O Arsenal dos Coronéis Parte II Por:Fábio Costa

Winchester 1886...

Evidente que os coronéis possuíam muitos desafetos e inimigos devido aos crimes que cometiam e a política acirrada, tinham de manter suas propriedades e rebanhos, bem como se defender dos assaltos de bandoleiros e cangaceiros (que o digam os potes e botijas enterrados e repletos de moedas e jóias que aparecem nas histórias de assombração, mudas testemunhas da riqueza desses homens...). Suas casas eram verdadeiras fortificações (já vi uma até com seteiras). Meu finado tio Zeca lá pelos anos 40 trabalhou na fazenda de um rico fazendeiro na fronteira da Bahia/Minas Gerais. Ele me contou que na casa da sede tinham caixas fechadas com dezenas de carabinas Winchester e 8 pistolas Parabellum, além de outras armas curtas!! Para economizar tempo na hora de limpar eles simplesmente jogavam óleo por cima e fechavam a caixa. 

O mosquetão Mauser (e por vezes o fuzil) realmente existia em grande número, inclusive podia ser comprado por encomenda, bastava um telegrama para a FN ou a DWM e caixas destas armas aportariam em Santos, Salvador ou Recife. Fuzis Mauser inclusive, são itens constantes em um catálogo de afamada casa paulista no início do Séc. XX. Fuzis e mosquetões Mausers Oviedo espanhóis aparecem com certa raridade também. Como detentores de arsenais governamentais, diversos fuzis oficiais estavam em sua posse, como os Comblain 11 mm de tiro único (a “combréa” da guerra de Canudos). Estes são citados no combate de Brotas de Macaúbas/Ba de 1914, usados por jagunços do Cel. Militão Coelho. Mas as preferidas mesmo eram as armas de repetição por alavanca (lever action), pois eram leves e rápidas, como são as Winchester (sendo “repetição” uma das alcunhas desta arma, que em diferentes versões, parecia uma praga por aqui), existiam também carabinas Marlin, e outras menos famosas no mesmo sistema. 


Cel.  Militão Coelho

Carabinas Colt, e Remington por ação de bomba ou deslizante (pump action) também aparecem.Quanto aos fuzis além dos de ferrolho como o Mauser e um ou outro Mannlicher perdido por aqui, aparecem outras armas longas exóticas, mas em menor número, se vendo praticamente um pouquinho de tudo. Os revólveres na sua maioria eram de origem americana (principalmente Colt e SW), além de seus clones espanhóis, sendo que destes os mais famosos eram os populares “H.O.” (o correto é “O.H.” - Orbea Hermanos da cidade de Eibar), mas se encontram muitos outros espanhóis como os Tanque, os Corso, BH, GH. Etc. Etc. Etc. Para mais umas 20/30 marcas espanholas. 

Os revólveres Nagant em calibre 440, de dotação do Exército Brasileiro foram extremamente comuns entre os civis no nordeste do Brasil (e como relíquia até os dias de hoje se acham muitos). Creio que nada impede que alguns deles tenham sido desviados de quartéis na época do coronelismo. Os calibres mais comuns nos revólveres da época eram o 32 SWL, 38 SPL, .44 SW russo, 44-40, e em regiões do mato-grosso o .44 SPL. Evidente que sempre se pode ver algum em calibre mais raro ou exótico. Ouvi falar de pelo menos um exemplar de Colt Peacemaker 1873 em calibre 44-40 que estava e mãos de um rico fazendeiro, arma bem rara por estas plagas. Dentre as pistolas, as alemãs da casa Mauser, notadamente a C-96 de 7,63 mm alcunhada de “caixa de pau” por causa do coldre-coronha de madeira, arma predileta do Cel. Horácio de Matos que febrilmente usou uma nos combates de 1918 em Brotas de Macaúbas/Ba contra o também Coronel Militão Rodrigues Coelho, num entrevero onde quase 500 jagunços lutaram, cavando trincheiras e sitiando várias fazendas e povoados, e desafiando e entrando em combate com uma expedição da Força Pública Estadual que havia ido em socorro de uma das partes. 


Contendas do Sincorá, Bahia

A contenda (nome inclusive de uma das cidades da região: Contendas do Sincorá, batizada segundo contam em lembrança as freqüentes rixas entre os poderosos nesta área) durou cinco meses, com um saldo de centenas de mortos.Curiosamente a cara e bem feita Mauser C-96 era bem popular no Nordeste. Um aparte deve ser feito ao sistema de municiamento destas armas, que usavam um carregador fixo municiado por uma lâmina, e quando estava cheio com os 10 cartuchos o povo via nele os dentes de um pente, surgindo assim a expressão leiga “pente” usada até os dias de hoje para denominar qualquer tipo de carregador de armas semi ou automáticas. Como as Mauser foram as primeiras semi-automáticas a chegar por aqui, seu nome por muitos anos foi sinônimo de pistola, “fulano tem uma mausa”, se fosse grande era uma “mausona”, se pequena ”mausinha”. 

Fato pouco estudado é que dizem que a Força Pública de Pernambuco usava um clone espanhol das Mauser, a pistola Royal com seletor de fogo automático, sendo inclusive arma das tropas “volantes” que combatiam o cangaço. As pistolas Parabellum mod. 1906 (a maioria do contrato militar brasileiro, raras eram comerciais) e 1908 de 7,65 mm e 9 mm Luger, também foram muito apreciadas, várias fotos de época mostram seu uso, inclusive de variantes raras destes modelos. De outras pistolas se vêem principalmente as Belgas (FN-Browning, Jieffeco, Pieper, e outras marcas menos famosas), e cópias espanholas do tipo Ruby, e americanas a maioria da Colt, aparecem ainda algumas austríacas como as Steyr em diferentes modelos, inclusive as 1911 militares. A maioria esmagadora era em calibres 6,35 mm e 7,65 mm, mas algumas que calçam munições incomuns também são vistas. Raras são as pistolas semi- automáticas inglesas, mas de quase todas as marcas e modelos mundiais se vê um pouco. Espingardas existiam em profusão para a caça, a maioria eram “cartucheiras” belgas, inglesas ou espanholas, sendo que algumas ganharam fama e notoriedade entre a população (como as espanholas Victor Sarasqueta).

A justiça dos coronéis era rápida e brutal, os adversários eram eliminados nas infames tocais, emboscadas feitas por jagunços ou pistoleiros “avulsos” contratados para tal fim, quando não eram as escondidas em alguma estrada deserta, eram a luz do dia mesmo para que todos vissem e temessem. Como até o judiciário era engessado pelo poderio político, pouco podia fazer o populacho no caso de uma ofensa perpetrada por um destes poderosos (além dos assassinatos, se ouve falar principalmente em casos de abuso sexual e surras). 

