O Fogo do Coité Por:Geziel Moura

Igreja do Coité e Padre Lacerda

A história do cangaço é muito fascinante, e nem sempre cangaceiros, volantes e civis, que foram às armas. Em janeiro de 1922, quem pegou nelas foi o representante da igreja, o Padre Lacerda. Esse acontecimento se deu, na época que Lampião e seus irmãos, eram simples cabras de Sinhô Pereira, e atuavam na região do Cariri Cearense, a história é mais ou menos assim:
Após a morte do Coronel Domingos Leite Furtado, poderoso chefe político em Milagres (CE), no ano de 1918, o seu braço armado, o Major José Inácio de Sousa, fazendeiro abastado no município do Barro (CE), conhecido como Zé Inácio do Barro, passou a assediar a família do falecido, reclamando que o Coronel Domingos Furtado devia certa quantia a ele, por serviços prestados, o que produziu inimizades entre as família Furtado e Zé Inácio do Barro.
Major Zé Inácio do Barro
Antonio Vilela, Sousa Neto, Dr Leandro Cardoso, Jorge Remígio, Manoel Severo e Ivanildo Silveira na visita do Cariri Cangaço a 
Fazenda Nazaré do cel. Domingos Leite Furtado

Cabe, neste momento, uma explicação: Zé Inácio era conhecido protetor de cangaceiros, assim como outros coronéis no Cariri cearense, inclusive, Sinhô Pereira e seu bando, estavam na folha de pagamento daquele Major, tendo, ainda, seu filho, Tiburtino Inácio de Souza, vulgo Gavião, no bando de Pereira, isto denuncia, que nem sempre a constituição de um cangaceiro, era por conta da pobreza.
Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena nos conta, em sua obra "Lampião e o Estado Maior do Cangaço", que o Sítio Nazaré, da viúva do Coronel, D. Praxedes de Lacerda foi assaltado, em Janeiro de 1919, por grupo de cangaceiros, comandado por Gavião, filho do Major Zé Inácio do Barro.
Assim, após ser denunciado como mandante do assalto, Zé Inácio, não esconde o feito, mas diz que aquele dinheiro era dele, por anos de serviços prestados ao Coronel Domingos Furtado, e ainda o chamou de ladrão, pronto estava aberta a questão entre as famílias, principalmente na figura do Padre José Furtado de Lacerda, ou simplesmente, o Padre Lacerda, pároco da Vila de Coité, pertencente ao município de Mauriti (CE).


 Caravana Cariri Cangaço e a visita ao Coité de Padre Lacerda em Setembro de 2013
Manoel Severo, Sousa Neto, Antônio Amaury e Dr Leandro em conferência sobre o Fogo do Coité na própria igreja local
Luitgarde Barros, Daniel Apolinário e Dr Lamartine Lima na 
Conferencia do Cariri Cangaço no Coité
Insultos vão, insultos veem, entre o Padre Lacerda e o Major Inácio do Barro e o certo é que no dia 20 de janeiro de 1922, a pequena Coité é invadida pelo grupo de Sinhô Pereira, à frente com setenta cangaceiros. Entretanto, o Padre Lacerda, não usava somente a Bíblia e terços em seus ofícios, era possuidor de rifle e um bom contingente de homens, bem armados e municiados.
Segundo, o escritor Sousa Neto, que biografou o major Zé Inácio do Barro a resistência vinha da casa do Padre Lacerda, e sustentou o fogo por seis horas, forçando uma retirada dos cangaceiro, ao chegar soldados da policia de Mauriti e Milagres.
Ainda, segundo aquele autor, o bando de Sinhô Pereira fora atacado no dia seguinte, na Fazenda Queimadas, por aquelas volantes, sendo necessário dividir o grupo em três, um grupo com Lampião, outro com Baliza e o resto com o chefe Sinhô Pereira, desta forma conseguiram furar o cerco, e seguir para o coito, no Barro. O saldo do Fogo do Coité, foram três homens do Major, e diversos cangaceiros feridos, inclusive Antônio Ferreira. Padre Lacerda não era fácil.
Geziel Moura , Pesquisador
24 de novembro de 2017

E Eu Pisei de Novo no Chão da Rua Velha Por:Manoel Belarmino

Manoel Belarmino

Foi nesta quarta feira, 20 de dezembro, que eu estive novamente pisando o chão sagrado da Rua Velha, na cidade de Serra Negra, no Município de Pedro Alexandre. Fui ao casamento de Edimar e Ana Kelly. E o casamento foi exatamente ali na Rua Velha, na Praça General Liberato de Carvalho, na Igreja Nossa Senhora da Conceição da Serra Negra.
Cheguei ali na Serra Negra cedo. Desci para a Rua Velha. Vi ali no meio da praça da Rua Velha o velho monumento de ferro do Vaporzinho. Vi que a igreja de Nossa Senhora da Conceição ainda é a mesma. Pouca mudança houve no prédio da igreja. A casa de Tia Zefa de Cândido, mãe de Marli e Badú, ainda é a mesma. A casa de Antônio Leite, ali na esquina da praça da Rua Velha, pertinho do riacho que separa a Rua Velha da Rua Nova ainda é a mesma.


