Guaribas de Chico Chicote chega aos Grandes Encontros Cariri Cangaço

Um dos episódios mais sangrentos do ciclo do cangaço e coronelismo no nordeste nos idos dos anos 20. Era fevereiro de 1927 quando as volantes do tenente Zé Bezerra e Arlindo Rocha, formada por mais de 100 homens cercam a fazenda Guaribas, de Chico Chicote, no sul do Ceará. Ao final de um fogo de mais de 30 horas, Chico Chicote ao lado de mais tres cabras, é vencido e morto. Consolidava-se ali uma das mais covardes tramas entre as elites mandatárias dos rincões do cariri cearenses. Para nos contar essa história, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, recebe os pesquisadores e escritores Bruno Yacub e Hérlon Fernandes, numa programa eletrizante.

NESTA QUARTA-FEIRA

dia 31 de Março de 2021, 19h30

Canal do You do Cariri Cangaço


Em Memória de Antônio Amaury Correa de Araújo - Um Marco Referencial nos Estudos do Cangaço Por: Leandro Cardoso

Luiz Ruben, Leandro Cardoso, Antônio Amaury, João Souto 
e Napoleão Tavares Neves em dia de Cariri Cangaço

Apresentação do acadêmico Leandro Cardoso Fernandes por ocasião de Sessão Solene da Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço, em homenagem póstuma ao pesquisador e escritor paulista, Antônio Amaury Correa de Araújo, acontecida de maneira virtual, no último sábado, 27de março de 2021.

"Boa noite a todos. Me chamo Leandro Cardoso Fernandes, ocupo a cadeira de número 13, cujo patrono é o escritor e magistrado William Palha Dias.

O motivo de hoje estarmos reunidos, mesmo que virtualmente, é para celebrarmos a memória de Antonio Amaury Correa de Araújo, nosso amigo e membro da ABLAC, cuja transição para outro plano de existência se deu recentemente. Para os que se debruçam sobre o tema Cangaço, Antonio Amaury é unanimidade incontestável como referência de qualidade pelas suas pesquisas e livros. Ninguém pode acercar-se seriamente desse tema, sem beber nas fontes de sua extensa produção bibliográfica.

Minhas senhoras e meus senhores.

No dia 26 de fevereiro do corrente ano, recebi a infausta notícia da partida de meu amigo Antonio Amaury. Passou-me rapidamente pela memória muitos dos momentos agradáveis que compartilhamos, seja no convívio mútuo com nossos familiares, seja com os amigos pesquisadores, no Cariri Cangaço, nas viagens Brasil-afora, nas inúmeras tardes nos sebos em São Paulo, enfim... meu coração foi tomado por uma nostalgia que veio de mãos dadas com uma sensação de tristeza e perda. Compartilhei a notícia com minha esposa, e as lágrimas vieram-nos aos olhos. Isolei-me por um momento, meditei e ocorreu-me um lampejo reflexivo que, imediatamente, empurrou para longe esse sentimento negativo pela partida do amigo Amaury.

Lembrei-me do verso de Fernando Pessoa: “A morte é só a curva da estrada/Morrer é não ser visto”. A construção da nossa eternidade começa aqui e agora, e só sucumbe à morte os que se dão ao esquecimento. Morrer é ser esquecido. Disse em versos Francisco Otaviano: “quem passou pela vida em branca nuvem/e em plácido repouso adormeceu/(...) foi espectro de homem, não foi homem/ só passou pela vida e não viveu”. E nesse ponto, meus amigos, confrades e confreiras, Antonio Amaury foi exemplar. Viveu plenamente um sonho profícuo, com extensa frutificação, cujas sementes foram espalhadas pelos bons ventos da arte, da beleza e do conhecimento.

Dito isto, esta solene reunião da ABLAC, nesta tarde de sábado não é um necrológio, não é um elogio fúnebre. Muito longe disso. O motivo de estarmos aqui é celebrar a VIDA; é cantar a linda apologia do bem viver, do cultivar em plenitude o amor e o sonho; é louvar e agradecer a VIDA de Antonio Amaury Correa de Araújo, Membro Honorário de nossa Academia.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Deus pelo dom da VIDA, pois é esse, como já disse, o motivo primeiro de estarmos aqui.

Mas, o que é a VIDA?

Convido-os, agora, a refletir sobre esta que, em apenas quatro letras, encerra uma multiplicidade de conceitos biológicos, metafísicos e filosóficos. Seria simplesmente o espaço de tempo entre a concepção e a morte de um organismo? Seria um processo metafísico contínuo de relacionamentos?

