A sede de justiça, o anseio por uma vida melhor e o desprezo nas quais viviam as populações sertanejas do século XIX e nos três primeiros decênios do século XX, as tornaram extremamente atraídas para misticismo, o sobrenatural e o milagre. Ignorantes, vulneráveis, miseráveis e desprotegidas viviam debaixo das botinas dos coronéis, do terror dos cangaceiros e da fé cega do fanatismo religioso.
Enquanto,
no Sul do Brasil a República dava seus primeiros passos, aqui no Sul do Ceara,
reinava absoluto um poderoso Império, onde o trono era a cadeira de balança dos
coronéis, a coroa o chapéu dos cangaceiros e o cetro o rosário dos beatos.
Nunca se presenciou tanto poder e tanto desmando. O poderio do Bacamarte acabou gerando o famigerado Império do Bacamarte, da força e das armas operando
abertamente e prestigiosamente no mais amplo sentido da palavra.
Conhecedor da história regional, e assim como todos nós
lavrenses, ouvíamos tais histórias de forma pejorativa, desagradável e com um
certo ar de reprovação. Usando da sua genialidade e aguçando seu faro de
pesquisador, Joaryvar Macedo, encontrou documentos e antigas publicações que mostraram
a importância de tais acontecimentos para a história do Ceará, do Nordeste e do
Brasil. A região do Cariri era de fato o berço da aristocracia cearense, as
famílias abastadas que por estas terras residiam eram ricas, poderosas e
prestigiosas. Num tempo onde o Estado de Direito não existia e as Leis eram ditadas
por elas.
Podemos afirmar que com O Império do Bacamarte, Joaryvar
Macedo contribuiu efetivamente para um melhor conhecimento da nossa História e
dos problemas sócios econômicos e políticos que afligiram a população
caririense pelo o abandono forçado de estruturas arcaicas, dos desmandos dos
coronéis, da crueldade dos cangaceiros e da credulidade dos beatos que juntos
defenderam seus interesses, mataram e mandaram ao seu bel prazer.
Apoiado nas pesquisas e documentado, Joaryvar Macedo, trouxe para
o centro da discussão sua terra natal, Lavras da Mangabeira, mostrou a
importância daquele lugar desde os primórdios, até meados do Século XX, assim
como em toda região, uma família era detentora da riqueza e do poder local. Em
Lavras não foi diferente, por lá, reinou por quase dois séculos Os Augustos,
família de grande prestigio, poder e riqueza, com uma pequena diferença, o
coronel de lá usava saias em vez de calças, sandálias em vez de botinas, mas,
montava, lutava e manuseava o Bacamarte como um varão.
O poder de Dona Fideralina Augusto e do seu filho Gustavo era
ilimitado, corajosos, valentes e ousados participaram ativamente do cenário
político caririense no Ciclo das Deposições e da Sedição de Juazeiro. Acontecimentos
que vieram à tona e revelaram a importância social e politica de Lavras da
Mangabeira, através das pesquisas de Joaryvar Macedo, e foram registrados na
sua obra O Império do Bacamarte.
No livro Joaryvar registra com tinta e caneta fatos ocorrido
com pólvora e sangue que aconteceram naquelas terras há tempos atrás, nos
mostrando que não havia nada de desagradável, nada pejorativo, ao contrário, a
história foi assim em todo Nordeste brasileiro, e sua terra natal, Lavras da
Mangabeira era tão importante e tão poderosa que disputava em pé de igualdade
com todas as outras.
Como todo lavrense inteligente e sagaz, Joaryvar Macedo usou
do poder da caneta e da inteligência para mostrar que Lavras da Mangabeira ao
perder o poder do Bacamarte, continuou no centro do poder, agora, os
intelectuais assumiram o poder deixados pelos coronéis de outrora. A pesquisa e
as letras são superiores a ignorância e a força. Somos conhecidos lá fora como
Celeiro de Intelectuais.
E, hoje, em 2022, Joaryvar mais uma vez ressurge e brilha, através da sua
família, que nos presenteou com a 4º Edição de tão importante obra para o mundo
da Literatura e da História nordestina; uma promessa feita e cumprida pelo seu
genro, Hélio Santos durante o Seminário Temático Cariri Cangaço/ Edição
Fortaleza, 2018.
Como se não bastasse à satisfação de
participar do evento, ainda fui convocada pelo grande amigo lavrense, Dimas
Macedo para representa-lo naquele grandioso momento. Dimas que é sobrinho e
herdeiro literário de Joaryvar Macedo, sempre levou a sério e afinco o legado
do tio, dando continuação às pesquisas e as publicações, enfatizando ainda, que
a sociologia do trabuco que Joaryvar
Macedo revela no seu livro plural e singular um clássico da Sociologia Política
do Nordeste, e, um monumento literário também, pois Joaryvar já é, nos dias de
hoje, o historiador maior, como será, de fato, saudado no futuro. O futuro e
agora.
Cristina Couto, presidente da Academia de Letras de Lavras da Mangabeira e Conselheira Cariri Cangaço, 04 de Março de 2022
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