma suspeita descabida, a partir da ignorância e má vontade do então, meu amigo, Eusélio Oliveira, que não se permitiu aceitar o convite para conhecer de perto o que tínhamos comprado. A grande indagação que ficou, como moral da história foi mais uma grande dúvida sobre o que teria feito ou não Benjamim Abraão, como fotógrafo e cinegrafista, aluno de Ademar.

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Em tudo o que mencionei antes e do que ouvi, destaco: Sem querer por fogo na fornalha e já pondo, enfatizo o que registra a ficha da Cinemateca, mencionada: Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. Não é interessante que haja estas fotografias tomadas em data(s) anterior(es) a 1926. Observar que no filme com Lampião, Benjamim aparece usando um bornal com a inscrição Aba Film. Nunca houve omissão de que a produtora foi a Aba Film, de Adhemar Bezerra Albuquerque, que (também) deve ter feito a direção, à distância. Por isto, o depoimento de Nirez corrobora com as indicações anteriores de que ele era, efetivamente, produtor, diretor e fotógrafo destas películas em torno de 1925. Entre 1925 e 1936, quando filma Lampião, certamente Benjamim já teria apreendido objetivas e eficientes lições para manejar a máquina. Em mais de 10 anos de relação profissional com Ademar, Benjamim só teria feito isto? A resposta se foi, desgraçadamente, no fogo ingênuo das crianças, em noitadas de São João, nos arredores de Juazeiro do Norte.

Renato Casimiro
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Amigo é uma palavra quase morta Por:Alcino Costa

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Alcino Costa e Juliana Ischiara
 
Amigo é uma palavra quase morta. Palavra que praticamente já caiu no mais absoluto desuso no meio da sociedade brasileira destes novos tempos. Pobre daquele que ainda guarda em seu sentimento as virtudes da afeição e do apreço. Infeliz é aquele que carrega, nos dias atuais, a sensibilidade de ser sincero, cortês e parceiro leal das horas boas e ruins.

Ser amigo nestas novas eras da modernidade é ser ultrapassado, cafona e conservador. É ser rotulado de alguém que com sua pouca ou nenhuma inteligência não soube acompanhar as mudanças, transformações e evoluções do viver dos povos da era das grandes conquistas e notáveis feitos da ciência e da tecnologia. É assim que o mundo da inversão de valores em que vivemos classifica aqueles poucos que ainda guardam em seus espíritos o ideal sublime da confiança e da fidelidade.
Ser confiável, procurar ser digno e honrado, buscar normas que demonstre grandeza de caráter são valores que não mais merecem nenhuma deferência no mundo cão e medonho em que vivemos. Coitada daquela pessoa que se preocupa em ser correta em suas atitudes e em seus atos, pois elas não são levadas em consideração e nem classificadas como merecedoras de crédito e respeito. Vivemos num ambiente de extrema insensatez que já não permite que um ser humano arroste todos os percalços para ficar ao lado de um amigo quando ele caiu e se encontra na desgraça e jogado na rua da amargura, no abandono e no desprezo.


Contrapondo a esses valores do companheirismo e da lealdade entre os homens, existe, desde muitos anos, o poder maligno da subserviência, da mentira e do fuxico que, numa guerra infinda, vem tentando – e conseguiu – se impor e vencer a sinceridade e a amizade, jogando estes valores para a valeta onde vivem aqueles que são catalogados como antiquados e ignorantes.

Subserviência, mentira e fuxico são três flagelos que aprisionaram a dignidade e o respeito humano, jogando-os nas masmorras da insanidade daqueles que aceitam essas desgraças e as transformam em bandeira de grandiosa relevância e que tremulam nos gabinetes e escritórios, palácios e prefeituras; enfim, em todos os segmentos sociais que sucumbiram bisonhamente perante este poder maléfico que tem a magia de fazer com que a mentira se torne verdade; o dissimulado em pessoa verdadeira e acreditada; o desonesto em alguém sincero e honrado; o falso e traidor num cidadão justo e respeitável.

É muito fácil distinguir os portadores dessas maléficas desditas. Se você tem em seu poder algum cargo ou posição de destaque em qualquer setor da sociedade, o bajulador procura se encostar de mansinho, cheio de agrados e boas maneiras. A armadilha é simples, porém de uma eficácia impressionante. Conforme o aparecer das ocasiões o “cheléleu” aproveita os momentos propícios para jogar a isca tão cuidadosamente preparada. Quando isto acontece o caminho está aberto para seu projeto danoso.
Se o puxa-saco for do interior a tática é manjada mais que tem ultrapassado com certa facilidade e grande êxito todos os obstáculos; conseguindo, assim, excelentes resultados. A primeira providência é presentear “o chefe” com um queijo, um litro de mel, alguns quilos de camarão ou pitu, e tudo mais que possa ser do agrado do paladar e do ego do detentor do poder ou de alguma influência nos meios políticos e sociais. Quando isto ocorre à meta foi alcançada e o adulador consegue coisas inacreditáveis, especialmente se essas coisas tenham como finalidade perseguir e, muito mais que isso, destruir pessoas e adversários políticos.

É assim que o fuxiqueiro age. Com muito jeito e carinho o chaleira afaga o ego e a vaidade daquele que ao subir no pódio das grandes conquistas políticas e sociais entra também na bolha fantasiosa e fantástica da grandeza e da soberbia. É certo, o detentor do poder voa extasiado pelo mundo colossal, falso e imaginário dos sonhos e das ilusões. E nesse transe visionário – de humano para divindade –, jamais irá perceber que o adulador é uma serpente que tem como único objetivo inocular o seu terrível e mortal veneno em seus anseios de grandeza e com ele espalhar a discórdia dentro das hostes de uma estrutura política ou social. E lá, do alto de sua frágil e falsa bolha, aquela autoridade se rende ao encanto da adulação, do fuxico e da mentira.

Ser puxa-saco é um ofício antigo. Nos idos de Jackson do Pandeiro, o nosso célebre “Rei do Ritmo” já cantava sobre esse reles ser humano. Cantava assim:

Vou arranjar um lugar de puxa-saco
Que puxa-saco tá se dando muito bem
Tô querendo é chalerar, eu não quero é trabalhar,
E fazer força pra ninguém...