Eu poderia, para responder a essa indagação, citar o eminente e folclórico professor de Patologia da Faculdade de Medicina do Derby, em Recife, Aluísio Bezerra Coutinho. Ele disse no seu livro “Da Natureza da Vida” que VIDA seria de maneira taxativa “a reprodução auto catalítica de polímeros macromoleculares”. Mas seria a VIDA somente um fenômeno biológico autolimitado? É ela apenas fruto do acaso, ou foi a VIDA deliberadamente criada? Reconheço a dificuldade em defini-la, sem pisar em terreno movediço, onde duelam criacionistas e evolucionistas, às voltas com evidências positivas e negativas para cada lado.

No entanto, armando-se somente com a luz bruxuleante dos candeeiros da Biologia, como explicar satisfatoriamente, por exemplo, o pensamento, esse momento da nossa consciência? Ou a explosão de sentimentos, às vezes contraditórios, que experimentamos ininterruptamente? Seria tudo isso produto exclusivo do ballet químico dos neurotransmissores?

Antônio Amaury e Leandro Cardoso em São Paulo

O Professor Adauto Lourenço, PhD em Física e pesquisador pela UNICAMP diz que “a função da Ciência não é provar como o Universo e a Vida surgiram espontaneamente, mas como teriam surgido. Espontaneamente é apenas uma das hipóteses”. E vai mais longe, quando sugere que “átomos e energia não criam as leis da Natureza; eles obedecem a essas leis”.

Pelas lentes de Isaac Newton, e com olhos da fé, Deus está por trás destas leis. A Ele, portanto, minha gratidão por estarmos hoje aqui reunidos, mesmo que fisicamente distantes.

Voltemos, entretanto, ao nosso raciocínio: saiamos da Teologia e dos embates entre as teorias científicas e deixemos que a poesia pungente do pernambucano de Parnamirim, Antonio Marchet Callou defina a VIDA:

“Vida – é amargura doce,/ Vida – uma doçura amarga./ A vida é como se fosse/ Via, ora estreita, ora larga”.

Trilhamos todos nós esta estrada sinuosa, onde sobram nas curvas amarguras, frustrações, paixões, abnegação, gratidão, beneficência, o que levou o grande Guimarães Rosa a afirmar que: “no viver tudo cabe”. E é Gandhi quem dá o arremate, quando diz que “a arte da vida é fazer da vida uma obra de arte”.

Eu os convido, então, a celebrar comigo uma verdadeira obra rara da arte do viver. Uma Vida cujos alicerces foram feitos com a argamassa do amor; as paredes levantadas com os tijolos da generosidade, e revestidas com o brilho do serviço e da disponibilidade. Se “a Geografia prefigura a História”, como disse Euclides da Cunha, as boas obras precedem os homens de bem.

A infausta notícia da ausência física de Antonio Amaury entre nós, não pode extinguir sua VIDA, posto que, além do físico, ele vive nas nossas melhores recordações e na indiscutível perenidade que permeia a substância de sua obra. No universo do estudo do Cangaço, dentro e fora da ABLAC, Antonio Amaury é imortal. Cabe aqui, entretanto, duas palavras sobre o que seja a Imortalidade Acadêmica, antes de nos ocuparmos de uma breve exposição da biografia e da obra do nosso querido homenageado de hoje.

O termo Academia derivou de Academus, o herói grego que revelou aos gêmeos Cástor e Pólux onde Helena havia sido escondida por Teseu. Em homenagem a este herói, foi preservado o jardim onde ele vivia: o “jardim de Academus”. E foi exatamente neste lugar onde o filósofo, Platão reuniu seus discípulos e fundou sua escola filosófica, a Academia.

Mas foi somente na Europa do século XV que se utilizou o termo Academia para designar grupos de estudo e preservação de cultura clássica. Assim, as Academias dos mais diversos segmentos do conhecimento e das artes congregam indivíduos que reconhecidamente trazem uma bagagem relevante de contribuição em área específica, ou até além dela.

A nossa Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço (ABLAC) foi fundada em 25 de julho de 2019 e é capitaneada de magistralmente pelo nosso presidente Archimedes Marques e sua diretoria. A ABLAC hoje é um farol a iluminar, para curiosos e estudiosos dos temas afeitos à história e à cultura nordestina, os caminhos que levem à pesquisa científica séria, ao respeito, à ética, e ao diálogo, como condições indispensáveis para um estudo em alto nível do cangaceirismo, suas adjacências e desdobramentos. E, ao cruzar os umbrais da Academia, chega-se, então, à imortalidade. Minhas senhoras e meus senhores, confrade e confreiras.

