O enigma de Major Moisés Por: Cicinato Neto

"Em agosto de 1927, o jornal fortalezense 'O Nordeste' publicou reportagem sobre a suspeita atitude do Major Moyses Figueiredo quando Lampião voltava de sua frustrada viagem à Mossoró".

A conferência Cariri Cangaço 2011; em Aurora, falou do mistério sobre a participação de Isaías Arruda e Major Moysés Figueiredo em trama contra Lampião. Havia também suspeita de que Lampião tinha sido beneficiado pela "omissão" dos dois. Mais um grande enigma do cangaço.

Cicinato Ferreira Neto
http://www.cicinato.blogspot.com/

Nota Cariri Cangaço: No blog de nosso estimado amigo Cicinato Neto, temos breves considerações sobre livros clássicos do cangaço e da história nordestina em geral. Reveladas também algumas informações provenientes que pesquisas que o mesmo realizou , vale visitar.

Guerreiro Menino Por:Archimedes Marques


Guerreiros são pessoas
São fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
Por dentro do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
Que os tornem perfeitos
(GONZAGUINHA)

Estive agora pela manhã junto com a minha esposa Elane a visitar o nosso amigo, o Decano, o Caipira de Poço Redondo, o convalescente de uma recente cirurgia, mas o que encontrei foi o Guerreiro Alcino pronto para nova batalha, um homem forte em todos os sentidos, mas frágil na emoção, um homem-menino que trás dentro do peito uma alegria sem tamanho, que irradia uma Luz Divina, que fortalece os mais fracos, os mais necessitados que o cercam. Um homem que também precisa de um descanso, de um remanso, mas que não se sente cansado, volta à luta sem reclamar. Um homem que vive os seus sonhos para se tornar perfeito. Um verdadeiro GUERREIRO MENINO.

Eu que estava fraco e meio triste por ter me submetido a uma cirurgia bariátrica que terminou sendo de alto risco em virtude de varias complicações na própria fase operatória e pós-operatória, voltei renovado, voltei fortificado com a luz irradiante que me passou o GUERREIRO MENINO ALCINO e agora também vou continuar com meus sonhos em busca da perfeição com bem diz o poeta imortal Gonzaguinha.
 
Muito obrigado amigo Guerreiro Menino Alcino!...

*Archimedes Marques. Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Publica pela Universidade Federal de Sergipe) archimedes-marques@bol.com.br

Compromisso para amanhã; terça-feira, dia 01 Cariri Cangaço - GECC na Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi

Nesta terça-feira, dia 01 de novembro
as 7 da noite, novo encontro
Cariri Cangaço-GECC
no espaço Rachel de Queiroz

da livraria Saraiva do
Shopping Iguatemi, em Fortaleza


Imperdível !

Noite Cariri Cangaço - GECC
Saraiva do Shopping Iguatemi
dia 1 de Novembro
19 H

Citações sobre João Bezerra Parte II Por:Paulo Britto

Tenente João Bezerra

Ainda em decorrência ao artigo "Polêmica de Angico" publicado neste mesmo blog, gostaria de fazer constar mais algumas citações sobre o Tenente João Bezerra...

Antônio Jacó

Colocações de Antônio Jacó no livro “Assim morreu Lampião” de autoria do escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo, página 117, Edição 1982.
-João Bezerra armou uma rede, botou os bornaes pendurados num galho e disse assim:
- Mané Véio, deita aqui dibaxo da minha rede:
Eu respondi:
- Ôce tá pensando qui eu sô muié? Prá seiscentos diabos!
Mas deitei no chão, qui eu obedecia eli. ...

Quando estive com Antônio Jacó na cidade de Pires do Rio em Goiás, ele bastante emocionado, sem acreditar que estaria ao lado do filho de Ten. João Bezerra, em longa entrevista me disse:

- O seu pai, eu considerava como meu pai.

Sargento Elias Marques e Paulo Britto

Elias Marques

Em conversa com Elias Marques, soldado da volante do meu pai, que residia em Olho D`Água do Casado, onde lá estive por diversas vezes, perguntei a ele:
– Elias e essas conversas que meu pai se encontrava com Lampião, etc?
Ele respondeu:
– Paulo você vai acreditar nisso, seu pai não se afastava pra lugar nenhum que não levasse um de nós e nós nunca vimos falar nisso.
O Tenente não era de brincadeira”. ...

Estas colocações são para demonstrar a confiança e o respeito de Antônio Jacó e demais soldados pelo então Tenente João Bezerra, demonstrando que pessoas como estas jamais se insubordinariam ao seu comando, a consideração e a confiança do comandante por eles.

Ferreira de Melo

O coronel Francisco Ferreira de Melo no livro do Dr. Estácio de Lima “O Mundo Estranho dos Cangaceiros”, páginas 285, 286 e 287:
-Lastimamos a perda de meu excelente soldado ADRIÃO ou ADRIANO PEDRO DE SOUZA. Também foi baleado o nosso digno Comandante e mais um praça que teve o braço partido.
-De qualquer forma, LAMPIÃO foi liquidado pela tropa sob o comando geral de BEZERRA.
- As precauções e as providências. BEZERRA nunca se mostrava egoísta, ou vaidoso. Gostava de ouvir a opinião dos comandados.


Coronel Manoel Neto, à esquerda, em foto da década 70

Manoel Neto
Comentário de Manoel Neto em um Jornal do Nordeste:
O capitão Manoel Netto reconstitue, para esta folha, a luta em que se empenhou durante 12 anos.


