Não devemos ser juiz de um povo!

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Olho no Olho...
Por João de Sousa Lima.
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Pesquisador e escritor João de Sousa Lima

Lampião tinha por estratégia e por necessidade o apoio de todos os sertanejos, sendo eles dos mais simples criadores aos grandes coronéis, políticos, padres ou fazendeiros. Vivendo como vivia, em constantes fugas e tiroteios, era imprevisível contar com a ajuda de todos os seguimentos que povoavam o nordeste. Muitos ajudaram Lampião por medo, outros por dinheiro e outros ainda por admiração ao estilo de vida dos cangaceiros.

Há vários fatores que fizeram com que Paulo Afonso liberrase para o cangaço o maior contigente de jovens, entre homens e mulheres. A aproximação com os índios Pankararé, no centro do Raso da Catarina, as mulheres que se apaixonaram pelos cangaceiros, o estilo de vida simples de algumas famílias onde as vezes a fome se fazia presente, a perseguição policial, violenta, espancando  as famílias para darem conta de cangaceiros, quando na maioria das vezes nunca tinham tido contato com eles.

Acho que Lampião, é antes de tudo um capítulo histórico nordestino, com ligações próximas com o vaqueiro, com o boiadeiro, pertenceu a um tempo e a um momento diferenciado, viveu uma fase distinta.Toda a hístória da humanidade, as comunidades viveram tempos de guerras, batalhas, é difícil citar trajetórias que não tenham lutas sangrentas que marcaram épocas. A própria criação se debruça em pilares de lutas, de traições e de mortes.

O mais importante a um escritor e pesquisador
é não julgar a história, seus fatos acontecidos, suas lutas geradas ao longo do tempo. O mais importante é tentar levantar os reais acontecimentos e assim registrá-los.

Não devemos ser juiz de um povo, de uma luta, de um partido, de uma causa defendida. Há homens que morrem pelo que defendem e nesse meio há traidores, há os que são contrários, porém se não estivermos ligados diretamente com os lados envolvidos, se formos apenas mensageiros da história, devemos então registrá-los , repassá-los, respeitá-los.

João de Sousa Lima
Pesquisador, escritor, poeta
Paulo Afonso-Bahia
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10 comentários:

José Mendes Pereira disse...

Um ótimo esclarecimento sobre os demais motivos do cangaço.

Este parágrafo foi muito bem elaborado, culto e inteligente.

"-Não devemos ser juiz de um povo, de uma luta, de um partido, de uma causa defendida. Há homens que morrem pelo que defendem e nesse meio há traidores, há os que são contrários, porém se não estivermos ligados diretamente com os lados envolvidos, se formos apenas mensageiros da história, devemos então registrá-los, repassá-los, respeitá-los".

Parabéns pela excelente criatividade.

José Mendes Pereira - Mossoró-RN.

Anônimo disse...

Quero parabenizar o nosso mestre e querido amigo João de Souza Lima
por sua belíssima postagem.

Todas as suas palavras, o seu raciocínio, são de uma verdade absoluta.
Tudo que você disse em relação ao viver cangaço/caatingueiro é de uma
clareza absoluta e extraordinária.

A palavra coiteiro, aquela que procura denegrir o homem sertanejo,
seja ele um simples lavrador, ou um fazendeiro de grande posição, é
injusta e não espelha a verdade do que acontecia em nossos sertões
abandonado e entregue ao horror do cangaço e a ferocidade dos homens
das volantes.

João, parabéns. O seu texto mostra o quanto você é conhecedor e
trabalha com seriedade este tão apaixonante instante de nossa
história, a história do sertão, do cangaço e de Lampião.

Abraços, do amigo.

Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo

Juliana Ischiara disse...

Amigo João de Sousa, seus textos são características marcantes de sua competência enquanto poeta e historiador. Como disse o grande Miguel de Cervantes, “O poeta pode contar ou cantar as coisas, não como foram mas como deviam ser; e o historiador há-de escrevê-las, não como deviam ser e sim como foram, sem acrescentar ou tirar nada à verdade”.