Antônio Amaury, Leandro Cardoso e Luiz Ruben

Agora, passo a ocupar-me do imortal, Antonio Amaury Correa de Araújo, que nasceu em Boa Esperança do Sul, São Paulo, em 22 de novembro de 1934, e que vive eternamente na memória e nos corações dos seus familiares, dos seus leitores e dos seus amigos. “A Amizade é o vinho da vida”, disse Edward Young, poeta inglês; e celebrar uma amizade eterna é deliciar-se com o doce néctar da melhor das safras.

Amaury era filho de Elydio Correa de Araújo e Benedita Abdala de Araújo. E foi aos oito anos de idade, por intermédio de sua avó materna, que caiu em suas mãos um folheto em prosa sobre Cristino Gomes da Silva Cleto, o Capitão Corisco, despertanto-o para o tema Cangaço. Mal podia imaginar o pequeno Amaury ao debruçar-se sobre as páginas daquele folheto que algumas décadas adiante ele mesmo hospedaria em sua casa Dadá, a viúva do perfilado. Vejam só.

Depois de completar seus estudos iniciais no Colégio São Bento em Araraquara (SP), Amaury ingressou na Faculdade de Odontologia na UNESP, e a graduou-se também na Escola de Belas Artes, também em Araraquara.

Já na capital paulista, trabalhando como odontólogo em alguns sindicatos como o da Congás, da Construção Civil, dos Condutores de Veículos e também na lida do seu consultório privado, Amaury estabeleceu contato com pessoas ligadas ao fenômeno Cangaço, como ex-cangaceiros, ex-volantes, vítimas, parentes das personagens, etc... Afinal, como disse certa vez o cantor e compositor Belchior: “o nordestino ou sobe pra São Pedro ou desce pra São Paulo”, sendo esta a maior capital nordestina do mundo. Juntando todo esse material humano e a disponibilidade do seu consultório de Odontologia, Amaury viu-se diante de um interessante laboratório improvisado de Antropologia e História, moldado pelos atendimentos do dia a dia. Logo, logo, tornou-se amigo e compadre de Cila, Zé Sereno, Criança, Balão, Dadá... e, de registro em registro, materializava-se o maior banco de dados do Brasil sobre o Cangaço:  milhares de fotos, cartas, documentos e gravações que, sem medo de errar, deve ultrapassar as 7000 entrevistas.... Entre elas Sebastião Pereira, Cajueiro, o Coronel João Bezerra, Mané Velho, Antonio da Piçarra, dentre outros...

Em pouco tempo, Amaury já era conhecedor do assunto, apesar de muito jovem. Prova disso é que Rodrigues de Carvalho pediu opinião a ele sobre os originais de “Lampião e a Sociologia do Cangaço” para que ele fizesse correções, as quais incorporou na publicação. Era esse o começo de uma notável carreira como escritor e pesquisador.

Ainda no final dos anos 60 contribuiu para o roteiro do filme “Corisco, o Diabo Loiro” de Carlos Coimbra, grande sucesso do ciclo do Cangaço no nosso cinema. A seu convite, Dadá confeccionou toda a indumentária dos cangaceiros utilizadas no filme, que tinha como atores principais Leila Diniz e Maurício do Vale.

Nos anos 70, aceitou o desafio de responder sobre Lampião no programa de perguntas e respostas, da Rede Globo, “8 ou 800”, apresentado pelo ator Paulo Gracindo, e dele saiu premiado. Sua expertise no assunto passou a ser reconhecida em todo o Brasil. A partir daí, multiplicaram-se convites para assessorar novelas e programas de televisão, destacando-se aqui o episódio piloto do “Globo Repórter”, “O Último Dia de Lampião”, dirigido por Maurice Capovilla. Vale ressaltar que este programa fora baseado em um livro seu “Assim Morreu Lampião”, um grande sucesso e ainda hoje imbatível como obra referencial sobre o epílogo do Rei do Cangaço. Neste trabalho clássico, pela primeira vez, foram enfeixados os depoimentos dos que sobreviveram ao Combate do Angico, fossem volantes, cangaceiros ou coiteiros. Este livro antológico sedimentou um novo modo de se “escrever” sobre o cangaço, dando voz a uma literatura que tem como esteio metodológico os registros de memória oral de sobreviventes dos episódios da crônica histórica cangaceira.

A partir daí, vieram outros clássicos como o excepcional “Lampião: As Mulheres e o Cangaço”, que de maneira pioneira aborda o universo feminino na crônica cangaceira. A obra é até hoje um dos melhores trabalhos escritos sobre o tema, que de maneira corajosa e inusitada, mostra o lado sofrido e guerreiro das mulheres corajosas, bem como das vítimas daqueles tempos brabos.