-
O capitão Manoel Netto, pertencente à Brigada Militar do Estado, tem a sua carreira ligada ao combate sistemático e constante ao cangaceirismo no nordeste. Por fim, o capitão Manoel Neto allude a antigos companheiros de jornada, destacando os nomes do Tenente Coronel Hygino, do Tenente Arlindo Rocha, Luiz Mariano, Capitão Optato Gueiros, Major José de Alencar, concluindo refere-se ao Tenente João Bezerra dizendo:
- O Tenente João Bezerra a quem conheço pessoalmente, é um official disposto, disciplinado e muito bem quisto no seio da Polícia alagoana e dos Estados vizinhos.

Coronel José Rufino

Carta do Cel José Rufino; Jeremoabo, 1 de abril de 1964

Amigo Cel João Bezerra,
... Aqui fica o teu velho amigo que muito te estima.
Olha João, eu ainda hoje sonho com aqueles tempos daqueles em que nós vivíamos naquela mardita campanha.

Manoel Flor
Carta de Coronel Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor)
João Bezerra, Recebi sua carta, ontem, 19 de agosto de 1961, quando me preparava para um ligueiro passeio pela cidade. Seria faltar a primorosa verdade se lhe afirmasse ter sido um momento de alegria ao recebê-la. Foi meu caro amigo muito mais do que uma satisfação passageira. Ela veio me transportar a terreno mais profundo, o qual ficou no passado, mas de meandro crateroso, contemplado por mim com tantas emoções.

Emoção pelo desaparecimento de velhos companheiros, cujas cinzas veneramos com admiração e respeito, pela bravura e respeito; Emoção pelo verdadeiro espírito fraternal que sempre existiu entre as tropas pernambucanas e alagoanas. A confiança fazia com que considerássemos Pernambuco, um pedaço de Alagoas e Alagoas, um pedaço de Pernambuco; Emoção dos dias cruentos que enfrentamos, apesar da dureza da campanha, ocasionada pela fadiga, apreensão e responsabilidade, os nossos encontros efetivados na maior cordialidade, ou melhor festivos. ...
Do amigo e companheiro

Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor)

Floresta, 20/9/1961

Frederico Pernambucano de Melo

Colocações feitas pelo escritor e pesquisador Frederico Pernambucano de Melo, na introdução do Livro “Como Dei Cabo de Lampião” de autoria do Capitão João Bezerra, página 38, 3ª edição.

... as curtas memórias do coronel Bezerra nos revelam um homem eleito pela fatalidade de um destino de aventuras permanente, pondo-lhe a vida a cada passo um obstáculo para saltar e lhe proporcionando a aventura capaz de fazer lamber os beiços a um jovem do Pajeú da época, de poder provar, em pelejas sucessivas, aos seus próprios olhos e aos de terceiros que se tratava de “cabra disposto”. Metido no interminável steeple–chase que culminaria com a destruição do “Rei do Cangaço”, Bezerra há de ter-se considerado um homem de sorte, sob esse aspecto. Pois olhe que até uma onça cruzaria seu caminho para lhe dar oportunidade de tirar uma das mais invejadas cartas de valente: a de matador de onça. ...

Outro comentário do escritor e pesquisador Frederico Pernambucano de Melo, no Livro “Como Dei Cabo de Lampião” de autoria do Capitão João Bezerra, página 55 e 56, 3ª edição:
... Fico à vontade, portanto, para reconhecer em Bezerra o homem que não tremeu no momento em que o destino o aceitou como seu agente e ponta de lança, dando-lhe a chance de virar uma das páginas mais expressivas da história do Nordeste rural. ...

... No cenário de Angico, Bezerra não foi outra coisa. Sujeito e objeto da história, soube fazer-se templo da síntese magnífica. Como um Ahab original, mil vezes afortunado, cuidou em atropelar tudo o que se levantou entre ele e o cangaceiro. E ao lhe tomar no último instante a porta, quem sabe não o terá desenganado de um possível brilho derradeiro das estrelas de seu chapéu, sentenciando como o capitão da perna de marfim:

Louco! Sou o lugar-tenente do destino. Apenas cumpro ordens ...

Billy Jaynes Chandler

Repúdio ao Professor Billy Jaynes Chandler, no Livro da escritora Marilourdes Ferraz “O Canto do Acauã”, 3ª Edição – 2011, página 476:

- Pág. 252: “Estas histórias são repetidas pelos pernambucanos, principalmente por aqueles que, como os da família Flor e outros nazarenos, se sentem ludibriados porque, segundo eles, Lampião foi morto por um oficial de Alagoas, corrupto e covarde, indigno de tal honra. Esta honra, de direito, deveria ter sido deles. Bezerra infame, como era, só pode ter...“ Estas referências aéticas lançadas contra o Coronel João Bezerra não podem ser atribuídas a quem não as deu, no caso os Flor de Nazaré que nem ao menos foram entrevistados pelo professor. E, além de tudo, não concordam com esse tratamento contra o colega de outro Estado.

(Marilourdes Ferraz é filha do Coronel Manoel de Souza Ferraz – Manoel Flor).

