E aí Mata Sete ??? Por:Manoel Severo


Recentemente a comunidade de pesquisadores do cangaço acompanhou a sentença do Tribunal de Justiça do estado de Sergipe que por decisão unanime liberava para venda o livro do juiz aposentado, Pedro Morais, "Mata Sete". Sem dúvidas uma das mais polêmicas publicações sobre o mundo do cangaço e seu principal personagem, Virgulino; acabou dividindo opiniões, entre a jurisprudência adquirida e a ética e verdade dentro do universo dos pesquisadores da temática e o público em geral.

As redes sociais do mundo virtual traduzem no mundo real essa discussão que tem movimentado o Brasil, de norte a sul. Este blog traz neste momento as impressões do lúcido diálogo entre o advogado Jorge Leandro Góis e um dos mais destacados defensores da proibição do referido livro; pesquisador, escritor e Conselheiro Cariri Cangaço, Dr. Archimedes Marques, autor da Obra que se contra-põe ao Mata Sete de Pedro Morais, intitulada "Lampião Contra o Mata Sete" no qualificado grupo - Lampião, Cangaço e Nordeste em postagem de Robério Santos: Vamos lá...


Fale Jorge Góis... "Na real: Ante a sistemática legal e constitucional desse País o Desembargador agiu certo... Doa a quem doer: Vivemos sob a égide da liberdade de expressão... E a homossexualidade, atualmente, não é entendida como opção/prática que diminua aquele que é tachado como tal!!! " E contunua Góis "As decisões apontam uma eventual ação de dano moral como o remédio, porém diante da velocidade das informações e da sua interligação... O estrago é irreparável"...

Fala Archimedes..."Caro Jorge Góis, discordo da sua opinião de que a LIBERDADE DE EXPRESSÃO se fez vitoriosa porque está na lei, e que o desembargador agiu certo. Vejamos: Em se tratando de direitos o livro LAMPIÃO O MATA SETE, ao que demonstra, transpõe os seus próprios limites, os limites da sensatez, da lucidez, da razoabilidade, ultrapassando também os limites das leis vigentes do nosso ordenamento jurídico para atingir em cheio os descendentes da família do casal Lampião e Maria Bonita. Neste sentido, em parágrafos intercalados, vejamos o que diz o advogado e escritor Rangel Alves da Costa, indignado com tal obra e com o seu consequente autor:

Archimedes Marques ao lado de João de Sousa Lima no lançamento de sua obra

"Contudo, enquanto magistrado de chuteira na porta, Pedro Morais ao menos deveria lembrar que o ser humano, só pelo simples fato de ter vindo à existência, é resguardado por direitos inalienáveis e que a ninguém é dado o direito de afetá-los. E quando o indivíduo desonrado, atingido na sua memória, afetado na linhagem que deixou, já não mais compartilha do mundo de quem o massacra, então é que a necessidade de ser respeitado ser redobra. E a lei é clara: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” (CF, art. 5º, X). (Rangel da Costa)

Ademais, a liberdade de EXPRESSÃO, de informação e de manifestação do pensamento não constituem direitos absolutos, sendo relativizados quando colidem com o direito à proteção da honra e da imagem dos indivíduos, conforme o dito acima, que no caso em pauta, ofende o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. A imagem e a honra de Lampião, Maria Bonita e sua filha Expedita não podem, pelas mãos do escritor Pedro de Morais, se tornarem como coisas de ninguém. Assim, completando esse entendimento, quanto à inviolabilidade do direito à honra e à privacidade, ultrapassada pela liberdade de expressão que se vale o autor do livro para expor as suas afirmativas grotescas, temos o entendimento exemplificativo do Ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Gilmar Ferreira Mendes: 

(...) “Como demonstrado, a Constituição brasileira, tal como a Constituição alemã, conferiu significado especial aos direitos da personalidade, consagrando o princípio da dignidade humana como postulado essencial da ordem constitucional, estabelecendo a inviolabilidade do direito à honra e à privacidade e fixando que a liberdade de expressão e de informação haveria de observar o disposto na Constituição, especialmente o estabelecido no art.5º, X.” (Ministro Gilmar Ferreira Mendes).