Dos seus mais de 10 livros sobre o assunto, gostaria de elencar os parceiros, que, sob sua impecável orientação, publicaram trabalhos que se tornaram referenciais, na já extensa bibliografia sobre o assunto: cito aqui Vera Ferreira Nunes (“O Espinho do Quipá” e “De Virgolino a Lampião”); Luiz Ruben Bonfim (“Lampião e a Maria Fumaça” e “Lampião e as Cabeças Cortadas”, Carlos Elydio (“Lampião: Herói ou Bandido?” e Leandro Fernandes (“Lampião: A Medicina e o Cangaço”).

 Amaury teve importante e vasta participação em documentários: cito de maneira especial aqui sua contribuição ao trabalho de Aderbal Nogueira, nosso Benjamim Abrahão da contemporaneidade, que viabilizou notáveis entrevistas com o mestre Amaury. Cito também aqui o excepcional “Os Últimos Cangaceiros”, de Wolney Oliveira, filme premiado pelo mundo afora, figurando hoje entre os 100 melhores filmes latino-americanos da década, que contou com a consultoria histórica do mestre.

Dona Rene e Antônio Amaury

Antes de finalizarmos, não poderia deixar de falar aqui da maravilhosa família formada pelo casal Antonio Amaury Correa de Araújo e René Maria Tavares de Araújo. Deste feliz matrimônio, ocorrido em 31 de dezembro de 1961, vieram 3 filhos: Antonio Amaury Junior, Carlos Elydio e Sérgia Renée, cujo nome foi homenagem à Sergia Ribeiro Chagas, a Dadá, comadre de Antonio Amaury e Dona René; o genro Nelson Romano, os netos Marcelo e Henrique, e agora uma linda bisnetinha, recém-chegada. Aqui, mando meu abraço carinhoso de admiração e agradecimento à Dona René pelo acolhimento dispensado a mim e minha família; seu exemplo de esposa, mãe, companheira, avó, sogra, que sem dúvida, permitiu que Antonio Amaury pudesse estender para as lonjuras o alcance do seu trabalho. Eu, minha esposa Raissa e minhas filhas Cristina e Laura temos muitas saudades do convívio com todos vocês, que perfumaram as nossas vidas.

Para terminar, gostaria de mais uma vez recitar o soneto que fiz no dia em que meu amigo Antonio Amaury despertou para a eternidade. Deixemos sangrar o açude do peito com lágrimas de alegria por termos convivido com um homem bom, íntegro, que, passando à larga da mediocridade, contribuiu para que nos uníssemos em torno de um tema que, outrora ponteado pela violência, hoje é o palco de harmonias, congraçamento, amizades e o carro chefe da melhor cultura do mundo. 

SONETO EM PRECE

Ao amigo Antonio Amaury Correa de Araújo

Dos cangaceiros ele ouviu depoimentos

E dos Volantes colheu muitas entrevistas;

Investigando sempre rastejava as pistas

Para entender do sertanejo os sofrimentos.

 

Escuto o choro, entre soluços e lamentos,

De iniciantes aos grandes conferencistas,

Na despedida deste grande entre os paulistas,

Que nos brindava com tantos conhecimentos.

 

Agradecendo a sua ajuda, afinal,

Na mão sincera que estendeste a quem quisesse

Aprofundar-se nos estudos do Sertão...

 

Eu mando, amigo, pra Mansão Celestial

Um abraço forte que eu envio nesta prece

Banhado em lágrimas, saudade e gratidão.

 

Muito obrigado."

Leandro Cardoso Fernandes, médico, pesquisador e escritor                      Conselheiro do Cariri Cangaço                                                                  Acadêmico da ABLAC , Membro da SBEC.

Grandes Encontros, sempre !


 

Antônio Amaury, nosso Mestre Por: Kydelmir Dantas

Amaury e Kydelmir, entrega do Diploma de sócio efetivo da UNES

Conhecemos o mestre Antônio Amaury quando chegamos em Mossoró, no ano de 1987, através de seus livros adquiridos na Livraria Independente, ali na Praça da Matriz. Foi onde comprei os 2 primeiros: Assim Morreu Lampião (1982) e Gente de Lampião: Sila e Zé Sereno (1982). Em 13 de junho de 1993, juntamente com Paulo Gastão e mais 14 pesquisadores e admiradores do tema, fundamos a SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço; no ano seguinte o II Fórum do Cangaço teve como homenageada Dadá de Corisco; para este vieram nomes importantes do tema que nem José Umberto Dias – com o documentário A MUSA DO CANGAÇO - e Antônio Amaury com seus livros e palestra. Daí começamos nossa amizade.