Belarmino Neto

Carta do Major da Polícia Pernambucana, Belarmino de Souza Neto, dirigida à escritora Marilourdes Ferraz e publicada em seu livro “O Canto do Acauã” – 3ª Edição – 2011, páginas 486 e 487. Há anos li uma obra de Rodrigues de Carvalho, sobre Lampião tratando do tema, aquele autor não tem dúvida: Afirma que a morte foi mesmo por veneno, obscurecendo o trabalho de João Bezerra a quem não poupa ofensas e cobre de ridículo.
Lendo aquela obra, comentei à margem: “Lampião foi um bandido, sem nobreza, sem ética, sem piedade. Seria um injustificável exagero que se fosse exigir, para a sua destruição, o emprego de princípios, de lealdade cavalheiresca que ele nunca usara para com suas vítimas. Teria sido ele envenenado? Para mim o assunto é irrelevante e não conduz a nada. O Coronel João Bezerra continuará a ser o homem que livrou o nordeste brasileiro daquela praga de vândalos. Que o tenha feito a bala, pelo arsênico, pela surpresa ou através de qualquer artifício, isso não vem ao caso, negar seu mérito pelo extermínio de Lampião, é como negar a Colombo o mérito pelo descobrimento da América. E no entanto, depois de vinte anos de escaramuças através do nordeste, entre o bandido e as forças policiais de 7 Estados, foi o Coronel João Bezerra o único que conseguiu quebrar a calota do ovo e colocá-lo de pé sobre a mesa. ...

Antonio Amaury Correa de Araujo

Correspondência enviada a mim em 06.07.2002 pelo escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo:... Não é novidade para os pesquisadores que seu pai foi amplamente injuriado, invejado e que teve sua imagem denegrida por comentários oriundos de mentes tacanhas pelo fato de haver sido o comandante que eliminou Lampião e parte do seu bando cangaceiro, ... Isso causou-lhes profundo ressentimento e usaram então dos mais baixos argumentos para achincalhar o episódio da Fazenda Angico.

... Pelo que pude observar nesses 53 anos de pesquisas e com seis mil entrevistas realizadas qualquer pessoa, em qualquer época usando de qualquer método para eliminar Lampião, ... ... seria questionado e destratado e sua atuação estaria sempre em dúvida na visão daqueles que não conseguiram o mesmo desideratum. A imaginação humana não tem limites e até mesmo episódios claros como cristal são colocados sob suspeita.... Para terminar, a polêmica não tem fim. É traição, veneno, tiro e Lampião ainda vivo até a década de 1990. Viva a fantasia, a ficção, a criatividade de alguns pesquisadores menos cuidadosos e pouco honestos para com a história...


PS. Faça o uso que quiser destas, pois é a expressão do meu pensamento e da verdade que obtive de cangaceiros, soldados, coiteiros e outras pessoas envolvidas no episódio de Angico.

Gazeta de Alagoas

 06.12.1970 – 1º Caderno, página 3.
Matador de Lampião sepultado em Maceió com honras militares...O Coronel (de Exército) Carlos Eugênio Pires de Azevedo, comandante da Polícia Militar conheceu pessoalmente o Coronel Bezerra há 02 anos em Garanhuns. Lamentou a sua morte. Como última homenagem a corporação da qual é comandante, satisfazia o pedido de João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano.

Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou, disse o comandante da Polícia Militar de Alagoas. ... “O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele grangeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.


Espero que estas citações consigam demonstrar, um pouco, de quem foi o homem, o policial militar, o maçon grau 18 que, em todas as suas ações e missões, só fez enaltecer o nome da instituição a que pertenceu, e que, graças a Deus, teve o privilégio do reconhecimento e do respeito dos familiares, amigos, superiores e subordinados. Sempre estive e continuo disponível aos amigos, para poder contribuir com o modesto conhecimento que tenho.

Paulo Britto
filho do Coronel João Bezerra

(*) A data do nascimento correta do Coronel João Bezerra é 24 de junho de 1898.

Lauro da Escóssia foi responsável pelo maior furo de reportagem da história do Rio Grande do Norte

Lauro da Escócia

O dia 19 de junho de 1927 foi importantíssimo na história do Jornal O Mossoroense e de toda a imprensa potiguar, pois foi neste dia que foi publicado o maior furo de reportagem do Estado. Tratava-se da entrevista que o cangaceiro Jararaca concedeu a Lauro da Escóssia na prisão, antes mesmo de depor em inquérito policial. Com a reportagem, de repercussão nacional, transformada em matéria do jornal O Estado de São Paulo, o jornal chegou a uma vendagem recorde de 5.400 exemplares, patamar nunca mais alcançado.

A manchete dizia "Hunos da nova espécie" e a sub-manchete, "O famigerado Lampião e seu grupo de asseclas atacam Mossoró". As chamadas diziam "A heróica defesa da cidade" e "É morto o bandido Colchete é gravemente ferido o lombrosiano Jararaca". Em seu livro "Escóssia", Cid Augusto transcreve a reportagem, que é introduzida por comentário discordando do adjetivo atribuído a Jararaca na chamada, e que pode ser conferida abaixo na íntegra: "- Não, nada. Sujeito simpático. Ele começou me dizendo que se chamava José Leite, tinha 27 anos e nasceu no dia 5 de maio em Buíque, Pernambuco. Sujeito moreno, muito moreno, mas não era negro. Era solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Ele tinha um fuzil mauser e cartucheiras de duas camadas, mais 560 mil réis no bolso e uma caixinha com obras de ouro no valor de 1 conto de réis.

Disse que o ataque a Mossoró foi idealizado por Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da história das duas Igrejas. Que quando Lampião chegou a Mossoró não gostou nada, nada, daquela 'igreja da bunda redonda' (de onde estavam partindo os tiros contra o bando). De repente, Jararaca começava a rir, diz Lauro da Escóssia, e a gente perguntava por que, espantado como um homem com um buraco de bala no peito ainda conseguia rir. -Mas, enfim, Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro? - Era pra comprar os volantes de Pernambuco.'

Cangaceiro Jararaca, na prisão em Mossoró


Voltamos a outros episódios com Jararaca na prisão.

