Moreno e Durvinha nos Grandes Encontros Cariri Cangaço

Neli Conceição, Lili Neli, ou simplesmente Lili. Um ser humano espetacular, uma vida cheia de desafios sempre encarados com muita lucidez, serenidade, persistência e por que não dizer: entusiasmo, e é com esse conjunto de predicados que nossa querida Lili vai nos contar amanha a saga da descoberta e da nova vida de seus pais, Moreno e Durvinha, os Últimos Cangaceiros... Será uma conversa maravilhosa de quem viveu e sentiu na pele os resquícios do Cangaço de Virgulino Ferreira - Lampião. Para essa conversa nos Grandes Encontros Cariri Cangaço teremos o Mestre João de Sousa Lima e Manoel Severo, e com certeza, você, nosso convidado especial. Entra lá em nosso canal, se inscreve e ativa as notificações, daí nesta sexta/ dia 28 às 20h vc sera lembrado desse encontro espetacular ! Ate la.

https://www.youtube.com/channel/UCWSetStng7pRUXOahy2LziA

Um Vaqueiro de Belmonte nas Forças Volantes no Encalço de Horácio Novas Por:Valdir José Nogueira

Augusto Martins, Manoel Severo e Valdir Nogueira

A tradicional e antiga fazenda Gameleira no município de São José do Belmonte pertenceu inicialmente ao major Antônio Alves da Luz, que foi casado a segunda vez com Maria Francisca de Barros (Maria da Gameleira), filha de Jacinto Gomes dos Santos, da “Lagoa”, também em Belmonte. O casal Antônio Alves da Luz e Maria da Gameleira, deixou seis filhos, dentre os quais o famoso major Pedro Alves da Luz, da fazenda Barrinha, em Belém do São Francisco, e Maria Francisca da Luz Barros (Cotinha), que fugiu para casar com seu primo Antônio Onias de Carvalho Barros. O major Antônio da Luz revoltado, e totalmente contrariado com o rapto de sua filha, resolveu vender a Gameleira cujo comprador foi o capitão Rufino Gomes Barbosa Leal.

Conta-se que Joaquim da Silveira de Araújo, chefe de numerosa família, além de ser um afamado vaqueiro do capitão Rufino Gomes Barbosa Leal, da fazenda Gameleira, também almocrevava o comércio de Belmonte para Floresta.

Certa feita, o pobre homem foi furtado em dois burros, no entanto, para descobrir aquele crime, iniciou uma série de diligências e obteve êxito, pois os burros foram encontrados em um povoado do Cariri cearense, numa obra pública do governo federal no Nordeste. O engenheiro encarregado daquela seção lhe declarou que os animais, como outros havia comprado a Horácio Novaes. Esse indivíduo pertencia a uma das tradicionais famílias de Floresta, tendo por residência a fazenda Santa Paula, onde dizem que costumava esconder Lampião. Horácio se envolveu em muitas encrencas, uma vez se viu em apuros diante de um cerco posto pelo tenente Alencar (Sinhozinho Alencar) no povoado de Nazaré, município de Floresta, porém, conseguiu fugir. Relatam também que Horácio sempre dominou a região da serra do Umã, entre os municípios de Floresta, Belém de Cabrobó, Salgueiro e Belmonte, zona transformada em fortaleza de perigosos bandidos. Certo dia Horácio Ferraz dominou o arruado de Conceição das Crioulas, município de Salgueiro, enfrentando forças volantes sob os comandos do 1º tenente Euclides Lemos e o 2º tenente Miranda. O tiroteio foi cerrado, havendo saído algumas praças feridas e morto o bandido Sipaúba.


Quando Horácio Novaes foi desmascarado no caso do furto dos burros, jurou este vingar-se de Joaquim Araújo, tentando mesmo contra sua família, que foi forçada a se retirar para Bodocó. Em tais condições, o belmontense Joaquim Araújo, vaqueiro da Gameleira, também jurou vingar-se, tendo também no mesmo tempo resolvido Horácio Novaes enfileirar-se nas forças de Lampião.

Joaquim Araújo procurou o capitão da Força Pública de Pernambuco, Muniz de Farias, a fim de verificar praça, no que foi prontamente atendido, declarando logo para aquele oficial qual era o seu objetivo. Pois foi esse modesto vaqueiro, que por ato de bravura foi promovido a anspeçada em virtude de ter contribuído para o êxito em algumas derrotas de Lampião e do próprio Horácio Novaes.

Valdir José Nogueira de Moura, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço
São José de Belmonte, PE

Biografia de natalense desconstrói mito de cangaceiro romântico de Jesuíno Brilhante Por: Cinthia Lopes

Jesuíno Brilhante, de Honório de Medeiros

Um cangaceiro será sempre anjo e capeta, bandido e herói, como cantou Gilberto Gil na música O Fim da História. O cangaceiro Jesuíno Brilhante (1824-1879), um dos primeiros bandoleiros do sertão nordestino de meados do século XIX, nunca foi pintado nesses tons de contraste. Antecessor de Virgulino Ferreira Lampião, o norte-rio-grandense nascido em Patu deixou em torno de sim um mito de generosidade, modelado aos olhos do povo e dos historiadores como um herói romântico bem apessoado, que saqueava dos coronéis para dar aos pobres.

Um legado corroborado por Luís da Câmara Cascudo em alguns de seus livros, como “Flor de Romances Trágicos” (1966), também ressaltado no filme de 1972 do diretor William Cobbett, “Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro”. Mas que agora se descontrói na nova biografia escrita por Honório de Medeiros “Jesuíno Brilhante, o primeiro dos grandes cangaceiros” (8 Editora, 309 págs.).

A biografia sobre a trajetória do cangaceiro de olhos azuis acaba de ser lançada e compõe com outros dois livros, “Massilon, nas veredas do Cangaço” e “Histórias de Cangaceiros e Coroneis”, a trilogia do autor acerca do coronelismo e do cangaço no Rio Grande do Norte. Jesuíno Brilhante encontrou para fechar a trilogia e foi ao se aprofundar nas pesquisas que se revelou para o autor a imagem diferente da composição que se tinha dele de “cangaceiro romântico” e “Robin Hood” do sertão.

