Alcino, o poeta das lides sertanejas lutando pela vida Por:Rangel Alves da Costa



Alcino, este velho e conhecido bardo das lides sertanejas que agora mais uma vez trava batalha aguerrida pela vida, talvez um dia tenha ouvido em sonhos do seu tio guerreiro das selvas nordestinas, o cangaceiro Zabelê do bando de Lampião, que chega um tempo que a vitória maior é apenas não ser derrubado na peleja. 


E há muito tempo que Alcino, o historiador matuto das brenhas sertanejas de Nossa Senhora do Poço Redondo, tem consciência do significado dessa possível lição. Talvez coisa da idade, das alterações orgânicas que afligem as pessoas com o correr dos tempos, mas a verdade é que o sobrinho de Zabelê vem lutando com todas as forças para não ser derrotado pelas enfermidades que batem à porta.

O ano passado, após exames e mais exames, procedimentos médicos de todo tipo, foi constatado uma enfermidade e teve de se submeter a uma intervenção cirúrgica. O velho guerreiro, incansável pesquisador nos grotões sertanejos, cantador das artes amorosas e guerreiras do seu povo, de repente se viu estropiado, marcado pelo corpo como se tivesse sido cortado pelas lascas afiadas dos matos catingueiros. Era apenas uma cirurgia, que cicatrizou sem ter curado a doença completamente.

E não curou a doença completamente porque uma enfermidade parece perguntar a outra que vai saindo se já pode entrar. E sem pedir licença vai se instalando no corpo já fragilizado, ainda debilitado. Nesse contexto de idade, de doenças que vão chegando e maltratando o corpo, de repente e do nada pode surgir uma coisa perigosa demais, que verdadeiramente coloca a pessoa em risco de perder a vida.

Alcino Costa no Cariri Cangaço 2009

E foi isso que recentemente aconteceu com Alcino. Ainda doente, porém levando uma vida na normalidade possível, fazendo suas pesquisas, escrevendo seus livros, apresentando palestras, viajando, recebendo amigos, cada vez mais no coito, cada vez mais no meio do bando cangaceiro, cada vez mais presente nos encontros de vida e morte, de repente se sentiu mal e teve de ser socorrido.

Dessa vez foi um surto silencioso, doença traiçoeira, incômodo sombrio que poderia ter causado consequencias ainda mais graves no momento. Saído às pressas do seu coito poço-redondense e vindo parar nos hospitais de Aracaju, ainda demorou mais do que o esperado para que os médicos constatassem um acidente vascular. E se não fosse a presença de um filho seu que também é médico, Dr. Artime Alves Costa, talvez os exames fossem feitos tarde demais.

Diagnosticado o acidente vascular, como consequencia agravante foi constatado a presença de coágulo. Diante da nova situação, os médicos resolveram então tentar controlar o coágulo sanguíneo através de medicação. Se não conseguissem minimizar o quadro, então não haveria outra saída senão submetê-lo a procedimento cirúrgico. E assim foi feito nesta última quinta-feira, dia 22.

Tudo ocorreu normalmente durante a cirurgia, sem maiores preocupações. Após isso, a fase pós-operatória, a sedação e a continuidade do tratamento intensivo. Somente neste sábado, dia 14, é que os médicos foram diminuindo a sedação para sentir como o paciente reagiria. Logicamente que os sinais de reanimação, em casos tais, não surgem como os familiares e amigos desejam, pois todos aflitos e esperançosos de progressiva recuperação.

Alcino "Além da Versão..."

Mas aos poucos o poeta sertanejo vai se reanimando, tomando novamente ciência do mundo que o cerca e de todos aqueles que estão ao seu lado, orando, implorando, fazendo promessas, buscando no bom Deus sertanejo, no Padim Ciço e no Frei Damião, as bençãos necessárias para que o contador das histórias e estórias matutas erga novamente sua arma de luta: o prazer de mostrar ao mundo essa coisa maravilhosa chamada sertão, com seus santos, cangaceiros, beatos, coronéis e jagunços.

Sou filho desse homem, desse bravo guerreiro, e só Deus sabe da minha aflição diante disso tudo. Como percebem, sou incapaz – e até suspeito - de tecer outras considerações, o que faço através das palavras da pesquisadora e escritora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, em e-mail que me foi passado ainda ontem:

“Gostei de saber que Alcino está lutando para não sair do sertão. Verei sempre seu pai como um poeta de alma sertaneja, que até tenta entender as razões do cangaceiro, mas tem coragem de apontar o cerne da “maldade do mundo em seres como Brió, Zé Baiano e sargento De Luz, cangaceiros os dois primeiros e polícia o último, que compõem uma trilogia de não homens, de feras destituídas de qualquer código de honra ou humanidade”.

Alcino não endeusa o cangaço, mas a coragem, a valentia sertaneja, que ele aponta em alguns cangaceiros como Lampião e alguns volantes, como Odilon Flor. Seu pai é um homem de bem, desenvolvendo o trabalho de seu emprego e o trabalho intelectual de ser voz do sertanejo pobre. 

Enquanto o cangaceiro se impôs pela violência, Alcino conquistou o mundo onde vive e a rede de estudiosos do cangaço, pelo comportamento poético de gostar da humanidade de seu povo - seus irmãos, e mostrou a genialidade de construir saber a partir da realidade, de sua apropriação e,  mais que tudo isto,  é abençoado pela deusa da arte, que lhe inspirou a beleza de sua narrativa.

Alcino é um POETA que expressa em sua produção literária o melhor da alma sertaneja. Ele integra o universo de Inácio da Catingueira, Leandro Gomes de Barros, os Chaga Batista, Patativa do Assaré e todo o Panteon dos heróis da literatura sertaneja, que mostram ao mundo urbano a existência de poesia e prosa brotando na caatinga, longe do saber acadêmico, produção de inspirados seres humanos a quem o destino permitiu  a descoberta das letras do alfabeto e a sensibilidade de absorver o mundo para transmiti-lo como um grito da alma.