Alguns coronéis no Nordeste e norte de Minas Gerais chegavam até a usar a seu serviço bandos de cangaceiros e bandoleiros, bem como lhe davam guarida e suporte. É fato mais do que sabido que Lampião conseguia seus víveres e munição através de extensa rede de coiteiros, inclusive alguns coronéis, e até com a polícia que o perseguia! Para ilustrar tais desmandos cito certa feita em 1920 e alguma coisa em Vitória da Conquista/BA, quando duas importantes famílias rivais em pleno centro da cidade chegaram, como em um bom western spaghetti que se preze, ao meio-dia a trocar intensa fuzilaria encastelados em suas fortalezas, parando por completo a cidade. Evidente que ninguém foi preso.Com tanto poder assim que peitava governos e desafiou as forças da lei mais de uma vez, só restava a Getúlio “quebrar a espinha dos coronéis”, minar seu poder e evitar obviamente a contra-revolução. 



Getúlio Vargas em foto de 1930

Assim, logo após a revolução houve o famoso desarmamento iniciado em 1930, com a promulgação do regulamento 105 (o famoso R-105 do exército nacional, uma lei draconiana que regula a fabricação, o comércio, e a posse de armas de fogo no Brasil, em vigor até hoje com algumas mudanças). As milícias dos coronéis foram dispersadas, chefes políticos presos, humilhados e levados as capitais. Assim foram presos alguns dos grandes coronéis da Bahia como Horácio de Matos (assassinado com um tiro pelas costas em Salvador no dia 13 de Maio de 1931, no Largo 2 de julho, pelo Guarda Civil Vicente Dias dos Santos, num crime de mando segundo consta encomendado pela viúva do Major Mota Coelho), Marcionillo Antônio de Souza (me informa seu bisneto Luiz Fernando, que ele morreu em 1943 aos 84 anos e não aos 75, e que não deixou os 3 filhos do segundo casamento na miséria, isso é uma informação errônea espalhada hoje de forma virtual.), Anfilófilo Castelo Branco de Remanso, dentre muitos outros nomes menos famosos historicamente, mas igualmente poderosos. 

O desarmamento levado a cabo na década de 1930 foi bem profícuo na Bahia, sendo apreendidos nas fazendas e cidades da região da Chapada Diamantina (as famosas “lavras”) segundo consta cerca de 30.500 fuzis!!!, 376 kg de munição, 236.000 cartuchos, 2 fuzis-metralhadores e 2 máquinas de recarga de munição (creio que provavelmente eram as máquinas de carregar os pentes dos fuzis metralhadores FMH, pois não se praticava recarga naquela época). Os números certamente parecem absurdos, mas deve-se lembrar que não havia uma legislação rigorosa a época restringindo tipos de armas, nem tampouco havia controle sobre as importações e o comércio. Via de regra os coronéis importavam de maneira direta com encomendas nas grandes casas que vendiam armas de fogo ou a caixeiros viajantes (inclusive muitos sírios e libaneses apelidados indevidamente de “turcos”) que levavam estas armas e munições de porta em porta. Há até relatos confiáveis que dão conta de coronéis que possuíam além de boa louça inglesa, metralhadoras Lewis, da mesma origem, bem como de outros modelos. 

Só do Cel. Horácio de Matos e seu clã, as tropas do governo tiraram 3.000 armas longas de tipos variados, além das armas curtas (pistolas e revólveres, até mesmo as “facas de ponta” foram apreendidas). A chapada era um local pródigo - muito antigamente - para se “garimpar” e achar armas raras. Da Região de Maracás/Ba, sob a influência de Marcionillo, dois batalhões federais recolheram cerca de 2200 armas longas e curtas, e 50 mil cartuchos.


De Vitória da Conquista-Ba, fui informado em conversas com moradores mais antigos que conheceram de perto aquela época violenta (o chamado “tempo do carrancismo”) onde a “política” terminava seguramente em tiros, que se retirou um caminhão e um automóvel lotados de armas de fogo variadas apreendidas. Um velho armeiro me falou certa feita que trabalhando como encanador, ao entrar num porão de tradicional família conquistense na década de 70, achou num canto ao lado da tubulação de ferro, um caixote de munições de diversos calibres, totalmente “zinabradas” (oxidadas), e certamente imprestáveis. 

Exemplos que corroboram a lenda corrente de que quem não queria perder sua arma a enterrou em porões ou em locais seguros, onde a “gente do governo” não andava. Cito um velho revólver S & W DA nº 3 cal. .44 totalmente carcomido que se achou no porão de uma antiga fazenda que foi de uma “coronela”, localizada próximo ao sul da Bahia, bem como outro achado embrulhado em um couro em MG, ou uma carcomida carabina FN-Mauser 1922 enterrada no mesmo estado. Há boatos até de uma metralhadora pesada (Hotchkiss 1914) abandonada em uma fazenda de MG pela coluna prestes, bem como de fuzis achados em diversos locais de MG, SP e RS, todos abandonados por revolucionários ou tropas governamentais.


Pelotão da morte na cidade de Jequié na Bahia em 1930 em ação desarmamentista. As pilhas são de carabinas Winchester e pistolas garruchas.

O coronelismo foi uma chaga. A marca viva de uma época de desigualdade social e econômica, de violência, de impunidade, de atraso e falta de cultura, onde a maioria da população era vítima de homens que manipulavam a sociedade a seu bel prazer através de uma política baixa, interesseira, corrupta e descompromissada socialmente... Peraí! Mas de que época afinal estamos falando, do início do Séc. XX ou do XXI ? MUDA BRASIL!!!!

Fábio Costa

Cortesia: Ivanildo Silveira - Conselheiro Cariri Cangaço
Fonte:http://vitrinedaarmaria.blogspot.com.br/2010/02/o-arsenal-dos-coroneis.html

Novidades em Breve Por:Maria Thereza Camargo

Maria Thereza Camargo e Lily no Cariri Cangaço 2013

Como havia prometido ao amigo Manoel Severo que escreveria alguma coisa sobre meu inusitado encontro com a benzedeira de Ipueiras, acontecido no último Cariri Cangaço 2013, em Aurora do Zé Cícero, estou, agora, a dar uma satisfação aos amigos.

Quando contei a Ari; meu filho e também pesquisador do cangaço; que pretendia escrever sobre aquele encontro, por surpresa minha, ele disse-me que, por sugestão de amigos de Farias Brito, ele deveria criar um blog, pois, possui aquele volume  de documentos  - hoje, todo digitalizado - sem divulgá-los, não tinha sentido.  Dai, sua decisão em criar um blog e, para tanto, convidou para escrevemos juntos.  Ele comentaria sobre os documentos de seu acervo, focando um determinado assunto do cangaço, que pudesse ser munição para comentários.  

Ele discutiria os assuntos relacionados a determinados episódios contidos nos documentos e eu encaixaria comentários sobre a caatinga, cenário dos acontecimentos, a partir dos dados etnográficos de interesse farmacobotânico, que possuo, resultantes de minhas inúmeras andanças pelo Geopark Araripe, na condição de  turista aprendiz.

Topei a parada.
Então sugeri a ele que fizéssemos comentários sobre os noticiários que chegavam ao jornal O Estado de São Paulo, em tempo real, sobre o ataque a Mossoró,em junho de 1927,  envolvendo Ipueiras.  Ele topou. Então, como assinante do jornal pude levantar em seu acervo, as notícias que iam chegando do nordeste em tempo real, resultando no que eviarei a vocês para suas impressões e sugestões.