Quando foi publicado, em 1996, Lampião: Segredos e Confidências do Tempo do Cangaço, adquirimos o exemplar encadernado e, para nosso acervo, fizemos uma capa própria com a foto do Mestre no Museu Histórico Lauro da Escóssia folheando um jornal de 1927, sobre a resistência mossoroense ao ataque do bando comandado por Virgolino-Lampião. De lá pra cá foram 20 anos de uma amizade e respeito mútuos; de Mestre passou a amigo e colaborador em nossas pesquisas; encontramo-nos em diversas edições do Cariri Cangaço e a alegria era recíproca. Neste momento, após 30 dias de seu encantamento, só temos a dizer: Ave, Amaury! Os que vão continuar bebendo de tua fonte de pesquisas te saúdam!

Kydelmir Dantas, pesquisador, escritor, poeta e cordelista
Conselheiro Cariri Cangaço
Membro e ex-presidente da SBEC

Antônio Amaury em Homenagem na Reestreia dos Grandes Encontros Cariri Cangaço 2021

Antônio Amaury nos Grandes Encontros Cariri Cangaço 2021

Antônio Amaury Correia de Araújo possui fortes ligações com o Cariri Cangaço. Desde nossa primeira edição ainda no ano de 2009 como um de nossos principais incentivadores e apoiadores, sendo figura principal dentre todos os ilustres convidados daquele que se prenunciava como um dos maiores eventos já realizados sobre a temática cangaço. Ao longo desses últimos dez anos de Cariri Cangaço, tivemos a honra e o grande privilégio de contar com o Mestre Antônio Amaury em incontáveis de nossas agendas, sendo referência na pesquisa e estudo da temática cangaço, muito nos honra em tê-lo na família Cariri Cangaço eternamente.

"Era ainda o ano de 2015, fazia tempo que não encontrava São Paulo tão quente, a sensação térmica estava terrível, a umidade do ar e termômetro marcando 33º C em plena 18:30h só perdiam para a satisfação e alegria em reencontrar queridos e espetaculares amigos. O bairro; Jardim São Paulo;  extremamente agradável e a travessa Guajurus, um recanto onde pontuam preponderantemente residências, pequenos sobrados e pequenas vendas, nos transportam para uma "Sampa" mais tranquila, onde as pessoas ainda se cumprimentam nas calçadas, jogam conversa fora, sorriem juntas... É ali o "coito" de um dos mais respeitáveis pesquisadores sobre o cangaço no Brasil: Antônio Amaury Correia de Araújo, nosso Mestre." Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço, sobre uma de suas últimas visitas ao Mestre Amaury...

"Mestre, segundo o "Aurélio" significa: Professor de grande saber e nomeada, o que é versado em qualquer ciência ou arte, oficial graduado de qualquer profissão... Para mim, Mestre é tudo isso e mais: É aquele que coloca a alma, o coração e todos os seus talentos e esforços, naquilo em que acredita, naquilo pelo qual tem paixão, naquilo que faz o olho brilhar. Querido amigo e Mestre Antônio Amaury temos você como nosso Mestre, e saiba que está em nosso coração" Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço.



Dessa forma o Conselho Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço na reestreia dos Grandes Encontros Cariri Cangaço presta uma homenagem, não só ao grande pesquisador e escritor, mas ao grande ser humano que foi Antônio Amaury Correia de Araújo, ou como nós costumamos chamar: Doutor AmauryCelebrado neste programa por toda família Cariri Cangaço e os ilustres participantes: pesquisadores e escritores; Conselheiros do Cariri Cangaço, parceiros de Amaury; Dr Leandro Cardoso e Luiz Ruben; além da presença mais que especial de Carlo Araújo, filho e companheiro de todas as horas, do maior pesquisador do cangaço de todos os tempos.


É NESTA PROXIMA QUARTA-FEIRA,
dia 24 DE MARÇO DE 2021 , as 19:30H
no CANAL DO YOUTUBE DO CARIRI CANGAÇO.

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Billy Chandler, o Forasteiro Por:Geziel Moura


Se alguém perguntasse, sobre que livro, da saga de Lampião, eu recomendaria para o leitor inicial, aquele que seria a primeira literatura, que este hipotético leitor teria acesso, não tenho dúvida, apontaria o "Lampião, o Rei dos Cangaceiros" do estadunidense Billy Jaynes Chandler, e os critérios da minha escolha, vão permear nas seguintes noções:

O texto de Chandler reúne, na minha visão, aquilo que captura qualquer leitor da história, em particular do cangaço, ou seja, a pesquisa analítica, com formidável triangulações de fontes, o que favorece a credibilidade de seu trabalho, tornando-o coerente e lógico, aliado a isto, excelente estilo e estrutura textual, o que permite a compreensão de suas narrativas, sem deixá-lo medíocre e/ou simplório.
Do ponto de vista da pesquisa, ela foi realizada entre os anos de 1973 a 1975, podemos a considerar como de lavra acadêmica, primeiro, porque o movimento que o autor fez em sua produção, é tipicamente de pesquisador que persegue o método científico, e segundo, por ele está vinculado à instituições de pesquisas daquele país. É notório no livro, a vasta publicidade de referências de fontes utilizadas, amplamente usual, por pesquisadores, de tais nichos de produções..