Então, é com a fé no Deus sertanejo, nos seus santos e anjos, e na devoção ao Padim Ciço Romão e Frei Damião, que todo o sertão se eleva em preces pela sua rápida recuperação.

Rangel Alves da Costa
Poeta e cronista

Christiano Câmara, imperdivel no encontro GECC-Cariri Cangaço


Na próxima terça-feira, dia 03 de Abril temos um encontro marcado com o grande musicólogo Christiano Câmara, numa conferência sensacional sobre a História na Música.
Você é nosso convidado !

Terça-feira, 03 de Abril de 2012
Saraiva Mega Store do Shopping Iguatemi
Fortaleza - Ceará
19 horas

GECC-Cariri Cangaço

A Casa de Santinha Por:Manoel Severo

Pawlo Cidade ao lado de Manoel Severo

A vida imita a arte! O que seria de nossas vidas sem a magia e o encantamento da arte? Quando chegamos a este mundo trazemos em nossa bagagem muitas missões. Para cumprir essas missões recebemos maravilhosos presentes que são como dons, talentos. Pawlo Cidade é uma dessas pessoas que veio ao mundo trazendo em sua bagagem o dom daqueles que fazem a diferença em tudo a que se dedicam, e o faz bem, com amor, talento e alegria. Pawlo Cidade tem o dom dos alquimistas que percebem a vida de outra forma, compreendem o mundo e vêem as coisas com outro olhar; transformam em realidade, emoções e sentimentos. Assim nasceu A Casa de Santinha, sua mais nova obra de ficção, transformando em livro o sonho de nos trazer um pouco da vida de uma das sertanejas mais conhecidas do planeta.

Quantas emoções e sentimentos pontuaram a história do casal mais famoso do cangaço. Virgulino e Maria, o Capitão e sua Santinha, o rei e a rainha do cangaço: Lampião e Maria Bonita ? “O mundo é um palco. Homens e mulheres, não mais que meros atores, entram e saem de cena e durante a sua vida não fazem mais do que desempenhar alguns papéis.” Nos diz Shakespeare. O talento de Pawlo Cidade traz para o teatro um recorte ficcional de um momento importante da vida de dois desses maravilhosos protagonistas das sagas nordestina: A morena da terra do condor, a menina moça que abandonou sua casa, sua família e seu casamento para se tornar uma das Marias mais festejadas e famosas, que enfeitiçou o  maior de todos os cangaceiros: O seu homem; Virgulino Lampião.



Por entre as linhas de Pawlo Cidade em sua A Casa de Santinha, pode-se perceber a beleza daquele sertão alegre, o cheiro do mato e da terra batida. Por traz das letras de sua obra encontramos o linguajar apaixonante do povo simples do nosso chão: Uma família, um pai, uma mãe, uma filha... Cheia de vida, de sonhos e de...beleza. Maria Gomes de Oliveira . A leitura cuidadosa, despretensiosa e mansa da obra de Pawlo Cidade, nos transporta para aqueles longínquos idos do final da década de 20 do século passado, para as terras da fazenda Malhada da Caiçara; quando reinava soberano o mito de Lampião, o capitão governador do sertão.

Pawlo Cidade nos mostra uma outra Maria, uma menina doce e sonhadora, vivendo a desilusão de um casamento infeliz e a euforia da descoberta de uma nova e misteriosa vida a partir de um grande e devastador amor, um dos maiores que o sertão já conheceu.

Nenhuma arte é fruto do acaso, A Casa de Santinha encanta pela leveza, navegando entre a ficção e a realidade, tem como cenário principal o palco do coração de todos os apaixonados pelas coisas de nosso nordeste...E como o próprio Pawlo Cidade se apresenta: “um sonhador, escrevendo parte da história, driblando as diferenças e vivendo o presente.” Parabéns queridos leitores por terem a oportunidade de compartilhar essa maravilhosa e singela obra.

“ Dona Déa:
Salvo entrou, salvo estará. Salvo. Salvo. Salvo sempre estará (bate três vezes no peito e com o pé esquerdo) Santa Mãe de Deus e Mãe Nossa, Mãe das Dores, pelo amor do meu padrinho Ciço, li­vre Virgulino e Maria de tudo quanto for perigo e miséria. Dai paciência para sofrerem tudo pelo vosso amor e do meu padim Ciço. Minha Mãe das Dores do Juazeiro, eu trago o vosso retrato e o do meu padim dentro do meu coração. A eles nunca deixe de dar abrigo e proteção. Com o Credo em cruz, que seus corpos sejam fechados. Amém!”

Uma das passagens do personagem de Dona Déa em A Casa de Santinha.

Manoel Severo 
Cariri Cangaço

A Academia de Letras de Ilhéus convida...

CONVITE
Dia 27 de Março, nesta terça-feira, Leitura Dinâmica da peça "A Casa de Santinha" de Pawlo Cidade, 
as 19 horas na
Academia de Letras de Ilhéus,
Ilhéus - Bahia

Comunicado SBEC



Caros amigos e sócios da SBEC, estamos preparando o XIV Fórum do Cangaço no periodo de 11 a 14 de junho próximo.Em breve estaremos divulgando programação oficial. Lembramos também que na ocasião do fórum estaremos elegendo a nova diretoria para o biênio 2012-2014. Em breve estaremos passando informações sobre o processo eleitoral.

Comunicamos também que o I Encontro Nordeste do Cangaço que estava programado para a cidade de Garanhuns/Pe em outubro próximo foi cancelado.
Abraços cordiais.

Lemuel Rodrigues da Silva
PRESIDENTE DA SBEC

A incrível história de Dona Bolinha, do Caldeirão do Deserto ! Por:Manoel Severo

Aderbal Nogueira, Manoel Severo e Seu Raimundo, no primeiro documentário Cariri Cangaço.