Grande abraço.
Maria Thereza Camargo
Sao Paulo


A Linhagem de Honório Por:Emerson Monteiro

Honório Correia Lima

Dentre os filhos de Fideralina, Honório Correia Lima sofreria consequências danosas em face da iniciativa de fazer oposição aos caprichos políticos de sua mãe, sendo destituído da Intendência de Lavras a 26 de novembro de 1907. Chegara a deputado estadual. E, em Fortaleza, por graça da aproximação com o Presidente da Província, seria nomeado ao cargo máximo de Lavras, já este ocupado por Manuel José de Barros, de confiança da genitora.

Magoada, Fideralina Augusto quis demover Honório da pretensão, no que desmereceu atendimento. Os dois, com isso, mantiveram diálogos inflamados e sem alternativas positivas. Contam até que Honório miraria rifle na direção da matriarca num momento acirrado.

Manoel Severo e Emerson Monteiro no Sítio Tatu, emblemática fazenda do clã dos Augusto, durante o Cariri Cangaço Lavras 2013 !

Isto tudo geraria, da parte da mãe mobilização dos jagunços para tomar no pulso a municipalidade de que o filho se investira, conforme narra a crônica. Determinaria, na ocasião, que os cabras, no entanto, não o molestassem, sob pena da própria morte de quem assim o fizesse.

Das escaramuças, que envolveram a influência também de outros coronéis da região do Cariri, à frente do mando de Lavras restou o meu bisavô, Gustavo Augusto Lima, que também viria a ser deputado estadual, e adiante, no ano de 1911, pereceria vítima de atentado em Fortaleza, no pleno exercício do mandato.
Passada a destituição de Honório, este demoraria algum tempo em Fortaleza, mas retornaria à Região, quando, desde o município de Caririaçu, planejaria nova batalha pelo poder em Lavras, no episódio da invasão da cidade pelo caudilho Quinco Vasques, sem, entretanto, obter êxito.

O andamento dos acontecimentos levaria de volta a família de Honório a Fortaleza, longe dos vínculos troncos originais. A sede do feudo, o Sítio Tatu, onde, inclusive, Fideralina vivera e terminara seus dias em 1919, caberia na partilha dos bens ao filho Gustavo Lima e, posteriormente, aos meus avós, ambos descendentes direto da família.

Emerson Monteiro e Múcio Procópio na casa de D. Fideralina no Cariri Cangaço Lavras da Mangabeira 2013

Hoje, algumas versões que circularam a propósito das atitudes de Fideralina Augusto demonstram as marcas dessa querela a evidenciar o tanto das desavenças internas do clã, no passado. Existem libelos viperinos e maldosos que pintam de terríveis crueldades gratuitas à imagem da lendária cidadã, pondo-a no rol dos títeres mais sanguinários, com acusações à posteridade dos descendentes, impedidos de defesa dados os elementos insuficientes desfeitos na poeira dos tempos. Textos e livros escritos lá fora, alguns no Sudeste, descrevem os incidentes de Lavras da Mangabeira e a participação dos Augustos assacados de modo impiedoso, lançando doses de terror sobre os atos D. Fideralina a ponto de lhe assimilar as práticas individuais à dos piores facínoras.  

Contudo, persiste dúvida quanto à veracidade das tais narrações históricas e do que as ocasionou, sem o testemunho da fidelidade ou frutos, tão só, da inclemência dessas lutas de poder, a considerar quanto carecem de elementos consistentes aos documentos distantes, nas ocorrências antigas. À impessoalidade dos séculos, portanto, igualmente caberá a palavra conclusiva da verdadeira justiça.  

Emerson Monteiro


http://monteiroemerson.blogspot.com.br/2013/03/a-linhagem-de-honorio.html

O Arsenal dos Coronéis Parte I Por:Fábio Costa


Durante toda a minha infância passei as férias escolares na fazenda de meu querido e saudoso avô materno, o Sr. Aurelino “Toquinho” Avelino de Carvalho, na divisa BA/MG. Ouvia extasiado as estórias que ele, os amigos dele e os agregados da fazenda contavam. Inclusive as maravilhosas estórias das noites em que “seu” Anísio (um bisneto de escravos) ia à sede da fazenda contar. Ainda sinto o cheiro saboroso do café fresco no fogão a lenha (acompanhado de certa dose de fumaça é claro), ouvindo com os olhos esbugalhados de menino curioso mais uma história de assombração (as macabras estórias sobre as “visagens da estrada”, dos defuntos que vinham dar botijas de ouro, sobre os espectros dos pistoleiros arrependidos ou não, e das suas vítimas chorosas ou furiosas, dos lobisomens, mulas-sem-cabeça,caiporas & cia.) e de depois ir dormir quase se borrando de medo, se “ribuçando” (cobrindo) da cabeça aos pés, enquanto ouvia os ruídos da natureza e das criaturas da noite, iluminando as trevas do quarto com a luz bruxuleante do candeeiro a querosene (objeto hoje quase em extinção)... Estórias coloridas de tempos passados, da época que os bichos falavam, das aventuras de Pedro Malasarte (um personagem de histórias folclóricas populares que era um renomado e sagaz picareta, que sempre se dava bem), de caçadas memoráveis, e é óbvio que também estórias dos tempos dos coronéis, jagunços e pistoleiros, tanto os de Minas como os da Bahia (dos quais falarei com mais detalhes por ser meu estado natal). 

Estórias cheias de violência, de folclore e misticismo como o “corpo fechado”, dos pactos com o demônio para obter riqueza, das vinganças cruéis, das tocaias, dos casarões mal assombrados e cheios de projéteis incrustados nas paredes de quase 1 m de largura feitas com tijolos de “adobão” cozido. Lembro-me de fragmentos das histórias contadas sobre o Coronel Marcionílio Antônio de Souza, que foi compadre de meu bisavô Teófilo Carvalho (fazendeiro na região de Maracás/Ba), como por exemplo, as que diziam que quando Marcionílio ia visitar meu bisavô, seus capangas ficavam na porteira da fazenda, e quando entravam na propriedade “tinham de abaixar as carabinas” em sinal de respeito. Ou uma que é de uma malvadeza que poderia ser imputada a qualquer um deles: o coronel recebeu um recado na sua fazenda. Convidou o mensageiro a ficar para o almoço, e no meio deste, notou que enquanto todos comiam (naquelas mesas antigas e maravilhosas, feitas com imensa pranchas de madeira sem emendas de 3/4 m) o convidado não parava de olhar pra os lados e procurar alguma coisa. A um gesto do “home” todos pararam de comer (além da família, uma pá de jagunços estava numa sala contígua).


- Tá lhe faltando alguma coisa?A comida não está boa?
-- Ah seu Coronel , tá tudo muito bom mas falta o “mió"...
-- “De maneiras” que, o que seria o “mió” pro senhô?-
- Ah seu Coronel, era bom uma pimentinha... 

Coronel Marcionílio Antônio de Souza,
foto : tabernadahistoriavc.com.br

O “homem” calmamente mandou retirar a mesa inteira, e mandou trazer uma gamela de jabá bem salgado, um litro de farinha e um de pimenta bem vermelha e curtida!!! - Pode comer agora sua pimenta a vontade!!O Infeliz ainda tentou abrir a boca para argumentar, mas dois jagunços se chegaram para perto engatilhando as suas carabinas papo-amarelo 44. O camarada comeu o jabá entupido de sal, com bastante pimenta e farinha, e quando já estava revirando os olhos, o coronel mandou parar.