Aqui das lonjuras do Sertão do São Francisco, dos ermos caatingueiros do meu Poço Redondo, eu rogo a Deus que através de Vossa infinita bondade faças com que as autoridades, os poderes constituídos, todos enfim, procurem se livrar da maldição que carrega em seu bojo as pestes chamadas bajulação, mentira e fuxico. É com infinita tristeza que carrego a certeza de que nos dias atuais ser amigo é ser uma besta quadrada e ser bajulador, mentiroso e mexeriqueiro é ser confiável e acreditado.

Publicado no dia 13 de fevereiro de 2007, no JORNAL DA CIDADE, Aracaju 
Alcino Alves Costa - O Caipira de Poço Redondo
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Resenha de Massilon Por: Aderbal Nogueira

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Quando nosso amigo Honório de Medeiros nos comunicou da realização de seu trabalho sobre Massilon , fiquei bastante entusiasmado, muito embora meu nobre amigo tenha se referido ao mesmo como um simples trabalho. Ah, se todo simples trabalho tivesse essa característica... Ainda bem que conhecemos esses humildes amigos. Posso citar apenas mais um entre tantos, como por exemplo Ivanildo Silveira que segundo ele, é um humilde colecionador.

Voltando ao trabalho de Honório gostaria de dizer que irá agradar de um simples leitor a um acadêmico mais apurado, pois ao contrário do que parece, trata não só dos fatos em si, como também nos dá uma explicação bem mais aprofundada do ponto de vista acadêmico, bem como nos coloca a par de outras obras de autores diferentes e faz uma análise bem apurada de outros pontos de vista, abrindo consideravelmente o nosso leque de conhecimento.

Gostei bastante de algumas perguntas e respostas apresentadas no trabalho. A parte em que narra o ataque a Mossoró é bastante elucidativa . Com certeza, após essa leitura pude enxergar a história por outras nuances. Obrigado amigo por nos brindar com uma obra tão apurada. Em tempo; já se encontra na internet o trailler do filme de Gato, produzido pelo Núcleo de Cinema de Paulo Afonso, que conta com todo o conhecimento do amigo João de Souza Lima. Parabéns, João! Estamos ansiosos.

Aderbal Nogueira
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Ângelo Osmiro em entrevista na TVC

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Esta é para os amigos do Ceará e os "parabólicos", não percam!

Será exibida neste sábado,dia 22, entrevista dada pelo confrade Ângelo Osmiro a TV Ceará, Canal 5, Jornal da TVC. A entrevista em sua integra será mostrada  no programa Papo Literário TVC as 19:00Hs . 

A matéria gira em torno dos livros que abordam a temática do Cangaço; Ângelo Osmiro, proprietário de uma das mais respeitáveis bibliotecas sobre o tema, nos traz uma apresentação de alguns livros; segmentando em: Livros Raros e da época, escritos no calor das décadas de 20 e 30;  Os Clássicos: Edições consagradas e eleitas pelos leitores como referências sobre o tema; Livros escritos por Autores Estrangeiros, mostrando a importância do tema difundido em todo o planeta e por fim as obras de Autores Cearenses, ou seja, programa imperdível.
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Cariri Cangaço
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Cariri Cangaço como um Vetor de Conhecimentos Por: Eloisa Farias

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Caro Manoel Severo, há quanto tempo não nos comunicamos, não é mesmo! Como vai o nobre dirigente do Cariri Cangaço? Espero que esteja tudo bem! Tenho acompanhado com frequência as atualizações feitas no site do Cariri Cangaço. São belas as experiências que tem compartilhado com a família Cariri, inclusive com aqueles que se encontram a quilômetros de distância dessa tão virtuosa fonte de conhecimento que é a região do Cariri.

Também tenho lido sempre os e-mails que nos encaminha e, inclusive, fiquei muito feliz com a nova parceria firmada com o jornal "O povo". Julgo que será um projeto de grandes préstimos não só para a divulgação do Seminário de 2011, como também para a construção da memória do evento, visto que o jornal se tornará uma bela fonte de pesquisa para os admiradores da história e cultura nordestina, que percebem o Cariri Cangaço como um vetor de conhecimentos e experiências originárias dos rincões caririenses.

Aproveito o ensejo dessa escrita para questionar-lhe sobre previsão de temas para o evento deste ano. O que será abordado? A curiosidade é grande, principalmente quando se cultiva o desejo de encontrar, mais uma vez, a família Cariri Cangaço reunida para debater e fomentar novas ideias, e confrontar pontos de vista, ápice do debate.

Eloisa Farias

Atualmente estou trabalhando com políticas públicas na área da cultura, pela Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura. Deixei a sala de aula em outubro de 2010, quando tomei posse no MinC. Tenho mantido contato com novas propostas políticas para as mais diversas áreas da cultura: literatura, audiovisual, artesanato, dança, música, teatro, entre outros. Inclusive, foi finalizado em dezembro o Edital de literatura de cordel, edição Patativa do Assaré, onde ví que o querido Gonzaga de Garanhuns teve participação.

Bom, em razão desse contato constante com as propostas fomentadas pelo Ministério da Cultura, acabei por eleger um tema que julgo relevante para ser discutido em um evento como o Cariri Cangaço. Mas, para tanto, gostaria de saber qual o tema do Cariri deste ano para que eu possa analisar se minha proposta é condizente com o que se pretende discutir na próxima edição. Despeço-me parabenizando-o, mais uma vez, pela iniciativa junto ao jornal "O povo" que, no final das constas, é mais uma marca de sucesso para o evento.

Eloisa Farias
Brasília DF
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Lampião – Sua Morte Passada a Limpo Por:Manoel Severo


Angico. A famosa grota do Angico; esse foi o cenário trágico dos últimos dias do Rei do Cangaço, Virgolino Ferreira da Silva. A presente obra “Lampião – Sua Morte Passada a Limpo” nos traz exatamente os momentos finais da vida desse que foi sem dúvidas o maior cangaceiro que já pisou o solo sertanejo de nosso abençoado nordeste.