Quantas lembranças tomaram conta de mim na manhã de ontem! Lembranças das serestas do Bar do Cido. O Bar do Cido já não existe mais mais, mas o prédio ainda está ali. Lembranças das festas do dia 8 de Dezembro. Lembranças da Procissão que sai da Rua Velha e sobe a Rua Nova ainda sob o sol da tarde do dia 8 de Dezembro e desce para a Rua Velha depois que o sol se despede. Lembranças das novenas de dezembro. Das zabumbas, das quermesses, do pastoril da professora Miralda e dos guerreiros.
Quantas pessoas eu vi novamente! Os mesmos rostos, a mesma gente. O povo da Serra Negra parece não envelhecer nunca. Ali é o lugar onde o tempo parou. O povo é o mesmo. A cidade é a mesma.
Lembranças das festas do Clube Vaporzinho. Lembranças do Campo O Eraldão onde eu ainda joguei futebol. Lembranças, lembranças, lembranças... Lembranças de uma Rua Velha poesia.

Manoel Belarmino
Pesquisador, Poço Redondo-Sergipe

Vida e Morte Virgulina Por:Rangel Alves da Costa


Eu me chamo Virgulino, não tenho outro nome de pia, tendo por pai um José e por mãe uma Maria. Poderia ser chamado de Virgulino de Maria, mas outro apelidado me foi dado em distante freguesia. Um filho chorando um pai, pois morto em triste dia, quando a arma do poder tirou o que dele existia, jogando à própria sorte o que da família existia, fazendo surgir o ódio e toda vingança que havia.

Mas o que mais afligia era ser acusado de crime que nem de longe eu cometia. Dizer que minha família roubava a honra toda anuvia, cria no homem um ódio que nunca se atrofia, é querer criar bandido naquele de calmaria. Quando a fama se fez grande, acusado em demasia, então o jeito foi passar a ser aquilo que eu não queria, então agi pelo erro e fiz o que não queria: fazer o que não tinha feito pra provar a valentia.Coisa triste era a fome de vingança que eu sentia, mas não tinha outro jeito a dar naquilo que eu pressentia, ou dava o troco no troco ou escolhia a covardia, como não nasci pra temer então escolhi a ousadia, em dar um troco maior naquilo que me feria.



Quando o sangue jorrou nas terras onde eu vivia, o homem se fez em galope no filho de José e Maria. Uma chama acendeu, mas juro que não queria, e quando labareda comeu eu já estava em rebeldia, lutando contra o algoz desde o amanhecer do dia. 
Dói demais relembrar uma família em correria, saindo de canto a outro, sem ter sossego e alegria, e só se mantendo viva pelo revide que existia. Se bala viesse de lá, a bala daqui zunia, se tocaiado algum fosse, outra emboscada fazia.

Quando já sem pai e sem mãe, o mundo foi moradia. Ao lado de irmãos seguia nos rastros da valentia, levava comigo a certeza do que o mundo oferecia: lutar contra a injustiça e sua esfomeada sangria, ser um guerreiro do mato, um Lampião que na guerra alumia.

Na chama o Lampião, só assim me conhecia, deixado de lado o Virgulino e o filho de Maria. Foi nos carrascais desse mundo, na vida em descortesia, que empunhei arma e punhal pra viver em rebeldia, caçando e sendo caçado, no prazer e na agonia.
Eram muitos Lampiões que surgiam a cada dia. Na sina do sertanejo a dor que transparecia, maltratado e oprimido, um escravo de sesmaria, nas mãos do senhor coronel a desdita lhe doía, levando peso da canga e açoitado em grosseria.


Uma gente tão sofrida que a sorte lhe consumia, sem vez nem voz protetora, era água de bacia, derramada pelo chute do poder e sua demagogia. Capanga caçando irmão, no sertão a mesma pia, como se violar a pobreza causasse maior alegria. 
O povo desprotegido, a proteção mais queria, mas como encontrar alguém que lhe servisse de guia? Sinhô Pereira, Antônio Silvino ou Lampião, era o sertão que queria, ou alguém lhe defendia ou nada mais restaria.

E de repente Lampião já era o rei do sertão, o que muito enobrecia. Mas um viver de pesar que no prazer se fingia, todo adornado no ouro pra esconder o que a alma carcomia, sem descanso ao relento no peito a nostalgia. A punhalada da sina, na vida toda sangria.

Então no amor fui buscar o alento que queria. Depois de minha mãe Maria, eis que mais uma Maria. Essa toda bonita, flor no cabelo e laço de fita, e dizendo ninguém acredita, mas foi o prazer que tive em meio à vida maldita.


Por vinte anos vivi acendendo um Lampião, tratado com fidalguia, na fama e na honraria. Fui Capitão, do Estado a cortesia, e para fazer aquilo que eu dizia e não fazia. Não deseja fazer o que o poder queria, quando do outro lado o mesmo poder perseguia. 

Foi de conchavo e alinhavo, a trama que eu tecia. Do coronel a igreja, tudo à minha serventia. Mandava um bilhete assinado e logo o que eu queria, bastava me aproximar e toda porta se abria. Se um fogo despontasse, com fogo eu respondia.