- Isso é pra o sinhô não ser mal-educado e não exigir nada na casa dos outros quando é convidado. Suma de minha frente enquanto pode! 


Diz o povo que o camarada saiu voando ladeira abaixo, chegou ao açude no pé da ladeira, abaixou a cabeça e bebeu como um boi. Dizem que morreu algum tempo depois com os intestinos cortados pelo sal... Ou as histórias do Cel. Clemente da Vazante que tinha a seu serviço mais de 100 homens, que moravam em casinhas espalhadas numa serra, e quando era necessário reunir toda a “tropa” era usado um búzio marinho de grandes proporções soprado a guisa de trompa. Eu mesmo cheguei a conhecer um Coronel, ele já estava no fim da vida, enfermo numa cama, a barba absolutamente grisalha lhe descia até o peito, lhe dando aparência de “santo”, prometeu a mim e ao meu irmão uma “repetição de papo amarelo” (carabina Winchester 1873), das muitas que devia ter tido... Embora naquela altura, das centenas de alqueires que ele possuíra, só restava mesmo a outrora majestosa fazenda que possuía ainda as 4 casas, e uma “venda” (armazém onde os empregados certamente se endividavam) reunidas em torno de uma praça central. Curioso citar que uma destas casas estava vazia e diziam que era mal-assombrada, se escutando a noite gritos, gemidos, e disparos de armas de fogo. Ela possuía um porão aterrado (me disseram que era um arsenal, será?) Contava o velho Cel. Horácio Machado em suas lembranças que viu nos bons tempos os “turcos” passar com as bruacas (bolsas de couro cru para levar cargas em lombo de burro) cheias de pedras preciosas retiradas dos garimpos das velhas Minas Gerais.


ilustração:indiosan.com


Reminiscências de menino a parte, historicamente o período do coronelismo se inicia no Brasil no século XIX ainda no período do império com a criação da Guarda Nacional em 1831, prosseguindo no período da república velha (1889 – 1930), perdendo força depois da revolução de 1930. Sua principal função seria a manutenção da ordem pública, contando para isso com (teoricamente) frações de tropa em cada município. O coronelismo se constituía em ricos fazendeiros, ou políticos influentes que compravam ou recebiam o título da mão do governo (a carta-patente da Guarda Nacional), ao qual eram dados diversos privilégios e status social, sendo que em certa época a sociedade civil se encheu de capitães, majores e coronéis, como no império foi cheia de marqueses, condes, e barões falidos. 

Como nota meritória deve-se destacar que os batalhões da Guarda também participaram da Guerra do Paraguai. O “Batalhão Patriótico Lavras Diamantinas” comandado por Horácio de Matos de Lençóis, ainda participou em 1926 dos episódios da caça aos “revoltosos” da Coluna Prestes na região. Havia também os coronéis com título sem valor militar de fato. Por fim depois da extinção da Guarda nacional logo após a proclamação da República, “coronel” passou a ser sinônimo de qualquer fazendeiro rico. Os coronéis rurais (e depois os urbanos, estes geralmente capitães de indústria) são uma verdadeira lenda social brasileira, e embora se associe imediatamente sua imagem com o nordeste brasileiro, se espalharam de norte a sul do Brasil (é só se lembrar da política do café com leite, dos coronéis paulistas e mineiros que dominaram a política nacional por anos). Eram latifundiários, oligarcas, patriarcais, violentos e arrogantes. Pode-se dizer que a sede da fazenda, o tradicional casarão com 6 a 8 janelas frontais (diziam que a quantidade de janelas indicava a riqueza do dono) com até 2 pavimentos, sótão (por vezes com janelas para atiradores) e porões, substituía a casa grande do engenho, pois tinha a mesma função opressora. 


Cel. Horácio de Matos

Pode-se dizer, guardadas as devidas proporções, que continuavam com a mesma função do donatário da capitania hereditária no período colonial: auxiliavam, substituíam e faziam as vezes do poder central, que era fraco e vacilante, na administração regional e na manutenção da lei e da ordem vigente em seus domínios. A riqueza e a opulência da extensão de terras era conseguida, via de regra, pela grilagem de mais terras ou por herança; haviam coronéis que eram “ex-pobres” mas era raríssimo, pois era uma época de pouca mobilidade social, a maioria mesmo já era de família rica ou tradicional As esposas dos coronéis eram outro capítulo a parte. Ora eram submissas (a maioria), ora arrogantes, vingativas e algumas quase tão violentas quanto os esposos, verdadeiros “coronéis de saia”. Conheço inclusive o caso de uma delas que mandou aplicar um “clister” (lavagem intestinal, que antigamente era feita toscamente com um chifre de boi limpo e polido, com a ponta serrada que servia de funil) a base de pimenta malagueta numa das raparigas (amante) do seu marido. 

Algumas inclusive assumiam o lugar do Coronel como chefe do clã político quando este falecia, mas foram poucos casos. Com o tempo a elite agrária começou a se refinar e enviar seus filhos a Europa e aos grandes centros para estudar. Assim quando voltavam para a casa paterna os recém formados “Doutores”, engenheiros, médicos e advogados. Criava-se então, desde o fim do Séc. XIX, uma sociedade que endeusava os títulos acadêmicos (herdamos isso ainda hoje), algo compreensível numa época onde cultura era raro, fazer faculdade então era um artigo extraterrestre de tão difícil. As grandes casas rústicas ou não, no meio do sertão, do seringal ou do cafezal, eram repletas de boa louça, tecidos e mobiliário fino, embora nem sempre os proprietários tivessem o necessário refinamento para apreciá-los.





Os coronéis entraram no imaginário popular como os fazendeiros que se constituíam na riqueza e na força política que como um rolo compressor implacável decidia o destino das eleições e do governo do país. Soberanos em seus currais eleitorais obrigavam os seus empregados e agregados pela coação a fazer o infame e famoso voto de cabresto (voto forçado no candidato do patrão, chegando os coronéis a reter os títulos dos empregados). Ainda haviam as devidas manipulações, associações, fraudes (como a falsificação de documentos de eleitores para permitir o voto de menores, a repetição do voto ou pessoas votarem com nome trocado, o voto “fantasma” - onde o falecido “votava” lá do além, a falsificação de documentos eleitorais públicos, etc.), conchavos políticos, trocas de favores, compra de votos, ou simplesmente pela força das amas, com sedições, golpes violentos, além dos já tradicionais homicídios dos rivais, como diz esta anedota em que o coronel manda chamar o jagunço e diz:

- Você conhece o fulano de tal?

- Conheço não Coroné, mas já tá me dando uma raiva danada desse cabra. 
- Deixe de bobagem home, é só pra mandar um recado! 

A sua ousadia era tanta que mais de uma vez aconteceram embates contra o governo e seus representantes, como no caso sedição de Juazeiro/CE em 1914, a crise foi provocada pela intenção do interventor nomeado pelo Pres. Hermes da Fonseca, Marcos Franco Rabelo, de destituir e prender o famoso padre Cícero Romão Batista – que muitos consideram um “coronel sem farda” - dos cargos políticos que ocupava.