Sabino Bassetti e Carlos Megale, com uma lucidez própria dos magníficos rastejadores do torrão bravo de nossas caatingas, dedicaram intermináveis meses, dias e horas de suas vidas debruçados sobre os momentos finais dessa sinfonia que o tempo teima em tentar harmonizar . Entre os acordes surdos dos acauãs , coaxar finos e grossos dos batráquios entre as rochas e o sussurrar manso do vento batendo nas folhas da vegetação daquela madrugadinha fria de inverno de julho de 1938; tendo como testemunhas mudas do grande desfecho; os arbustos com galhos retorcidos e com raízes profundas, bromélias e os mandacarus, angico e juazeiros; daquele que seria até os dias de hoje o mais polêmico e comentado episódio do ciclo cangaceiro de Lampião: o cerco e o ataque das forças volantes comandadas pelo tenente João Bezerra, quando tombariam mortos, um soldado e onze cangaceiros, entre eles , Maria Bonita e Lampião...


Através do livro de Bassetti e Megale nos é permitido aproximar ao máximo dos acontecimentos referentes aos dias finais daquele longínquo julho de 1938 e todas as suas repercussões; Lampião havia marcado encontro com os outros chefes do cangaço, Labareda, Corisco e Zé Sereno, estariam se dirigindo para o Angico para deliberar sobre o que fazer com Zé Rufino que estava “querendo passar de pato a ganso...”? Ou estaria tramando o abandono total ao cangaço? Ou o que mais estaria por traz do referido encontro? O fato é que o esperado encontro dos maiores do cangaço do final daqueles difíceis tempos não aconteceu. Labareda não conseguiu chegar, Corisco não teve tempo de atravessar o caudaloso Velho Chico. Ao lado do bando do “Cégo” apenas Zé Sereno e seus homens.
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O que poderia ter acontecido naqueles últimos momentos? Que diálogos teriam sido travados, o que acontecia na vizinha Piranhas da vizinha Alagoas? E o que se passava nos salões atapetados dos gabinetes dos chefes da polícia e da política daqueles atribulados anos do Estado Novo Getulista? Angico é um tema inesgotável. Nos acostumamos a nos perder em debates intermináveis sobre as circunstâncias e natureza do que cercava aquele tão comentado episódio e hoje temos o privilégio de receber esse grande presente dos escritores Sabino Bassetti e Carlos Megale.

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Toda a rede de interesse entre os muitos personagens principais e coadjuvantes, mas nem tão coadjuvantes assim; o que disseram, o que deixaram de dizer, o que mostraram, o que omitiram, esconderam; o que morreu com cada um deles. O vasto e enigmático “espólio de guerra” tão buscado pelos perseguidores e causa e razão de outro cem número de contradições. As perigosas ligações entre o Rei Cego e os poderosos de então...

A você leitor, que é mais um aficionado pela temática do cangaço, que se delicia com uma boa leitura, fique a vontade com “Lampião – Sua Morte Passada a Limpo”, certamente terá uma rara oportunidade de compartilhar o que temos de melhor sobre o grande desfecho de Angico; solo sagrado onde tombaram Lampião, Maria Bonita e mais dez personagens dessa saga, que tanto flagelo e tanto sofrimento trouxe ao bom e humilde povo sertanejo e que acabou consolidando o mito de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião.

O Lançamento do livro se dará no Seminário de Maria Bonita em Paulo Afonso, Bahia, no próximo mês de março de 2011. Fiquem atentos. 

Manoel Severo; pesquisador, membro do Conselho Consultivo da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Idealizador, Produtor e Curador do Cariri Cangaço, administrador do site cariricangaco.com
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Bárbara, a surpresa da noite.

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Bárbara, roubou a cena!
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Bárbara é uma criança simplesmente maravilhosa! Calma, explico: Deveria postar algo sobre o singular encontro deste último domingo com o casal Honório de Medeiros e Michaella; com certeza o assunto em pauta não poderia ser outro: Cangaço. Mas, sou obrigado a declinar do obvio e me deter a uma outra convidada mais que especial: Bárbara, a amável e incrivelmente agradável filha de nossos amigos.

De imediato traçamos eu e Dani, uma infinidade de semelhanças de Bárbara com nossa Manoelinha; são apaixonadas por leitura, falam uma lingua estranha, adoram livrarias, antiguidades, Egito, adoram Harry Potter,  aula de história, amam seus professores, possuem um vocabulário completamente rebuscado e o mais incrível, as duas possuem a mesma idade: 435 anos ! Isso é fantástico. Falava para Honório, "como podem ser tão idênticas ??? " Mas, é isso; que bom receber a energia maravilhosa dessas crianças  e aí nesses momentos, nos sentimos os mais corujas de todos os pais... Quando chegar o Cariri Cangaço 2011, aqueles que não conhecem, teram oportunidade de conhecer a pequena Bárbara.

Danielle, Severo e Honório de Medeiros

Bem, agora voltemos ao mundo do cangaço. Ainda por ocasião de nossa estadia em Natal, tivemos o privilégio de jantar com o amigo Honório e sua família. A oportunidade de colocar a conversa em dia, saber das novidades, dos planos, enfim, nos aproxima cada vez mais dos queridos amigos que vemos tão pouco. Honório que estava "veraneando" pelo litoral do RN, acabou voltando para a cidade para nos encontrar, fato que nos deixa lisonjeados.

Reflexões, idéias, sugestões e um bate papo incomparável. De quebra, impagáveis momentos do cotidiano de quem pesquisa cangaço, sempre cheio de novidades e polêmicas, que ao final, acabam se ajustando e enriquecendo o vasto mundo dos vaqueiros da história. Ao amigo Honório, sua esposa Michaella e a pequena e querida Bárbara, o nosso beijo de gratidão pela espetacular companhia e a noite inesquecível. Com certeza haveremos de tê-la guardada em lugar especial em nossas vidas.

Manoel Severo

PS. Antes que esqueça, Bárbara e Manoela têm 12 aninhos...
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Múcio Procópio, Cariri Cangaço e Antônio Conselheiro.

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Danielle Esmeraldo, Manoel Severo e Múcio Procópio, em Natal.

Neste último final de semana estivemos visitando alguns amigos na cidade de Natal, Rio Grande do Norte; com certeza, como fazemos todos os anos; desde Dezembro do ano passado, estamos reunindo os amigos; suas impressões, críticas, sugestões e principalmente os talentos, para a construção de nosso Cariri Cangaço 2011. Muitas novidades teremos. Nesta noite de sábado tivemos momentos marcantes e a perder de vista e de hora, com o amigo pesquisador, Múcio Procópio.