Quelé não entrou na cadeia. Um seu ordenança, negro bem alto chegou perto de Jararaca, tendo-lhe arrancado do pescoço, num gesto brusco, uma volta de ouro que trazia com uma medalha de Santa.

Depois cobiçou um anel que o bandido trazia no dedo. Jararaca tentou tirar, não conseguindo, ao que o negro foi logo dizendo: '- Coloque a mão aqui. Eu vou cortar o dedo para tirar o anel'. E puxou um faca (facão) ao que o Dr. Marcelino implorou: '- Meu senhor, não faça isto. Cortar o dedo na minha frente, não'.

O negro desistiu, por certo atento à sensibilidade do doutor.

Jararaca, fez um pedido com certa ironia: '- Tragam Quelé que eu quero dizer quem é cangaceiro'.

Disse depois: '- Quelé era do nosso bando e a polícia paraibana fez dele um sargento para nos perseguir'.

Mesmo ferido, Jararaca não escondia seu riso, o desejo de ainda viver e no momento em que uma linda jovem de nossa sociedade penetrava na sala, atenta à sua curiosidade para ver o bandido, este pergunta:

'- Esta moça é daqui?'. Ao que, recebendo a afirmativa, disse: '- Se o capitão (Lampião) soubesse que aqui tinha uma moça tão bonita teria entrado na cidade.'
A uma pergunta de D. Marola Silva (esposa do Sr. Veriato Silva), se os vinte e tantos traços que tinham na coronha de sua arma eram anotações de morte feitas pelo mesmo, como dizem, respondeu-lhe:

'- É tudo mentira, minha senhora. Eu nunca matei ninguém'. E deu uma boa gargalhada, saindo o vento pelo furo do peito.
Apenas impaciente ficou seguidas horas naquele sofrimento, pelo que chegou a pedir um canudo de mamão e algumas pimentas malaguetas, dizendo que com isso ficaria bom. Perguntei-lhe como. Disse: '- No bando, quando alguém recebe ferimento como este (apontando para o peito), sopra-se malagueta pelo canudo colocado na ferida. Sai toda salmoura do outro lado. Arde muito, mas a gente fica curado'. Mas, apesar de tudo isto, Jararaca vinha aos poucos melhorando e se tivesse sido medicado convenientemente não morreria pelos ferimentos.

O tenente Laurentino de Morais tinha ido a Natal de onde voltou na quarta-feira seguinte. Esperou pela quinta, quando Jararaca seria transportado para Natal. Alta noite, da quinta para a sexta-feira, levaram Jararaca, não para Natal e sim para o cemitério, onde já estava aberta a sua cova. Disse o bandido: '- Vocês não me levam para Natal. Sei que vou morrer. Vão ver como morre um cangaceiro!'

Naquele local foi-lhe dada uma coronhada e uma punhalada mortal. O bandido deu um grande urro e caiu na cova, empurrado. Os soldados cobriram-lhe o corpo com essa areia. Essa ocorrência feita às escondidas foi guardada com as devidas reservas por alguns dias. Tempos depois, o capitão Abdon Nunes, naquela época comandante da guarnição policial de Mossoró, revelou em depoimento a morte de Jararaca'.

Açude: Valeria Escossia
















O Cariri Cangaço reascende e espalha essa chama de união, de trabalho, de civismo a todos os Estados Nordestinos Por Alfredo Bonessi

Manoel Severo e Alfredo Bonessi

Estou muito feliz por ter recebido a oportunidade de poder participar do Cariri Cangaço 2011 - sou muito agradecido ao Curador Manoel Severo e distinta esposa Sra Danielle Esmeraldo. Fui premiado em meus ideais de civismo quando fiquei sabendo que a nossa heroína maior da Independência e Proclamação da República, Bárbara de Alencar, seria homenageada e a sua história gloriosa sairia do esquecimento para nunca mais ser esquecida pelo povo nordestino.

O grito de Liberdade-Igualdade-Fraternidade que ecoou no Sertão sob o comando de Dona Bárbara do Crato, reascendeu na época a chama da união e da perseverança em todo o nordeste e sustentaram com arrojo e tenacidade uma vontade firme de vencer a tirania que tanto flagelava o Brasil. De igual maneira o Cariri Cangaço reacende e espalha essa chama de união, de trabalho, de civismo a todos os Estados Nordestinos, conclamando-os ao estudo e a reflexão do passado próximo, do presente incerto, vislumbrando um futuro promissor, pleno de esperanças, tendo como arranco os ideais de justiça, de igualdade e de humanidade.

É uma página da história sertaneja inesquecível as homenagens que recebemos nas cidades que visitamos- os nossos corações ficaram aos pulos quando fomos alvo das manifestações de atenção, de amor, de carinho a todos nós dispensados pela população maravilhosa que nos acolheu curiosa e ansiosa para receber o conhecimento que transportávamos em nossos bornais, bagagem de mais de 15 anos, fruto de estudos, pesquisas e debates sobre a cultura nordestina.