 Hermes da Fonseca

O deputado federal Floro Bartolomeu a frente de um batalhão de jagunços auxiliados pelos romeiros que movidos por intensa fé no “Padim Ciço”, interviram na contenda batendo as tropas governamentais, que apesar de usar um canhão, foram rechaçadas. Depois disso os revoltosos seguem para a capital cearense e depoem o interventor Franco Rabelo, contando inclusive com auxílio de uma esquadra da Marinha de Guerra do Brasil, pois Floro Bartolomeu conseguira apoio federal. A cidade de Princesa na Paraíba rebelou-se em fevereiro de 1930, no episódio conhecido como a “Revolta de Princesa”. 

O coronel José Pereira Lima insurgiu-se contra o governo de João Pessoa, arregimentou forças e causou muitas baixas no meio das fileiras da polícia da Paraíba (inclusive com um quase desconhecido massacre de uma companhia num casarão), sendo a cidade tomada de maneira absolutamente pacata depois da revolução de 1930 por tropas federais. Ou no caso da “Revolta Sertaneja ” (1919/20), na Bahia, onde os já citados coronéis Marcionillo Souza, Horácio de Matos, e Anfiófilo Castelo Branco reagiram contra a Lei Estadual n.º 1.104, de 09 de maio de 1916, que pretendia minar seu imenso poder regional. Os tentáculos dos coronéis se estendiam tanto no âmbito dos municípios como no âmbito estadual. Tudo dependia do seu prestígio e favores políticos: a nomeação de funcionários públicos, delegados de polícia, a administração da justiça, etc. Era comum darem guarida a homicidas, sendo seus “afilhados“, capangas e jagunços de certa forma intocáveis pela lei.


Continua...
Fábio Costa

Cortesia: Ivanildo Silveira; Conselheiro Cariri Cangaço
Parte de Postagem em:

Quinco Vasques, o "Bravo Caririrense" Parte II Por:Manoel Severo


Quem se desloca de Barbalha para o município de Missão Velha, sentido sul/norte, vai encontrar cerca de 4 km antes da entrada da cidade um entroncamento onde vamos visualizar a placa: Carnaúba dos Vasques. Trata-se de um entroncamento entre a CE e uma estrada vicinal, de terra batida, que também poderá nos levar, por desvios e veredas, ao aeroporto de Juazeiro do Norte.

Entrando nessa estrada, rodando cerca de 2 km, vamos encontrar um Casarão ímpar, não só pela sua arquitetura de beleza incomum, mas e principalmente por toda a história e tradição que guarda por trás de suas espessas paredes: O casarão da Carnauba dos Vasques, de Quinco Vasques, viria a ser a morada do famoso "bravo caririense" depois do desenrolar dos episódios de Lavras da Mangabeira relatados na primeria parte desta postagem.

Casal Quinco Vasques, fonte: www.familiavasqueslandim.blogspot.com.br

Mas, retomando o marcante episódio da invasão de Lavras por parte de Quinco Vasques, trazemos o texto do pesquisador e escritor João Calixto Junior que nos narra a princípio os desdobramentos de depoimento do bravo Quinco Vasques: "Em depoimento realizado aos 13 de julho de 1910 ao Juiz Alfredo de Oliveira, em Lavras, afirmava Joaquim Vasques Landim, o famigerado Quinco Vasques (o Bravo Caririense), terem sido alguns aurorenses, os mandantes da tentativa de deposição ao Coronel Gustavo Augusto Lima, de Lavras, um dos mais importantes régulos do período coronelístico nordestino, filho da matrona Fideralina Augusto Lima. Ocorreu este cerco aos 6 de abril de 1910, com a invasão de cerca de 300 cangaceiros a fim de atear-lhe do poder lavrense."

E continua: "Sobre Quinco Vasques, tratava-se de homem de descomunal bravura, natural do sítio Santa Teresa, Missão Velha, e residente, então, na Serra de São Pedro, sítio Bico de Arara, atual município de Caririaçu. Viveu ainda em Aurora, no sítio Tipi, onde foi vaqueiro do casal Marica Macêdo e Cazuzinha, de quem era primo legítimo. Alguns de seus filhos, da união com Maria da Luz de Jesus (Marica), foram nascidos no sítio Tipi, a saber: Antônio Joaquim Vasques Landim, nascido aos 6 de setembro de 1898, e Joanna Vasques Landim, nascida aos 22 de maio de 1900. Justifiquemos: “Aos cinco de agosto de mil e novecentos, na matriz de Aurora, batizei solenemente a Joanna, nascida aos vinte e dois de maio deste ano, filha legítima de Joaquim Vasques Landim e Maria da Luz de Jesus, naturais de Missão Velha. Foram padrinhos José Antônio de Macêdo e Joanna de Jesus Landim, casados. E para constar mandei fazer este termo que assino. Pe Augusto Barbosa de Menezes” (Livro de Registro de Batismos da Paróquia do Menino Deus de Aurora, 1897-1904, p. 112).


Dona Fideralina Augusto Lima de Lavras da Mangabeira

Do auto de perguntas, informava o réu terem sido Manoel Gonçalves Ferreira, Antônio Leite Teixeira Netto e Davi Saburá, os aurorenses mandantes do assalto ao coronel Gustavo Augusto de Lavras: “Antônio Leite concorreu com um conto de réis em dinheiro que lhe foi entregue por Joaquim Torquato, Manoel Gonçalves Ferreira concorreu com duas cargas de balas de rifles, entregues pelo mesmo Joaquim Torquato e Davi Saburá concorreu com um conto de réis em dinheiro, também entregue por Joaquim Torquato”. Interrogou ainda o magistrado, objetivando inteirar-se quanto ao maior número possível de suspeitos de participação no complô para a derrubada do coronel Gustavo, um dos mandantes do ataque a Aurora em 1908, aos seguintes: coronéis José Francisco Alves Teixeira e Antônio Luis Alves Pequeno, do Crato, o doutor João Augusto Bezerra, clínico de Lavras, assim como o seu irmão, o padre Vicente Augusto Bezerra, vigário em Aurora e o também padre, o aurorense José Gonçalves Ferreira, Vigário em Várzea Alegre.

Indagado, ainda, Quinco Vasques, sobre a interferência de outros suspeitos no ataque ao coronel Gustavo, acrescenta nos laudos do interrogatório, o que segue: “(...) além desses mandantes o influenciaram mais para este ataque, Joaquim Torquato, José Torquato, Simplício Torquato, os filhos de Antônio Leite, Isaías e João, assim como quase todos os deportados de Aurora (...)”. Sobre o objetivo do ataque, informou: “era depor o coronel Gustavo e tomarem depois conta da cidade, a fim de melhor ser facilitada a retomada de Aurora, da qual seria novamente chefe, Antônio Leite (...)”.


Cel. Santana intercedeu pela soltura de Quinco Vasques em Lavras

No entanto, pouco se demorou Quinco Vasques em Lavras após ter sido preso e prestado depoimento. Mal tomaram conhecimento de sua estada ali, mandões caririenses, entre eles, Domingos Furtado e Antônio Santana, providenciaram-lhe a soltura. (MACÊDO, Joaryvar. Um Bravo Caririense. Crato, 1964, p. 58).