O livro oferece aos seus leitores, além de informações sobre diversos episódios da saga de Virgolino (Queimadas, Mossoró, Serra Grande, Angico, dentre outros), análises interessantes, sobre o perfil dele e de outros cangaceiros e os contextos históricos, que estavam inseridos, não se trata de trabalho meramente de transcrição, e para isto, utilizou-se de entrevistas, e pela minha contabilidade, com cerca de 50 sujeitos que de uma forma ou de outra, estavam ligados ao cangaço lampiônico, além, dos principais jornais do nordeste, que noticiaram, as peripécias do capitão Virgolino e seus companheiros, buscou, ainda, os principais livros biográficos, daquele chefe cangaceiro, e arrematou com a leitura de artigos, documentos e trabalhos publicados sobre o tema.
Com Billy Chandler e a leitura de "Lampião, O Rei do Cangaço" aprendi que a história do cangaço, ou outra qualquer, não tem dono, naturalidade, nacionalidade e nem forasteiros, que a história do cangaço não foi concluída, visto que, continua sendo fabricada, em todos os ambientes, nos cordéis, cantadores de feiras, oralidade, memória, imagens, publicações, filmes, teatros e até na academia, e que a feitura de trabalho literário de qualidade, está relacionada com a pesquisa séria, o método cientifico e principalmente, com a originalidade e criatividade do autor, preceitos que o brasileiro e nordestino Frederico Pernambucano de Mello, por exemplo, realiza de forma contumaz.

Geziel Moura
Pesquisador

O Estado Maior dos Batalhões Patrióticos Por: Miguel Nirez Azevedo

Foto do Estado Maior das forças organizadas em 1925 pelo "general" Dr. Floro Bartolomeu da Costa formado para combater a "Coluna Prestes" na sua incursão no Estado do Ceará.

Na foto estão: 1) Capitão Tobias Medeiros; 2) Major José Almeida Cavalcante; 3) Capitão Mário Rosal (Homem do Facão); 4) José Parente, ex-prefeito de Piancó, na Paraíba; 5) João Evangelista; 6) Coronel Pedro Silvino de Alencar; 7) Loiola de Alencar (contador); 8) Major farmacêutico Júlio Gomes; e 9) Capitão Antônio Souto.

Tais patentes foram de nomeação e assinadas pelo médico baiano Floro Bartolomeu da Costa.O centro das operações foi na cidade de Juazeiro do Norte e depois, por conveniências estratégicas transferidas para a vila de Campos Sales.Fonte: Museu Histórico do Sr. Odílio Figueiredo, de Juazeiro do Norte, datando de 1936.

Miguel Nirez Azevedo

Lampião, o Tiro no Pé ! Por: Valdir José Nogueira


No próximo dia 23 de março, vai completar exatamente 97 anos que, após ser ferido gravemente no pé, o Rei do Cangaço buscou refúgio na “Casa de Pedra” da lendária Serra do Católe, em São José do Belmonte.

Frondosa e ainda existente, a árvore do tipo “pau-ferro”, localizada bem às margens da lendária Lagoa do Vieira, a pouca distância da Pedra do Reino, testemunhou o combate travado no dia 23 de março de 1924, com uma volante comandada pelo major da polícia de Pernambuco Theophanes Ferraz, onde o cangaceiro Lampião foi seriamente atingido no pé e morta sua montaria, tombando o animal sobre sua perna. Tendo se livrado do peso do animal morto e mesmo ferido, o cangaceiro consegue reagir à altura da situação. Na gruta conhecida como Casa de Pedra, na Serra do Catolé município de São José do Belmonte, Lampião se refugiou e iniciou sua recuperação.



