Audálio Tenório Conhece os Cangaceiros Por: Júnior Almeida

Audálio Tenório, o quinto da direita para a esquerda

Acoitado nas proximidades de Pau Ferro, atual Itaíba, no final de maio de 1921, Antônio Matilde mandou um bilhete para o coronel Chico Martins no Salgadinho, serra próxima a vila. Dizia o bilhete: "Coronel Francisco Martins, sabendo que o Senhor não gosta de gente armada em seu povoado, peço-lhe o favor de vir até aqui."

Chico Martins foi ver o cangaceiro chefe de grupo, Antônio Matilde, levando junto com ele seu filho Audálio Tenório. No local, além do grupo dos Matilde, estava também o bando dos Porcinos, comandado por Antônio Porcino, grupo de família que era composto por cinco irmãos. Audálio pôde observar que Virgulino, Antônio e Livino estavam sentados, afastados dos demais cangaceiros. Soube depois que os irmãos estavam de luto, pois fazia poucos dias que tinham perdido a mãe, Maria Lopes, que morrera de causas naturais, e o pai, José Ferreira, assassinado pela polícia de Alagoas. 

Conversando com Chico Martins, Antônio Matilde disse que ia para a proteção de José Inácio, na cidade do Barro, no Ceará, enquanto José Porcino disse que ia para Vila Nova da Rainha, na Bahia. Lampião estava calado, só ouvindo os companheiros, então Antônio Matilde perguntou ao cangaceiro: "E você Virgulino, pra onde vai?"

Virgulino e Antônio

Lampião respondeu que daquele dia em diante só queria a proteção “daquele” [apontando pro céu, se referindo a Deus] e “desse” [batendo com a mão em sua arma].

O cangaceiro foi apresentado a Chico Martins, que era o protetor de sua família em Águas Belas. Virgulino quis saber do fazendeiro notícias dos seus parentes e Chico Martins disse que estavam todos bem, que as moças viviam diariamente em sua casa, aprendendo a fazer flores, aprendendo a fazer doce, se nutrindo de tudo junto com sua família, e disse que sua senhora [responsável por ensinar os ofícios às irmãs de Lampião] era muito jeitosa, muito sabedora das coisas. Complementou dizendo ao cangaceiro, que suas irmãs viviam bem vestidas, ajeitadas, até usando meias e que seu irmão, João, respeitosamente vivia sempre o acatando.

Chico Martins combinou com Lampião para irem se encontrar com sua família. Foram a cavalo até o lugar Salgadinho, onde ocorreu o encontro. Quando chegaram ao local, um dos cangaceiros que acompanhou o grupo zombou fazendo o sinal característico da mão abanando o nariz, e dizendo que estava sentindo cheiro de macaco. Todos riram com a brincadeira do cabra.

Junior Almeida, Conselheiro Cariri Cangaço, Pesquisador e escritor, Membro da ABLAC

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu nasci em itaíba e conheço todos esses lugares, meus avós foram contemporâneos dos personagens dessa história, principalmente de lampião.