João de Sousa Lima, Geraldo Ferraz e Alfredo Bonessi em manhã de Cariri Cangaço

Tivemos a oportunidade de conviver com pessoas de grandes conhecimentos artísticos,literários e filosóficos como é o caso do Dr Jonas Luis de Icapui, grandes escritores como Dr Amaury, Geraldo Ferraz, Sabino Bassetti, Alcino, Antonio Vilela, Honório de Medeiros, João de Sousa Lima, Manoel Nascimento, Gilmar Teixeira, e grandes pesquisadores, cineastas, professores, autoridades civis e militares, personagens de destaques do evento como Paulo Gastão, Réclus de Plá , Renato Casimiro, Ângelo Osmiro, Aderbal Nogueira, Comendador Mariano, Tomaz Cysne, Wescley Dutra, Ivanildo Silveira, Pedro Luis, Napoleão Tavares, Jairo Luiz, Professor Pereira, Carlos Elydio, José Cícero, Archimedes Marques, George Macário, Alessandra Bandeira, Alexandre Lucas, Renato Dantas, Humberto Cabral, Hugo Rodrigues, Voldi Ribeiro, Juliana e Julio Ischiara, Barros Alves, Vilson Leite, Múcio Procópio,  Kiko Monteiro, Wilson Seraine, Professora Salete Libório, Bosco André, Luiz Ruben, Carlos Eduardo, Narciso Dias, João Nóbrega Bezerra, Raimundo Marins, Lili, e o nosso Been Laden . Se esqueci um nome, peço perdão. Não poderia deixar de ressaltar a grata presença de distintas senhoras, esposas de nosso amigos participantes, que acompanharam todos os trabalhos e deram um brilho especial ao evento. A todos os participantes o meu muito obrigado.

Com o coração cheio de saudades, quero agradecer as autoridades políticas locais que nos honraram com essa festa maravilhosa, e dizer ao querido Povo do Cariri que se orgulhem de Bárbara de Alencar, e não esqueçam a guerra cangaceira, bem como os fatos históricos relevantes que dizem respeito a saga do Povo Nordestino de maneira geral, e que sejam fortes, corajosos, destemidos e determinados na busca por seus direitos, permanecendo cada vez mais unidos em torno dos ideais aqui citados, porque o Nordeste Unido Jamais será Vencido. Amo vocês.


Carinhosamente
Alfredo Bonessi
Sócio do GECC
Pesquisador do cangaço

Citações sobre João Bezerra Parte I Por:Paulo Britto

Paulo Britto

Li o Artigo da Srª Juliana Ischiara “O Polêmico Episódio de Angico – Parte I e II” publicado, neste mesmo blog “Cariri Cangaço”, do nosso amigo Severo; principalmente os pontos onde ela reúne comentários carregados de acusações caluniosas ao Coronel João Bezerra, que até hoje não foram comprovadas por falta de total embasamento. Em atenção a Srª Juliana e a todos os leitores desse respeitado blog, resolvi compilar algumas referências/citações ao Coronel João Bezerra da Silva, feitas por pessoas de realce dentro do contexto do tema Cangaço, as mais diversas possíveis: coiteiros, soldados, oficiais, escritores, pesquisadores, autoridades militares, chefes de volantes renomados de outros Estados, etc.


Meu intuito é único e exclusivo, levar ao público informações para que diante delas, tirem suas próprias conclusões...


Continua...
Paulo Britto
Filho de João Bezerra

 Boletim Regimental número 179,
de 12/08/1938

Não se enganou, portanto, o Exmº. Sr. Interventor Osman Loureiro, nem tampouco este comando. A perseguição se iniciou de forma tenaz e vigorosa, e não tardou a raiar da manhã de 28 de julho, onde um punhado de 45 bravos comandados pelo Capitão João Bezerra da Silva, 1º Tenente Francisco Ferreira de Melo e Aspirante a oficial Aniceto Rodrigues dos Santos numa arrancada de heróis, atacaram de surpresa, na Fazenda “Angicos” município de Porto da Folha, no Estado de Sergipe, o grupo de famigerado “Lampeão” composto de nada menos de 58 bandidos e com eles numa luta tremenda conseguiram abater 11 sicários, inclusive o Rei do cangaço, pondo os demais em debandada, sem que tivesse tempo, os restantes, de conduzir do campo da luta os seus apetrechos e material de guerra que abandonaram.

... O Exmº Sr. Interventor Federal Dr. Osman Loureiro, vendo realçada, com o mais significativo êxito, a missão de que fora e ainda se acha encarregado o II Batalhão, houve por bem premiar os que tomaram parte na refrega, e assim sendo, graduou no posto de Coronel, o Tenente Cel José Lucena de Albuquerque Maranhão e promoveu por ato de bravura, a Capitão, o 1º Tenente João Bezerra da Silva, a 1º Tenente, o aspirante a oficial Francisco Ferreira de Melo, a aspirante, o 3º sargento Aniceto Rodrigues dos Santos...

 Elogio do Coronel Lucena

- Louvor do Coronel Lucena comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl, de 17 de dezembro de 1938.

“Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontaneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra o orda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinha sofrendo as agruras conseqüentes da ação do banditismo. Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal.

Coronel Lucena em foto clássica com João Bezerra

Jornal de Alagoas:

O Chefe de Polícia de Alagoas relata como se deu o encontro em que morreu o “Rei do Cangaço”. Quem é o Tenente João Bezerra. A Agência Nacional, do Departamento de Propaganda, procurou ouvir pelo telegrapho, o Secretário do Interior e Chefe de Polícia de Alagoas Sr. José Maria das Neves. O Sr. José Maria das Neves informou o seguinte.

- O Sr. João Bezerra da Silva, nasceu em Pernambuco a 4 (*) de junho de 1898, verificando praça em 29 de novembro de 1921. Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922... e 1º Tenente por merecimento em 30 de setembro de 1936. Teve vários encontros com bandidos, tendo de uma feita morto três dos comparsas de Lampeão. ... É official valoroso da Polícia Alagoana e de immediata confiança do governo...