Múcio, um dileto e estimado amigo, esteve ao nosso lado nas duas edições do Cariri Cangaço; na primeira edição em 2009, participou como Moderador de uma das Mesas, já na segunda edição, no ano passado, nos brindou com uma das mais completas e instigantes Conferências de todo o evento. No "solo sagrado" do Caldeirão do Deserto, do Beato José Lourenço, em Crato, Múcio nos trouxe o Perfil nu e cru, de outro Beato: Antônio Vicente Mendes Maciel, ou seja: Antônio Conselheiro.


Em Crato, durante o Cariri Cangaço 2010, tivemos um Múcio mais solto, falante, didático, professoral e verdadeiramente sensacional; por mais de duas horas ficamos todos hipnotizados com a magistral história e a  saga deste cearense de Quixeramobim e grande arquiteto de Canudos. A prosposta e as expectativa do Cariri Cangaço foram plenamente satisfeitas. A idéia era exatamente conhecermos o perfil desse grande personagem da história do Brasil e do nordeste, o fato é que, Antônio Conselheiro e Canudos são tão intrigantes que seria necessário muitos e muitos seminários, apenas para conhecermos superficialmente o assunto.

Na presente viagem a Natal e na agradável noite em que tivemos o prazer de jantar com o amigo Múcio, o objetivo principal foi alcançado: dá o "start", o ponta pé inicial a mais um Projeto com a Marca Cariri Cangaço. Pois é, antes mesmo do Cariri Cangaço 2011, talvez tenhamos novidades ! Aguardem !

Manoel Severo
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Recado de Paulo Moura

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Amigos e leitores, estou informando a todos voces que o nosso blog (educandoemcordel) agora está de nome novo, isto é, um novo dominio. A partir desta data o blog passará a se chamar :

educarcomcordel.blogspot.com

A ideia é trasnformar o blog num site informativo onde o usuario possa usufruir de informações referentes a cultura e educação, porem com muita diversão e muita poesia de cordel! Espero que gostem, divulguem e visitem!!!

Um abraço poético!!!

Paulo Moura
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As volantes sob o olhar de Alfredo Bonessi

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Olho no Olho...
Por Alfredo Bonessi.

Pesquisador Alfredo Bonessi

Pesquisador Alfredo Bonessi nos responda: Qual dentre todos os comandantes de Volante o amigo mais admira e porque? Na sua opinião, como homens traquejados no uso das armas e nos combates nas caatingas, como GINO, ARLINDO ROCHA, MANEL NETO e NAZARENOS "se deixaram abater e surpreender" da forma como aconteceu em Serra Grande, Serrote Preto ou Maranduba?

Caríssimo Dr Severo,

Muito se tem escrito sobre a têmpera de quem combateu Lampião, mas no que diz respeito à coragem pessoal, à capacidade combativa, o denodo demonstrado nas persigas, à tenacidade durante os combates e o comportamento altivo na hora da morte. De lado a lado tivemos provas de coragem e determinação na chegada da derradeira hora.

O simples fato de sair na persiga de cangaceiros já é uma prova de coragem de parte de quem os combateu. Lembrando aqui que deslocamentos de cangaceiros e volantes era por motivos opostos: os cangaceiros se deslocavam sempre preocupados com o fator segurança, diante do possível, sem deixarem pistas e as volantes se deslocavam em buscas de pistas. Ambos se baseavam em informações para efetuarem os deslocamentos. Algumas vezes os rastros encontrados, originados por descuidos ou deixados de propósitos, serviam de pistas de possíveis paragens para ambas as partes. Enquanto vivos, Antonio Ferreira e Sabino, não havia caçados e caçadores, mas após a morte deles, o Cangaceiro passou a ser o caçado e a Volante o caçador. O Cangaceiro era o fora-da-lei. A Volante estava ao lado da lei, por força de Lei, a Volante era a Lei, representava a Lei. Aí reside a grande diferença de comportamento entre os oponentes.

A Volante com sede em Santana do Ipanema e sob o comando do Major Lucena se desdobrava em dezenas de grupamentos de forças, todas comandadas por oficiais, na maioria das vezes, e em outras vezes por graduados que tinham se destacado em combates contra cangaceiros. Cada pelotão de combate de 45 homens era fracionados em três ou quatro subgrupos de homens comandados por oficiais ou graduados. As ordens eram dadas pelo Major Lucena pessoalmente na sede da volante, ou por telegrama, ou por emissários aos comandantes dos pelotões que aprontavam os soldados e se deslocavam para o ponto combinado. Quando chegavam no ponto determinado, muitas vezes lá estava o comandante Lucena a espera da força. Dialogava com o oficial em comando e dali novas ordens eram dadas e Lucena sumia sertão a dentro conferindo se suas ordens eram cumpridas.

Tenente José Lucena Albuquerque Maranhão

Nesse ínterim, informações e contra-informações era o jogo predileto da polícia e dos cangaceiros.

Lampião venceu a polícia por mais de vinte anos, fazendo-os de bobos, driblando-os, mas a medida que as estradas estavam sendo abertas e a nova forma de comunicação, o radio, foi se estabelecendo em bases previamente estabelecidas de forma sistêmica no sertão, as possibilidades de sobrevivência do cangaço foi diminuindo cada vez mais. O fim do cangaço era uma questão de tempo, tão somente isso. O cangaceiro precisava sobreviver no sertão e dependia de tudo e de todos. A polícia dependia de seus chefes, dos políticos, dos governos. Além do mais caçar um cangaceiro e abatê-lo era sonho de todo policial, pois além da fama pelo feito havia a possibilidade de ficar rico - quem abatia um cangaceiro era dono do tesouro que o mesmo portava.

Cangaceiro não andava em estradas quem andava em estradas era a policia, a pé na maioria das vezes, montada, às vezes, de caminhão esporadicamente, e até de ônibus; segundo Labareda, fazendo o cerco aos cangaceiros seguindo à risca as ordens emanadas de Lucena. Resumindo: tudo que era de informação eram enviadas ao major Lucena que recebia e transmitia aos comandantes das frações em operações no interior do sertão, informações essas oriundas das policias de outros estados, de informantes credenciados, dos oficiais em campanha, dos caçadores, dos delatores, dos coiteros e de cangaceiros que mudavam de lado. O cerco a Lampião se fechava cada vez mais.


