Vilson e Antônio da Piçarra Por: Manoel Severo


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Vilson e pesquisadores na fazenda Piçarra

Quando se pesquisa a história do cangaço na região do cariri; aqui no sul do estado do Ceará; pelas terras dos municípios de Porteiras, Jati, Jardim, Brejo Santo, Missão Velha, enfim; com certeza iremos nos defrontar com um dos personagens mais marcantes deste vasto e rico universo de nossa história, o senhor Antônio Leite Teixeira, ou simplesmente, Antônio da Piçarra.

Na primeira edição do Cariri Cangaço, no ano de 2009, tivemos a grata oportunidade de levar nossos convidados a uma elucidativa visita técnica à famosa e emblemática fazenda Piçarra; por quase uma década um dos maiores coitos do Rei do Cangaço em terras cearenses. Seu Tôim da Piçarra, sertanejo de fibra, destemido e acima de tudo leal, acabou se tornando por contingencias do destino, um dos maiores coiteiros e amigos de Virgulino Ferreira da Silva, até os idos de 1928 quando do episódio do cerco e morte de Sabino Gomes pela volante de Arlindo Rocha e Manoel Neto, nas terras da Piçarra. 

 Jack de Witte, Manoel Severo, Bosco André e Vilson

"...muito se tem falado sobre o meu avô Antônio da Piçarra, mas poucos sabem da real e verdadeira história de sua ligação com Lampião..."

Neste último mês de Março tivemos a oportunidade de novamente; desta vez acompanhado dos confrades pesquisadores, José Cícero, Jack de Witte e Bosco André; visitar novamente a Piçarra; ali fomos recebidos pelo neto de seu Tôim da Piçarra, Vilson Santana que como das outras vezes, com uma dedicação e uma memória espetacular, nos brindou com a verdadeira "Saga de Antônio da Piçarra"; nos foi passado momentos marcantes da vida deste que, de uma hora para outra, passou de melhor amigo a maior inimigo de Lampião...

"...minha avó tinha fortes ligações com a família de José Saturnino de Vila Bela, no Pajeú e meu avô acabou tendo essa forte ligação com Virgulino, é a vida!"

Foram algumas horas de pura história e muitas revelações, uma delas para mim inteiramente nova: A ligação da esposa de seu Antônio da Piçarra com José Saturnino, outra grande revelação foram as lágrimas do sertanejo quando não pode evitar o cerco e o "fogo da Piçarra" contra seu amigo Lampião.


"...meu avô não pôde fazer nada, a volante estava em sua casa e mantinha sob ameaça sua esposa e filhos, não tinha saída, teve que levar os homens ao local onde estavam os cangaceiros..."

Vilson nos contou parte da vida deste grande personagem, o começo de sua amizade com Lampião, os episódios de quando os primos de Virgulino, da família Paulo, estiveram sob sua proteção na Piçarra, a chegada de Ezequiel e Virgínio, o cerco, o fogo e a morte de Sabino Gomes, o ódio de Lampião, os conselhos de Padre Cícero, a peitada de Lampião a Moreno para matar seu Antônio, etc.

 Vilson, José Cícero e Jack de Witte

"...foi aí que o tenente Arlindo Rocha falou: seu Toim eu até tenho paciência mas não sei se posso segurar Manel Neto; ali meu avô teve que entregar Lampião..."

Sem dúvidas tivemos uma manhã espetacular e ficou uma certeza: Vilson Santana será um dos Conferencistas do Cariri Cangaço 2011 com a "Saga de Antônio da Piçarra"  como também teremos a visita técnica a este cenário marcante da história do cangaço em nosso Cariri, no município de Porteiras, a Fazenda Piçarra.

Manoel Severo
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12 comentários:

Helio disse...

Severo, muito se fala do coiteiro Antonio da Piçarra, e muitas injustiças foram cometidas, tenho certeza que a Palestra do neto Vilsinho será um marco dentro do Cariri Cangaço, parabens meu amigo.

Professor Mario Helio

Anônimo disse...

no ceará lampião teve um grande aliado além do padre cícero, que antonio da piçarra, o seu toim da piçarrra, para onde ía sempre que por aqui passava. pesquisei bastante sobre e vejo que muitos ainda não sabem que sabino, braço direito de lampião foi baleado e pode se assim dizer morto aqui no ceara, na fazend PIÇARRA entre Jati, Porteiras eBrejo Santo. estou desenvolvendo um roteiro neste sentido para depois realizar o filme. valeu

Franciolli Luiciano
CRATO CEARA

José Mendes Pereira disse...

Valeu amigo Manoel Severo! Uma boa história você nos traz de mãos beijadas.