...Espada
Entre os prêmios recebidos por João Bezerra, a sua família guarda, zelosa e orgulhosamente, a ESPADA que ele recebeu do povo de Piranhas em 1938, expressão de gratidão pela morte de Lampião, em cuja “Copa” está escrito: “Ao Capitão João Bezerra pela sua bravura e heroísmo. Offerece o povo de Piranhas.”
Durval Rosa

 Colocações de Durval Rosa, irmão de Pedro de Cândido, no livro “Assim morreu Lampião” de autoria do pesquisador e escritor Antônio Amaury, página 105.
... Juão Bizerra dissi qui tava certo i dividiu todo mundo.
Avisou:
- Não conversa ninguém. Puxem o ferrolho dos fuzis. Não dá tiro a tôa.
Passou uma órdem severa.
- Vô passá uma órdem prá todo mundo. Num si dá um tiro sem si vê im quem . Só si atira im cangacero. Soldado num briga deitado, u qui eu incontrá deitado, ou outro qualqué incontrá deitado, atiri i maté qui essi é covardi. Quando vocêis me verim deitado atirim im mim também.
Quando eu gritá, avança, aí eu quero Lampião pegado hoji di qualquer maneira. Ou morto ou pegado a mão!
Nisso Antonho Jacó chegou-si perto deli, tirou o chapéu, botou no chão, pisou im cima i dissi assim.
- Mi solti logo “Seu” tenenti, qui eu quero sabe si Lampião é mais homi que eu.
Ficou doido, doido, doido.
O teneti falô:
- Esperi aí, i tenha calma!” ...

Afirmativas como esta feita pelo coiteiro que não tinha necessidade alguma para enaltecer a coragem do comandante da tropa e seu subordinado, não são consideradas por certos pesquisadores que se apegam a comentários tendenciosos que não tem relevância.

Grandioso pela transparência de quem o faz Por:Camilo Vidal

Camilo Vidal

O Cariri Cangaço foi para mim, uma experiência acadêmica, o apanhado de todas as teorias relatadas pelos historiadores sobre Cangaço. Quando pensei em um tema para minha monografia de conclusão de curso – “A Violência no Cangaço” – conclui que fazia necessário fazer presente ao mais importante evento sobre a temática “Cangaço”.

Diante disso, no período de 20 a 25 de Setembro tive a satisfação por intermédio de Aderbal Nogueira de participar do Cariri Cangaço 2011, um evento grandioso não só pelo conteúdo oferecido mas também pela transparência de quem o faz. Caro Severo, penso que esse evento foi o primeiro de muitos que terei o prazer de participar. Acredito ter alcançado meus objetivos quando assisti palestras, visitei locais históricos e entrevistei muitos historiadores. Assim sendo, entendo que, aprendi em cinco dias o que levaria meses para compreender. Deixo aqui o meu abraço a todos da família Cariri Cangaço.

Camilo Vidal
Produtor Cultural

URCA e Cariri Cangaço 2011 !

Curador do Cariri Cangaço Manoel Severo, Pró Reitor da URCA, Fábio Rodrigues e alunos do Curso de Artes, responsaveis pela Exposição Cangaceiros.

A Gratidão do Cariri Cangaço aos Estudantes do Curso de Licenciatura Plena em Artes Visuais do Centro de Artes Reitora Violeta Arraes, da Universidade Regional do Cariri - URCA, Carlos Roberto, Fábio Tavares, Francisco dos Santos, Jaildo Oliveira, Orismídio Duarte, sob a coordenação do Pro-Reitor de Extensão da URCA - Universidade Regional do Cariri, Professor Fábio Rodrigues, responsáveis pela montagem da Exposição Cangaceiros, durante o Cariri Cangaço 2011.

Noticias do Caipira Por:Juliana Ischiara

Juliana Ischiara, Alcino Costa e Aninha Granja

Olá queridos amigos da família Cariri Cangaço , boa tarde; graças a Deus, Alcino está bem, ainda está na UTI, mas com previsão de sair hoje à noite ou amanhã pela manhã.
No geral a cirurgia foi boa.
Juliana Ischiara

Nova luz sobre Delmiro Gouveia Por:Wagner Sarmento

Gilmar Teixeira

Quase um século após o misterioso crime, pesquisador apresenta em livro versão inédita para a morte do homem que revolucionou a indústria no Nordeste. A história não é produto acabado. Está sempre sujeita a revisões, releituras, reviravoltas. A morte do empresário Delmiro Gouveia, pioneiro da industrialização do Nordeste e construtor da primeira usina hidrelétrica brasileira, assassinado em 10 de outubro de 1917, nunca foi ponto final. Reza a tradição popular que, após ser alvejado na cadeira de balanço do alpendre de seu chalé, Delmiro indagou, antes de morrer: ”Quem foi o cabra que me matou?”.
 
 Delmiro em clássica fotografia......"lendo jornal em sua cadeira, tal qual quando foi morto"

A pergunta atravessou décadas sem resposta. Entre silêncios e murmúrios, um crime sem solução, mais um, retrato de um país onde a injustiça é, muitas vezes, o único elemento indubitável. Mas o manto do mistério pode ter sido desvelado 94 anos depois. É o que garante o historiador baiano Gilmar Teixeira Santos, que mergulhou no intrigante crime e lançou à luz fatos ocultados pelas biografias anteriores. A investigação feita pelo pesquisador revela que o homicídio foi uma grande trama arquitetada por falsos amigos e rivais do homem que anteviu o Nordeste do futuro.