Uma vez estabelecido de que forma os oponentes se deslocavam e com que objetivo, será fácil entendermos o porque muitas vezes tanto os cangaceiros e policiais foram pegos desprevenidos. A fuga milagrosa dos cangaceiros ao cerco da polícia é o que se tem de mais notável na guerra do cangaço. Desde a fazenda Piçarras até o Raso da Catarina o que se viu foram ambos os lados se degladiando até as últimas forças, num jogo mortal com sangramentos de ambos os lados. O fiel da balança começou a pender para o lado da lei quando sertanejos ocuparam a posição de comandante das forças volantes, aí Lampião teve que se desdobrar em cuidados operacionais. Era o rastejador - homem que outrora fora caçador – o grande responsável para conduzir a volante até os cangaceiros estivessem onde estivessem. Não era mais o soldado inexperiente, o militar de escola, que levava os homens para o combate, eram os sertanejos calejados na vida da caatinga, acostumados a sede, a fome, a suportar todos os tormentos que o calor possa oferecer, a não desistir jamais de uma meta estabelecida, de um objetivo proposto, de uma vingança, de fazer justiça. Isso chama-se determinação.

Todas as vezes que os cangaceiros esperaram as volantes a vitória foi cangaceira, mas na maioria das vezes os cangaceiros foram pegos de surpresa e pagaram muito caro por isso quando isso acontecia o cerco policial era bem feito, dera certo e os cangaceiros não esperavam pelo ataque.

O que se viu em Serra Grande, Serrote Preto e Maranduba foram erros policiais. Falta de planejamento, falta de coordenação e controle, rancor exacerbado, despreparo, arrogância, destemor beirando a loucura...

... desejo de vingança, desconhecimento do terreno, avaliação mal feita da posição inimiga, cansaço, dispositivo de combate mal posicionado no terreno a ponto dos policiais se matarem entre si, individualismo, corporativismo, falta de capacidade profissional, inexperiência, descontrole, desejo de mérito, dos louros pela vitória aparetemente fácil devido ao grande efetivo que se compunham a força policial.

Encerrando a exposição do tema a que me propus discorrer posso afirmar às gerações de hoje que a coragem nunca fez falta a esses homens que lutaram por causas tão diversas, não acredito que o sertanejo do interior, daqueles tempos fosse acometido por um instante de medo diante do perigo eminente, seja ele a ponta de um punhal, ou o sangue escorrido de um orifício provocado por uma bala, seja ela policial ou cangaceira.

Analisando o tema como um todo não encontrei um momento de fraqueza por parte do policial e nem pelo cangaceiro, mas encontrei um momento de traição e covardia por coiteros, como foram os casos de Pedro de Cândida, Durval Rosa e Joca Bernades. O fato não se torna hediondo pela delação e da forma como ela ocorreu, pois qualquer cidadão teria o dever moral de contribuir com a ação policial para o bem da sociedade de então. Mas esses personagens não eram simples cidadãos, eram sócios, colaboradores no crime e beneficiados pela ação dos criminosos uma vez que eram pagos para fazerem compras e darem informações aos bandidos, isso por livre e espontânea vontade. Sendo assim, e pagos e muitos bem pagos pelos cangaceiros não deveriam ter feito o que fizeram, entregando-os covardemente a morte, sem darem chance de defesa aos amigos. Antes morressem eles, heroicamente, no ferro do punhal, do que passarem a traidores para a história porque ninguém gosta de traidores estejam de que lado estejam - os traidores nunca ficam com a honra - a honra não pertence a eles.

Por fim, se tenho que escolher um comandante; um comandante para mim; um comandante que eu gostaria de ficar sob suas ordens, pois com certeza seria um militar bem sucedido, eu escolheria Zé de Rufina

... não desmerecendo os demais. Poderia aqui escrever páginas e mais páginas sobre esses oficiais e suas equipes, mas eu gostaria de trabalhar na Volante do Tenente Zé de Rufina. Creio que é a turma mais experiente diante das demais turmas. Outro personagem que eu gostaria de ter como amigo era Odilon Flor - tenho boas informações sobre ele. É o tipo de homem que eu dormiria sossegado deixando ele na vigia.

Comandante de volante, Zé de Rufina

As vezes as pessoas me perguntam o porque que Lampião não deixou o cangaço e foi morar em outro lugar, como fez o chefe do cangaço Sinhô Pereira ? - respondo logo sem pestanejar: porque os nazarenos iriam atrás dele onde ele estivesse. A guerra entre Nazarenos e Lampião é uma guerra a parte, diferente da ocorrida entre cangaço e polícia. É um outro estudo que não cabe aqui nesse momento referendar, porque fugiríamos do tema.

O que sabemos é que cangaço e volante se encontraram na doença - véspera da morte - nos hospitais onde estavam baixados - diferente do encontro em combate que travaram na mocidade onde ambos os lados procuravam causar a morte do seu oponente. Assim o valente e temerário Odilon Flor foi visitado por Labareda nos hospitais da Bahia, Dadá visitou Zé de Rufina quando esse estava doente, se abraçaram e choraram. Dadá ainda tentou visitar o Coronel Bezerra quando esse estava acamado, mas foi expulsa do Hospital pela esposa dele.

Encerrando, ficaremos com a imagem do Tenente Higino José Belarmino, o Nego Gino, como era chamado pelos cangaceiros, quando ao pé da serra, retira o seu relógio de bolso, olha as horas e fala entre os dentes:

- Bem, são nove horas e vinte e dois minutos - daí olha para o cimo da serra, fecha o relógio e o coloca no bolso – daqui pra frente, diabo é quem sobe essa serra !

Capitão Alfredo Bonessi
Oficial da Reserva do Exercito Brasileiro
Pesquisador e Membro do GECC e da SBEC
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Segunda Visita de lampião a Dores Por: José Lima Santana

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Nossa Senhora da Dores, em destaque vermelho.
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De Capela, o bando de Lampião seguiu para Aquidabã. Em Dores fez uma boa “arrecadação”. Fala-se que a extorsão rendera uma considerável quantia, que, segundo os mais diversos depoimentos, varia entre 3:000$000 (três contos de réis) e 25:000$000 (vinte e cinco contos de réis), como já foi dito. São dizeres dos populares, sem comprovação.