Assim, nos valendo do amigo Calixto Junior, trouxemos mais um importante capítulo da história de nosso Cariri cearense, tendo a grande felicidade de trazer um pouco da história desse grande e bravo caririense, Joaquim Vasques Landim, o Quinco Vasques, patriarca de tradicional família de nosso estado, aos quais abraço a todos em nome de meus particulares amigos; cel. Cícero Vasques e o deputado Vasques Landim.

Manoel Severo
Cariri Cangaço


Fontes de Pesquisa: 
Venda Grande d'Aurora de João Calixto Junior;
Revista Itaytera em artigo de Joaryvar Macedo de 1964
Blog: http://familiavasqueslandim.blogspot.com.br/
Fotos: Família Vasques Landim

Entre o Rosário e o Punhal: Cangaço, Religiosidade e Misticismo nos Tempos de Lampião Por:Renata de Lucena


Fenômeno oriundo das precárias condições de vida nas quais se encontrava uma esmagadora maioria de sertanejos desvalidos de todos os cuidados das autoridades competentes, o chamado banditismo social configurou-se como uma forma, ainda que despercebida, de resistência. Determinados grupos, refutando tal realidade, simplesmente se negavam ao conformismo religioso, inerente aos demais, ao mesmo tempo em que buscavam uma forma de fazer justiça às suas barrigas e vaidades.

Essa reação, isenta de qualquer motivação ideológica ou política, fez-se notar fundamentalmente nos sertões nordestinos desde fins do século XIX até meados do século seguinte, contudo intensificou-se, de fato, com o advento da figura que seria o símbolo máximo daquele movimento, paradoxalmente, legítimo e sem causa: Virgulino Ferreira da Silva. Na época de atuação do famigerado bandoleiro, conhecido pela alcunha de Lampião, enfatiza-se uma prática já corriqueira para o homem do sertão nordestino: a mescla entre misticismo e religiosidade. Religiosidade esta que possui uma gênese ligada ao catolicismo, uma vez que a Igreja Católica influenciava, nesse aspecto, todos os sertanejos.

Diante disso, seria praticamente impossível não surgir no senso comum um estranhamento acompanhado da seguinte indagação: como as referidas crenças místicas e devoções religiosas podiam se aliar a uma vida agitada por crimes hediondos, lutas renhidas e perseguições implacáveis? É justamente nessa sedutora vereda que pretendemos direcionar este artigo.


Frederico Pernambucano de Mello (1985) destaca dentro do quadro de banditismo social, configurado nos sertões nordestinos, entre o século XIX e a primeira metade do século XX, três estilos diferentes de bandidagem, dos quais, para a contextualização de nosso trabalho, devemos destacar dois deles: o cangaço de vindita, no qual o indivíduo empunhava armas com o único intuito de fazer justiça ao assassinato de algum familiar, tornando a cuidar de seus afazeres após tal procedimento, e o cangaço de meio de vida ou profissional. A este, o bandoleiro aderia, visando a aliança do enriquecimento ilícito rápido à vida errante de fora-da-lei.

Não obstante aos salteadores profissionais não lhes agradava serem chamados de assaltantes. Isso porque o código moral do sertanejo não só aceita pacificamente o homicídio como forma de vingar-se ou de "lavar a honra" ante uma traição conjugal como atribui muito valor e reconhecimento ao indivíduo que desta forma age. O que não era tolerado pelo homem simples do interior era a fama de larápio, e, por isso, o cangaceiro desenvolveu o que Frederico Pernambucano chamou de escudo ético, traduzindo a síntese desse pensamento com a seguinte construção:

Construído sob um imperativo da consciência moral, o escudo ético se destinava a preservar ambas as imagens, estabelecendo uma causalidade ética que, sendo embora simples produto de elaboração mental, lograva o efeito por assim dizer mágico de convencer o seu próprio construtor, aplacando-lhe os reproches da consciência, além de lhe fornecer excelente justificativa a nível sócio-cultural. Essencialmente, trata-se de artifício mental orientado no sentido de dar vida, presença e atualidade a causas inexistentes ou que perderam seu valor, com o fim de encobrir moralmente a permanência de efeitos. (MELLO, 1985, p. 71)

Réplica do chapéu de Luiz Pedro , de 1938; confeccionado por Biagio Grisi

A diferença básica entre os cangaceiros de vindita e os de meio de vida era a indumentária utilizada por estes últimos, que atuavam em causa própria, enriquecendo a cada investida, conforme aponta aquele mesmo historiador (1993). Essa opulência, manifestada tanto nos trajes – ornados com moedas de ouro – como nos adereços – um sem-número de anéis de pedras preciosas que ostentavam em quase todos os dedos –, atraía tanto as volantes, sedentas pelo butim de Lampião e seus comandados, quanto os jovens, cuja vida monótona demandava um pouco mais de ação e romantismo, facilmente encontráveis no viver conturbado daqueles bandidos.

A estética, que caracterizava aqueles homens de armas provinha da Península Ibérica, valendo acrescentar a afirmação a seguir: Predominando nesses atavios, a frieza geométrica das fachas gregas ao esoterismo oriental dos signos de Salomão, presente nos chapéus dos bandidos, com passagem pela tradição mais recente da flor-de-lis – motivo constante da indumentária dos cangaceiros – sugestão de poder tomada de empréstimo à casa real da França e disseminada naquele mundo ainda bruto. (MELLO, 1993, p. 46)

Desse modo, fica evidente um misticismo que acompanhou Lampião e seus companheiros por toda a sua arriscada e errante vida. Com relação a essa mística, Maria Isaura Pereira de Queiroz (1976), existem catolicismos no Brasil; desde o oficial da Igreja Católica até o popular rural, amplamente propagado entre os sertanejos. Este, baseado em magias e superstições de amuletos e rezas fortes bem como na presença de rezadeiras, beatos e fanáticos, trata-se de uma contribuição dos camponeses lusitanos egressos de sua terra natal, e, por isso mesmo, é tido como o mais puro, uma vez que está isento da hierarquização oficial.


Anildomá de Souza (2004), ratificando os pressupostos de Queiroz, diria:
Pode-se perfilar o sertão nordestino, no que se refere à religiosidade, como sendo o ambiente de completa efervescência. Há, quando se faz reportagem à crença sertaneja, um inevitável contemplar de um sincretismo religioso, que resulta na mistura de animismo indígena + fetichismo africano + superstição portuguesa. (SOUZA, 2004, p. 23) Billy Chandler (1981) defende que tais práticas pertencem ao que ele cognominou de catolicismo sertanejo, cujas principais práticas são as de se realizarem orações as quais fechariam o corpo do indivíduo.

Luiz da Câmara Cascudo (1978), por seu turno, observa que as referidas rezas de corpo-fechado vincular-se-iam ao bruxedo europeu – incorporado ao catimbó – cuja característica marcante residiria em proferir, e repetir, palavras tidas como sagradas, para, dessa forma, alcançar a inviolabilidade diante dos inimigos. Anildomá Willans de Souza (2004), seguindo o mesmo viés das concepções dos estudiosos anteriormente apresentados, aponta que o cristianismo era majoritariamente católico, havendo uma pluralidade na devoção dos santos e uma obediência ao profetismo nômade. A religião desempenhava um papel fundamental na vida do sertanejo, uma vez que representava a única forma de consciência do mundo e da sociedade das populações interioranas.

