A Gênese do Bantidismo Rural Por:Jorge Remígio


A gênese do banditismo rural, posteriormente rotulado de cangaço, está na própria estrutura, na formação do Sertão como identidade cultural. O seu povoamento foi forjado na violência, nas disputas e apropriação de um espaço ocupado pelos gentios, os quais já haviam sido tangidos do litoral. O banditismo rural não foi uma exclusividade brasileira. Na história de vários países existiu esse fenômeno. Porém, não específico como o nosso. 

Os primeiros registros sobre esse atavismo social se dá com notícias do salteador José Gomes, apelidado de Cabeleira, que atuou na zona da mata pernambucana. Preso e condenado à forca é executado em 1776 em Recife. Porém, é na região que compreende o Sertão de alguns estados do Nordeste, vale salientar que essa terminologia é recente, que vai proliferar esse tipo de banditismo. 

Em 1850, já se registrava uma inquietação na população rural em relação aos assaltos e violências físicas e patrimoniais de que eram vítimas desses bandos armados de malfeitores. Mas, a década que compreende os anos de 1870 a 1880, destaca-se pelo afloramento de vários bandos armados, agindo principalmente nos Sertões dos Estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba. Destaque para os Viriatos, os Meireles, Jesuíno Brilhante, Adolfo Meia Noite, João Calango entre outros menos expressivos. 

Narciso Dias, Netinho Flor e Jorge Remígio em dia de Cariri Cangaço
  
O uso do termo CANGACEIRO, para definir os integrantes desses grupos armados, só ocorrerá no final do século XIX, com o início do cangaço de Antônio Silvino (1875-1944). Portanto, entendo que o cangaceiro foi uma mão de obra atrelada a terra que desgarrou das amarras do latifúndio e passa a exercer uma atividade bandoleira e lucrativa obviamente, porém, de alguma forma, ainda ligado à estrutura coronelística. Uma vez que dependem do apoio estratégico dos donos do poder nos ermos sertões, no suprimento de armas, munição principalmente, coito seguro, víveres etc... 

Os cangaceiros eram salteadores, bandidos rurais sem consciência política e nenhum pensamento de transformação daquela sociedade. Totalmente alheios às contradições sistemáticas. O ingresso de jovens nas hostes cangaceiras, se dava em sua grande maioria, visando uma melhora na vida. Faziam daquela nova atividade, uma “profissão”. No dizer de Maximiliano Campos: “ Viver sem lei e nem rei”


Jorge Remígio, pesquisador
Membro do GPEC, Conselheiro do Cariri Cangaço
João Pessoa, 20 de março de 2017

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu concordo em parte com o amigo Remígio. Mas, colocar na mesma classificação Lampião, Augusto Santa Cruz, Jesuíno Brilhante, Chico Pereira, é uma imprecisão no meu modo de ver. Todos estiveram no cangaço com diferentes métodos e objetivos. Uns bem mais criminosos do que outros. Por isso acho que não é possível colocá-los na mesma gaveta. Penso que alguns foram criminosos profissionais e outros criminosos circunstanciais. Todos cangaceiros?
C Eduardo