No livro, Honório de Medeiros mostra que assim como outros que vieram depois dele, Jesuíno aterrorizou, matou por desavença ou encomenda, assaltou e saqueou o sertão do Rio Grande do Norte à Paraíba.  Algumas vezes, havia relato que saqueava comboios e doava parte aos pedintes para manter a fama de cangaceiro justo que já andava no boca a boca. Também se casou aos 19 anos com uma parente de afinidade, Maria Carolina de Castro Lira, filha do primeiro casamento da segunda mulher de seu pai.

Para encontrar sua composição “chiaroescuro”, Honório de Medeiros conta que primeiro se abasteceu de toda a bibliografia e depois trouxe novas fontes pesquisando em todos os jornais de época tanto liberais como conservadores brasileiros e até estrangeiros.  

“A pesquisa durou cinco anos. Primeiro fiz a coleta de todo o material já escrito a respeito dele, depois fiz algo que até então não tinha sido feito, coletei jornais do Brasil inteiro até do exterior falando sobre Jesuíno. À medida que eu fui pesquisando,  a lenda em torno de seu nome e seus feitos, foi sendo descontruída, mas não ao ponto de uma destruição do personagem, apenas situando-o no seu tempo histórico de forma real”, explicou.

Honório apresenta ao leitor uma biografia de narrativa leve mas em forma de ensaio, na qual confronta ideias registradas em livros e jornais, pontuando a vida de Jesuíno Brilhante, seu tempo, seus atos e como as ramificações familiares determinaram de alguma forma suas escolhas. A biografia é dividida em capítulos e temas: “A época de Jesuíno Brilhante”, “Vida e morte”, “O outro lado da moeda”, “À Propósito”, “Um esboço de conclusão”.  Cada capítulo é aberto por uma ilustração que representa um cangaceiro, desenhado por Gustavo Sobral. Já a capa do livro é um óleo sobre tela do pintor Etelânio Figueiredo.

O jornalista Vicente Serejo, autor do prefácio, escreve que foi preciso “olhos sem medo, acesos pela dúvida” para ter a coragem de desmontar uma verdade que perdurou livre e inquestionada ao longo de décadas.

Ilustração de Gustavo Sobral

Sertão pré-Lampião

No sertão da metade do século XIX as questões políticas se misturavam à vida da sociedade e era comum a aproximação dos cangaceiros com os donos do poder. Havia as velhas questões de sobrevivência em jogo, ódio entre famílias, vinganças, fama e códigos honra. Retratar a figura e o contexto da época foi uma das preocupações do autor, assim como trazer ao leitor uma análise minuciosa de suas fontes de pesquisa.

Sob a costura de datas e registros dos jornais, o autor monta a história a partir de um tio materno de Jesuíno como fio do novelo que desenrolou na sua entrada no cangaço. José Brilhante de Alencar Souza, o Cabé, era cangaceiro. Com o casamento da irmã, Cabé veio da Paraíba para o Rio Grande do Norte e se instalou na fazenda Cajueiro, próximo ao “Tuiuiú”, a fazenda do pai de Jesuíno de quem agora era cunhado. O tio é peça dessa história de desavenças familiares dos Alves de Melo e os Limões a entrada de Jesuíno no cangaço com o assassinato de Honorato Limão, numa bodega em Patu.

Foi Cabé quem também descobriu na cidade de Maioridade (antiga Martins) a “Casa de Pedra”, local que veio a se tornar o refúgio famoso de Jesuíno Brilhante. Como tudo que diz respeito a Jesuíno Brilhante, também sua morte é controversa, explica o autor no capítulo “O Fim”:

Morreu no Riacho dos Porcos, município de Brejo do Cruz, Paraíba, em dezembro de 1879, quando viajava na companhia de seus dois irmãos e demais membros de seu bando, e foi surpreendido pela Polícia paraibana guiada pelo Cabo Pedro Limão. João Brilhante, seu irmão, o sepultou em um local chamado “Palha”. Os emboscadores, no entanto, não levaram o corpo e anos depois sua caveira é levada por um líder político mossoroense, doada a uma escola e depois levada pelo Interventor Rafael Fernandes Gurjão ao médico psiquiatra Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. E não se sabe mais dela.

Jesuíno Brilhante do diretor William Cobbett, em filme de 1972.

Explicando

No filme de William Cobbett, vemos que o diretor usou uma licença poética para explicar a entrada de Jesuíno no cangaço. “Não foi para vingar a morte do irmão, mas qualquer que tenha sido o motivo, podemos situar como consequência de uma época de um código de honra brutal típico do sertão arcaico e das relações políticas existentes naquele período”.

 Já sobre Câmara Cascudo ter reforçado a lenda do gentil-homem cangaceiro, o autor explica que “existiam laços de amizades entre a sua família de Caraúbas e a família de Jesuíno Brilhante. Ele tinha um carinho pela história desse cangaceiro. Cascudo se apegou as histórias que chegavam aos seus ouvidos dizendo sobre as ações meritórias e heroicas do cangaceiro”.

Quanto à tentativa de criar um estado paralelo livre de coronéis, para o autor é “uma história infundada, pois não existe nenhum registro que possa sequer sugerir a existência desse estado paralelo sertanejo ou de uma sociedade livre de coronéis”, contou.

Honorio de Medeiros é escritor e advogado, bacharel em ciências jurídicas e sociais pela UFRN, Mestre em direito  e tem outros livros publicados em áreas como filosofia e direito.

O livro pode ser encomendado por email:mariasenna1958@gmail.com

Cinthia Lopes - Típico Local

Fonte:https://tipicolocal.com.br

Muito Obrigado Antônio Amaury !

 

"Meu velho, Antônio Amaury Corrêa de Araújo, odontólogo de formação, fez aquilo que amou. Por isso ouso dizer que ele é muito mais historiador do que dentista. Assim acabou por produzir uma fonte rica e de suma importância para a compreensão da história do cangaço. Como brasileiro, agradeço por todo empenho que teve ao colher depoimentos de todos aqueles que participaram dessa saga nordestina e que teve a oportunidade de conhecer e entrevistar. Como filho, agradeço o exemplo que norteou minha vida e todo o apoio dado."