Um exemplo claro da religiosidade existente nos sertões é a monumental ingerência protagonizada pelo padre Cícero, pois "casa sertaneja que se prezasse não podia deixar de ter em suas paredes, no mínimo, os quadros do 'Sagrado Coração de Jesus' e do Padim Ciço." (SOUZA, 2004, p. 24).
Acerca da adoração àquele sacerdote, Oliveira (1970) asserta que a mesma, muitas vezes, beirava o fanatismo religioso, cuja simpatia irmanada à sua capacidade organizadora de construir o bem, através dos ensinamentos de Cristo, fascinava os cangaceiros e fanáticos, admiradores de sua fé, paciência, bondade e paz. O padre taumaturgo nunca menosprezou nenhum bandoleiro entregue aos erros, vinditas e crimes.


Talvez por isso, segundo este mesmo autor, aquele religioso conseguiu dissuadir certos chefes de grupos famosos a renunciar à vida do crime. Sinhô Pereira e Luís Padre são exemplos das "almas" salvas pelo afamado sacerdote. Por sinal, ao aludir à presença de Virgulino Ferreira em Juazeiro, a cidade do padre Cícero, Nertan Macedo destaca: Certa madrugada o padre Cícero chegou ao sobradinho de João Mendes. Ajoelhados e contritos, Lampião e o bando receberam a bênção e os conselhos do taumaturgo. Este, ao retirar-se, bateu no ombro de Virgulino, dizendo: "ô menino! Quando voltar da campanha há de deixar essa vida de desordens!". O padre aludia à campanha contra a Coluna Prestes. Virgulino não respondeu sim nem não ao patriarca de Juazeiro. (MACEDO, 1975, p. 143)

O respeito aos velhos e aos padres sempre se fez presente na vida de Lampião que em tempo algum atacou igrejas. Sobre a referida temática, tanto Oliveira (1970)quanto Estácio de Lima (1965) concordam, visto que, segundo os mesmos, os cangaceiros não maltratavam nem assaltavam religiosos e sempre que os avistavam, pediam-lhes bênçãos. Da mesma forma, há unanimidade entre os dois estudiosos do Cangaço supracitados quando os mesmos destacam a boa relação existente entre certos padres e cangaceiros, que "Entregavam seus filhos aos vigários, recomendando que os criassem como homens de bem, pois não tinham culpa de ter vindo ao mundo como filhos de cangaceiros." (OLIVEIRA, 1970, p. 126).

Casamentos entre tais indivíduos eram realizados e abençoados por aqueles sacerdotes e isso fica claro na seguinte passagem:"O Reverendíssimo José Bruno da Rocha […] também era deveras apreciado. Foi ele quem oficiou o casamento de Corisco e Dadá, sabendo muito bem o que fazia." (LIMA, 1965, p. 114)

Juazeiro do Norte, a "Meca" do Ceará, traduz perfeitamente a fé nordestina, por atrair milhões de romeiros do Padre Cícero Romão, tido como santo por esse povo, cuja religiosidade, representada no universo do catolicismo e associada às práticas cotidianas de magia e manipulação dos elementos da natureza, apresenta-se completamente arraigada.Tanto é que, nesse contexto, a pesquisadora Aglae Lima de Oliveira, perfeitamente corroborada por Billy Chandler (1981), asserta: 

A superstição era para o bandido um pensamento mágico, dominador, sobrenatural; tanto que se passasse em água, acreditavam que o corpo poderia ficar aberto, perdendo a força as orações fortes. 

Estas não eram transmitidas a pessoas sem fé. Evitava-se saltar cercas em ocasiões de tiroteio bem como passar por baixo de cabrestos. (OLIVEIRA, 1970, pp. 117-118) Na contracorrente daqueles autores, Estácio Lima (1965) defende a ideia de que, na concepção do fora-da-lei sertanejo, a religião deveria agir conforme seus interesses e não ao contrário. Afirma, ainda, acerca do bandoleiro-chefe o seguinte:

[…] não era homem para discussões intérminas, e devoções, ou pregações a todas as horas. Nem ele, nem Corisco, nem Labareda e nem os seus semelhantes, esbofeteados na face, ofereciam o outro lado ao agressor. (LIMA, 1965, p. 109) No entanto, ao comparar cangaceiros e fanáticos, as concepções de Estácio Lima se aproximam às de Aglae de Oliveira, já que ambos acreditam que aqueles grupos diferiam ao extremo. Enquanto aqueles se valiam de superstições que os resguardassem do mesmo mal que aplicavam aos semelhantes e eram adeptos à dinâmica do ataque, estes, por sua vez, limitavam-se à defesa aguerrida de seus redutos.


Júlio Chiavenato (1990) refuta totalmente os pressupostos dos autores elencados acima, quando condena como grave erro a distinção entre cangaceiros e fanáticos, visto que ambos estão intimamente ligados ao mesmo meio social. Acrescenta também que enveredar por qualquer um desses caminhos não passa de um acidente pessoal, sendo completamente possível o câmbio de lado entre aqueles elementos.

Discordam Oliveira (1970) e Lima (1965) quanto ao misticismo dos cangaceiros; enquanto este aponta que tais bandoleiros mostravam-se muito mais objetivos do que místicos, aquele lembra, por exemplo, que feridos, bandidos guardavam uma relação de misticismo com o sal, não se retirando do "rancho" sem deixar um pouco, uma vez que acreditavam, dessa forma, evitar perseguição.

Um consenso entre os supracitados autores se dá quando ambos afirmam que, antes dos combates, os cangaceiros pediam a Nossa Senhora a concessão de uma certeira pontaria contra seus inimigos, além encomendarem a alma daqueles antecipadamente. A despeito do senso comum existente acerca de um eventual apreço mútuo entre Lampião e o padre Cícero, deparamo-nos com a afirmação enfática: "Do inventário procedido pelas tropas alagoanas, em relação às rezas trazidas por Lampião, ao morrer, não constam lembranças do padre Cícero". (LIMA, 1965, p. 114)


O Capitão Virgulino e seus fiéis esculápios, contraditoriamente, apesar de pertencerem à realidade brutalizante do cangaceirismo, em nenhum momento relegaram as suas crenças e devoções a um segundo plano. Isso porque em suas vidas permeadas de peripécias, que, obrigatoriamente, conferiam a estes uma natureza cigana, onde o rotineiro medo da delação por parte dos coiteiros e das incontáveis emboscadas das volantes demandava toda a sorte de cuidados e proteção, inclusive – e especialmente – espiritual.

De acordo com Anildomá de Souza (2004) Lampião trouxe o praticismo religioso do berço, a ele transmitido, como a todos de sua região, desde a tenra idade, quando seus progenitores, Maria e José Ferreira, a exemplo de todos os pais sertanejos, fizeram seus filhos enveredar na religiosidade, inculcando-lhes a fé.