O tendencioso livro tenta ferir a honra sexual e a imagem de bravos guerreiros cangaceiros que marcaram um tempo de guerra nos sertões nordestinos, tempo de lágrimas para muitos, mas também de glória para tantos outros, tempo que não volta jamais, mas que fez um tempo de orgulho para multidões. Orgulho de ser nordestino, orgulho de ser sertanejo, orgulho de viver nas terras onde o cabra-macho Lampião criminosamente distribuiu injustiça para muitos, mas também, criminosamente ou não, à sua moda, justiça para tantos outros. Orgulho que ainda hoje os remanescentes das guerras do cangaço sentem em dizer que são filhos, netos e bisnetos de cangaceiros e volantes, homens valentes e destemidos que guerrearam no causticante sol das caatingas nordestinas. Orgulho que multidões têm em dizer que vivem nas mesmas terras áridas e tórridas onde viveram os mais famosos cangaceiros Lampião e Maria Bonita, personagens estes dos mais pesquisados, dos mais estudados, dos mais cantados e decantados em versos e prosas, mas jamais igualados em palavras tão ofensivas às suas honras sexuais quanto as alegações dispostas no livro “Lampião, o Mata Sete”.

Antônio Amaury, Aderbal Nogueira e José Sabino Bassetti

Eis a opinião do Mestre Antonio Amaury, o homem que mais entrevistou REMANESCENTES DO CANGAÇO (centenas de pessoas):“Não existe nenhuma informação, nem a mais leve suspeita, sobre casos de homossexualismo, feminino ou masculino, nos bandos. Informou-nos Dadá que jamais ouvira falar sobre tal procedimento, e que só tivera conhecimento dessa prática quando passou a residir em Salvador”. (ARAÚJO, 1985, p. 309)

O amigo João de Souza Lima, um dos maiores pesquisadores da atualidade, grande descobridor de remanescentes do cangaço diz:“Nunca, em hipótese alguma, me senti tão ultrajado quando visualizei nas obras consultadas pelo autor. Quando vi meu nome citado por Pedro de Morais onde faz citações a dois livros de minha autoria me senti pequeno, diminuído, queria nunca ter sido escritor do tema só pra não ter meu nome nesse livro. O que me conforma é saber que ele me citou apenas para impressionar quem ler seu livro querendo posar de um grande estudioso pela vasta relação descrita. O que na realidade, ainda falta bilhões de quilômetros de anos luz para que ele se torne um pesquisador e escritor que mereça o mínimo de crédito e respeito. Também vi o nome de alguns companheiros citados na relação e sei que todos estão insatisfeitos de constar seus nomes em um trabalho tão pobre e carente de veracidades. Sei que Amauri, Frederico, Alcino, Juarez, Sergio Dantas, Tenente João Gomes, Hilário, Margébio, Haroldo, Honório, Cicinato, Vilela e Anildomá, devem ter sentido o mesmo que eu, pois sei que em trabalho com essa qualidade de falsas informações e tão mal escrito, sem embasamentos coerentes nenhum, não dignifica em nada as obras dos verdadeiros homens que exploram o cangaço”. (Sousa Lima)

“Uma coisa o autor Pedro de Morais pode ter certeza: Ele será lembrado no meio de quem estuda com discernimento o assunto cangaço, como o maior mentiroso que já apareceu no meio, suas histórias serão ridicularizadas e comparadas aos absurdos escritos pelos maiores farsantes que povoaram os caminhos da história”. (Sousa Lima)


E diz o amigo escritor Jose Bezerra Lima Irmão que passou doze anos pesquisando para escrever o seu grande livro LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS: “Agora, surge um paspalhão com uma história inusitada, sem fundamento nos fatos, fruto de elucubrações de um tipo de “pesquisador” que não pesquisa nada, e, sem sair de casa, refestelado numa poltrona, com base em leituras a vôo de pássaro, sem entrevistar ninguém, passa a regurgitar asneiras”. (Bezerra Irmão)

E diz o grande historiador Anildomá Souza:“Quem trabalha com história movimenta com vidas, com existências que deixam recordações e que carecem de respeito. É preciso ter reverência para com o passado, como também para com os vivos do presente que merecem ter pelo menos uma aproximação do que é a verdade. O Pedro Moraes não passa de um estelionatário da história. Ô bicho bom pra levar uma malaca na “zurêia!” (Anildomá Souza) Trago também a opinião em alguns parágrafos do texto indignativo escrito pelo famoso e competente cineasta Zoroastro Sant´Anna, diretor de cinema e televisão, tendo dirigido o filme “Lampião Revisitado” em 2004 e agora também trabalhando como Diretor e Roteirista do longa metragem “A História de Lampião, o Capitão Virgolino” a ser rodado na Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco, ou seja, o texto de um homem entendido nesse assunto, um grande estudioso do cangaço, principalmente por ter realizado estafante pesquisa na referida área, texto esse que representa o desprezo ao livro “Lampião o Mata Sete”: “É inacreditável como um juiz de Direito, embora desconhecido, cometa a irresponsabilidade, a desfaçatez de sugerir um triângulo bissexual entre Lampião, Maria Bonita e Luiz Pedro. 