Carlo Araujo; filho, amigo e companheiro inseparável de Antônio Amaury Correa de Araujo,odontólogo, pesquisador e escritor do cangaço, Mestre.

Uma Noite de Celebração !

Sertão; floresta longe da costa... Não o Sertão interior do país, mas o Sertão interior de cada um de nós, onde tudo começa ! A força e a graça desse Sertão, a força e a graça das cores, dos sons, da gente desse chão... O maravilhoso Sertão que nos acolhe, que é nosso berço, que traduz nossa essência. O Cariri Cangaço traz até você nessa Live, "O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo" ; numa conversa preciosa com dois sertanejos arretados de bons, um pouco da magia e do encantamento da Alma Sertaneja. E não poderíamos iniciar nossa conversa sem render homenagens ao nosso Grão Mestre da Cultura do Sertão; Patativa do Assaré:

"Sertão, argúem te cantô,

Eu sempre tenho cantado

E ainda cantando tô,

Pruquê, meu torrão amado,

Munto te prezo, te quero

E vejo qui os teus mistéro

Ninguém sabe decifrá.

A tua beleza é tanta,

Qui o poeta canta, canta,

E inda fica o qui cantá."

Com a extraordinária foto de Hélio Filho; que nos mostra o "menininho que levita na Casa Grande" nos trazendo toda a magia e encantamento da Alma Sertaneja; agradecemos e celebramos a extraordinária noite de ontem, dia 21 de agosto de 2020, com os Grandes Encontros Cariri Cangaço em nosso canal no YouTube - "O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo". Muito obrigado a nossos convidados especiais; Fabiano dos Santos Piúba e Alemberg Quindins, a noite foi estupenda !!! A isso chamo sertão, a isso chamo paixão, a isso chamo Cariri Cangaço! 

Quem não assistiu ao vivo, vai lá em nosso canal no YouTube e confere.

Entra no nosso canal, faz sua inscrição e ativa as notificações,vem coisa por ai

https://www.youtube.com/watch?v=Hz1IxvGlSjc

100 Anos de Durval Rodrigues Rosa, do Angico à Prefeitura de Poço Redondo Por:Manoel Belarmino

A história do homem Durval Rodrigues Rosa começa no tempo do Cangaço. Nasceu naquele dia 18 de agosto de 1920, há exatamente 100 anos. Antes de completar a maior idade, ainda menino como tantos sertanejos na época, Durval "viu-se acercado" de cangaceiros e volantes. Era assim este sertão caatingueiro, e o sertão de caatinga e água das beiradas do São Francisco. O sertão do Angico. No "Fogo do Angico", naquele histórico 28 de julho, Durval estava presente; fora levado à força pelas volantes alagoanas de João Bezerra para mostrar o coito de Lampião. Esteve presente naquele grande combate que encerrou o Cangaço de Lampião, marcando a história do Nordeste e do Brasil.

Mais tarde, naquela primeira eleição, em 3 de outubro de 1954, e na segunda eleição, em 4 de outubro de 1958, depois da Emancipação Política de Poço Redondo ocorrida em 25 de novembro de 1953, Durval Rodrigues Rosa já estava presente na política no grupo político liberado por Zé de Julião (José Francisco do Nascimento), o ex-cangaceiro Cajazeira, e tantos outros poço-redondenses, como Abdias, Manoel Soares, João Torquato, Salu, João Emídio, Lourival Felix...

Naquela histórica eleição de 4 de outubro de 1958, quando as urnas eleitorais foram recolhidas por Zé de Julião, em protesto contra as "safadeza" de um juiz eleitoral, Durval Rodrigues Rosa estava presente e fazia parte daquele grande grupo político composto pelos filhos de Poço Redondo. Naqueles primeiros 8 anos, depois do 25 de novembro de 1953, Poço Redondo estava emancipado por direito, mas de fato e politicamente estava ainda dependente dos políticos de Porto da Folha. E Zé de Julião liderava essa luta para que os filhos de Poço Redondo tivessem, de fato e de direito, o domínio político e administrativo do Município de Poço Redondo.

Zé de Julião

Depois do assassinato do líder político Zé de Julião, Durval assume a liderança política e, na terceira eleição, ocorrida em 03 de outubro de 1962, foi eleito prefeito de Poço Redondo. O primeiro filho de Poço Redondo a ser eleito prefeito da jovem cidade depois de duas eleições, depois de muita luta.

Outro acontecimento marcante marcou a história política de Poço Redondo. Durval governava Poço Redondo tranquilamente, mas, de repente, um reboliço acontece em todo o Brasil. É a tomada do poder do país pelas Forças Militares em 31 de março e 1° de abril. O Exército derruba o presidente da republica João Goulart e assume o poder. E no dia 9 de abril de 1964 é instituído o Ato Institucional n° 1 (AI-1). A força bruta dos miliatres submete os prefeitos eleitos pelo povo às vontades das forças armadas. Quem não obedecesse ou se submetesse às vontades das Forças seria cassado. Durval preferiu não se submeter, preferiu ficar do lado do povo que democraticamente o elegeu e renunciou antes de ser arbitrariamente cassado.

Na eleição de 1970, indica o seu filho mais velho, João Rodrigues Sobrinho, como candidato a prefeito, e este é eleito. Na eleição de 1976, Durval é novamente eleito prefeito. Em 1992, Ivan Rodrigues Rosa, também filho de Durval, é eleito. É o quarto mandato de prefeito comandado pelos Rosa, liderados pelo grande lider político Durval Rodrigues Rosa.

E neste 18 de agosto, dia do Centenário de Durval Rodrigues Rosa, ficam aqui as minhas homenagens ao senhor Durval Rodrigues Rosa e a todos os seus familiares, nessas poucas linhas sobre a história de Durval e que também é um pouco da história de Poço Redondo.