Nestas nossas caminhadas e aventuras por meio deste sertão maravilhoso de nosso nordeste, colhendo aqui e ali, fragmentos da verdade que constroe nossa história, acabamos ouvindo, vendo e vivenciando de tudo. São tantas as histórias que povoam os bastidores dessas aventuras, que certamente seriam facilmente transformadas em livro. Ali, o drama e a comédia conviviam sem nenhum preconceito e ajudavam a criar a atmosfera perfeita e o combustível necessário para o próximo desafio.

Um desses momentos imperdíveis, aconteceu ainda em 2009, quando nos preparavamos para o primeiro Cariri Cangaço. Nossa equipe percorreu os possíveis cenários para acolher nossos convidados e em um deles, o famoso sítio do Caldeirão do Beato José Lourenço, estava eu conversando  amenidades com o morador do lugar, "seu" Raimundo, e repentinamente lembrei de uma foto clássica, feita ali, pelo grande fotografo Pachelli Jamacaru, onde temos a Capela de Santo Inácio e um cachorro devidamente pousado para a fotografia. 

Bolinha e a clássica fotografia de Pachelli

Perguntei ao "seu" Raimundo: "Meu amigo e aquele cachorro da foto do Pachelli, ainda tá vivo?" e o homem respondeu: "Tá vivo, mas é uma cadelinha, já mora qui conosco a muito tempo" e voltei a perguntar: "Qual o nome dela?" 

Raimundo prontamente falou: "É Bolinha !"

Aderbal Nogueira e Danielle Esmeraldo, que nos acompanhavam na oportunidade, estavam na porta da casa da esposa do Raimundo, já prontos para se despedir e ouvindo "de revestrés" a nossa conversa, foram logo chamando a esposa do Raimundo:

"Dona Bolinha, já estamos indo..." gritou Danielle, no que foi seguida por Aderbal "Bolinha ? que nome esquisito!"

Foi aí que sai de meu tamborete e tirei os dois da enrascada, "pessoal Bolinha é o nome da cadela do casal, não é da esposa do Raimundo, que chama dona Maria..."

Dona Maria, seu Raimundo e Danielle Esmeraldo

Belo cenário do caldeirão do Deserto do Beato José Lourenço, em Crato

Até hoje não sabemos se a dona Bolinha, digo, a dona Maria ouviu ou não o espantoso chamado, mas, foi melhor assim, ao final, entre mortos e feridos todos salvaram. O Caldeirão do Deserto do Beato José Lourenço foi palco anfitrião das duas primeiras edições do Cariri Cangaço, 2009 e 2010, e ficou guardado na memória de todos os participantes, mas... isso é outra aventura, depois eu conto.

Manoel Severo

Erivam Félix em Palestra no NEC Por:Rosa Bezerra


PREZADOS CANGACEIRÓLOGOS,

Lembramos a todos os interessados que dia 27.03, terça-feira próxima, estaremos promovendo a palestra com o sociólogo Erivam Félix, discutindo
 seu recém-lançado livro 
" CORONELISMO E CANGAÇO NO IMAGINÁRIO SOCIAL".

Endereço: Rua de Santana, 202, Casa Forte.
Recife-Pernambuco 
Informações no horário comercial : UBE-PE 34417488.
A palestra é gratuita, acessível a todos os nivéis.
Contamos com a presença de todos.

COORDENADORA DO NEC  - NÚCLEO DE ESTUDOS DO CANGAÇO.

Rosa Bezerra

Força ao Decano Caipira de Poço Redondo !


Comunicamos a toda família Cariri Cangaço, que nosso Conselheiro do Conselho Consultivo, pesquisador, escritor, radialista, poeta, Alcino Alves Costa, o Decano Caipira de Poço Redondo, foi acometido de um AVC na madrugada desta terça-feira e transferido em estado grave para Aracaju. As últimas informações são de que sua situação é delicada, se mantendo na UTI sob rigorosos cuidados. Convidamos a todos a participar desta corrente de energia positiva e Oração para que nosso companheiro, amigo e irmão, Alcino; tenha forças para se reestabelecer.

Manoel Severo

O Cangaceiro Juriti Por:Juarez Chaves

Lampião e Juriti

O cangaceiro baiano Manoel Pereira de Azevedo, oriundo do lugarejo Salgado do Melão, chegou ao bando de Lampião, com o nome de guerra JURITI, mas LAMPIÃO, de imediato, quer trocá-lo por Maçarico, mas o recém chegado cangaceiro rejeita o novo nome por considerá-lo afeminado e impõe a sua vontade de permancer sendo chamado de JURITI.
O capitão, que sempre admirou homens de personalidade e temperamento fortes, não colocou obstáculo ao preito de seu novo comandado e a partir daquele momento passaria para o esquecimento o nome Manoel Pereira de Azevedo para surgir, com todo fulgor, o perverso JURITI.

Era um rapaz de corpo atlético, esguio, louro, cabelos finos, gestos elegantes, boas maneiras, apesar de genioso e perverso ao extremo. A conta criminosa e maldita do cagaceiro de Salgado do Melão foi vasta e adubada com muito sangue e muitas dores. Tempos depois, já famoso e comentado, JURITI leva para a sua companhia a jovem Maria, uma filha de Manoel Jerônimo, vaqueiro da fazenda Picos. Vamos encontrar JURITI e sua companheira Maria no coito de Angico, junto com Virgulino Ferreira, no fatídico 28 de julho de 1938. Naquele dantesco acontecimento muitos bandidos, atônitos e sem saber o que estava acontecendo, só pensavam em fugir daquele inferno. 
Milagrosamente muitos conseguiram sair daquele inesperado abismo que se abateu sobre o grupo bandoleiro. Milagre que não foi possível para onze companheiros, incluindo o maioral, o grande chefe, LAMPIÃO. Do contingente que conseguiu se salvar alguns foram baleados. A luta para transportar os enfermos foi titânica. Os que tinham condições de carregar os feridos não pouparam esforço, mostraram que faziam parte de uma família verdadeiramente unida. Foi com admirável boa vontade e coragem que transportaram seus doentes para locais seguros, onde os mesmos pudessem ser tratados. 
Juarez Chaves
xiquexiquense.blogspot.com