Nada tenho com as orientações sexuais seja lá de quem for, sejam felizes, mas o que este senhor ameaça cometer publicando essa sandice é pura difamação com o propósito de vender lixo encadernado. É uma desonra para ele, para a classe e para todos os sergipanos. Não sou biógrafo de Lampião, sou apenas um estudioso e amigo da família, mas depois de dissecar o assunto por muitos anos, alimentado por 186 livros dos mais renomados pesquisadores, 54 filmes e vídeos, mais de 650 folhetos de cordel, 150 viagens e 144 entrevistas, nada, nunca esta absurda hipótese foi levantada, a não ser pelo presidente do movimento GLBTS da Bahia que cogitou folcloricamente essa possibilidade, tendo feito o mesmo com Zumbi, o Rei de Palmares. 



Estes estudos redundaram no roteiro do filme “A História de Lampião, o Capitão Virgolino”, que está sendo preparado por mim, por Gilberto Gil na direção Musical, João Ubaldo Ribeiro na supervisão dos diálogos e Orlando Senna no roteiro final. Trata-se de um trabalho sério, competente e honesto e não uma picaretagem autopromocional. 

Certa vez, Lampião foi com seus meninos e Maria Bonita para Irará, terra de Tomzé, a procura de um promotor que tinha escrito uma difamações num jornal da Bahia. Perguntou ao homem “que mal lhe fiz pro senhor escrever essas maldades contra a minha pessoa?” Trêmulo e sem resposta, recebeu de Lampião um exemplar com a ordem do cangaceiro: “Agora coma o jornal”. Maria Bonita estendeu uma moringa d´água e o presepeiro comeu o jornal todinho. Quando ele terminou, Lampião mandou que ele beijasse a mão de Dona Maria, e ele beijou. Traga uma moringa aí pra esse juiz sergipano!” conclui Archimedes Marques...



Volta Jorge Góis: "Ilustre  Archimedes, esse descontentamento seu com a obra de Dr. Pedro Moraes é de se entender... Não tiro a sua e a razão dos seus amigos que têm uma vida dedicada a pesquisar os meandros do cangaço... Entretanto, o que mencionei reside no campo Jurisprudencial, isto é, o que os nossos Tribunais estão decidindo sobre o tema (Liberdade de expressão)... Volvendo olhos para a homossexualidade nos moldes atuais, sem caráter homofóbico e depreciativo, logo vemos que o escritor não está a ferir a honra e os direitos da Personalidade de Lampião & Maria Bonita, representado por sua filha e netos.... Vejo que fere sim o direito à INTIMIDADE, este sim ! Todavia, como o Rei e a Rainha do cangaço foram/são pessoas públicas, pelo menos em tese, não haveria guarida para essa fundamentação...

Mas, caros amigos, já vi também posições contrárias, e confesso: Filio - me a este corrente contrária, uma vez que vejo que, por mínimo que seja, uma mentira espalhada é irreparável para a história e para a honra dos cangaceiros, que é um subjetivo de quem a tem ferida...." Conclui Jorge Góis.

Tudo isso e muito mais encontramos no sensacional grupo Lampião Cangaço e Nordeste" do Facebook, vale a pena conhecer e ne
sta terça-feira, dia 07 de Outubro o bicho vai pegar na reunião mensal do GECC-Cariri Cangaço: 

Grande discussão sobre a liberação do livro de 
Pedro Morais, você é nosso convidado
Noite GEEC - Cariri Cangaço , 
Terça-feira
19 horas ; 07 de Outubro de 2014
Auditorio da ABO
Fortaleza, Ceará

Manoel Severo
Cariri Cangaço

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa reunião vai acabar na delegacia. Vão ser acusados de homofobia.

C Eduardo