A Ascensão Politica do Major Inácio do Barro Por:Jose Tavares de Araújo Neto

 José Ignácio de Sousa, conhecido por major Zé Ignácio do Barro, construiu o seu império à sombra do coronel Domingos Leite Furtado, o todo poderoso chefe político de Milagres, de quem, ainda jovem, se tornou amigo e seu braço armado. A própria fazenda Barro, que na prática passou a ser seu sobrenome, foi adquirida através de compra ao coronel Domingos Leite Furtado, que dispensou fiador quando próprio pai do comprador, o sr. Lino José Antonio, se negou a avalizar a negociação. Aliás, Zé Inácio sempre teve uma convivência muito conturbada com o pai, inclusive eles já haviam tido um romance com uma mesma mulher.  A apatia era tanta que mesmo após a ascensão social de Zé Inácio, sr. Lino, destacado proprietário de terras na região do povoado de Cuncas, tratava seu filho por “coronel de merda”.

Em uma sociedade em que a voz do bacamarte falava mais alto, o major Zé Inácio já havia adquirido visibilidade, prestígio e respeito a partir de 1908, desde quando comandou a invasão a Aurora com objetivo de destituir Antônio Leite Teixeira Neto (coronel Totonho Leite ou Totonho do Monte Alegre) do cargo de intendente (atualmente correspondente a prefeito). 

Em 17 de dezembro, o coronel Totonho havia mandado a polícia atacar a fazenda Taveira, propriedade do capitão José dos Santos, onde se encontrava de passagem a fazendeira e líder política Maria da Soledade Landim (dona Marica Macêdo do Tipi), ambos seus adversários políticos.  Neste episódio, que ficou conhecido como “O Fogo de Taveira”, foi baleado e morto o garoto José Antônio de Macêdo, filho de dona Marica Macêdo, com 13 anos de idade. 

Em represália, dona Marica foi buscar apoio junto ao coronel Domingos Furtado, chefe político da vizinha Milagres. Em 23 de dezembro, o major Zé Inácio, comandando um exército de 700 homens, invadiu a Vila de Aurora a fim de destituir o intendente. O coronel Totonho, que a esta altura já havia se evadido, foi de imediato exonerado, sendo dona Marica declarada a chefe política, que indicou o coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido do Pavão) para ocupar o cargo de Intendente.

José Tavares em dia de Cariri Cangaço

A fim de demonstrar sua força no sul cearense, em 4 de outubro de 1911, dia de sua posse como primeiro intendente do recém-emancipado município de Juazeiro, Padre Cicero reuniu os chefes políticos da região para propor um ambicioso pacto de paz. A proposta tinha o objetivo de selar um acordo entre os coronéis, com o compromisso de extinguirem por completo suas milícias, constituídas de jagunços cangaceiros, conforme mencionava o artigo sétimo do referido documento: “Cada chefe, a bem da ordem e da moral pública, terminará por completo a proteção de cangaceiros, não podendo protegê-los e nem consentir que os seus munícipes, seja sob que pretexto for, os proteja dando-lhes guarida e apoio”.

Este documento histórico, que ficou conhecido por “Pacto dos Coronéis”, foi subscrito por representantes de 17 municípios, dentre os quais a vila de Milagres, que a mando do chefe Domingos Furtado, se fez representada por seu primo coronel Manuel Furtado de Figueiredo e o emergente major Zé Inácio.  Como não poderia ser diferente, a iniciativa do Padre Cícero não obteve nenhum efeito prático. Os coronéis continuaram em pé de guerra, em infindáveis lutas pelo poder. Como evento histórico, serve com registro de uma boa iniciativa do Padre Cícero, como também registra um relevante capítulo na ascensão política do major Zé Inácio.

Jose Tavares de Araújo Neto 
Pesquisador, Pombal-PB
20/02/2020

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