A construção discursiva de personagens históricos Por:Wescley Rodrigues

Wescley Rodrigues

Mais uma vez vem a baila o livro do ex magistrado Pedro de Morais, intitulado “Lampião, o Mata Sete”, que afirma ter sido o “Rei do Cangaço” um homossexual que viveu um triângulo amoroso e uma relação de fachada com Maria Bonita e Luiz Pedro, seu lugar tenente. As opiniões a cerca da obra são acaloradas, uns criticam, outras tratam-na com ar jocoso, e ainda há aqueles que a demonizam na tentativa de criar uma barreira para que os leitores não tenham acesso a tal produção. A priori deixo claro que não estou aqui para fazer uma defesa do livro em questão, mas para propor um novo olhar que historicamente, sociologicamente e antropologicamente estamos esquecendo, ou não queremos tirar as nossas vendas do comodismo para vislumbrá-la.

Primeiramente é bom salientar que sou completamente contrário a qualquer forma de censura a livros, vivemos em uma sociedade e estado democrático de direito, na qual a liberdade de expressão é princípio elementar que depõe a favor da dignidade da pessoa humana. Só porque um livro vai contra os nossos princípios ou as ideias que temos como verdadeiras, isso não nos autoriza a censurá-lo, pois ao fazermos tal, não estaremos longe do que fez a Igreja Católica com a sua lista de livros proibidos, ou a ditadura militar brasileira que impediu a circulação de toda obra que atentasse contra os seus princípios distorcidos de sociedade.


Não li na integra a obra do referido escritor, haja vista diretamente não poder criticá-lo ou elogiá-lo, mas confesso que pretendo ler, ao contrário da repulsa que alguns amigos pesquisadores do cangaço estão tendo com a obra, pois acredito que só através de uma minuciosa leitura é que estarei gabaritado para fomentar e construir as minhas análises de forma consistente sobre o escrito.

Mas para não me alongar na ideia apresentada, trago ao foco uma questão importante, essa diz respeito à fabricação dos personagens históricos. Antes de Lampião e seus cabras serem protótipos do Nordeste ou da sua dita masculinidade, cabras machos, de fibras, eles são produtos e sujeitos históricos. Como sujeitos históricos são fabricados, construídos, mediante discursos e narrativas. Falo isso por não acreditar em uma verdade histórica, mas uma verossimilhança, uma interpretação autorizada pelos documentos de um passado que já foi, o qual não poderemos resgatá-lo, somente interpretá-lo, representá-lo, mediante os vestígios que chegam ao presente. Essa é uma concepção que atenta de frente contra a teoria positivista de história que ainda vigora na atualidade.


Por ser uma figura histórica que é ditos por um corpus escriturário, Lampião é essa figura que congrega discursos, representações. O livro do Pedro de Morais ajuda-nos a entender um pouco dessas facetas narrativas que os mitos em torno das figuras históricas constroem. Esses são discursos que trazem em si a marca de seu lugar de produção. Por isso, conclamo os amigos a lerem a obra “Lampião, O Mata Sete”, não como um livro de história no sentido positivista, mas, como diriam os teóricos da história francesa, uma vertente de resignificação de personagens históricos a partir de propagandas de épocas distintas, uma página de entendimento de como a fabricação de um mito envolve polêmica e opiniões nem sempre comprováveis, mas que vão tornando-se válidas a partir de sua resignificação simbólica e infiltramento no imaginário e cultura histórica. Tal fabricação de personagens se deu com Napoleão, Hitler, Jesus Cristo, Delmiro Gouveia, Antônio Conselheiro, Padre Cícero, e tantos outros personagens históricos.

Acredito na necessidade de se abri um espaço no Cariri Cangaço 2012 para se debater tais questões fazendo um paralelo com o livro abordado há pouco.

Prof. Ms. Wescley Rodrigues
Sócio da SBEC
Sousa - PB  

O Estado Maior do Cangaço Por:Cicinato Neto

Magérbio de Lucena

Lampião e o Estado Maior do Cangaço - Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena - Estudo feito por dois estudiosos do Cariri cearense sobre os maiores nomes do cangaço no Nordeste: Lampião, Luís Pedro, Labareda, Sabino Gomes, Massilon, os irmãos Engrácia, Antônio Matilde, Antônio Ferreira, Livino Ferreira, Jararaca, entre outros.
 
Edição utilizada : 2ª edição, Fortaleza, Gráfica Encaixe, 2004 (a primeira edição é de 1995).
Trecho significativo:
Declarações do cangaceiro Oliveira aos pesquisadores sobre Lampião:
"Durante o tempo que andei com Lampião, quando a gente entrava no Ceará, ele dizia logo: - Coidado, qui é um istado qui eu arrespeito! E ninguém tomava nada de ninguém, não matava ninguém. Lampião não gostava de dar surras, dizia: Prá pegá um pobi, um paisano dizarmado dá u'a pisa, não é vantage prum homi. Vantage prum homi é falá arto prá ôto homi armado! Não se dava bolos. As moças tinham que ser respeitadas. O padre Cícero tinha pedido para ele respeitar moças, senhoras casadas e seus romeiros, dizendo que se fizesse isso, ele morreria velho em sua cama. Quando entrô no Juazeiro, deram-lhe armas, fardamento e a patente de capitão prá deixar aquela vida, mas o governo e a polícia do Pernambuco não deixaram. Lampião dizia:
Ninguém quêra si apossá de muié de vergon'ia o que mi dizibedecê eu atiro pra matá! E se o o cabra teimasse, morria mesmo".
O tratamento dos feridos era uma coisa desmantelada. Lavava-se era com cachaça, pois não havia álcool e colocava-se emplasto de sal com pimenta. Nunca fui ferido, mas vi muito baleado sofrer com ferimento aberto e tendo que andar sem parar, correndo da polícia. Se o ferimento era grande, deixava-se o baleado com algum coiteiro. Quando não tinha jeito, se abreviava a morte do companheiro, a pedido dele mesmo como foi feito com Sabino". (p. 204-5).