O Cariri Cangaço e a visita à Casa de Pedra no Cariri Cangaço São Jose de Belmonte

Interessante apontar que da Casa de Pedra onde se refugiou Lampião, tem-se uma magnífica visão do vale onde fica a famosa área histórica conhecida como Pedra do Reino, retratada no romance de Ariano Suassuna – O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. A Lagoa do Vieira também é citada nesse famoso romance através de uma explicação dada pelo personagem Luís do Triângulo:

“Naquele momento, chegávamos a uma Lagoa rasa, situada à direita da estrada, Luís do Triângulo explicou:
- Essa é a Lagoa do Vieira! Os Vieiras eram parentes do Rei João Ferreira e estiveram, também, metidos na “Guerra do Reino”! Diziam eles que esta Lagoa era encantada e que, aqui, Dom Sebastião tinha uma mina de ouro para os pobres!”.
A famosa notícia do tiro no pé de Lampião ensejou inúmeros escritos jornalísticos e literários. O cronista José Carvalho, carioca da gema, sob o título “Lampião, o tiro no pé” publicou no “Correio da Manhã (RJ)” no ano de 1932, edição 11386, pág. 17:
“Lampião, um dia, numa refrega com a polícia levou uma bala no pé. E com ele sangrando correu a presença de um médico que sabia estacionar perto do lugar em que achava em fuga. Enquanto o médico examinava o ferimento, Virgulino agita-se impaciente, com esse preventimento instintivo que caracteriza e protege certos criminosos.
Mas o doutor queria puxar pela língua do bandido, prelibando, sem dúvida, o gozo de uma entrevista aos jornais. A impaciência de Virgulino aumenta. Não quer conversa.
- Seu dotô, acabe com isto!
- Se é preciso cortar o diabo deste pé, corte logo! Me despache que a poliça não deve tardá por aqui!
Mas o médico ia, calculadamente prolongando o exame e a conversa.
E a outra rogativa inquieta do ferido, obtemperou:
- Ora, deixe de pressa!
- A polícia não vem agora por aqui. Você tem muitos amigos?
E Virgulino:
- Eu me admiro um doutor formado como o senhor dizer uma coisa destas!
E concluiu; conciso, alto, vibrante:
- Bandido não tem amigo!

Clênio Novaes e Kydelmir Dantas e o "Tiro no Pé" no Cariri Cangaço São Jose de Belmonte


A frase deve ficar. Ele que o afirmava era porque sabia. Vale a pena narrar o resto. Depois, como o médico lhe afirmasse que o ferimento poderia ser curado sem precisar cortar o pé, Lampião, envolvendo-o nos trapos que trouxera, corre para o cavalo, cavalga-o e arranca estrada a fora numa disparada homérica. Era tempo; a polícia chegava... Dias depois, esse mesmo médico, numa estrada, vê-se cercado e detido por um grupo de Lampião que lhe exigia dinheiro. E o médico, revestindo-se de calma e como por uma inspiração, revelando intimidade com o bandido ausente, pergunta afavelmente:

- Cadê o Lampa?
Foi como se proferisse uma palavra mágica.
- É amigo! – disse um.
- Sim, sou o médico que lhe fez curativos no pé!
Estava garantido. E foi tratado por todos afetuosamente.
Dizem que esta abreviatura Lampa, é a senha pela qual são conhecidos os amigos.
E o médico acertara casualmente. Teve sorte.
A Antônio Silvino é atribuída esta frase enérgica, sintética, filosófica:
- Minha palavra é um tiro!
Queria dizer: tão certa, tão segura, como é o tiro da arma de um cangaceiro emérito.
É da raça!”
Valdir José Nogueira de Moura
Conselheiro Cariri Cangaço
São José de Belmonte-PE

Novo Dia... Novo Horário, vem aí, Grandes Encontros Cariri Cangaço !


 

Os Bandidos na Fronteira - Uma Photographia Célebre Por:Valdir José Nogueira de Moura


Photographia que o tenente Germano Solon de França, da polícia cearense, comandante de uma das forças volantes na fronteira, encontrou no reducto dos bandidos, quando estes perseguidos, fugiam em desordenada carreira no último encontro.

1 – Virgulino Ferreira da Silva, vulgo “Lampião”, chefe do bando sinistro; 2 – Antônio Ferreira da Silva, irmão de “Lampião”; 3 - Antônio Rosa, assassinado por Livino, irmão de “Lampião” no lugar Cipó em Pajehú (Pernambuco); 4 – Tiburtino Ignácio, filho de José Ignácio, do sítio Barro; 5 – Bandido conhecido por Cajueiro; - 6 – José Dedé, morto por ocasião do trucidamento do Cel. Gonzaga, em Belmonte (Pernambuco); 7 – Bandido conhecido por “Meia-Noite”, morto no ataque da cidade de Patos (Parahyba); 8 – Antônio Taruga, vulgo “Chá Preto” , morto no lugar Gangorra próximo da cidade de Milagres (Ceará) pela força sob o comando do Tenente Germano, em 18 de abril de 1925; 9 – 10 – 11 – Os três irmãos Virgílios; 12 – Bandido conhecido por “Graveto”, morto por “Meia-Noite”; 13 – Bandido conhecido por Mourão; 14 – Antônio Saturnino; 15 – 16 – 17 – Ignoram-se os nomes.
A photographia que publicamos é dos 17 bandidos componentes do bando chefiado pelo célebre cangaceiro Lampião, um dos últimos grupos que obedecendo ao temível bandoleiro conhecido por “Azulão”, morto pela polícia parahybana num tiroteio ocorrido no município de Conceição.Lampião tem infestado os sertões de Pernambuco e Parahyba e tentando penetrar no território do Ceará, exercendo a criminosa profissão do incêndio, do saque, do roubo e da morte.