Manoel Belarmino, Conselheiro Cariri Cangaço

Pesquisador, escritor - Poço Redondo-SE


"O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo" nos Grandes Encontros Cariri Cangaço

Nesta próxima sexta-feira, dia 21 de agosto de 2020, pontualmente as 8 da noite teremos mais um espetacular encontro com a verdadeira alma nordestina. O Cariri Cangaço convida a todos para junto com os convidados especiais, Fabiano Piúba; Secretário de Estado da Cultura-Ceara e Alemberg Quindins, fundador da Casa Grande de Nova Olinda -Memorial do Homem Cariri, desbravar os segredos e os encantos do Sertão !!! 

"Grandes Encontros Cariri Cangaço" 
O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo". 
Toda a magia do chão de nosso coração.

Fabiano Dos Santos Piúba, Alemberg Quindins e Manoel Severo Barbosa no Canal do YouTube do Cariri Cangaço!
SEXTA DIA 21 AS 20 HORAS.

Faça sua Inscrição, ative as Notificações 


A Farsa do Presidente João Pessoa Por:Domingos Sávio


Seguindo a cronologia da Guerra de Princesa, o que faz parte das rememorações e comemorações do nonagésimo aniversário daquele importante conflito, trazemos hoje as ações retaliativas do presidente João Pessoa contra Princesa motivadas pelo rompimento político do coronel José Pereira com o chefe do Poder Executivo Estadual. Em 24 de fevereiro de 1930, portanto há 90 anos, João Pessoa, logo após a troca de telegramas com Zé Pereira, o que teve confirmado o rompimento político, demitiu todos os funcionários públicos estaduais que serviam em Princesa. 

Exonerou as seguintes autoridades: o prefeito José Frazão de Medeiros Lima; o vice-prefeito Glycério Florentino Diniz; o adjunto de promotor Manoel Medeiros Lima e o diretor do Grupo Escolar “Gama e Melo”, professor Severino Loureiro. O delegado de polícia Manoel Arruda e mais oito soldados foram chamados de volta à Capital e os subdelegados de Tavares, Belém, Alagoa Nova (Manaíra) e São José (São José de Princesa) à época distritos, foram todos exonerados. O chefe da Mesa de Rendas do Estado, Manoel Carlos de Andrade, que era irmão do coronel Zé Pereira, já havia sido transferido para a cidade de Patos/PB. 

Somente os funcionários federais continuaram no desempenho de suas funções no município, a exemplo do juiz de direito, doutor Clímaco Xavier; do coletor federal, Leônidas Wanderley; do escrivão da Coletoria Federal, Tiburtino Carlos de Andrade; do telegrafista, Richomer Góis de Campos Barros e do Oficial do Registro Civil, Silvino de Medeiros Lima. Logo que demitiu esses servidores, o presidente João Pessoa expediu telegrama ao presidente da República, Washington Luís, com o seguinte teor: “Assim procedi, primeiro porque a polícia não podia assistir inactiva a invasão da cidade por facínoras armados”.

Dominguinhos e Thiago Pereira no Cariri Cangaço Princesa Isabel  

A mentira travestida de verdade

Essa informação encaminhada ao presidente da República não estava contida de veracidade. Na verdade, já intencionado em invadir Princesa - talvez para impedir a realização das eleições de 1º de março daquele ano em que ele próprio disputava o cargo de vice-presidente da República como companheiro de chapa de Getúlio Vargas -, João Pessoa usou as demissões como pretexto para alegar que o pequeno burgo princesense estava infestado de bandidos e cangaceiros, contratados pelo coronel. 

Notícia falsa para justificar a ação invasora já planejada e que seria promovida pela polícia paraibana em 28 de fevereiro daquele ano de 1930. Para justificar ainda mais sua ação persecutória, o presidente paraibano fez divulgar, através do Jornal Oficial do Estado, “A União”, a seguinte nota: “(...) Atento à circunstância de que em Princesa a Prefeitura e secretaria desta, promotoria adjunta, escrivania do cartório, agência do Telégrafo Nacional, professorado, advogados e solicitador eram exercidos por sobrinhos, irmãos e parentes afins do coronel, essa cidade dos Cariris Novos era um feudo absoluto e fechado ao poder pessoal de um homem”. (Extraído do livro Revolução Estatizada, do historiador José Octávio de Arruda Mello). Na verdade, desses funcionários, o único parente do coronel Zé Pereira era o chefe da Mesa de Rendas, Manoel Carlos de Andrade que era seu irmão. Vê-se que essas demissões já prenunciavam as intenções do presidente Pessoa em desfechar ataque à cidade, como veremos adiante. Com isso, estava tudo se preparando para o início da Guerra de Princesa, evento que mudou a história do Brasil.

Domingos Savio Maximiano Roberto
Princesa Isabel, 24 de Fevereiro de 2020

O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo nos Grandes Encontros Cariri Cangaço

Alemberg Quindins e Fabiano Piúba

Nesta próxima sexta-feira, dia 21 de agosto de 2020, pontualmente as 8 da noite teremos mais um espetacular encontro com a verdadeira alma nordestina. O Cariri Cangaço convida a todos para junto com os convidados especiais, Fabiano Piúba; Secretário de Estado da Cultura-Ceara e Alemberg Quindins, fundador da Casa Grande de Nova Olinda -Memorial do Homem Cariri, desbravar os segredos e os encantos do Sertão !!!

"Para mim em particular é uma grande alegria poder receber; ao lado da imensa familia Cariri Cangaço ; estes brasileiros espetaculares, pessoas mais que especiais que ao longo de suas vidas estão dando o melhor de si na construção do que temos de mais digno; a preservação de nossa memória, nossa historia, a valorização da arte, da cultura, e principalmente das pessoas. Meus particulares amigos, os gigantes; Fabiano Piúba e Alemberg Quindins; dois apaixonados pelo dom da vida, dois extraordinários entusiastas da Verdadeira Alma Nordestina." Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço.

Conheça nossos convidados...