SABINO ESTÁ CONDENADO À MORTE
Um dos amigos do meu filho Mendes, ex-funcionário do Banco do Brasil de Mossoró, amigos de profissão, que atualmente goza dos seus direitos, isto é, aposentado, o senhor Francisco das Chagas do Nascimento; grande conhecedor do assunto no que diz respeito ao cangaço, e dono de um enorme acervo da história dos facínoras, e ainda membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço em Mossoró, contou-me certo dia em seu acervo como aconteceu a morte de Sabino Gomes. No momento do ataque dos policiais ao bando de cangaceiros de Lampião, lá na fazenda de Seu Antonio Piçarra, Sabino levou a pior, pois foi atingido, sofrendo um enorme tiro no estômago, deixando-o sem condições de caminhar com os demais cangaceiros. Sabino sabendo que não teria a menor chance de sobreviver, pediu a Lampião que o matasse, pois não estava mais aguentando as dores que ora o incomodavam bastante.
- Capitão, eu não consigo mais suportar tamanhas dores... Por favor, mate-me logo!
Lampião não aceitou a sua solicitação dizendo:
-Eu num tenho coragi de matá um cumpanheiro meu e nem tão pouco ordeno aus meus cabras qui o mate.
Mas Lampião viu que a situação de Sabino Gomes era irreversível, e afastando-se um pouco do local, chamou um dos cabras e disse-lhe:
-Tire as bala do revóve e intregue a eli, para a genti vê a sua atitude. Maiz veja si num ficou arguma.
- Sim senhor capitão. – Confirmou o cabra.
Assim que o cabra desarmou a arma, engatilhou-a e entregou-a a Sabino Gomes. Não demorou. Sabino levou-a ao ouvido e apertou o gatilho. Mas como a arma estava descarregada, não aconteceu nada.
Lampião vendo que ele queria mesmo morrer, perguntou aos cabras:
-Quem di ocês teim coragi de sacrificá-lo?
-Eu não tenho. – disse um dos cabras.
- Eu muito pior...
Nesse ínterim, Mergulhão disse:
-É meu amigo, mas ele não tem mais como viver... E voltando-se para Sabino perguntou-lhe... Você está ciente do que está nos pedindo?
-Mais do que ciente... Eu não consigo mais viver.
Ajeitaram um lugar seco e bem limpinho, levaram-no para lá e cobriram-lhe os seus olhos, evitando que visse o extermínio de sua própria vida.
Mergulhão deu o tiro de misericórdia na cabeça. E o Sabino Gomes foi embora para eternidade.
Em seguida, Lampião recolheu-se a um canto do coito, penalizado com o fim do amigo de tantos anos, chorou sem presenciar o enterro do seu grande amigo.

José Mendes Pereira - Mossoró-RN.

Anônimo disse...

Muito boa a iniciativa de ter o Antonio da Piçarra no seminario desse ano, seu antonio tem realmente muita historia para ser contada. parabens Severo.

Marcio Valença

Anônimo disse...

MUITO BOA A POSTAGEM SOBRE SEU ANTONIO DA PIÇARRA, COM A NARRATIVA DO SEU NETO VILSON. PARABÉNS, GRANDE SEVERO!

ENGENHEIRO GMARLON disse...

Caro Zé Mendes só para colocar mais lenha na foqueira, existem aqueles que dizem, inclusive membros da família do próprio Sabino, que realmente não foi daquela forma que aconteceu, é o cangaço com seus mistérios infindáveis.

Severo com certeza a Palestra do neto de Antonio da Piçarra será um ponto alto do Cariri Cangaço, parabens.

Marlon

José Cícero disse...

Mestre Severo!
Saudações catingueiras...
******Ainda com relação ao que disse Vilson a mim, vc, Bosco André e Jack de Witte:
Com relação ao ótimo e fidedigno relato feito pelo Vilson quando da nossa recente passagem com destino a Paulo Afonso, diria queo mesmo constituiu um informe históricos dos mais relevantes, sobretudo para esclarecer "escritos" muitas vezes depreciativos com relação a suposta traição do Sr. Ant. da Piçarra, avó do Vilson.
Confesso que fiquei sensibilizado no instante que o Vilson relatava o que o velho da Piçarra dizia acerca da coação que sofreu para proceder como tal. Notadamente quando após o diálogo que teve com o sagaz Arlindo Rocha ante as ameaças veladas usando para tal a ferozidade deManoel Neto. De modo que, sem saída o velho coiteiro teve que ceder. No entanto, não me esqueço da parte mais comovente segundo as palavras de seu neto.
"Tendo desconfiado da grande demora de Ant. da Piçarra o cangaceiro Sabino se dirige para Lampião e fala: - Capitão tô achando que Antoi da Piçarra lhe traiu, pois tá demorando além da conta.
Ao que Lampião, com absoluta segurança replica: - "De jeito nenhum. Naquele eu confio sem medo. Se antonio da Piçarra cavar um buraco no chão e mandar eu entrar eu entro".
Conforme Vilson o velho Antonio contava esse diálogo (que ficou sabendo) sempre com águas nos olhos. Uma prova de que sofreu sobremaneira quando teve que tomar a decisão de indicar onde Virgulino se encontrava com seu bando. A segurançada sua prole, de certo falou mais alto no seu coração.
JC -
Aurora-CE
www.prosaeversojc.blogspot.com

PEDRO LUÍS disse...

PARABÉNS SEVERO, BOSCO ANDRÉ E VILSON!!!

CARIRI CANGAÇO 2011 JÁ!!!!!!!!

Lima Verde disse...

Caros amigos do Cariri Cangaço, com certeza a presença de um neto de Antonio da Piçarra trará "luz" a esse episódio tão comenrado sobre a morte de Sabino no fogo da Piçarra. Abraços Severo.

Fernando Cesar Lima Verde

José Mendes Pereira disse...

Errei o comentário, pois eu estava em duas páginas do cariri cangaço ao mesmo tempo, não observei o texto na hora de escrever o comentário.

José Mendes Pereira - Mossoró-RN.

Anônimo disse...

Amigo Severo - parabens - belissimo trabalho.Estou em São Paulo-breve retorno.Saude-recomendações.Obrigado pelo teu esforço em promover e divulgar o tema cangaço.

Bruno Yacub disse...

Queridos, antes de mais nada quero deixar registrado o profundo agradecimento do povo de Brejo Santo à essas pessoas que se dedicam a preservação do cangaço e especialmente pelo estudo sobre o nosso saudoso Antônio da Piçarra. Mas também gostaria de perguntar sobre o cangaceiro João Calangro. Pois existem indícios da passagem dele pelo município de Brejo Santo, na localidade de Canabravinha, região da Serra do Poço, divisa com o PE. Amigo Manoel Severo, vocês possuem algum registro disso?

Grato,

Bruno Yacub