Mas um dia o pavio do destino de vez me apagaria. Não foi na luta de homem, mas sim na maior covardia. Emboscaram todo o bando e o meu fim se fazia. Se levanto o mosquetão nada daquilo acontecia.



E foi o fim de Virgulino e também de sua Maria. Mas o homem que se foi na terra permanecia, não conseguiu ao sertão trazer a sua alforria, mas ensinou a lutar contra o mal que lhe oprimia, e continua a ensinar a não aceitar desvalia.


Rangel Alves da Costa, pesquisador, escritor, poeta
Conselheiro Cariri Cangaço - Poço Redondo, Sergipe
blograngel-sertao.blogspot.com

O Ataque de Sinhô Pereira as Fazendas Piranhas e Umburanas,dos Carvalhos. Por:Luiz Ferraz Filho

Clássica foto de Sinhô Pereira e Luis Padre

Geograficamente falando, no inicio do século XX não havia possibilidade nenhuma de frequentar a léndaria Vila de São Francisco (antigo distrito de Villa Bella - Serra Talhada-PE), sem passar nas terras das familias Pereira ou Carvalho. E foi exatamente nesse epicentro das antigas questões que estive visitando. A vila era na época um arruado de comercio pujante. Muitas habitantes frequentavam o povoado que crescia rapidamente as margens do Rio Pajeú. 

Qualquer sertanejo da Vila de São Francisco que desejasse visitar a cidade de Serra Talhada pela estrada velha, teria que passar nas fazendas Barra do Exu, Caldeirão, Escadinha, Varzea do Ú, Piranhas, Três Irmãos, Surubim e Umburanas, todas redutos de familiares dos "Alves de Carvalho". Esse grande número de habitantes fez prosperar essas localidades e conseguentemente da famosa vila , fundada na metade do século XIX por Francisco Pereira da Silva, patriarca dos "Pereiras".

Região rica, tal como todo o solo encontrado nas fazendas do oeste serratalhadense, a Fazenda Umburanas surgiu atraves de um dote recebido pelo fazendeiro Manoel Alves de Carvalho (filho de Jacinta Maria de Carvalho e João Barbosa de Barros - o Janjão da Quixabeira) pelo casamento com a prima Joana Alves de Carvalho, herdeira desta parte de terra que pertencia ao seu pai, o coronel José Alves da Fonseca Barros, que morava do outro lado do Rio Pajeú na Fazenda Barra do Exu. 

Marca de bala na Umburanas...

Deste quartel-general dos "Carvalhos das Umburanas", nasceram os celebres irmãos Jacinto Alves de Carvalho (Sindário), Enoque Alves de Carvalho, José Alves de Carvalho (Zé da Umburana) e Antônio Alves de Carvalho (Antônio da Umburana), e posteriomente os outros irmãos Isabel (Yaya), João de Cecilia (falecido jovem), Aderson Carvalho, Enedina e Adalgisa (Dadá). Foi lá, nesta fazenda, que esses celebres irmãos enfrentaram a questão com os primos Sinhô Pereira e Luis Padre.

Aparentados do major João Alves Nogueira, da Fazenda Serra Vermelha, e de Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé), que na época já enfretavam questão com Manoel Pereira da Silva Filho (Né Pereira), era somente questão de tempo e de proposito para que os irmãos Carvalhos (vizinhos da vila São Francisco, onde morava os Pereiras) aderissem a essa questão familiar. E o estopim foi justamente o assassinato de Né Pereira, em outubro de 1916, na Fazenda Serrinha, cerca de 6km da Fazenda Umburanas, dos Carvalhos.

Né Pereira, assassinado em outubro de 1916 pelo jagunço Zé Grande, que levou e entregou o chapéu e o punhal para os familiares dos Carvalhos.

O crime foi cometido pelo ex-presidiario Zé Grande (natural de Palmeira dos Indios-AL), que segundo os Pereiras, era ex-jagunço dos Carvalhos e havia fugido da cadeia para em sigilo incorpora-se ao bando de Né Pereira com a intenção de assassina-lo traiçoeiramente. Após matar Né Pereira quando ele tirava um conchilo, Zé Grande levou o chápeu e o punhal do morto para entregar aos Carvalhos, na Fazenda Umburanas, como prova do crime cometido. Revoltado, Sebastião Pereira e Silva (Sinhô Pereira - irmão de Né Pereira) entra na vida do cangaço ao lado do primo Luis Padre, que teve o pai assassinado em 1907, na Fazenda Poço da Cerca, cerca de 6km para as Umburanas.

Casa velha da Fazenda Umburanas, antiga propriedade de 
Manoel Alves de Carvalho e filhos. 
Francisco Batista da Silva (Chico Julio), 67 anos, morador antigo das fazendas Umburanas e Piranhas relembrando alguns episodio e mostrando as casas 
que foram incendiadas.

Localizada no epicentro da questão "Carvalho" e "Pereira", o comercio da Vila de São Francisco regredia devido a infestação de bandos armados. Em julho de 1917, Sinhô Pereira e Luis Padre, juntamente com mais 23 jagunços, resolveram fazer sua maior vingança com os "Carvalhos", cercando e atacando as Fazendas Piranhas e Umburanas. 