Fabiano dos Santos PiúbaDoutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em História pela PUC/SP e historiador graduado pela UFC. Gestor Cultural, Professor, escritor e poeta do grupo Os internos do Pátio. Secretário da Cultura do Estado do Ceará desde fevereiro de 2016. Foi presidente do Fórum Nacional de Dirigentes Estaduais de Cultura no biênio 2017-2018. Foi Diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (MinC) entre 2009 e 2011 e no ano de 2014.

No Ministério da Cultura também assumiu a função de Secretário Substituto da Secretaria de Articulação Institucional entre 2008 a 2010 e de Coordenador de Articulação Federativa do Programa Mais Cultura no ano de 2008. No Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (CERLALC/UNESCO), organismo internacional ibero-americano e intergovernamental, assumiu no período de 2012 a 2013 a Direção de Leitura, Escrita e Bibliotecas. Foi Coordenador de Políticas de Livros e Acervos da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará entre 2005 e 2006, ocasião em que concebeu o projeto Agentes de Leitura e coordenou a Bienal Internacional do Livro do Ceará.


Alemberg Quindins; pesquisador, músico, empreendedor social, escritor e artista plástico autodidata. Criador da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri em 1992 na cidade de Nova Olinda, Ceará. Recebeu comendas de Cavaleiro na Ordem do Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura do Brasil (2004), Medalha do Mérito da Farroupilha pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul – (2007), Comenda João Luiz Ramalho de Oliveira pelo Sistema Fecomércio Ceará (2014), Medalha da Abolição pelo Governo do Estado do Ceará (2017), Título de Dr. Honoris Causa em Ciências Sociais pela Universidade Regional do Cariri – URCA (2018) e Títúlo de Notório Saber em Cultura Popular pela Universidade Federal do Ceará (2019).

 

Como consultor da Unicef criou os programas de rádio de criança para criança em Angola e Moçambique. Foi gerente de cultura do SESC Rio de Janeiro (2018) e atualmente é assessor de relações institucionais do SESC Ceará. Foi professor do Curso de Pós-graduação em Gestão Cultural Contemporânea do Itaú Cultural e Instituto Singularidades (2017 – 2019) e é professor do Curso de Pós-graduação Latu Sensu em Arqueologia Social Inclusiva pela Universidade Regional do Cariri - URCA e Investigador do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio – CEAACP da Universidade de Coimbra – Portugal.


Alemberg Quindins, Manoel Severo e Fabiano Piúba

"Grandes Encontros Cariri Cangaço" 
O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo". 
Toda a magia do chão de nosso coração.

Fabiano Dos Santos Piúba, Alemberg Quindins e Manoel Severo Barbosa no Canal do YouTube do Cariri Cangaço!
SEXTA DIA 21 AS 20 HORAS.

Faça sua Inscrição, ative as Notificações 

Pão de Açúcar - Celeiro do Cangaço Por:Raul Meneleu

Raul Meneleu

Estive recentemente na cidade alagoana de Pão de Açúcar nas barrancas do Velho Chico onde muitas histórias de Coronéis e Cangaceiros se misturaram com autoridades policiais.Fui especialmente para acompanhar o lançamento de um livro do escritor Antônio Pinto, que fala sobre um dos antigos residentes da cidade e que este era Lampião. 

O livro "Lampião - A sua verdadeira morte" narra a história do Senhor João Novato, que chegou à cidade no início dos anos 60 e fixou residência. Vinha acompanhado de sua esposa, que se chamava Maria Rita. Mas fora desta história entrevistei algumas pessoas e existem outras que precisam ser expostas. 

Fico imaginando por que essa região foi praticamente esquecida pela maioria dos pesquisadores da grande saga que desenrolou-se no Nordeste brasileiro e mais ainda nesta região. Podemos citar a Professora Luitgarde de Oliveira Cavalcanti Barros, nascida nessa região alagoana como um destaque em falar sobre a saga e o jornalista Melchiades da Rocha. Vamos elencar aqui alguns vultos representativos destas três vertentes: coronelismo, autoridades policiais e cangaceiros, e no bojo destas três vertentes, pistoleiros e capangas.

Coronéis:

A conversa do Coronel Joaquim Rezende com Lampião

Joaquim Rezende (à esquerda) conversa com Melchiades da Rocha. 
Foto: Maurício Moura – Jornal A Noite.

No dia 30 de julho de 1938 em Santana do Ipanema, Alagoas, onde as cabeças iriam ser expostas, estava o prefeito recém-eleito de Pão de Açúcar, Joaquim Rezende, identificado por alguns como sendo coiteiro e amigo de Lampião. O Coronel Joaquim Rezende foi prefeito de Pão de Açúcar entre 1938 e 1941. Este Morreu assassinado em 1954, quando ocupava o cargo de delegado de Polícia. Os assassinos formam os irmãos Elísio e Luiz Maia. Elísio era então prefeito do município.

Melchiades da Rocha, em seu livro Bandoleiros das Catingas, lançado em 1942, recorda do encontro que teve com Joaquim Rezende em Santana do Ipanema.Ele se refere ao prefeito de Pão de Açúcar como sendo “um abastado proprietário em seu município” e que ele estava em Santana também “à espera da cabeça de Lampião, pois desejava certificar-se se de fato ele havia morrido”.

A condição de amigo de Lampião ostentada por Joaquim Rezende aguçou os instintos do repórter, que começou a se perguntar o que teria levado um rico cidadão a “se tornar um afeiçoado do Rei do Cangaço”, quando era prefeito de uma cidade que poderia ser alvo das ações do bandido. A narrativa a seguir é um valioso documento de como se davam as relações de Lampião com o poder político e econômico das regiões sertanejas vítimas do cangaço. Com a palavra Melchiades da Rocha:

“Sem quaisquer etiquetas, pois nós sertanejos não somos, apenas, iguais perante a lei, apresentei-me ao Cel. Rezende e lhe disse à moda da terra:

— “Seu” Rezende, eu queria uma palavrinha do senhor!

— Pois não! — respondeu-me, amavelmente, o prefeito de Pão de Açúcar.