José Anderson Nascimento, por exemplo, que muito conversou com um dorense, Rivadávia Brito Bonfim (08.02.1920-18.09.1991), que, à época, era uma criança de 9 anos de idade e, como outras crianças, estivera no cenário da “visita” de Lampião, e, mais ainda, era filho do Intendente Manoel Leônidas, diz que a “coleta” rendera “dois contos, cento e oitenta e hum mil réis” (1996, p. 205). Vera Ferreira, neta legítima de Lampião, e Antônio Amaury afirmam, sem, contudo, citarem fontes, que a extorsão em Dores rendera “quatro contos e quinhentos mil réis, num procedimento que alguém chamou de ‘saque elegante’” (1999, p. 174). Como visto, há quem fale em dois, três, quatro, cinco, dez contos de réis e por aí à fora. Os valores citados são os mais díspares possíveis. Quem irá saber?

No depoimento anteriormente referido, Afonso Rodrigues Vieira, que fora, durante muitas décadas, um dos mais prósperos e probos comerciantes dorenses, no ramo de tecidos, e, em 1929, contava com 26 anos de idade, prestou, ao autor deste artigo, o seguinte depoimento: “Cada um dos cinco homens chamados por Lampião teve de dar-lhe três contos de réis, enquanto o Padre Marinho e o Intendente, de posse de uma lista, arrecadaram outros dez contos de réis”. A coleta foi confirmada por Pedro Vieira Teles, que, contudo, não mencionou quantias. Tomando a versão de Afonso, teriam sido coletados, então, vinte e cinco contos de réis. Parece uma quantia por demais vultuosa para ser extorquida numa cidade como Dores, naquela época, embora fosse uma cidade próspera, com muitas usinas de beneficiar algodão, além de ser um dos municípios que produziam o melhor algodão de Sergipe, como atestam os mais diversos escritos, em livros e jornais, desde o fim do século XIX até a década de 1940, quando o algodão definharia para dar lugar ao gado bovino, que voltaria a ser a base da economia dorense, até os dias de hoje. Acima de tudo, era dia de feira e estava-se no meio da tarde, o que teria facilitado a extorsão.

Entretanto, o que deve ser analisado, de antemão, é o seguinte: considerando que Lampião surrupiou três contos de réis, como disse o Cel. Figueiredo, sendo esta a menor quantia de que ainda hoje se fala em Dores (ressalvada a citada por NASCIMENTO), ele roubou do povo dorense, no mínimo, o equivalente a quase 10% (dez por cento) da receita orçamentária da Intendência Municipal de Nossa Senhora das Dores daquele ano, estimada em pouco mais de 30:000$000 (trinta contos de réis). Era, de qualquer forma, muito dinheiro, até mesmo para uma cidade que possuía uma dezena de usinas de beneficiar algodão. E era famosa pelo algodão de boa qualidade que plantava e colhia.
Em Capela, segundo Ranulfo Prata (Ob. cit. p. 87) Lampião, ao fazer um pagamento, deixara à mostra “várias notas de 500$000 (quinhentos mil réis), gabando-se que com ele levava três coisas: coragem, dinheiro e bala. Mas também na “Princesa dos Tabuleiros” o bandoleiro exigira a sua “bolsa”, inicialmente estipulada em 20 contos de réis, mas “contentando-se depois com o que foi conseguido, 5 contos e pouco” (PRATA, Ob. cit., p. 86). Fala-se também em seis contos de réis.

Um dos crimes recorrentes de Lampião era exatamente o saque. Ranulfo Prata afirma que o bandoleiro costumava carregar o produto dos saques numa mochila “papo de ema”, onde só guardava “dinheiro em cédulas de números graúdos, bem acamadas, cabedal que atinge, nos tempos de boas colheitas, 70 a 80 contos” (s/d, p. 29). Passada a “visita” de Lampião, a Intendência Municipal de Nossa Senhora das Dores (Prefeitura, de hoje) contratou homens armados para fazerem a defesa da cidade, que se postavam nas principais entradas. Eram as “trincheiras”, assim chamadas. Uma delas ficava na esquina da Rua Edézio Vieira de Melo com a Rua Benjamin Constant, comandada por um tal Batista. E o chefe de outra delas era José Raimundo, pai de Elpídio sobre quem se falará adiante.

Matriz de Nossa Senhora das Dores - SE

Há, inclusive, registros de folhas de pagamento de algumas dessas pessoas, embora datadas de 1932, quando já era Intendente Municipal Raul Silveira. Numa dessas folhas (de 8 de agosto daquele ano) constam os nomes de Enock Menezes Campos, Pedro Francisco Dantas, Antônio Pedro Santos, Brasilino Vieira, Ludugero, João Andrade e Arnaldo Gomes, como “pessoal no serviço de defesa da cidade, em repressão ao banditismo nesta semana finda”. Cada um ganhava diária de 1$500 (mil e quinhentos réis), exceto Ludugero, que recebia diária de 3$000 (três mil réis), devendo ser, à época, o chefe. Noutra folha, de 14 de novembro de 1932, consta apenas o nome de Zeca de Bem Dona, como “pessoal da patrulha em auxílio à força aqui aquartelada nesta semana finda”. Pelo teor do escrito na folha, é de supor que havia outros nomes, pois se faz menção “ao pessoal da patrulha”. Claro, não seria apenas uma pessoa a formar a patrulha aludida. Outras folhas de pagamento não foram encontradas, lamentavelmente. Todavia, registra-se, em 10 de agosto de 1932, a autorização de pagamento da quantia de 188$000 (cento e oitenta e oito mil réis), referente a “passagens desta cidade a de Capela para a Força Pública do Estado e para o 28 BC”. Estariam essas forças militares dando caça aos cangaceiros? Nessa época, entrementes, não se tem notícia de Lampião por estas bandas.

Voltemos, agora, a 1930, ou seja, à segunda passagem de Lampião por Dores, quando ele matou José Elpídio dos Santos, daí resultando o único processo criminal aberto contra Lampião em Sergipe.