Os proprietarios Lucas Alves de Barros (da Fazenda Piranhas), Antônio Alves de Carvalho (da Fazenda Umburanas) e Jacinto Alves de Carvalho (da Fazenda Varzea do Ú) resistiram ao ataque, juntamente com os Pedros - jagunços e moradores da familia - em um combate épico que durou duas horas. O cabra Manuel Paixão, do bando de Sinhô Pereira, morreu ferido na calçada quando tentava entrar na casa velha da fazenda. "Tomamos a casa do Lucas, que fugiu para a casa de Agnelo (Alves de Barros - irmão de Lucas das Piranhas), bem perto. Depois chegaram mais jagunços, amigos dele. O combate durou quase duas horas. Manuel Paixão e outros três ficaram feridos. Um foi preciso a gente carregar. Era Antônio Grande. Por isso, tivemos que nos retirar. Dizem que morreu um deles e dois ou três ficaram feridos", revelou Sinhô Pereira, em entrevista nos anos 70.


Sindário Carvalho, que juntamente com os irmãos Zé e Antônio das Umburanas, resistiu ao ataque de Sinhô Pereira e Luis Padre as fazendas Piranhas e Umburanas
Casa velha da Fazenda Piranhas, propriedade de Lucas Alves de Barros e filhos.
Escombros da casa de Antonio Alves de Carvalho (Antonio da Umburanas), morto em um duelo com Sinho Pereira. 

Furioso, Sinhô Pereira pôs fogo nos roçados e nas cercas das fazendas, como também, queimou 13 ou 14 casas de moradores e agricultores que trabalham na terras dos Carvalhos, situadas bem próximas uma das outras. Depois, Sinhô Pereira, ainda matou algumas criações, cortando o couro para não ser aproveitado, e "arrombou" os pequenos açudes para os peixes morreram sem água. "A casa grande das Umburanas foi incendiada, como (também) as (casas) das Piranhas, e a minha casa nesta fazenda. Atualmente ali não reside ninguém", falou o fazendeiro João Lucas de Barros (filho de Lucas das Piranhas), em entrevista nos anos 70. 

Após esse ataque de Sinhô Pereira, os Carvalhos abandonaram suas moradas e vieram residir em Serra Talhada (PE), onde devido a influência com a politica da época, se aliaram aos militares e iniciaram uma tenaz perseguição ao bando de Sinhô Pereira e Luis Padre. Iniciava assim a fase mais obscura de uma guerra de vindictas familiares que culminaram na morte de Antônio das Umburanas e a ida de Sinhô e Luis Padre para o sudeste brasileiro. "A impunidade em Vila Bela (Serra Talhada) teve o auge em minha juventude", lamentou Sinhô Pereira, em entrevista meio século depois dos acontecimentos. 

Luiz Ferraz Filho, pesquisador - Serra Talhada,PE
(FONTE): (FERRAZ, Luis Wilson de Sá - Vila Bela, os Pereiras e outras historias) - (LORENA, Luiz - Serra Talhada: 250 anos de historia) - (MACEDO, Nertan - Sinhô Pereira, o comandante de Lampião) -  (AMORIM, Oswaldo - Entrevista de Sinhô Pereira ao Jornal do Brasil em fev.1969) - (FEITOSA, Helvécio Neves - Pajeú em Chamas: O Cangaço e os Pereiras)

A Casa onde nasceu Padre Cícero Por:Armando Lopes Rafael


Duas versões são defendidas, entre os historiadores regionais, no que diz respeito ao local onde teria nascido, na cidade do Crato, o Padre Cícero Romão Batista. A primeira versão - defendida por Irineu Pinheiro - diz que o famoso sacerdote veio ao mundo numa casa existente à Rua Miguel Limaverde. A casa pertencia ao coronel Pedro Pinheiro Bezerra de Menezes, e posteriormente fora desmembrada em duas residências. Ambas demolidas, quando do alargamento daquela rua, na fúria insana de destruir o que resta do patrimônio arquitetônico do Crato, para dar lugar à passagem de veículos automotores.

A outra versão, a que nos parece mais certa, defende que o Padre Cícero nasceu numa casinha, no terreno onde hoje se ergue o Palácio Episcopal, na atual Rua Dom Quintino, à época Rua das Flores (foto ao lado). Irineu Pinheiro defendia o imóvel da rua Miguel Limaverde, como o local do nascimento do Padre Cícero, baseado em depoimento de uma escrava da família do famoso sacerdote, conhecida como “Teresa do Padre”, mulher humilde e bastante estimada na cidade de Juazeiro do Norte, onde gozava a fama de uma pessoa virtuosa e de credibilidade.

Atual Palácio Episcopal em Crato...

Entretanto outro ilustre historiador, o Padre Antônio Gomes de Araújo, escreveu este depoimento, “Teresa do Padre, já começava a mergulhar no crepúsculo da própria memória, cuja desintegração começara”. Ou seja, a boa velhinha caminhando para os cem anos de idade, já não dominava mais a própria memória, deficiência física a que estamos sujeitos todos nós, os seres humanos, quando a velhice nos domina.