Esta photographia foi encontrada entre os destroços deixados pelos bandidos do grupo chefiado pelo “Chá Preto”, na fuga desordenada a que foram obrigados a effectuar ante o cerrado tiroteio que lhes offerecera a força volante sob o comando do destemido tenente Germano Solon de França, do Regimento Policial do Ceará, em abril do corrente anno, no município de Milagres, naquelle Estado. Em poucas linhas, as diligências para capturar o bando, se verificaram assim:

Em dias dos últimos meses do ano passado, o Dr. José Pires de Carvalho, Chefe de Polícia do Ceará, satisfazendo pedidos que lhe fizeram os seus colegas de Pernambuco e Parahyba, em cujos territórios os bandos chefiados pelo cangaceiro “Azulão”, e ultimamente pelo temível bandido “Lampião”, praticavam os maiores desatinos, incumbiu o tenente do Regimento Policial, Germano Solon de França, de organizar destacamentos volantes e, com estes, prestar o auxílio solicitado, promovendo, ao mesmo tempo, os meios de evitar incursões dos bandoleiros no território cearense.

Confiando este official o comando de três destacamentos aos esforçados sargentos Jonathas Borges Pereira, Firmino Zeferino da Rocha e Antônio Pereira Lima, desenvolveu, desde logo, persistentemente, várias diligências, ora nos sertões do Ceará, ora nos de Pernambuco e Parahyba, effectuando diversos cercos nos homizios dos bandidos, sustentando renhido fogo contra os mesmos, capturando uns e obrigando a fuga de outros.

Entre as diligências por elles effectuadas, destacam-se as dos municípios de Milagres e de Brejo dos Santos, as quais foram coroadas do mais feliz êxito, por isso que conseguiram capturar os bandidos João Ignácio, Manoel Ignácio, Antônio Ignácio, Manoel Cursino, Pedro Cursino, Antônio Cursino, Cícero Cursino, Raymundo Cursino, José Cândido, Cornélio Antônio de Sá e Miguel Rodrigues.

Vários tiroteios houve, sobressaindo os sustentados contra o grupo do temível bandoleiro “Chá Preto”, e o chefiado pelo bandoleiro “Manoel Mouco”, e, finalmente, o dirigido pelo bandido “Maçarico”, dos quais resultaram a morte do primeiro, ferimentos do segundo e fuga do último, com os do seu bando. A açção desse oficial e de seus auxiliares lhes granjeou merecidos applausos do público e elogios e louvores das autoridades superiores do Estado.”
Transcrito do “Vida Policial” (RJ), Ed. 17, págs. 28/29, de 4 de julho de 1925.
Valdir José Nogueira de Moura, São José de Belmonte PE
Conselheiro Cariri Cangaço

Um Ícone para Historiografia do Cangaço Por:Felipe Passos

Felipe e Marcos Passos ao lado de Antônio Amaury
no Cariri Cangaço 2011

Amanheci hoje com um notícia muito triste. Faleceu ontem (26/02/2021) em São Paulo o DR. ANTONIO AMAURY CORREA DE ARAÚJO um ícone para historiografia do CANGAÇO. Tema que pesquisei por um bom tempo e tenho muito orgulho.

Conheci o Dr. Amauri em 2011 justamente na viagem que fiz ao Nordeste com o meu pai. Nesta viagem levei uma bolsa cheia de livros pra serem autografados pois além de visitar lugares incríveis eu também iria participar do CARIRI CANGAÇO o maior congresso que há sobre o tema e é realizado anualmente. Lá, além do Dr. Amaury, tive a oportunidade de conhecer os maiores pesquisadores do cangaço e fiz amizades que, apesar da distância e do tempo, perduram até hoje.
Vai com Deus Dr. Amaury, sua alma era leve assim como sua fala e seu trabalho é, sem dúvidas, um legado indescritível para a historiografia do cangaço.
Obras:
Assim Morreu Lampião
Lampião, as Mulheres e o Cangaço
Maria Bonita a Mulher de Lampião
Lampião: Segredos e Confidências do Tempo do Cangaço
Gente de Lampião: Corisco e Dadá
Gente de Lampião: Sila e Zé Sereno
e outros em co-autoria com vários pesquisadores.

Felipe Passos, Rio de Janeiro