Momentos depois o Sr. Rezende e eu nos achávamos na sede da Prefeitura de Santana. Em poucas palavras relatei os meus propósitos ao cavalheiro que me fora apontado como sendo grande amigo de Lampião. Após ter-me oferecido uma cadeira, o Sr. Rezende sentou-se e narrou, pormenorizadamente, como e por que se tornara amigo do Rei do Cangaço, amigo ocasional, bem entendido, pois não poderia ter sido de outro modo.” O Coronel Rezende então fala ao repórter:

"Conheci Lampião em 1935, época em que me escreveu ele, pedindo mandasse-lhe a importância de quatro contos de réis, prometendo-me, ao mesmo tempo, tornar-se meu amigo se fosse atendido.

Raul Meneleu e Manoel Severo

Em resposta à carta do terrível bandoleiro, mandei dizer-lhe pelo mesmo portador que lhe daria de muito bom grado o dinheiro, mas que só o faria pessoalmente. Três dias depois Lampião mandou-me outro bilhete do seu próprio punho, dizendo-me que me esperava às 10 horas da noite na fazenda Floresta, município de Porto da Folha, em Sergipe, recomendando-me que fosse até ali, mas não deixasse de levar o dinheiro. Não obstante os naturais receios que tive, à hora aprazada cheguei ao local do encontro, onde permaneci até uma hora da manhã, quando surgiu um cangaceiro que, ao ver-me, perguntou-me se eu era o moço que desejava falar ao capitão. Respondi que sim.

Dentro de poucos minutos, então, o Rei do Cangaço ali se apresentava acompanhado de quatro homens, “Juriti”, “Zabelê”, “Passarinho” e “Nevoeiro”. Ao ver o grupo aproximar-se, identifiquei logo Virgulino e a ele me dirigi, cumprimentando-o. O famoso bandoleiro, ao contrário do que eu esperava, recebeu-me amavelmente e foi logo perguntando sobre o que lhe havia levado. Sabendo que o Rei do Cangaço gostava de beber, eu, que levava comigo três litros de conhaque, lhos ofereci.

A fim de que desaparecesse logo qualquer suspeita do bandoleiro, prontifiquei-me a ser o primeiro a provar a bebida. Encarando-me com olhar firme, Lampião me disse em tom natural: “Concordo em que o senhor beba primeiro, mas não é por suspeita e sim porque o senhor é um moço decente e eu sou apenas um cangaceiro”. Tomamos, então, o conhaque e, em seguida, abordei o Rei do Cangaço sobre o dinheiro que ele me havia pedido. Como resposta, disse-me ele: “O senhor dá o que quiser, pois eu dou mais por um amigo do que pelo dinheiro”.

— Esse fato — disse o conceituado comerciante de Pão de Açúcar — teve lugar no mês de agosto de 1935, e a minha palestra com Lampião durou três horas, tendo ele me falado de vários assuntos, entre os quais o relativo à perseguição de que era alvo, acrescentando que, de todas as forças que andavam em seu encalço, a que mais o procurava era a do então Major Lucena, dada a velha inimizade que o separava desse oficial da polícia alagoana, a quem reconhecia como homem de fato e dos mais corajosos.

Quanto às forças dos outros Estados, disse-me Lampião que se arranjava “a seu gosto…”, fazendo nessa ocasião graves acusações a vários oficiais dos que andavam em sua perseguição.

— Aí está como foi o meu primeiro encontro com o Rei do Cangaço. — Depois — acrescentou o prefeito de Pão de Açúcar — Lampião mandou pedir-me bebidas, charutos e também objetos de uso doméstico. Mais tarde, porém, fui informado de que ele estava empregando esforços no sentido de matar o Sr. José Alves Feitosa, ex-prefeito de minha terra que, como eu, o esperara muitas vezes ali, a fim de fazer-lhe frente, pois foi das mais terríveis a ação de Virgulino em nosso município.

Tratando-se de um amigo meu o homem que estava destinado a morrer às mãos de Lampião, procurei um pretexto para me avistar com este e não me foi difícil encontrá-lo. Todavia, após uma série de considerações, em que fui até exigente demais, Lampião, dizendo ao mesmo tempo que só fazia tal “sacrifício” para me satisfazer, prometeu-me sustar a realização de sua sanguinária intenção, declarando-me naquele momento que já tinha em campo dois homens para fazer o “serviço” lá mesmo na cidade de Pão de Açúcar, já que o visado andava resguardado, não saindo para parte alguma.

Tal conhecimento com Lampião, deixou-me, aliás, em situação crítica, pois inimigos meus denunciaram ao Coronel Lucena que eu era um dos coiteiros do celerado cangaceiro. Ao ter ciência de tal acusação, dirigi-me ao referido oficial e lhe expus as razões que me levaram a ter contato com o Rei do Cangaço, após ter andado prevenido contra ele, longo tempo. Jamais faria isso se não fosse a situação em que, como muitos outros sertanejos, me encontrei durante longo tempo.

Intercedi, depois disso, em favor de várias firmas comerciais de Maceió e Penedo, cujos representantes teriam caído às garras do bando sinistro se não fora a minha intervenção junto a Lampião. Há dois meses passados, fui forçado, do que não guardei reserva ao Coronel Lucena, a intervir novamente em defesa de algumas vidas preciosas, no que fui feliz, conseguindo que Virgulino desistisse dos seus sinistros propósitos.”

Após este depoimento, Joaquim Rezende continuou a conversar informalmente com o repórter e revelou que Lampião confessara a ele que tinha uma filha fruto da relação com Maria Bonita. A menina, então com 12 anos, estava sob a guarda de um vaqueiro no município de Porto da Folha, que a adotara.

Lampião também disse a ele que entrou para o cangaço aos 16 anos de idade, aderindo ao grupo do bandoleiro Antônio Porcino. Tinha a intenção de vingar a morte do pai e de um irmão, que tombaram num choque com a Polícia alagoana. Joaquim Rezende contou ainda que Lampião tinha vontade de abandonar o cangaço para se dedicar à pecuária, pois gostava da vida no campo. O cangaceiro disse ainda que havia adquirido duas fazendas no município de Porto da Folha pela quantia de nove contos de réis e comprado dois belos cavalos em Xorroxó, na Bahia, arreando-os luxuosamente.

