Há 103 anos a Comemoração do Primeiro Centenário da Revolução Pernambucana Por: Valdir Nogueira

Capa do Livro: O Brazil Heróico em 1817, de Alipio Bandeira, 1918, Imprensa Nacional Rio de Janeiro, com 329 páginas. Importante obra sobre a Revolução Pernambucana, com resumo histórico, seus heróis e lista de mártires.

“6 de Março de 1817 – O feito glorioso que a data de hoje relembra, ora comemorado neste município de Belmonte, que muito se ufana de estar inserido neste Estado, se reveste como uma das efemérides de mais conteúdo e grandeza nas lutas pernambucanas na defesa dos nobres ideais libertários.”

Com estas palavras, o reverendo de Belmonte o padre Joaquim de Alencar Peixoto iniciou o seu discurso na solenidade que o município promoveu na noite do dia 6 de março de 1917, para comemorar a magna data. Nas suas palavras o padre brilhantemente exaltou o valor dos pernambucanos que sonharam com a democracia antes da nossa independência política, fato que determinou a acertada escolha do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano para dissertar sobre essa brilhante página de nossa História.

 Dr. Felisberto dos Santos Pereira, juiz municipal do Termo de Belmonte, encabeçou a Comissão responsável pela realização das comemorações do Primeiro Centenário da Revolução Pernambucana de 1817, no município belmontense.

Para a realização da comemoração do Primeiro Centenário da Revolução de 1817, em Belmonte foi organizada uma comissão, composta do Dr. Felisberto dos Santos Pereira, juiz municipal; do padre Joaquim de Alencar Peixoto, vigário da Freguesia de Belmonte, e do coronel José de Carvalho e Sá Moraes, prefeito local. A solene data, tão bem registrada nos anais da história belmontense, foi publicada no Diário de Pernambuco – Quarta-feira, 19 de abril de 1917, pág. 2:
“As 19 horas do dia 6 de março no edifício do governo municipal desta cidade, realizou-se com grande imponência a sessão magna comemorativa do Primeiro Centenário da Revolução Pernambucana de 1817. O Paço do Conselho Municipal apresentava caprichosa ornamentação com artísticos bouquets nos belos jarros sobre a mesa da presidência, e da tribuna, destinada aos oradores. Grande multidão composta do que a sociedade belmontense tem de mais seleto encheu literalmente a ampla sala do Conselho Municipal, onde uma organizada orquestra dava a nota de destaque executando maviosos trechos musicais à chegada dos convidados.

Padre Joaquim de Alencar Peixoto, vigário da Paróquia de Belmonte, integrante da comissão formada para realização das comemorações ao Primeiro Centenário da Revolução Pernambucana de 1817, no município belmontense
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A sessão foi presidida pelo Dr. Felisberto dos Santos Pereira, juiz municipal deste termo, ladeado pelo reverendíssimo padre Joaquim de Alencar Peixoto, orador oficial, e pelo senhor José Ribeiro Viana, que serviu de secretário.

Ao abrir a sessão, o Dr. Felisberto Pereira pronunciou um ligeiro discurso abrindo a solenidade sobre a “Data Magna” da nossa história pátria, e congratulou-se com os belmontenses pelo magnífico benefício que doravante iam eles usufruir, com a fundação naquela data, de mais uma escola, com a denominação de “ESCOLA BARROS LIMA”, em homenagem a um dos mártires da Revolução Pernambucana de 1817, ficando assim satisfeitos os desejos do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, cuja ação fecunda o orador enalteceu.

Em seguida obteve a palavra o reverendíssimo padre Joaquim de Alencar Peixoto, vigário desta Paróquia e orador oficial da festividade. Falar no resumido espaço deste relato sobre a ardorosa oração cívica do talentoso sacerdote é tarefa difícil de desempenhar. Sua reverendíssima empolgou o auditório por espaço de meia hora, e tal era o fulgor das suas mensagens, tal o entusiasmo patriótico que imprimiu as suas rutilantes frases, que toda a numerosa assistência ali presente, vibrou. Ruidosas palmas saudaram as últimas palavras do orador que terminou rendendo aos mártires de 1817, as homenagens sinceras de patriotismo de quantos ali se congregavam para cultivar-lhes a imperecível memória.