Cicinato Ferreira Neto
www.cicinato.blogspot.com

NOTA CARIRI CANGAÇO: Para adquirir um exemplar desta obra de Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, entrar em contato com Professor Pereira, através do email: franpelima@bol.com.br

O mais novo investigador do cangaço Por:Luquinhas Calegari

De: Lucas Poton Calegari, idade : 8 anos

Oi Severo sou eu "Luquinha" o Novo Investigador do cangaço . Eu conheci este grupo que estuda o cangaço com o escritor João de Sousa Lima. Primeiro foi um jantar e depois comecei a conhecer vocês, viramos amigos e agora faço parte deste grupo. 

Dos lugares que visitamos os que mais gostei foi a Grota de Angico onde o Virgolino (Lampião) morreu e na fazenda em Serra Talhada onde ele nasceu. Gostei também de visitar a fazenda Touro (BA) local onde Ezequiel, o irmão de Lampião  morreu e a casa onde a Maria de Déia (Maria Bonita) morou em Malhada do Caiçara. Outro lugar que achei interessante foi a fazenda em Maranduba onde o tiroteio entre os cangaceiros e volantes deixou dezessete policiais mortos. De lá trouxe de lembrança um crânio de uma vaca.

Lucas, Matheus e a lembrança da Maranduba
Matheus e Aderbal na Lagoa do Mel
Lucas, Matheus e a Caravana em Nazaré
Lucas, Matheus e Caravana na Vila de dona Generosa


Gostamos muito do passeio, já estamos querendo voltar rsrs . Todos dias eu e meu irmão olhamos o blog Cariri Cangaço gostei muito das fotos no blog ,só faltou do meu irmão. Se vc tiver ai coloque também que ele vai ficar muito feliz. Depois você manda a minha carteirinha de investigador do cangaço  Mande um abraço para todos, fala pro Vovô Múcio que eu quero ver ele no próximo encontro de vcs. Obrigado Luquinha !tchau Severo.

Ah Severo ia logo me esquecendo, a próxima vez que vc for fazer uma viagem de estudo no cangaço me chame porque eu vou ficar muito agradecido. Atenciosamente.

É isso . Tchau Severo.                                                                                                                                                            
Luquinhas e Matheus, novos Investigadores do Cangaço
     


Matheus e Luquinhas, na Casa de Maria Bonita


Estávamos em Serra Talhada, já no final de nossa jornada com a Caravana Cariri Cangaço-GECC, quando vieram me mostrar uma mensagem de celular enviada a uma tia pelo pequeno Luquinhas, que dizia assim: "Tia eu faço parte agora de um grupo de investigadores do cangaço, eles são muito famosos e vão me levar até para Portugal com tudo pago"! Bem, tirando o "famosos" e desejando que essa viagem a Portugal se confirme, rsrsrs, o resto foi a surpresa pela grande e prazerosa companhia durante boa parte de nossa caravana, com a família de Karlon, pai de Luquinhas e Matheus. Na verdade eles estavam em Paulo Afonso, sob a "tutela" do amigo João de Sousa Lima e dali se uniram a nosso grupo, para nossa satisfação.

Crianças sempre acabam fazendo a diferença, mas Luquinhas e Matheus possuíam um algo mais. Incrível como eles se identificaram com as coisas e as raizes nordestinas; são do estado do Espírito Santo; e a cada visita e a cada informação, mais e mais eles se encantavam, por muitas vezes percebíamos seus olhinhos brilhando, para isso não há preço. Logo cedo da manhã estavam os dois a postos para mais uma caminhada, percorriam todas as trilhas e só voltavam a noite, muitas vezes dormindo é claro... mas acabaram por nos dá uma grande lição: Temos aqui em nosso chão, na nossa terra, um tesouro precioso e que muitos de nós não consegue enxergar. Jamais vou esquecer a emoção do Luquinhas quando vestiu a camisa vermelha do Cariri Cangaço.


Queridos Luquinhas e Matheus, sejam bem vindo a esta família, a família dos Vaqueiros da História, a família Cariri Cangaço, e saibam que "famosos" são vocês, os mais novos Investigadores do Cangaço.Muito obrigado.
Manoel Severo

João Nunes Por: Antônio Vilela

Coronel João Nunes

João de Araujo Nunes, nasceu em 27 de janeiro de 1881 em Águas Belas(PE).João Nunes foi um homem de extrema coragem comandando a Força Pública de Pernambuco no combate ao cangacerismo,enfrentando Lampião e seu séquito com uma bravura fora do comum. O Coronel João Nunes era um homem forte e destemido, não tinha medo de Lampião, ao contrario, o Capitão vesgo tinha um respeito muito grande por Nunes.

Lampião teve uma grande oportunidade de matar o Coronel João Nunes e não o fez graças a bravura do mesmo. O coronel não se dobrou ao "Capitão" bandido. Em 30 de novembro de 1930, o Coronel, então aposentado estava descansando em sua fazenda em Águas Belas. Lampião foi lá e sequestrou o brioso militar. Primeiro o Rei do cangaço exigiu a importância de quinze contos de réis de resgate, mas João Nunes estava sem essa importância, o velho Coronel jurava que era um homem morto. Foi levado até o estado de Sergipe,entretanto, por sua coragem e bravura, sem jamais mostrar fraqueza, foi tratado com educação pelos cangaceiros e com muita admiração pelo próprio Lampião. Ao chegar à Sergipe e sem receber os 15 contos de réis pedidos de resgates, Lampião resolveu liberar o velho e brioso Coronel João de Araújo Nunes. 