Já a versão de que o Padre Cícero nasceu numa casinha simples, onde hoje é o Palácio do Bispo, tem diversos defensores. Segundo depoimento prestado pelo cônego Climério Correia de Macedo ao Padre Antônio Gomes de Araújo, e incluído no livro “A Cidade de Frei Carlos”, o cônego declarou: “Minha tia paterna, Missias Correia de Macedo, cortou o cordão umbilical do Padre Cícero numa casa que foi substituída pelo palácio de Dom Francisco" (referia-se ao atual Palácio Episcopal construído por Dom Francisco de Assis Pires, segundo bispo da Diocese do Crato).


E continua Padre Gomes no seu livro citado: “É corrente que, no chão em que se ergue aquele palácio, havia de fato uma casa, que foi cenário, por exemplo, da recepção do Padre Cícero quando este chegou do Seminário de Fortaleza, ordenado sacerdote, bem como das festas que envolveram a celebração de sua primeira missa. É certo que dita casa pertenceu ao major João Bispo Xavier Sobreira (...) Com sua morte a dita casa passou à viúva, dona Jovita Maria da Conceição. Seus herdeiros venderam a casa a esta diocese”.

Assim, tudo está a indicar que o Padre Cícero veio ao mundo na casinha simples, entre fruteiras, localizada no terreno onde hoje se ergue o Palácio Episcopal. Deixamos nossa sugestão para que o Governo do Ceará e a Prefeitura do Crato providenciem a colocação de uma placa, assinalando o local onde nasceu um dos mais conhecidos sacerdotes católicos do Brasil, o ilustre filho do Crato, Padre Cícero Romão Batista. 
É uma forma de preservar a memória histórica de Crato, tão ultrajada e descaracterizada por administradores insensíveis e de poucos conhecimentos culturais...

Armando Lopes Rafael - Crato, Ceara
Fonte: Blog do Crato / http://blogdocrato.blogspot.com.br/

O Memorial e a Memória de Alcino Alves Costa Por:Rangel Alves da Costa

Rangel Alves da Costa

Neste sábado, dia 16 de dezembro de 2017, foi inaugurada a Sala Arte da Terra do Memorial Alcino Alves Costa, na cidade de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano do São Francisco. A referida sala, um espaço privilegiado para exposição permanente de toda produção literária e artesanal dos filhos de Poço Redondo, demonstra bem a amplitude alcançada pelo Memorial e os seus objetivos amplos de preservação e disseminação da história, da cultura e das tradições sertanejas.

O Memorial Alcino Alves Costa, como é da sabença de parte da população sertaneja, é um espaço histórico-cultural, fundado no mesmo local de residência do saudoso homenageado Alcino Alves Costa e de sua esposa Dona Peta, e inicialmente criado para a preservação do acervo do político, ex-prefeito (em três gestões), pesquisador do sertão e da saga nordestina, renomado escritor, compositor, poeta e radialista, falecido em 1º de novembro de 2012.

Caipira do Poço Redondo, Alcino Alves Costa

Como dito, Alcino foi prefeito por três vezes, sem que houvesse naquela época reeleição. Eleito pela primeira vez aos 26 anos, Alcino administrou Poço Redondo de 1967 a 1970, de 1973 a 1976 e de 1983 a 1988. Possuía apenas 42 anos de idade quando iniciou sua última gestão. Apaixonado pela autêntica música de raiz, nascida na viola de pinho e na letra cheirando a terra e a sertão, durante muitos anos apresentou, nas tardes dos sábados pela Rádio Xingó FM, de Canindé de São Francisco, o programa “Sertão, Viola e Amor”. 

Enquanto compositor, de sua autoria são “Seca desalmada” e “No sertão tudo mudou” (interpretadas por Clemilda), “Sertanejo de valor” (Ozano e Ozanito), “Morrendo de amor”, (Adalto e Adailton) “Garça Branca da serra” (Dino Franco e Mouraí) e “Sertão, viola e amor”, “Desencanto da natureza” e “Nuvens brancas do sertão”, (Dino Franco e Fandangueiro), dentre outras composições e intérpretes. A dupla poço-redondense Babá e Júlio também gravaram músicas de Alcino: Saudade de Amigo (lágrimas por Zé de Julião) e Adeus Velha Canindé, dentre outras.

Família Cariri Cangaço no Memorial Alcino Alves Costa em Setembro de 2017
Manoel Severo e Rangel Alves da Costa

Sobressaiu-se no mundo da escrita com as seguintes obras: “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”, que se tornaram referências necessárias na bibliografia nacional, e ainda: “Maria do Sertão” (primeiro livro escrito), “Poço Redondo – A Saga de Um Povo”, “Canindé do São Francisco – Seu Povo e Sua História”. “Sertão, Viola e Amor”, “Preces ao Velho Chico” e “Saudação a Paulo Gastão”. Ao falecer, deixou um grande número de obras inéditas e que serão futuramente publicadas. Dentre tais obras estão “João dos Santos – O Caçador da Curituba”, “Canoas – O Caminho Pelas Águas”, “Lendas e Mistérios do Sertão”, “Vaqueiro, Cavalo e Boi”, “Santa Rosa do Ermírio”, além de diversos rascunhos e estudos inacabados acerca do cangaço.