Prefeito de Belmonte, Coronel José de Carvalho e Sá Moraes, integrante da comissão formada para realização das comemorações ao Primeiro Centenário da Revolução Pernambucana de 1817, no município belmontense.

Seguiram-se com a palavra os seguintes oradores: Waldemiro de Araújo Lima, representando o “Externato Belmontense”; dona Josefa do Amaral Martins, pela Escola do sexo feminino desta cidade; Juvenal Ferreira, pelos filhos do povo, para quem era criada naquela data a “ESCOLA BARROS LIMA”; José Alencar de Carvalho Pires, em seu nome individual; Edson Macêdo, recitando a poesia de Manuel Duarte – “A Bandeira”, e Napoleão Ferraz, recitando o Hino da Proclamação da República, letra de Medeiros e Albuquerque. Todos os oradores foram freneticamente aplaudidos. Em seguida o Dr. Presidente declarou instalada a Escola primária “ESCOLA BARROS LIMA”, numa das dependências do Conselho Municipal e da qual ficaram encarregados os hábeis moços, José Ribeiro Viana e João Batista Fructuoso de Pádua. A nova escola que é noturna, para facilitar a freqüência das crianças pobres, que passam o dia em outros misteres, será custeada pelo município e pela população.
Encerrada a sessão entre as mais vivas manifestações de entusiasmo pela comissão respectiva, foi passado um extenso telegrama ao Dr. 1º Secretário do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, relativo a festa cívica, ora realizada em Belmonte:
“Perante numerosa seleta assistência, entre sinceras evidentes manifestações patriotismo, realizou-se Conselho Municipal Belmonte Sessão Cívica comemorativa Primeiro Centenário Revolução Pernambucana 1817, marco glorioso nossa emancipação política. Fundada escola primária “BARROS LIMA”, satisfazendo assim nobre desejo desse Instituto.
- Felisberto dos Santos Pereira, juiz municipal;
- Padre Joaquim de Alencar Peixoto, vigário;
- José de Carvalho e Sá Moraes prefeito.”
A Revolução Pernambucana de 1817 foi o culminar da fermentação das ideias de autonomia em relação ao governo português que, originando-se na então Capitania de Pernambuco, irradiou-se por várias capitanias do nordeste do país e instalou setenta e três dias de governo republicano em pleno reinado de D. João VI. Elencada na historiografia como antecedente da Independência do Brasil, é celebrada como o único movimento que afrontou com êxito a Coroa Portuguesa em toda sua longa história. O dia 6 de março, data do início da Revolução, é a data magna do estado de Pernambuco, cuja bandeira é inspirada na do movimento.

O nome de um dos heróis da Revolução de 1817 foi dado cem anos depois a uma escola primária de Belmonte: ESCOLA BARROS LIMA, homenageando José de Barros Lima, militar nascido em recife por volta do século XVIII e que também foi capitão do Exército, sendo preso pelo brigadeiro Manuel Joaquim Barbosa de Castro, por apoiar à causa republicana. Ignorando a ordem de prisão, sacou a espada e matou o brigadeiro, que por este fato, iniciou a Revolta Pernambucana de 1817.
Quando as tropas reais reprimiram o movimento, José de Barros Lima foi preso, e enforcado, na cidade de Recife. Suas mãos e cabeça foram cortadas, e seu corpo amarrado a um cavalo, sendo arrastado pelas ruas até o cemitério. Suas mãos e cabeça foram expostas em um quartel, em Olinda.
Valdir José Nogueira de Moura, Conselheiro Cariri Cangaço

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