João Nunes ao lado de Gerson Maranhão e Audálio Tenório


Ao contrário, em vez de pagar o resgate ao Capitão Virgulino, João Nunes acabou recebendo 30 mil réis para as despesas com comida e transporte. O velho Coronel chega ao Recife cansado, mas vitorioso de ter escapado das garras do famigerado Lampião, o terror do sertão, afirmando que Lampião era um "bandido de sentimentos humanos". O que salvou o Coronel João Nunes foi a sua coragem de enfrentar o infortúnio de estar sequestrado pelo bando de Lampião, conseguindo assim a simpatia dos bandoleiros e do próprio Virgulino Ferreira da Silva.

Na revolução de 1930,João Nunes foi preso juntamente com o governador de Pernambuco Estácio Coimbra, ele, João Nunes,foi levado para a Casa de Detenção do Recife, ficando na mesma sela com João Dantas, assassino de João Pessoa, interventor da Paraiba. João Dantas disse ser o Coronel João Nunes "um homem forte". O Coronel teve uma trajetória de vida muito bonita,foi prefeito de Águas Belas,Canhotinho e Garanhuns.

Antônio Vilela - Garanhuns - PE
Sócio da SBEC
Conselheiro Cariri Cangaço

Os mocinhos não venceram... Por:Aderbal Nogueira

Aderbal Nogueira

Meus amigos, venho aqui também participar dessa discussão sem fim desse tal juiz. Vejam bem; na minha modesta  opinião quem venceu essa batalha pela verdade histórica não foram os mocinhos, e sim o bandido pois, afinal de contas, ele conseguiu o seu intento. Vender, vender, vender e, acima de tudo, virar notícia até mesmo onde não deveria ter tido a mínima atenção, que é no meio dos maiores pesquisadores do tema. O que ele merecia de nós era simplesmente "DESPREZO". Quando muito, uma nota publicada em nome de todos falando sobre sua aberração histórica e nada mais.

No entanto agora, com certeza, ele está rindo, tomando seu uísque e comentando com os seus iguais que conseguiu o seu intento. Os amigos por favor me desculpem, mas eu não participei dos lucros e fama momentânea desse caçador de holofotes. E espero, com sinceridade, que, se outra aberração aparecer seja recebida com o desprezo  necessário para ser varrida instantaneamente  de todo e qualquer meio de comunicação e grupos de estudo do tema.

No mais, concordo com o amigo Carlos Eduardo quando fala a respeito da representatividade do nordeste nos outros centros. Não é à toa que nossas raízes são reconhecidas em todo o país. Cito como exemplo o nosso Cariri, berço de nossas tradições e conhecido mundo a fora. Os irmãos Aniceto que o digam.


Aderbal Nogueira
Sócio da SBEC - Diretor do GECC
Conselheiro do Cariri Cangaço

O valor cultural do Nordeste Por:Carlos Eduardo

Carlos Eduardo

O sociólogo Voldi escreveu um texto cuidadoso criticando as acusações do Sr Pedro de Morais sobre um possível comportamento homossexual de Lampião e outros membros de seu bando de cangaceiros (Ver postagem neste mesmo blog). Sua critica é bem construída e a hipótese apresentada no livro do Sr Morais, é indefensável. Voldi vai além, faz uma análise do comportamento de parte da sociedade brasileira em tempos atuais e declara seu entendimento: “Penso que o Sertão do nosso Nordeste seja a única área verdadeiramente definidora de um caráter BRASILEIRO”. Acho que Voldi exagerou nessa afirmação.

Em outro trecho, Voldi discordando da forma como parte dos meios de comunicação tratam a cultura nordestina, declara: - em nome de uma palavrinha mágica “FICÇÃO”, roteiristas e diretores têm adotado quase sempre o tom jocoso e depreciativo, como se o povo do SERTÃO nordestino fosse somente essa coisa que causa risos e diverte a nação. Adiante, o sociólogo inconformado fala de um desprezo nacional pelo sertão nordestino e sua gente.

Eu, muito humildemente quero divergir das opiniões de Voldi, pois não concordo absolutamente com essa opinião de que a nação vê o nordestino e sua cultura com desprezo e falta de seriedade. Nem tão pouco que o caráter brasileiro será exclusivamente resultante do povo nordestino. Para dar um exemplo bem simples e atual, no Carnaval do Rio de Janeiro, foram homenageados o Rei do Baião Luiz Gonzaga, a literatura de cordel, São Luis do Maranhão, e o escritor Jorge Amado. Entendo que a homenagem foi o reconhecimento do valor cultural da poesia nordestina e do talento dos dois artistas representantes da região. 

Carlos Eduardo
Rio de Janeiro

Momentos eternos ! Por:Manoel Severo



Com a matéria sobre o Sítio Passagem das Pedras, há dias atras, concluímos as postagens sobre a Caravana Cariri Cangaço-GECC, que aconteceu durante todo o período de Carnaval deste ano de 2012. Desde os primeiros momentos, ainda em Fortaleza e depois passando pelo Cariri; Crato e Juazeiro do Norte; adentrando pelo estado de Pernambuco: São José de Belmonte, Serra Talhada, Triunfo, Flores, Custódia, Arco-Verde, Buique, Águas Belas e Floresta; depois Alagoas: Água Branca, Delmiro Gouveia, Olho d'Água do Casado e Piranhas; Sergipe: Canindé do São Francisco e Poço Redondo e por fim Bahia: Paulo Afonso, Santa Brígida e Jeremoabo, vivenciamos momentos realmente eternos.




Para todos nós que pesquisamos a história do cangaço, uma maratona como essa representa bem mais do que o simples fato da busca por fragmentos da verdade histórica. Quando falamos, e eu em particular, sobre a grande família de vaqueiros da história e aqui se insere a família Cariri Cangaço, não o faço por um orgulho menor; mas pela compreensão que tenho e sinto, de todo o sentimento que norteia a caminhada de todos nós ao longo dos anos, pelas trilhas desta maravilhosa caatinga.