Os operários Róseo Morais do Nascimento e José Inácio Pia, conhecido como Jacaré, haviam sido demitidos de uma das fábricas de Delmiro duas semanas antes do crime. Pobres, foram presos e acabaram condenados pelo homicídio à pena máxima de 30 anos. Jacaré fugiu duas vezes da cadeia e foi morto em 1924 pelo coronel José Lucena, mesmo homem que matou o pai de Lampião. Róseo cumpriu 15 anos de pena, foi solto por bom comportamento e morreu de velhice em 1979. Em vida, nunca conseguiu se desfazer da pecha de assassino. Uma revisão processual, porém, inocentou a dupla mais de meio século depois, em 1983, após acreditar um álibi desprezado na época e segundo o qual ambos estavam em Sergipe no dia em que Delmiro foi eliminado. Enterrava-se ali, naquela absolvição póstuma, a principal versão sobre o crime.

Róseo e Jacaré, acusados e condenados...inocentes???

Outra hipótese difundida alardeava que o assassinato teria sido demandado pela Machine Cotton, empresa escocesa que havia perdido mercado com a ascensão da Companhia Agro-Fabril Mercantil, criada em 1914 por Delmiro Gouveia, a primeira na América do Sul a fabricar linhas para costura e fios para malharia. O que reforçou a possibilidade foi o fato de a Machine ter comprado a fábrica do empresário após sua morte e atirado todo o seu maquinário de um penhasco no Rio São Francisco.

“Todos os biógrafos compraram essas ideias ventiladas logo após o assassinato e ficaram repetindo isso. Ignoraram inclusive a revisão penal que inocentou antigos culpados. Na verdade, essas falsas versões foram difundidas pelos verdadeiros culpados para desviar o foco”, explica Teixeira, em entrevista por telefone ao Jornal do Commercio. O pesquisador começou a se debruçar sobre o crime sem resposta em 2008, quando realizava um documentário sobre a Usina Hidrelétrica de Angiquinho, na margem alagoana da cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, inaugurada por Delmiro em 1913 e que servia para fornecer energia elétrica à fábrica de linha do industrial e à vila erguida por ele na Pedra (AL), município hoje denominado Delmiro Gouveia, em homenagem ao cearense. O trabalho fora encomendado pela Fundação Delmiro Gouveia, que administra o sítio histórico. Ao cascavilhar o acervo histórico sobre o personagem, Gilmar Teixeira encontrou informações até então ignoradas pela historiografia de Delmiro. Fotos, vídeos, cartas, inquéritos, livros, documentos, pertences e reportagens antigas de quatro revistas e 14 jornais, incluindo o Jornal do Commercio, com cerca de 30 matérias sobre o assunto. A pesquisa resultou no livro Quem matou Delmiro Gouveia?, Obra que leva o leitor de volta à cena do crime e ao jogo de interesses que levou à morte do pioneiro nordestino. Em 153 páginas, o autor garante ter descascado uma dúvida secular.

 Lionello Iona, teria sido o principal mentor da trama?

O mentor do homicídio seria o italiano Lionello Iona, sócio e administrador das empresas de Delmiro. Pouco antes de sua morte, o cearense fez um testamento que colocava Iona como tutor da herança de seus três filhos, até que eles completassem a maioridade. O europeu, que teria redigido o documento, estava enfurecido com a recusa de Delmiro à proposta de compra da fábrica de linhas feita pela Machine Cotton e estaria cansado das humilhações impostas pelo sócio. “Delmiro era um homem à frente do seu tempo, muito inteligente, mas não lia um documento. A família dele fez um escândalo na época, pois não aceitava que Iona ficasse como tutor. Noé, o filho mais velho de Delmiro, só conseguiu retomar o dinheiro aos 21 anos. Iona, então, voltou para a Itália rico. Foi tanto recurso desviado que o contador do italiano abriu um banco logo depois”, diz o historiador.
 
A gana pela vantagem financeira, segundo ele, colocou o sócio como autor intelectual de um complô que envolveu cerca de dez pessoas, entre personagens influentes e cangaceiros. Teixeira cita como partícipe a influente família Torres, liderada pela baronesa Joana Vieira Sandes de Siqueira Torres, que se via ameaçada pelo poder econômico e crescente influência política de Delmiro. “Inclusive o juiz do caso era membro desta família e facilitou para que Róseo e Jacaré levassem a culpa em vez dos verdadeiros responsáveis”, afirma. O político José Gomes de Sá teria entrado na trama pelo fato de o empresário apoiar seu maior inimigo, o coronel Aureliano Lero, que ganharia a eleição para prefeito de Jatobá de Tacaratu, atual Petrolândia. “Além disso, Zé Gomes trabalhava como fiscal de renda e foi delatado por Delmiro às autoridades por receber suborno”, observa Teixeira. Outro cúmplice seria o coronel José Rodrigues, de Piranhas (AL), latifundiário que se sentia desconfortável com a presença de Delmiro, o qual atuava também na pecuária e vendia produtos agrícolas a preços mais baixos que os convencionais.

Até Firmino Pereira, compadre de longa data de Delmiro Gouveia, é listado pelo biógrafo Gilmar Teixeira como um dos envolvidos no crime. A filha de capitão Firmino, como era conhecido na região, estaria difamada após ser seduzida por Delmiro em uma viagem ao Recife? Seu genro lhe dizia que só se casaria com a moça se o industrial fosse morto, e assim fez. De acordo com a versão do pesquisador, é Firmino, cunhado de Zé Gomes, quem contrata os cangaceiros que matarão seu amigo: Luís Padre e Sinhô Pereira, que foi o precursor de Lampião no cangaço.