Era 15 de outubro. Desta feita, Lampião fizera o caminho inverso: Aquidabã, Capela e Dores. A segunda passagem do bando de facínoras não foi mais pacífica. Batido por populares em Capela, após várias atrocidades cometidas em terras de Aquidabã e propriedades encontradas pelo caminho, incluindo-se alguns assassinatos, como relata Ranulfo Prata (Ob. cit., p. 94-95), Lampião tomara o rumo de Dores, onde as trincheiras o aguardavam. Precisa deve ter sido a mensagem do telégrafo enviada por Capela, relatando os sucessos daquele dia. Disso ele sabia muito bem, pois tinha uma eficiente rede de informações. E tanto assim era que, chegando ao subúrbio Cruzeiro das Moças, por volta das oito horas da noite, e temendo reação idêntica à de Capela, dirigiu-se à casa de Elpídio, perguntando-lhe: “Você não é Elpídio, filho de José Raimundo das trincheiras? Vamos já, me mostre onde ele está e quanta gente tem nas trincheiras”. É de notar que Lampião fora direto para a casa do filho de um dos chefes dos guardiões da cidade, José Raimundo, também conhecido por “Zé Fateiro”, pois vendia fato de boi fresco na feira da cidade, conforme depoimento de Pedro Vieira Teles.

Como Lampião soubera que ali residia quem lhe interessava? Por isso foi dito que a rede de informações de que ele dispunha era eficiente. A conversa de Lampião acima transcrita consta do depoimento prestado pela viúva de Elpídio, Maria da Conceição, também conhecida por Clemência, nos autos do processo mencionado. Pelo que consta do citado processo, o bando de Lampião, desta vez, dobrara, em relação ao que estivera em Dores no ano anterior: eram 18 cangaceiros. A partir daquele momento, os fatos que se seguiriam foram, em resumo, os seguintes:

1. Seqüestrou Elpídio, amarrando-o em um dos cavalos que serviam de montaria ao bando.
2 Adiante, rumando pelas cercanias da cidade, seqüestrou Antônio da Silva Leite, que encontraram no caminho, temendo, claro, que ele delatasse o bando. Antônio escapou das garras dos bandidos na bodega de Santo.
3 Saqueou a bodega de Manoel Martins Xavier (Santo Bodegueiro), que não se encontrava em casa, e seqüestrou sua mulher, Sergina Maria de Jesus, também conhecida por Constância, deixando os seus filhos pequenos sozinhos, sem os cuidados maternos.
4 Seqüestrou Pompílio da Silva, que se dirigia à cidade para comprar querosene, mas que conseguiu fugir, na fazenda Candeal, enquanto o bando ali dormia.
5 Dormiu com a mulher de Santo (o braço dela amarrado na perna dele). Lampião e Sergina dormiram no mandiocal, enquanto os cabras dormiram na beira da estrada, segundo depoimento dela, nos autos do processo.
6 Na madrugada de 16 de outubro, matou Elpídio e mandou Sergina voltar para casa. No laudo de corpo cadavérico, consta que o corpo da vítima estava perfurado a balas, e havia, ainda, um “rendilhado” de punhal. Os dedos das mãos, sob as unhas, estavam perfurados e a barba estava queimada. Ou seja, Lampião e seu bando torturaram Elpídio, antes de matá-lo, com requintes da maior crueldade e covardia. A vítima morreu, mas não delatou seu pai e os que se encontravam com ele, na defesa da cidade. Um homem de coragem.

Coragem que Lampião não demonstrou, pois não teve tutano para entrar na cidade, preferindo, assim, assassinar o pobre Elpídio, num ato típico dos covardes.

Aliás, no depoimento prestado por Pompílio da Silva, nos autos do processo, foi dito que “a vítima deste processo ia na frente do grupo sinistro, sendo que a vítima ia amarrada pelo pescoço do cavalo em que ia montado um dos cabras” e que “ia calado, nu da cintura para cima, com a cabeça descoberta, parecendo com um mártir”.
7 Seqüestrou o vaqueiro Jason Teixeira de Vasconcelos, na fazenda Candeal, para mostrar ao bando a casa de um tal Janjão, no caminho para o povoado Taboca. Jason foi solto logo depois, a pedido. E Janjão conduziu o bando ao povoado.
8 Saqueou, na Taboca, as bodegas de José Gomes e da viúva do finado Cezário, espancando-a, pois esta não tinha dinheiro para lhe dar.
9 Matou um pobre rapaz, que era alienado mental, na saída da Taboca. Dito rapaz teria mexido com o cavalo de Lampião, segundo dizem. No processo, há menção a essa morte, mas não se abriu inquérito por conta desse outro bárbaro assassinato. Por que? Por tratar-se de um pobre alienado mental, morador de um pequeno povoado?
10 Castrou Pedro José dos Santos, vulgo Pedro Batatinha, que vinha da Malhada dos Negros, a fim de arrancar um dente, em Dores, que não lhe deixava trabalhar há dias. Chegando no povoado Tabocas, Batatinha ouvira dois disparos. Era o assassinato do alienado mental.

Ranulfo Prata relata o ocorrido, segundo depoimento que lhe prestara o próprio Pedro Batatinha: Prosseguindo, encontrou o bando de Lampião cercando o cadáver de um homem que acabava de ser assassinado naquela horinha. Foi logo cercado e revistado, tomando-lhe a quantia de 20$000, único dinheiro que trazia. Obrigaram-no, em seguida, a voltar com eles, e ao chegarem ao povoado “Cachoeira do Tambory” [na verdade, Lagoa dos Tamboris], apearam-se todos dispersando-se pelas casas da povoação e ficando ele, Batatinha, preso entre dois do bando, no terreiro da casa de Sinhosinho, casado com uma sua prima, onde fora Lampião sentar-se em um tamborete, na saleta da frente, à espera de um café que mandara fazer. Os dois bandidos começaram, então a surrá-lo a chicote de três pernas, ambos ao mesmo tempo, sem motivo, sem quê nem pr’a quê. Empolgou-se de tamanho terror que não sentiu dores.

Virgínio ou Moderno, cunhado de Lampião; o mais famoso castrador do bando.

Após a sova, eis que chega um terceiro, de apelido “Cordão de Ouro”. Ordena-lhe que descesse as calças e, segurando-lhe os dois testículos, cortou-os de um só golpe, atirando-os fora, debaixo das gargalhadas e chacotas dos companheiros. Disse-lhe o facínora:

- Quem lhe fez isto foi “Cordão de Ouro”, é a lei que manda e tenho feito em muitos.

