Antônio Amaury Correa de Araujo, o Cangaceiro Desarmado


Soube agora pela manhã do falecimento de Antonio Amaury Correia de Araújo. Trata-se do mais conceituado autor e pesquisador sobre a história do cangaço. Amaury, ao contrário do que inicialmente poderíamos pensar não era nordestino. Nasceu em Boa Esperança do Sul, interior de São Paulo. De formação acadêmica era odontólogo, mas aproximou-se do cangaço através da sua profissão, quando cuidou de pacientes ligados ao semiárido nordestino de forma direta e indireta. Fez-se amigo e recolheu depoimentos na capital paulista de personagens históricos como Zé Sereno, Balão, Sila, e tantos outros que agora me fogem da memória - aliás, a dele era prodigiosa - indo também como rastreador incansável bater alpercatas nos territórios nordestinos
assolados pelo homens que vestidos de mescla azul percorreram os ásperos terrenos das caatingas, em busca de ouro, dinheiro e , também, de liberdade, de espaços que ocupavam e desocupavam longe da tutela dos coronéis. Amaury, podemos dizer, não os perseguia, desejava reconstituir seus caminhos para conhecê-los melhor, desvendá-los, humanizá-los e auscultar aqueles, familiares, amigos, adversários, que assistiram, participaram como parceiros ou algozes ou ouviram dos seus antepassados as façanhas de Lampião, Corisco, Zé Baiano, Gato, Zé Sereno, Mariano, Luis Pedro, Antonio e Ezequiel Ferreira, Maria Bonita, Dadá, Ignacinha, Lídia, Nenê de Luis Pedro, Enedina, Sila e muitos mais.

Gastando do próprio bolso, aventurando sucesso ou frustração, meteu-se caatingas adentro em busca de suas fontes. Arrostando desconfortos, eventuais perigos e a dureza do clima, certamente muito hostil para ele, paulistano dos climas temperados, Amaury preencheu lacunas historiográficas, desvendou mistérios inerentes ao cangaço, pois que história forjada afrontando as leis e seus executores, deu guarida a fala popular com dignidade e tornando-a crível pelo aval que lhe conferia, antes muito questionado por intelectuais e acadêmicos. Estive com esse mestre notável em muitas ocasiões, inclusive em sua residência em São Paulo, gravando com ele para nosso documentário "Feminino Cangaço", comigo estava Lucas Viana, colega e amigo, cineasta e historiador, dele colhemos precioso depoimento, disponível no canal Youtube. Fica a saudade e um sentimento de perda, não só para mim, mas para todos aqueles que amam e desejam preservar a historia popular, sobretudo, para os que se dedicam em aprender sobre o cangaço, acontecimento histórico que legou imagens, poesia, narrativas, escritos acadêmicos. Neste universo, para onde quer que olhemos lá sereno e sombranceiro, encontraremos a figura e as digitais de ANTONIO AMAURY CORREIA DE ARAÚJO. Adeus velho mestre! Em seus livros que guardo e consulto na minha estante continuarei aprendendo contigo!

Professor Manoel Neto
UNEB - Salvador BA

4 comentários:

Anônimo disse...

Que maravilhosa homenagem. Parabéns.

Dr. Amaury é luz que não se apagará.

Anônimo disse...

Peia-Onca 🐆

Anônimo disse...

Entrou pra história

Anônimo disse...

Saberiam me informar se há alguém da família ou colega de pesquisa que possa me disponibilizar a cópia da carta de Padre Cícero a Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Pedro II Piauí. Na ocasião da passagem do bando de Manoel Sinhô Pereira.
luispaulorodrigues9@gmail.com ou 86981067918. WhatsApp. Desde já agradeço