Uma caravana como essa possui também seus próprios desafios: Os vaqueiros da história também têm suas próprias histórias, e precisamos com humildade e reverencia, nos dedicar a cada uma delas. Os relacionamentos humanos são construídos acima de qualquer coisa por, respeito, abnegação, humildade e  muitas vezes, renúncia; quando nos esforçamos para fazer assim, crescemos um pouco mais. Essa oportunidade que tivemos foi mais uma prova de toda a beleza que há no convívio harmônico pontuado por esses princípios; as diferenças quando são compreendidas nos fazem crescer e tornarmo-nos pessoas melhores .




Em nome de todos os amigos que estiveram conosco nessa maravilhosa Caravana, agradecemos aos queridos amigos e amigas que nos acolheram em seu chão, sob seu teto e diante de sol  e chuva fizeram desta Caravana Cariri Cangaço-GECC, inesquecível.

Não seria necessário dizer que já estamos nos preparando para próxima...


Manoel Severo
Cariri Cangaço

Respeito à história: Restauração da verdade a cerca de Lampião e Maria Bonita Por:Voldi Ribeiro

Voldi Ribeiro


Tomei conhecimento, por vários veículos da proibição, em pedido liminar, de publicação e a comercialização do livro "Lampião - o Mata Sete" de autoria do advogado e juiz aposentado Pedro de Moraes. Decisão do juiz Aldo Albuquerque, da 7ª Vara Cível de Aracaju (SE), na Ação movida por Expedita Ferreira Nunes, filha de Lampião e Maria Bonita. A Ação é preventiva e foi tomada pela família, a quem vou louvar a iniciativa, com um foco muito adequado: não se trata da CENSURA (capítulo negro da história brasileira) - se trata mesmo da reparação moral da intimidade da família - como bem arguída e acatada judicialmente. Acredito que quando se tem a liberdade de expressão garantida há também a possibilidade de ser dirimida qualquer contenda de interesses no nível jurídico e foi o que ocorreu.

No meu modo de ver o tal ex-juiz e advogado Pedro de Moraes - pisou na bola - destratou a história e as pessoas - indicando inclusive que a Expedita não é filha de Lampião - as evidências afirmativas da paternidade já de muito tempo foram provadas - a imprensa da época foi testemunha - o irmão de Lampião de nome João Ferreira a criou e não há dúvidas pelos diversos depoimentos de cangaceiros sobreviventes da Saga do Cangaço.




Somente quem, de fato, tem conhecimento apurado acerca do comportamento moral das mulheres que participaram dos grupos de cangaceiros é que poderia ou poderá ainda tratar a questão da fidelidade e da infidelidade no Cangaço. Das quase 80 (oitenta) mulheres, mais ou menos, relacionadas na pesquisa que desenvolvo há mais de 08 anos, apenas Lydia de Zé Baiano, Cristina de Português, Lili de Moita Brava, foram mortas pelos seus companheiros por terem praticado ADULTÉRIO.

Prática social de restauração da HONRA considerada na época como legítima " apoiada, defendida, praticada e cobrada pela ampla maioria dos homens e mulheres rurais " herança da estrutura PATRIARCAL da família brasileira advinda de Portugal, mantida por quase 05 séculos. Já entre os índios brasileiros a infidelidade inexistia ou era tratada de outras maneiras. Há quem afirme ainda está em "voga" este formato de família patriarcal no Brasil. Em baixa é verdade. Ainda hoje ocupam páginas policiais de jornais importantes os chamados crimes passionais.

Há ainda o caso de Maria Jovina de Pancada (Lino de Zezé) que, embora também tenha praticado ADULTÉRIO, não foi morta pelo seu companheiro " foi deixada com a família em Santana do Ipanema pelo cangaceiro Moreno que era amigo da família (depoimento ao autor), e após a morte de Lampião (ocorrida em 28/07/1938), e após as chamadas "ENTREGAS" (ato de se entregar), o cangaceiro Pancada aparece em foto com seu grupo tendo Maria Jovina ao seu lado " se deduz que houve o perdão " caso exótico e diferente para os costumes da época.



Maria de Pancada, ao centro, por ocasião das entregas

O último caso de ADULTÉRIO envolvendo mulher cangaceira " foi o de Dulce do cangaceiro Criança " ocorrido após as "ENTREGAS", quando em companhia de Zé Sereno e Sila " já estavam a caminho de São Paulo capital. Bem retratado pelo pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo. Outro caso exótico " Criança apenas carregou os filhos e deixou Dulce já grávida do seu amásio (no caso era ex-policial e proprietário da fazenda onde se encontravam Sila e Dulce). Esperavam seus companheiros que haviam ido antes para criarem as condições de se estabelecerem.

Então no universo de 80 mulheres cangaceiras, mais ou menos, comprovadamente apenas 03 praticaram ADULTÉRIO, durante o período que antecedeu a morte de Lampião (julho de 1938) e todas foram mortas pelos seus companheiros, ou seja, 3,75% em estatística rasteira. Se acrescentarmos os 02 casos pós "ENTREGAS" ainda assim ficamos apenas na casa dos magros e raquíticos 6,25% - inexpressivos e confirmadores da regra social mantenedora da FIDELIDADE FEMININA nas uniões estáveis do mundo do Cangaço.

Outra coisa é querer, sem propriedade nenhuma de conhecimento, atribuir o comportamento ADÚLTERO à Maria Bonita. Da história da presença das mulheres nos grupos de cangaço, se deduz com muita clareza que os costumes rígidos do Sertão nordestino, quanto a Moral, o Respeito e o Recato exigido ao sexo feminino " foram ainda mais reforçados. Diferentemente das falsas notícias de jornais da época que atribuíam comportamentos promíscuos às mulheres cangaceiras. Isso também é, relativamente, dedutível " havia a necessidade de manter forte coesão e respeito à hierarquia dentro dos grupos de cangaço " o comportamento promíscuo, caso tivesse existido, resultaria em conflitos de honra que no Sertão sempre foram resolvidos por meio aniquilamento físico (morte) do transgressor (a).