Alcino é patrono da Cadeira nº 1 da Academia Gloriense de Letras (AGL), é patrono da Academia de Letras do Amplo Sertão Sergipano (ALAS), é patrono do Conselho Consultivo do Cariri Cangaço. Era membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), sócio honorário do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará e membro do seminário permanente Cariri Cangaço, além de palestrante em diversos eventos de renomadas instituições. Em setembro de 2011, no município de Barbalha/CE, foi homenageado com uma placa distintiva outorgada pela Comunidade Lampião – Grande Rei do Cangaço e pelo blog Lampião Aceso, como “Reconhecimento por sua valiosa contribuição à cultura nordestina, e, em especial, aos estudos e preservação da memória do cangaço”. Em fevereiro de 2012, o evento II Arena de Arte e Cultura, promovido pela Prefeitura de Nossa Senhora da Glória/SE, homenageou-o como expoente da cultura e da memória sertaneja. Atualmente, a principal avenida de Poço Redondo possui o seu nome.

O Memorial inicialmente surgiu, pois, objetivando preservar a memória de Alcino, através de seu acervo, para depois ser ampliado e passar a ser livro aberto sobre a história sertaneja e nordestina. Atualmente, além do acervo primitivo, também biblioteca, sala para exposição permanente da arte local, sala de palestras, bem como elementos e objetos que foram incorporados para, num só local, contar a história de um povo e de uma terra desde suas raízes. A face de Alcino e daquilo que ele verdadeiramente amava: o sertão.

Rangel Alves da Costa, Pesquisador, escritor e poeta
Conselheiro do Cariri Cangaço

Academia Lavrense de Letras Empossa Novos Sócios no Ideal Clube

Manoel Severo, Linhares Filho e Heitor Ferrer

Aconteceu na noite da ultima quinta-feira, dia 14 de dezembro, no Ideal Clube, em Fortaleza; a solenidade festiva de posse de novos Sócios da Academia Lavrense de Letras. A solenidade comandada pela presidenta da Academia, escritora Cristina Couto contou com a presença de inúmeros confrades e confreiras e ainda marcou a entrega de Medalha do Mérito Educacional professor Gustavo Augusto Lima. 

"Anualmente a Academia Lavrense de Letras distingue com a Medalha do Mérito Educacional professor Gustavo Augusto Lima,  a uma destacada personalidade do mundo educacional e cultural, este ano de 2017 para nossa honra estamos passamos às mãos essa homenagem mais que justa ao grande poeta, professor Linhares Filho", comenta a presidenta da ALL, Cristina Couto.


Além da Medalha do Mérito Educacional concedida a Linhares Filho, receberam o Título de Sócio Honorário da Academia Lavrense de Letras, o deputado estadual Heitor Ferrer e o curador do Cariri Cangaço, 
Manoel Severo Barbosa.

Deputado Heitor Ferrer em suas palavras na noite solene da ALL
O Príncipe dos Poetas, Linhares Filho e a condecoração do Mérito Educacional
Manoel Severo, Ingrid Rebouças e casal Linhares Filho

A Academia Lavrense de Letras foi fundada no dia primeiro de junho de dois mil e oito, em reunião no Náutico Atlético Cearense, na cidade de Fortaleza – Ceará e instalada em setembro do mesmo ano em Lavras da Mangabeira. A fundação aconteceu em almoço que reuniu intelectuais do mundo cultural e educacional lavrenses, sob a inspiração e liderança de Dimas Macedo, seu primeiro presidente. Foi criada para elevar Lavras da Mangabeira à um patamar de destaque no cenário nacional das artes e letras. Na ocasião da fundação , usando da palavra Dimas Macedo explicou o objetivo : "Fundar uma associação de literatos, o que de há muito Lavras da Mangabeira necessita, reunindo intelectuais e escritores lavrenses que se dedicaram ao mundo das letras, das artes, da pesquisa científica e filosófica da educação e da cultura ou que fizeram a defesa desses valores e postulados como metas primordiais."Atualmente preside a Academia Lavrense de Letras, Cristina Couto.

Presidente Cristina Couto, deputado Heitor Ferrer e João de Lemos
Manoel Severo, Cristina Couto, Dep Heitor Ferrer e João de Lemos
Fátima Lemos e a condecoração a Heitor Ferrer
Ingrid Rebouças e o Título de Sócio Honorário a Manoel Severo
Cristina Couto, Ingrid Rebouças e Manoel Severo

"Hoje realizamos homenagens a duas personalidades; ao deputado Heitor Ferrer, lavrense ilustre, detentor de um trabalho espetacular em defesa das letras e arte de todo o Ceará, homem público inteiramente identificado com nossas causas e de uma sensibilidade sem igual; o deputado Heitor Ferrer recebe nesta noite para nossa honra o Título de Sócio Honorário da ALL. Já Manoel Severo; também querido amigo; curador do Cariri Cangaço; o maior evento do gênero, que já esta presente em 5 estados da federação, com 97 conferencias realizadas e muitos projetos que consolidam nossa cultura de raiz, inclusive com novos projetos para fora do Brasil levando nossa cultura e historia é um homem determinado e abnegado; Manoel Severo nesta noite ao lado do deputado Heitor Ferrer também recebe o Título de Sócio Honorário da ALL" confirma a Presidente Cristina Couto.