Diante da possibilidade apresentada pelo prefeito de Pão de Açúcar de negociar a sua rendição às autoridades de Alagoas, poupando-lhe a vida, Lampião achou boa a ideia, mas argumentou que seria impossível isso acontecer por considerar que os governos da Bahia e de Pernambuco fariam tudo para eliminá-lo.

“Não tenho dúvidas de que Lampião, se tivesse podido, havia mudado de meio de vida, pois sei que nestes últimos tempos ele não atacava senão quando se via forçado a assim proceder”, concluiu Joaquim Rezende.

A filha de Lampião citada por Joaquim Rezende era Expedita Ferreira Nunes, que foi criada em Porto da Folha pelo casal Manoel Severo e Aurora, que também tomavam conta de duas fazendas — provavelmente as que Lampião citou como suas, mas que são citadas como de Juca Tavares, padrinho de Expedita. Quando Lampião morreu, Expedita tinha cinco anos e nove meses. Isso indica que a informação de Joaquim Rezende sobre a idade da filha, 12 anos, estava errada. é possível que tenha Lampião tenha falado 2 anos e não 12. Expedita, depois dos 8 anos, foi viver com seu tio João Ferreira da Silva, o Joca Ferreira.

CANGACEIROS

Também entrevistei a Sra. Enalva Soares Pinto, filha do cangaceiro Cristino Cleto o Corisco e dona Maria  Francisca e que foi entregue ao Padre Soares Pinto, que a deixou com seu tio, o fazendeiro Antônio Soares Pinto para cria-la. 

A filha de Corisco que reside em Pão de açúcar/AL, que foi criada pela tradicional família SOARES PINTO chama-se ENALVA SOARES PINTO, é filha de um relacionamento amoroso que Corisco manteve com Francisca Alves, natural de Águas Belas/PE. Está lúcida com 84 anos. No mês ter a criança o próprio Corisco trouxe a jovem Francisca para Pão de açúcar, assim que a criança nasceu foi entregue ao padre José Soares Pinto que no momento encontrava-se em Maceió, foi chamado às pressas por Telegrama para vir a pão de açúcar receber um presente. O padre José Soares Pinto (1884-1939) ainda faleceu jovem no Rio de Janeiro, com a morte do padre , a criança ENALVA passa para os cuidados do irmão do padre o fazendeiro totonho Soares Pinto.

João Novato e dona Maria Rita

A senhora Enalva, teve 12 filhos, inclusive um deles é Padre em São Paulo, o Padre Enubio. Conheci desta prole apenas dois deles, o senhor Antônio Pinto, Escritor e Artista Plástico, que nesta minha visita a Pão de Açucar fez o lançamento do livro "Lampião - A sua verdadeira morte" e que fez uma caminhada tipo procissão para instalar um Cruzeiro no túmulo do Senhor João Novato, acreditado por parte da comunidade como sendo Lampião. E o Senhor Heitor Pinto, proprietário de uma Academia de Ginástica e de um Restaurante tipo Museu a Céu aberto que conta a história da cidade com seus personagens mais importantes. Esse museu a céu aberto, está instalado na periferia da cidade de Pão de Açúcar no Estado de Alagoas, banhada pelo Rio São Francisco. Também é restaurante e tem um bar temático. Tudo rústico como era o sertão no século 19. O proprietário é o Professor Heitor Soares Pinto, Neto do famoso cangaceiro Corisco.

Desde menino conviveu com o Sr. João Novato, que para algumas pessoas era o famoso cangaceiro Lampião, que depois de fugir baleado do combate do Angico, depois de andar escondido por muitos anos, aportou novamente na cidade de Pão de Açúcar-AL no início dos anos 60.

Por conta da pandemia do COVID-19 ainda não voltei a Pão de Açúcar para prosseguir com minhas pesquisas, que inclui a vida de Expedita Ferreira, a filha de Lampião quando menininha criada na região, as fazendas que provavelmente Lampião era proprietário, uma pesquisa de outro filho de Corisco, criado por um membro proeminente da cidade, o relato de um cangaceiro que fugiu baleado do Fogo do Angico e que foi tratado no hospital da cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória, onde chegou a escrever na parede do ambulatório suas iniciais e também entrevistar alguns membros do bloco carnavalesco Os Cangaceiros, fundado por um filho de cangaceiro juntamente com João Novato. 

Raul Meneleu, Conselheiro Cariri Cangaço 

Blog: Caiçara dos Rios dos Ventos - http://meneleu.blogspot.com/

93 anos depois, carta que representa resistência de Mossoró ao bando do cangaceiro Lampião é encontrada Por:G1

Todos os anos, Mossoró, no Oeste potiguar, se enche de festa no mês de junho. Além de comemorar o período de São João, a cidade relembra através do espetáculo "Chuva de Bala", a resistência do seu povo a Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião - ato que marcou, para alguns historiadores, o início do declínio daquele que ficou conhecido como rei do cangaço. A batalha aconteceu em 1927 e o bando de cangaceiros saiu fugido da região.

Em 2020, a festa não vai ser realizada por causa da pandemia do novo coronavírus. Mas os pesquisadores do tema estão muito mais entusiasmados pelo encontro de uma carta que foi escrita pelo prefeito coronel Rodolpho Fernandes em resposta ao bando de Lampião. Ela estava endereçada ao coronel Antonio Gurgel, que no momento das negociações, era refém do bando e foi escrita, provavelmente, no próprio dia 13 de junho de 1927, data em o ataque ocorreu.


O documento foi encontrado pelo professor, jornalista e escritor sergipano Robério Santos, que é um entusiasta do assunto e tem seis livros publicados sobre o cangaço. O documento chegou a ele em maio, durante sua pesquisa para a publicação da primeira de uma série de cinco obras que pretende escrever também sobre o tema. A carta será entregue por ele à prefeitura, oficialmente, no próximo dia 13. Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400000 (quatrocentos contos) que pede, pois não tenho e mesmo no commercio é impossivel de arranjar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Snr. Jayme Guedes, Estamos dispostos a recebe-los na altura em que elles desejarem. Nossa situação oferecce absoluta confiança e inteira segurança.