A fidelidade e o amor de Maria Bonita por Lampião é flagrante nas cenas registradas em 1936, do filme feito por Benjamin Abraão Botto e, sobretudo, por depoimentos de cangaceiros e cangaceiras e soldados volantes que conviveram com a Rainha do Cangaço. Isso é assunto inquestionável na convivência marital entre os dois por quase 09 anos.

Quanto ao "triângulo amoroso" entre Lampião, Maria Bonita e Luis Pedro " essa é outra falácia que não se sustenta na história do Cangaço. Senão vejamos: Luis Pedro tinha sua companheira chamada Neném, morta em combate e vandalizada sexualmente pelos seus algozes " além do sentimento de perda por não ter conseguido proteger sua mulher da morte em combate, este foi também um dos motivos pelo qual Luis Pedro não mais se deixou acompanhar permanentemente por outra mulher.

Se verdade fosse o "triângulo amoroso" na esfera do alto comando do Cangaço, então como poderia ser abaixo do mesmo? Na visão distorcida do ex-juiz Pedro de Moraes " seria então um ambiente completamente promíscuo. NÃO O ERA. Pelo contrário: era de extremo respeito entre cangaceiros e cangaceiras. Isto está revelado nos anais da história por várias pessoas que conviveram dentro e fora dos grupos de cangaço.

Então a restauração do respeito e da verdade pode e deve prevalecer sobre a mentira, já que temos a liberdade de expressão garantida em Lei. Quando alguém intencionalmente ou não, denigre moralmente pessoas e fatos históricos distorcendo verdades já verificadas, a esfera judicial é a GUARDIÃ para todos os efeitos e julga limitando o autor ou mesmo o punido. Essa novela apenas está iniciando. Pena que o público veja tudo isso apenas como um fato JOCOSO - isso sim é homofobia ou heterofobia.



Tânia Alves a bonita Maria da televisão

A LIBERDADE DE OPÇÃO E PRÁTICA SEXUAL DEVE SER SEMPRE DEFENDIDA - isso é uma coisa - A OUTRA É SE TER OPÇÃO HOMOSSEXUAL E QUERER FORÇAR A BARRA AFIRMANDO QUE PERSONAGENS DA NOSSA HISTÓRIA TIVERAM A MESMA OPÇÃO.

Aliás, pergunta-se, quem é mesmo o tal ex-juiz e advogado Pedro de Moraes? Nunca vi ou li do mesmo, algum livro publicado sobre o Cangaço que atestasse seu conhecimento acerca da temática. Muita gente que leu alguns livros se diz especialista. Poucos são aqueles que tratam o assunto com a seriedade que o mesmo requer.

Outra falsa abordagem é opor os adjetivos "BANDIDO ou HERÓI" para qualquer personagem real do cangaço " tenha sido cangaceiro ou volante policial - essa falsa oposição cega a análise isenta e leva o pesquisador a distorcer a realidade para enquadrá-la neste esquema. Houve uma época, um contexto cultural, jurídico-político, social e econômico que propiciou o aparecimento do Cangaço, bem como do Messianismo - como foram os casos do CALDEIRÃO, PAU de COLHER e CANUDOS.

Para este último a recém fundada República propagou para a NAÇÃO que era um aglomerado de fanáticos em torno da liderança de um LOUCO. Denegrindo Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro. Essa ideologia impregnou o povo das capitais. E a guerra de 1894 a 1897 exterminou algo em torno de 35 mil vidas humanas de sertanejos pobres - que desejaram viver por conta própria " até hoje uma VERGONHA.

Voltemos ao tal ex-juiz e advogado Pedro de Moraes: contemporizar é algo que devemos fazer quando a intenção tem razões nobres e válidas. Não é o caso do citado senhor.

Não tenho dúvida que logo-logo o tal ex-juiz venha a estar em algum programa de televisão para, em cadeia nacional, apoiar mais e mais a visão degenerescente das nossas tradições nordestinas e sertanejas. Obras e Novelas tem sido levadas ao público e, em nome de uma palavrinha mágica, "FICÇÃO", roteiristas e diretores tem adotado quase sempre o tom jocoso e depreciativo - como se o povo do SERTÃO nordestino fosse somente essa coisa que casa risos e diverte a Nação.

Penso que o SERTÃO do nosso Nordeste seja a única área verdadeiramente definidora de um caráter BRASILEIRO - há várias razões para se propor tal afirmação. Ainda estamos por aprofundar a nossa "chamada identidade nacional" a antropologia cultural brasileira ainda é devedora disso.

Vejamos: onde ocorreram mais conflitos e por longos períodos na formação brasileira? O que mesmo significaram tais conflitos na nossa formação moral e ética? Antes do Cangaço, envolveram: índios (levantes de Tapuias - vários), negros (os quilombos como foi o de Palmares e suas muitas ramificações pelo Sertão - há evidências históricas comprovadas) e, as chamadas revoltas sociais - ex. o Quebra-Quilos dentre outras.

Eis a pobreza com qual nos deparamos na história brasileira - o fato de termos a mais rica cesta de expressões culturais e artísticas (música, pintura, dança, artes do couro, do metal, do barro e da madeira, rituais, crenças religiosas, a literatura cordel acessível ao povo simples e a literatura erudita, etc., e nelas se encontrar o lado divertido e inteligente de zombar com a própria desgraça é que, decerto, pode ter influenciado este desprezo NACIONAL.
Finalizo meu comentário crítico com uma breve observação quanto ao debate: enquanto há aqueles que inventam ABSURDOS no afã do sucesso fácil e outros que apenas riem e fazem pouco caso do assunto ou até o desmerecem " atitude infantil e leviana, felizmente também há aqueles que por sensatez conseguem ver o lado importante da nossa história e não costumam empurrar a poeira para debaixo do tapete tentando escondê-la, ao contrário buscam a VERDADE e seu desvendamento como forma de provar o que somos hoje como POVO.

Voldi Ribeiro - Sociólogo e Pesquisador de Paulo Afonso-BA - 

Fonte: http://www.folhasertaneja.com.br