 
 Sinhô Pereira e o primo Luis Padre em foto tirada em Pedra de Delmiro em 1917

Dois outros homens teriam dado cobertura à dupla no dia do homicídio a mando de capitão Firmino. Seriam eles o fazendeiro Herculano Soares, que havia jurado vingança depois de apanhar do empresário no meio da rua, e seu cunhado Luiz dos Anjos. “Juntei as peças do quebra-cabeça. Delmiro tinha muitos inimigos. O sucesso dele incomodava muita gente. Havia um barril de pólvora pronto para explodir. Lionello Iona, seu sócio, só atiçou as outras pessoas. Foi ele quem arquitetou o plano. Existiam muitos interesses em jogo. Fizeram reuniões para definir como tudo seria”, explana o historiador.

Na noite de 10 de outubro de 1917, Delmiro Gouveia fez o que costumava fazer. Sentou-se no alpendre de seu chalé em Água Branca (AL) para ler jornal. Foi acertado por dois tiros: um no braço e o outro certeiro, no peito, varando o coração. Um terceiro disparo deixou na parede a marca da violência. Róseo e Jacaré haviam sido mandados pelos próprios mandantes do assassinato para Sergipe, sob a alegação de que fariam um serviço para o coronel Neco de Propriá. Ao chegar lá, o trabalho foi suspenso. Quando voltaram, ambos foram acusados do crime.

Entre as mais de cem fotos pesquisadas por Teixeira, está uma de Luís Padre e Sinhô Pereira, tirada em 1917, na Vila da Pedra. “O que eles estavam fazendo lá?”, indaga. Numa entrevista em 1951, detalhada no livro, Róseo revelou a história de que foi chamado à mansão da família Torres poucos dias antes da morte de Delmiro e lá viu dois homens, chamados “Luís Pedro e Sebastião Pereira”, recebendo ordens. “Basta ligar os fatos para chegar aos nomes de Luís Padre e Sinhô Pereira como os executores de Delmiro”, assinala Teixeira, que diz não ser dono da verdade. Frisa que seu livro é, antes de tudo, uma interrogação a mais. Talvez um ponto final.

Wagner Sarmento
Edição de Segunda-Feira 17 de Outubro de 2011
Jornal do Commercio

Também postado em www.lampiaoaceso.blogspot.com

Contato: gilmar.ts@hotmail.com ou graf.tec@yahoo.com.br
Valor: R$ 30,00 + R$ 5,00 de Frete

NOTA RECEBIDA DO AUTOR: Amigo Severo, saiu matéria comigo no Jornal do Comércio, Recife, falando do nosso livro, inclusive dedicando duas páginas ao assunto, por isso Severo, quero agradecer de coração o apoio a mim dado por você em relação ao nosso livro, sem o Cariri Cangaço nada disso seria possível, pois foi aí, instigado por vocês e com espaço aberto no evento, que o livro fluiu. Ficam meus agradecimentos e estarei sempre a disposição para novas empreitadas, abraços do amigo Gilmar.

Romaria lembra o martírio da menina Benigna em Santana do Cariri

A menina Benigna que poderá virar Santa

Rememorando os 70 anos do martírio da jovem Benigna Cardoso, considerada santa na região do Cariri, foi realizada a oitava Romaria de Benigna, no distrito de Inhumas, em Santana do Cariri, a 550 quilômetros de Fortaleza. Este ano, o evento teve como o tema “Menina Benigna: heroína da castidade rumo à beatificação”.

O dia 24 de outubro é lembrado como a data do assassinato de Benigna, quando tinha 13 anos. Ela foi morta a golpes de faca, em 1941, por um rapaz que queria namorar com ela e foi rejeitado. Pouco depois de sua morte, começaram as romarias ao local onde ela foi assassinada. Segundo estimativa da organização, cerca de cinco mil pessoas participaram do evento. Sandro Cidrão, organizador do movimento pela beatificação de Benigna, afirma que o número foi quase o dobro da romaria do ano passado, quando a cidade recebeu três mil romeiros.

O santuário de pedra erguido pelos romeiros, o túmulo da santa e um vestido guardado como relíquias são os principais itens de veneração (IGOR DE MELO)

Para ele esse é um evento ainda sem precedentes no Estado, já que os fiéis têm esperança de ver a “mártir da pureza” reconhecida pela Igreja Católica como a primeira beata do Ceará. “A santidade de Benigna já existe há 70 anos, o que a Igreja vai fazer é reconhecer isso”.

“Há muita fé e devoção por ela”, afirma o organizador. Segundo ele, a veneração a Benigna acontece durante todo o ano, e atrai pessoas de Santana do Cariri e de cidades vizinhas. O santuário de pedra erguido pelos romeiros, o túmulo da santa e um vestido guardado como relíquias são os principais itens de veneração. A demanda pela beatificação de Benigna já existe há bastante tempo, e o pedido de reconhecimento pelo Vaticano já foi iniciado. De acordo com o organizador, o monsenhor Vitaliano Mattioli foi nomeado pela Diocese do Crato para representar a causa no departamento de Santidade em Roma.

Um dossiê foi preparado para solicitar a beatificação da menina. Em março, segundo Sandro, o processo deve ser iniciado oficialmente. “Ela morreu de forma heroica para salvar a própria virgindade, e isso é a razão que inspira muitos devotos”, explica Sandro. A romaria de Benigna é realizada há oito anos em Santana do Cariri. Lá, viveu a menina que é considerada santa pela população e que foi morta aos 13 anos, vítima de um rapaz que a cortejava. A data de sua morte é celebrada pelos romeiros há 70 anos.

Fonte: O POVO Online/OPOVO/Ceará