— Rodolpho Fernandes, prefeito de Mossoró em 1927

Ao G1, o pesquisador afirmou que adquiriu alguns recortes de jornais e outros materiais de uma idosa que mora no Rio de Janeiro e que prefere manter sua identidade em sigilo, mas que é ligada à história do cangaço.

"Ela tinha essa carta há muito tempo, mas não conhecia a importância dela, até porque não estava endereçada diretamente a Lampião. Ela tem muito material. Era uma resposta do prefeito a ele, porque o coronel Gurgel era refém e escreveu a outra carta, pedindo o dinheiro, com uma mensagem ditada pelo Lampião", explicou o pesquisador.

Na mensagem, o prefeito recusa o pedido por 400 contos de réis, feitos por Lampião e diz que a cidade está preparada para responder "à altura" ao ataque dos cangaceiros.

Robério Santos exibe carta que representa resistência de Mossoró ao bando do cangaceiro Lampião Foto: Cedida

Segundo os pesquisadores o gerente do Banco do Brasil, Jayme Guedes, era genro do coronel Gurgel e havia saído da cidade. Apesar de morar em Natal, o comerciante teria sido feito refém durante uma viagem que fez à região justamente para buscar sua esposa e filhos, ao saber do iminente ataque do grupo. Ao errar o caminho, o carro os levou de encontro ao acampamento dos cangaceiros. O motorista do comerciante teria servido de emissário entre as partes.

Assim como a carta enviada pelo coronel Gurgel ao prefeito, e outra escrita a próprio punho pelo Lampião, a carta encontrada já havia sido citada por jornais da época e em livros importantes sobre o assunto, mas o paradeiro dela era desconhecido, até porque o documento ficou com o próprio bando e não com o município."Eu fiquei assustado quando comecei a ler, me levantei imediatamente. Retirei do plástico para fazer uma análise, se era impressão ou se era escrito, e a assinatura. Realmente é uma carta escrita a punho, e na comparação com a assinatura e a escrita do prefeito, são iguais", considerou o pesquisador. "Acho que um documento desse não deve estar em posse de um particular, por isso busquei entrar em contato para devolver a carta a Mossoró", conta.

Conforme Asclépius Saraiva Cordeiro, diretor do Museu Lauro da Escóssia - nome do jornalista que presenciou e noticiou o ataque do bando de cangaceiros a Mossoró - ao tomar conhecimento da carta por meio de pesquisadores do tema que tiveram contato com Robério, a prefeitura resolveu pagar uma passagem para a ida do pesquisador ao município, quando será realizada a entrega da carta.

"A carta deverá ficar exposta no salão dos grandes atos, no Palácio da Resistência, que era a casa do prefeito e hoje é a sede da prefeitura municipal. Infelizmente não teremos o espetáculo Chuva de Bala neste ano, mas temos um motivo de soltar fogos", considerou.De acordo com o pesquisador e escritor Geraldo Maia, que é sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) e da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC, a carta encontrada seria uma das quatro trocadas entre o grupo que estava com Lampião e o prefeito, ditada pelo cangaceiro e escrita pelo refém coronel Gurgel. Outra missiva foi escrita e assinada pelo próprio Lampião, também respondida pelo prefeito. Ninguém sabe o paradeiro da carta original de Lampião - apesar de haver cópias da original - nem o paradeiro da última resposta.


Invasão e resistência.

Mossoró era uma cidade com pouco mais de 20 mil pessoas - uma cidade grande para a época, que tinha até uma agência do Banco do Brasil - a número 036. De acordo com os pesquisadores, bandos de cangaceiros geralmente não invadiam cidades deste porte. "Era uma coisa inimaginável", afirma Geraldo.

De acordo com os pesquisadores, um fazendeiro que acoitava cangaceiros em suas terras no Ceará, próximo à divisa com Mossoró, ordenou um ataque de Massilon, um cangaceiro que tinha um grupo pequeno, contra inimigos em Apodi, no interior do Rio Grande do Norte. O sucesso no saque à cidade teria despertado a cobiça por Mossoró. Dessa forma, os cangaceiros partiram para convencer Lampião, que não conhecia muito as terras do Rio Grande do Norte, a fazer um ataque conjunto também com o bando de Jararaca.

Ao todo, o grupo de cangaceiros tinha cerca de 80 pessoas. Ao saber das notícias que corriam pelo sertão, o prefeito começou a se preparar para defender o município. "A cidade tinha pouco policiamento, cerca de 10 soldados, então o prefeito se juntou aos comerciantes para fazer uma cota e mandar comprar armas e munições em Fortaleza. Elas ficaram armazenadas na prefeitura para o possível ataque", conta Geraldo.

Uma semana antes do ataque, o grupo com dezenas de cangaceiros entrou no Rio Grande do Norte pela região de Luis Gomes, no Alto Oeste, e arrasou oito municípios por onde passou, até chegar, no dia 12 de junho, a São Sebastião, onde hoje é a cidade de Governador Dix-Sept Rosado. Ainda de acordo com os historiadores, o telégrafo ainda conseguiu enviar uma mensagem a Mossoró, avisando do ataque.

Ao longo do dia, a cidade foi sendo esvaziada, com famílias pegando trem para deixar Mossoró e um grupo de resistência com mais de uma centena de homens começou a se preparar para o ataque. Segundo os estudiosos, era final da tarde do dia 13 quando o bando começou a percorrer as ruas vazias e começou uma trocou tiros durante cerca de duas horas com os moradores resistentes.

O bando acabou fugindo, deixando para trás homens feridos, como o cangaceiro Jararaca, que foi preso, morreu e foi sepultado em Mossoró. O prefeito, que tinha a saúde fragilizada, morreu meses após o ataque.

Por Igor Jácome, G1 RN