Manoel Severo, Ingrid Rebouças e deputado Heitor Ferrer
Linhares Filho e Manoel Severo
Cristina Couto, Ingrid Rebouças, Fátima e Linda Lemos
Cristina Couto e Ingrid Rebouças
Manoel Severo, Adauto e João de Lemos

Posse na Academia Lavrense de Letras
14 de Dezembro de 2017
Ideal Clube, Fortaleza-Ceara

Cariri Cagaço Rumo a Lisboa


Em menos de uma semana dois encontros, muita conversa e uma certeza: Vamos preparando as malas; o Cariri Cangaço está mais perto de Lisboa. A noite do ultimo dia 11 de dezembro no restaurante Forneria Coriolano, em Fortaleza, o Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, passou às mãos do professor doutor, Jorge de Sá da ULisboa e do doutor Carlos Beato, da Associação 25 de Abril, o Projeto Final do Cariri Cangaço Lisboa, primeiro empreendimento com a marca Cariri Cangaço, fora do Brasil.

Manoel Severo estava acompanhado do empresário Marciano Girão e do advogado Djalma Pinto e o momento selou o compromisso da realização do evento em terras portuguesas pela primeira vez. "O objetivo do Cariri Cangaço Lisboa é promover e fortalecer a integração entre as culturas do Brasil e Portugal a partir desse fórum qualificado de estudo de temas vitais para a uma compreensão  do perfil do povo nordestino que é o cangaço, como também criar possibilidades de futuros fóruns de discussões,  reunindo  pesquisadores de temas correlatos dos dois países e demais nações lusófonas em eventos  a serem realizados nessas nações" revela o empresário Marciano Girão.

Marciano Girão e os objetivos de cruzar o Atlântico
Carlos Beato, Jorge de Sá e Manoel Severo

Já o professor doutor Jorge de Sá, da Universidade de Lisboa comenta: "Chegando a Lisboa estaremos reunindo as instituições ligadas e estaremos apresentando o Anteprojeto, certamente em breve já teremos uma definição de formato e também de datas". Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço reforça:"Apresentamos na noite de hoje uma espécie de Anteprojeto, com as linhas mestras do Cariri Cangaço em Portugal, definindo um padrão e um formato, sugerindo temas, enfim, agora os doutores Jorge de Sá e Carlos Beato, que são nossos embaixadores em Portugal deverão realizar os ajustes necessários e daí teremos o Projeto finalizado talvez já dentro de um mês".

O Anteprojeto contemplou principalmente os principais temas a serem explorados em Portugal; "pensamos em temas basilares e fundamentais para a compreensão do fenômeno cangaço e seus principais protagonistas" e continua Manoel Severo: "é notório o interesse de nossos anfitriões pelo tema cangaço e por seu principal ícone que é Lampião, sem dúvidas nossa responsabilidade é reunir um grupo qualificado de pesquisadores brasileiros para proporcionar um debate de alto nível em terras lusitanas".

Marciano Girão, Carlos Beato, Jorge de Sá, Manoel Severo e Djalma Pinto

"Estamos testemunhando os primeiros resultados de um trabalho de mais de quatro anos que hoje começa a tomar realmente forma, e com um detalhe totalmente novo, aliás especialmente novo, pela primeira vez estaremos reunindo um grupo de pesquisadores brasileiros, conselheiros e amigos do Cariri Cangaço para contar essa história que possui tanta força que é o cangaço, do outro lado do oceano; sem dúvidas um grande desafio que começamos a vencer" fala Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço.

No todo, o evento deve ter entre 2 e 3 dias, reunindo professores e alunos de Lisboa, principalmente dos cursos de Historia, além de intelectuais e produtores de cultura e curiosos que contarão além de conferências, com debates, apresentações de documentários e exposição de fotos, numa primeira edição do Cariri Cangaço fora do Brasil. A data ainda não esta definida, o que acontecerá dentro de no máximo um mês. "É prioritária a questão da data pois temos uma verdadeira legião de confrades que precisam organizar suas agendas para possibilitar a presença em Portugal, dessa forma estaremos ultimando essa questão junto aos doutores Jorge de Sá e Carlos Beato. Só para se ter uma ideia, já recebemos manifestações de mais de 20 pesquisadores desejando se somar a caravana do Cariri Cangaço Além Mar", finaliza Manoel Severo.

Cariri Cangaço Lisboa
11 de Dezembro de 2017
Apresentação do Anteprojeto
Restaurante Coriolano, Fortaleza
Fotos: Ingrid Rebouças

O Trágico e Covarde Assassinato de José Nogueira, da Serra Vermelha Por:Luiz Ferraz Filho


Os livros sobre a história brasileira sempre trouxeram no capitulo sobre a Coluna Prestes o simbolismo da liberdade. Porém, nada foi mais aterrorizante para a população do Sertão do Pajeú, no mês de fevereiro de 1926, do que esses revoltosos sulistas. Vinda da Paraíba em direção ao Pajeú sob o comando do general Izidoro Dias Lopes, a Coluna Prestes contou com o "reforço" da boataria que estava alinhada ao bando de Lampião, para assim aterrorizar ainda mais o sertanejo. 