Nesta linha de raciocínio, a obrigação do pesquisador e ou historiador é a busca da verdade real, expondo o que efetivamente aconteceu. Tal exposição é a condição primeira, indispensável a sua responsabilidade em passar os fatos não como gostaria que tivesse sido, mas tão somente como o foi. Mergulhar em um universo como o cangaço não é uma tarefa fácil, pois que estamos sujeitos a nos afeiçoar a uma facção em detrimento da outra e é exatamente neste momento que se faz necessário nos agarramos a tão árdua condição da neutralidade, pois devemos ser fieis a história em detrimentos da particularidade que compreende nossas opiniões, conceitos ou preconceitos.

Não cabe a nós, a tarefa de julgadores, pois este é o papel da história e como disse Sócrates, somos os facilitadores, o veículo usado por ela, para fazer emergir toda sua verdade.

Querido amigo, parabéns pelo texto e pela corajosa e árdua missão de falar qual o real papel do pesquisador.

Saudações cangaceiras
Juliana Ischiara

IVANILDO SILVEIRA disse...

AMIGO JOÃO:

Falar de sua coragem e abnegação no trato da divulgação real dos fatos do cangaço, se torna redundante, ante a sua personalidade de pesquisador/historiador incansável e coerente com os acontecimentos.

Ler seus textos bem elaborados, se tonou uma obrigação daqueles que cultuam o estudo sério do fenômeno do cangaço.

Parabéns amigo, e que Deus lhe acompanhe na sua jornada.

Um abraço do amigo e admirador

IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN

Gilmar Teixeira disse...

Para dizer tudo isso em poucas palavras é preciso nascer nas paragens do velho pajeú,ou simplesmente em São José do Egito,terras dos poetas e cantadores das legitimas trovas sertanejas,como nascir do lado de cá só me resta parabenizar,valeu Seu Jão.

João de Sousa Lima disse...

Confesso minha emoção diante de tão penetrantes palavras dos meus nobres e queridos amigos, Juliana, Gilma, Alcino, Ivanildo e José Mendes.
me dignifica e honra muito vossas considerações, me sinto como barro nas mãos da aufareiro, sendo moldado, tomando forma, crescendo, aprimorando, criando vida...

Anônimo disse...

Nesse caso entao, Frederico Pernambucano ou Erik Hobsbawn (teoria do bandido social), por suas analises historicas e sociologicas, onde apontam diversas interpretacoes de um fato, ficarao fora da categoria de historiadores, ja que fazem extensos julgamentos sobre isso ou aquilo em seus livros. Acho meio apressado o raciocinio do pesquisador entrevistado.
Saudacoes
Bruno Tavares

(desculpem a falta de acentos, pois meu teclado e para lingua inglesa)

Anônimo disse...

Muito lúcido o artigo do pesquisador João Lima, parabens!

Lidia Rabelo

João de Sousa Lima disse...

Caro Bruno Tavares,
o pior cego é aquele que vê e não enxerga, além de que Frederico e o Erik não são donos absolutos da verdade e nem ditam regras dentro do contexto histórico de uma nação, eles são bons no que fazem, apenas isso e seus estudos são importantes e relevantes, agora a partir de qualquer análise de um dos dois que venha com algum tipo de preconceito ou de análises que possa ferir a honra de nossas histórias, sendo elas de sangue, lutas e mortes, serei eu o priomeiro a cair feito raio na cabeça, criticando-os. Eles sabem tanto disso, tem tanta consciência, que levam seus trabalhos com seriedade e por isso são conhecidos por todo.
Leia novamente o texto e se não o compreeender me procure para que eu te dê as devidas explicações.
Aproveite e diga a Frederico que se ele estiver fazendo análises (eu não acredito pois sou leitor dos seus escritos e desconheço)sobre os fatos sociais e fazendo interpretações que desmereçam a história, essas sim serão análises passíveis de repostas apressadas e sem raciocínio lógico e consensual.

Bruno Tavares disse...

Prezado Sr Joao. Lerei com mais profundidade as obras de Hobsbawn e Pernambucano de Melo. Desde ja fica retirado o que escrevi anteriormente. Saudacoes, Bruno