Essas práticas religiosas, assim como as de cunho místico, introduzidas por lampião em seu bando, possuíam tanto um caráter individualizado quanto uma natureza coletiva. Estas se configuravam pelo costume de orar, ininterruptamente, em grupo, conforme lembra a ex-cangaceira Ilda Ribeiro de Sousa, vulgo Sila (1995).

As atitudes místicas, por seu turno, eram marcadas pelo uso de rosários no pescoço, a posse de patuás, contendo rezas consideradas fortes, que "escritas e dobradas com uma hóstia consagrada, furtada do sacrário, misturada com o próprio sangue do bandido e o oferecimento do credo" (OLIVEIRA, 1970, p. 119). Acrescente a isso determinadas práticas com o objetivo de manter o corpo fechado, conforme lembram Anildomá de Souza (2004) e Lucena (2003). Sendo válido lembrar que este último destaca que, no parecer de Lampião,aquelas orações tinham o poder de protegê-lo dos males ou das balas atiradas pelas volantes e que nenhum fio de cabelo lhe cairia da cabeça, se esta não fosse a vontade divina.


A importância dos amuletos se manteve numa relação endêmica entre os cangaceiros. E isso é perfeitamente confirmado na seguinte sentença: Uma das "rezas" preferidas pelo pessoal do grupo era a da "Pedra Cristalina". […] Não é preciso que uma oração, para produzir efeito, seja pronunciada, ou sequer conhecida no seu texto pelo portador. Basta a permanência no pescoço, no bolso, ou na própria capanga enrolada como um "Agnus Dei" ou apenas dobrada. Lampião não abandonou, até a morte, a sua "Pedra Cristalina". (LIMA, 1965, p. 115)

Nesse mesmo contexto, Chiavenato (1990) lembra que a falta de instrução tornou o sertanejo um indivíduo que buscava sempre seguir passos corretos, demarcados pelo código religioso. Da mesma forma, aqueles elegiam o misticismo como filosofia de vida na da qual nada nem ninguém os poderia demover. Acerca da a excessiva superstição de Lampião, cabe-nos considerar o seguinte: Assombrado, atirava nos fogos-fátuos. Sombrios pressentimentos o rodeavam. Livrava-se de maus momentos protegido por seu anjo de guarda e pelas rezas fortes. Invocava, nos perigos, Nossa Senhora da Conceição e o padre Cícero Romão Batista. Observava no ar, no cheiro da terra, no vôo, no canto dos pássaros, nos rastros de animais, nas árvores, um mistério que ele somente sabia desvendar. Essas superstições resultavam sempre da aproximação da polícia. […] O sexto sentido de Lampião dava-lhe [Barreira] intuição que os companheiros o considerassem bandido-chefe, adivinho ou profeta. (OLIVEIRA, 1970, p.117)


Predominou em nossa atividade a recorrência a fontes secundárias nas quais buscamos, invariavelmente, embasar todas as nossas afirmativas. Esses depoimentos e contribuições de especialistas no assunto e suas respectivas obras mostraram-nos o universo místico-religioso dos cangaceiros que nos era completamente desconhecido.

Procedemos com um método dialético de comparação, confrontação e síntese das opiniões colhidas daqueles autores, denotando, desse modo, uma espécie de balanço historiográfico. Isso porque, na referida atividade, encontramos posicionamentos bastante semelhantes entre certos pesquisadores ao passo que outros historiadores tratavam justamente de negar o que seus colegas haviam afirmado.

Por isso, acreditamos ter identificado autores de variadas correntes de pensamento; desde concepções um tanto marxistas até óticas conservadoras ao extremo, passando pelos investigadores que preferiram a ponderação de situar seus comentários em um nada arriscado meio-termo. Tivemos ainda o privilégio de colher certas informações marcadas pela subjetividade das memórias de seus próprios autores, como a obra composta pela ex-cangaceira Sila. Essa variedade de pontos de vista constituiu, em nosso entendimento, a riqueza deste trabalho.


Não poderíamos abordar religiosidade e misticismo, um fenômeno tão presente na vida do sertanejo e ao mesmo tempo tão particular ao cangaceirismo, sem nos determos um pouco em verificar e apontar as causas do movimento em si. O banditismo social ocorrido no Nordeste teve, sem configurar-se aqui certo determinismo, sua gênese no meio e nas injustiças sociais que sempre se abateram sobre aquele povo.

O que se verificou como resposta à opressão social foi a formação de grupos que agiam desordenadamente conforme seus instintos de sobrevivência. Estes, na maioria dos casos, apresentavam um caráter tão rústico e árido quanto o clima dos sertões.

Amolecidos, todavia, pela transmissão hereditária de determinados valores católicos e exóticas crenças místicas, aqueles homens tomaram como mola propulsora um certo desequilíbrio espiritual necessário para lidar com a dura realidade do sistema vigente enquanto recusavam sua tirania.

Os livros aos quais recorremos, mesmo com toda divergência presente, conferiram-nos a possibilidade de entender melhor o sentido da existência de indivíduos que simplesmente se recusavam a seguir as normas impostas por uma sociedade que os alijava. Apontar Lampião como um bandido supersticioso, sem religião e isento de boa natureza, a quem agradava a vida de tiroteios e combates, seria um excesso tão grande quanto acreditar que o mesmo distribuía parte de seus saques às populações miseráveis por pura caridade robinwoodiana.

Entre o rosário e o punhal, entendemos que Lampião não foi nem o herói bondoso e extremamente católico das literaturas de cordel nem bandido ímpio e cruel. Antes, preferimos a ideia de um Virgulino Ferreira da Silva, filho de seu meio e de seu tempo, como todos o somos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CASCUDO, Luiz da Câmara. Meleagro – Pesquisa do Catimbó e Notas de Magia Branca no Brasil. Rio de Janeiro, 1978, 2ª. Edição.
CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião: O Rei dos Cangaceiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
CHIAVENATO, Júlio J. . Cangaço: A Força do Coronel. São Paulo: Brasiliense, 1990.
LIMA, Estácio de. O Estranho Mundo dos Cangaceiros. Salvador: Itapoá, 1965.
LUCENA, Piragibe de. Lampião, Lendas e Fatos. São Paulo: Paz e Terra, 2003, 4ª. Edição.
MACEDO, Nertan. Lampião: Capitão Virgulino Ferreira. Rio de Janeiro: Renes, 1975, 5ª. Edição.
MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do Sol: O Banditismo no Nordeste do Brasil. Recife: Massangana, 1985. Quem Foi Lampião. Recife/Zürich: Stahli, 1993.
OLIVEIRA, Aglae Lima de.Lampião, Cangaço Nordeste. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1970, 2ª. Edição.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O Campesinato Brasileiro: Ensaio sobre a Civilização e Grupos Rústicos no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1976, 2ª. Edição.
SOUSA, Ilda Ribeiro de. Sila: Memórias de Guerra e Paz. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1995.
SOUZA, Anildomá Willans. Nas Pegadas de Lampião. Serra Talhada: Gráfica Folha do Interior, 2004, 1ª. Edição.


Renata Valéria de Lucena e Mário Gouveia Júnior -Graduação em História pela Universidade Federal de Pernambuco.
Fonte:http://artigos.netsaber.com.br