E foi esse boato que fez muitos fazendeiros da região abandonarem suas casas para se emprenhar na caatinga como esconderijo. Somada a isso, tinha também um batalhão patriotico para combater os revoltosos e que confundia ainda mais a população. Ao passarem por Betania (PE), onde esfomeados saquearam o comercio local, os revoltosos marcharam em direção ao povoado de São João do Barro Vermelho (Tauapiranga), distrito de Serra Talhada. De lá, desceram pelas margens do Riacho São Domingos em direção a lendária vila de São Francisco, também distrito de Serra Talhada. 

Serra Vermelha vista da Fazenda de Zé Nogueira

Entre essas duas localidades, os revoltosos encontraram a Fazenda Serra Vermelha, na época fonte rica para o abastecimento da tropa composta de seiscentos ou oitocentos soldados. Com a barriga cheia, precisavam eles de uma pessoa da região para servir como "guia dos revoltosos" e nada melhor que um homem conhecido e respeitado por todos para usarem como "escudo". E foi assim que o influente dono da fazenda, José Alves Nogueira, acabou "sequestrado" pelos revoltosos. Três dias sem nenhuma regalia, andando a pé sob olhares dos soldados até ser libertado próximo ao povoado de São João do Barro Vermelho (Tauapiranga). 

Cruz no terreiro da casa demarcando o local onde foi covardemente assassinado Zé Nogueira pelo cangaceiro Antônio Ferreira.

Aliviado, mal podia imaginar José Nogueira que voltando para sua Fazenda Serra Vermelha passaria por situação ainda pior. Ao chegar, José Nogueira pediu para um dos moradores ir avisar aos parentes e familiares que estava tudo bem com ele e que  estava em casa. E nisso, aproveitou para ir na vazante (plantação no baixio) olhar uma cacimba que abastecia o lugar. Depois de algum tempo lá, José Nogueira recebeu um recado de Antônia Isabel da Conceição (Isabel de Luis Preto) que inocentemente disse que a força volante de Nazaré (comandada por Manoel Neto) estava no terreiro da casa esperando ele. Desconfiado, José Nogueira ainda perguntou: - Tem certeza que é a força ?. Tenho sim, respondeu Isabel. 

O fazendeiro João Nogueira (neto de Zé Nogueira e bisneto do major João Alves Nogueira), na calçada onde foi assassinado o avô em fevereiro de 1926
Domingos Alves Nogueira (neto de José Nogueira) 

Ao subir da cacimba em direção ao terreiro da casa, José Nogueira avistou o bando de Lampião com 45 cangaceiros enfurecidos após sairem derrotados na tentativa de invasão ao povoado de Nazaré do Pico. Homem de firmeza, continuou José Nogueira o trajeto mesmo sabendo que dificilmente escaparia da morte. Nisso, o cangaceiro Antônio Ferreira, aproximou-se dele e falou: - É hoje José Nogueira. Ele ele respondeu: - Seja o que Deus quiser. 

Lampião mandou todos baixarem as armas e começou a conversar com o velho fazendeiro. Após a palestra, Lampião observou ele muito cansado, doente e asmático, liberando o fazendeiro. Deu voz de reunir e começou a seguir no destino da caatinga quando escutou um tiro. Tinha sido o cangaceiro Antônio Ferreira que havia covardemente atirado nas costas de José Nogueira. Vendo o ocorrido, Lampião reclamou dizendo que o velho estava doente e quase "morto". Então, Antônio Ferreira (que era irmão mais velho de Lampião) falou:

- Matei , tá morto e pronto. 

Era 26 de fevereiro de 1926. Calçou Antônio Ferreira as alpercatas (sandalias de couro) do falecido e seguiu junto ao bando caatinha a dentro. Segundo o fazendeiro João Nogueira Neto (neto de José Nogueira), durante anos o local onde o avô paterno foi assassinado ficou manchado com o sangue nas pedras. No local, os filhos do fazendeiro depois fincaram uma cruz para demarcar a tragedia. O corpo de José Nogueira foi enterrado no dia seguinte, do outro lado do riacho, no cemitério da Serra Vermelha. Deixou ele a viúva Francisca Nogueira de Barros (Dona Dozinha, tia dele) e sete filhos. 

Luiz Ferraz Filho,
Pesquisador, Serra Talhada-Pernambuco
FONTE : (LIRA, João Gomes de - Memorias de Um Soldado de Volante) - (AMAURY, Antônio e FERREIRA, Vera - O Espinho de Quipá) - (FERRAZ, Marilourdes - O Canto do Acauã) - (SOBRINHO, Jose Alves - Zé Saturnino - Nas Pegadas de Um Sertanejo). FOTOS/ENTREVISTADOS: João Nogueira Neto e Domingos Alves Nogueira (netos de José Alves Nogueira).