Lampião, calado, assistiu à cena, perguntando, depois, ao castrador:
- Corto tudo?
Não, respondeu-lhe este. Deixei o resto porque o rapaz é novo (Ob. cit., p. 97-98). Encurtando a história, que é longa, os bandidos ainda deram pontapés e pranchadas de punhal em Batatinha. Lampião ao montar, aproximou-se dele, sacou do punhal e cortou-lhe um pedaço da orelha esquerda, acrescentando:

- É um garoto que precisa sê marcado, p’ra eu conhecê quando encontrá.

E voltando-se para as pessoas presentes, preveniu-lhes:
- Vocês trate do rapais senão quando eu passá aqui arrazo cum vocêis todo (PRATA, Ob. cit., p. 98). Batatinha, enfim, fora socorrido pelo Dr. Belmiro Leite, em Aracaju. Escapou e, segundo informações colhidas, morreu, na década de 1990, em São Paulo. Além de Ranulfo Prata, alguns autores que escreveram sobre Lampião registraram o fato da capação de Batatinha. O autor fecha o episódio narrado em seu livro da seguinte maneira; Ao lado de todas estas tragédias, a nota burlesca: Depois de ouvirmos o pobre Pedro e fotografá-lo, conversamos também com um dos seus irmãos, que nos informou na sua linguagem pitoresca de tabaréu malicioso:

- Pedro casou, ta gordinho que nem “bicho de dicuri”, e sem bigode. Penso que ele não dá conta do matrimonho; regula duas muié numa cama... (Ob. cit., p. 98).

Foi apenas isso que Lampião praticou em Dores, entre 15 e 16 de outubro de 1930. Ou seja, pouquinha coisa... Quase nada... Pensando bem: “nadica de nada!”. Sujeito bom, Lampião. De finíssimo trato!

Com relação ao processo, o mesmo foi resultado do inquérito policial instaurado pela Portaria de 16 de outubro de 1930, pelo Delegado Antônio Paes de Araújo Costa. Funcionou como escrivão Petronilho Menezes Cotias (pai de Paulo Bonfim e avô de Jorge Américo); como Promotor Adjunto, atuou Artur Dias de Andrade, genitor de José Barreto de Andrade, antigo e conceituado comerciante em Aracaju, tendo aquele apresentado a respectiva Denúncia em 19 de dezembro de 1931; como Juiz Municipal do Termo de Nossa Senhora das Dores, funcionou Nicanor Oliveira Leal, que seria, tempos depois, Desembargador, e que tinha larga parentela em Dores, sendo primo, por exemplo, de Maria Lídia de Afonso. Mais tarde, funcionaria no processo, como Promotor Público, o Dr. Joel Macieira Aguiar, que também se tornaria Desembargador, e que às fls. 37 dos autos deixou esta mensagem: “Seja-me, pois, permitido, como Promotor Público da 6ª Comarca, com sede em Capela, deixar nestes autos os meus aplausos à justiça do termo de Dores por ter instaurado processo contra o grande bandido Virgulino Ferreira”. Não será custoso lembrar que, pela organização judiciária de Sergipe, na década de 1930 Dores estava ligada à Comarca de Capela. Formidável, sem dúvida, é a certidão passada pelo Oficial de Justiça Januário Bispo de Menezes, pai da saudosa funcionária pública municipal, Maria Nicolina de Menezes, a popular Nicola, em 26 de dezembro de 1931, que diz:

Certifico que, em cumprimento do mandado retro, fui ao Sítio Assenço, deste termo e, nesta cidade, intimei todas as testemunhas constantes do mesmo mandado. Ficaram todas bem cientes, deixando de intimar o denunciado de folhas, Virgulino Ferreira, conhecido por Lampião, por não ter, graças a Deus, visitado esta cidade aquela indesejável fera. O referido é verdade, do que dou fé.

Enquanto, em Nossa Senhora das Dores, a população amanhecia estarrecida com a morte brutal de Elpídio, na manhã daquele dia 16 de outubro de 1930, a situação política fervia em Aracaju. Ariosvaldo Figueiredo relata: “Às 6 horas da manhã de 16/10/1930 avião sobrevoa Aracaju, deixa cair Manifesto de Juarez Távora, intitulado ‘Aos briosos camaradas do 28 BC e ao heróico povo da nobre terra de Tobias Barreto’” (Ob. cit., p. 205).

Ibarê Dantas registra: “Depois que um avião, na manhã do dia 16.10.30, distribuiu em Aracaju manifestos dando conta do avanço das forças revolucionárias, provenientes do Norte, em direção à capital, o Presidente do Estado fugiu e o capitão Aristides Prado, de acordo com Juarez Távora, empossava o tenente-médico Eronides de Carvalho como Governador Provisório do Estado de Sergipe” (1983, p. 46).

Nossa Senhora das Dores perderia a oportunidade de ter um dos seus filhos, Chico Porto, governando os destinos de Sergipe. E ficaria, naquele fatídico 16 de outubro, de enterrar outros dois dos seus filhos, José Elpídio dos Santos e o rapaz da Taboca, cujo nome não se registra, barbaramente assassinados pelo “Capitão” Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o decantado “Rei do Cangaço”, e seu bando sinistro. Mas, capitão ou rei, cangaceiro é cangaceiro, bandido é sempre bandido. É uma pena que não se tenha dado a uma rua do, hoje, bairro Cruzeiro das Moças, o nome de Elpídio, que morreu sem trair a sua cidade. Há pessoa mais digna do que ele para ser lembrado para sempre pelos dorenses? Mas, é bem verdade que Elpídio não era doutor, nem um homem ilustrado ou rico. Não era da Praça da Matriz, nem do Calçadão da Getúlio Vargas, etc. Alguém o conhecia? Era apenas um homem simples do povo. E um homem simples do povo, na visão caolha das chamadas “elites dominantes” (?), não deve merecer ter o seu nome gravado numa rua. A hipocrisia das pessoas é uma estupidez sem tamanho! Espero que, agora, algum dos nossos vereadores possa lembrar de José Elpídio dos Santos. Ele foi, sem nenhum favor, um ilustre filho de Nossa Senhora das Dores, que, diante do tenebroso Lampião, não se acovardou, não traiu a sua cidade e os seus. Quantos mais fariam isso? Assim, viva Elpídio!

José Lima Santana
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