Mané Véio : O feroz da Santa Brígida Parte I Por:Alcino Costa

Alcino Alves Costa

Em meu livro, “Lampião além da versão”, página 361, sob o título “O carrasco de Angico”, eu discorro sobre pedaços da vida de Manoel Marques da Silva, o celebrado Mané Véio de Jacó. Para não sermos repetitivos deixaremos de lado os seus espetaculares feitos da Grota de Angico e vamos discorrer um pouco mais sobre a sua história durante e depois do cangaço.
            
Mané Véio iniciou a sua vida militar na condição de “contratado”. Evento que aconteceu no dia 29 de outubro de 1929, quando tinha apenas 17 anos. O seu primeiro comandante foi o 1º tenente Francisco Moutinho Dourado, famosamente chamado de tenente Douradinho. Em 1930, na fazenda Arrasta-pé, então município de Santo Antônio da Glória, hoje Paulo Afonso, na Bahia, Mané Véio teve o seu primeiro batismo de fogo em um combate em que ninguém foi morto e nem ferido. O 2º combate foi mais cruento. Dele participaram as volantes do 1º tenente João Macedo, este da Bahia, e a do sargento Luiz Mariano, de Pernambuco. As duas “forças” tinham um efetivo de 40 homens. Os inimigos formavam um contingente de mais 50 cangaceiros. O combate foi vigoroso e forte. O tenente e o sargento foram baleados.

Nesta altura o menino de Santa Brígida começava a se destacar pela sua coragem e valentia. O cangaço dizimava o Raso da Catarina. O 1º tenente do exército brasileiro, Liberato Carvalho, irmão de João Maria da Serra Negra, foi enviado de Salvador para o sertão baiano. A sua missão era caçar sem trégua Lampião e seus bandoleiros que estavam assolando aquele pedaço de sertão. Mané Véio foi transferido para a companhia do famoso tenente. Como se sabe, o mocinho de Santa Brígida estava ao lado dos tenentes Liberato e Mané Neto quando do célebre “Fogo da Maranduba”, naquele início de janeiro de 1932, quando Lampião obteve uma de suas mais espetaculares vitórias na sua guerra particular contra os nazarenos; em especial com o seu figadal inimigo Mané Neto.

Foi neste combate que um dos valentões de Santa Brígida, Elias Barbosa, tio de  Mané Véio, foi baleado e morreu. Pocidônio, que era filho de Elias, também foi baleado, e Mané Véio ficou surdo pelo resto de sua vida em virtude do estouro do fuzil que usava naquele memorável tiroteio.         

Uma terrível desgraça aconteceu com Mané Véio. Dominado por um ciúme doentio mata a sua esposa Cidália. Processado, o descendente dos Jacó teve que mudar de Estado. O seu destino foi Alagoas. No dia 26 de novembro de 1936 chegou a Maceió. Imediatamente foi posto a disposição do 2º Batalhão aquartelado em Santana do Ipanema, no Alto Sertão Alagoano e engajado na volante do tenente João Bezerra da Silva.            Documentou Mané Véio, de seu próprio punho, que antes de Angico ele participou de um combate, acontecido no dia 2 de fevereiro de 1938, na fazenda Riacho Preto, município de Mata Grande, nas Alagoas, oportunidade em que morreram três cangaceiros, porém ele não cita nomes. 


Sobre Angico, Mané Véio se coloca como proeminente personagem daquele notável acontecimento da vida nordestina e brasileira. Os seus registros dão conta que a força militar era composta de quarenta homens, sendo vinte pertencentes à volante do aspirante Francisco Ferreira de Melo, dezenove soldados e contratados e um civil que era o bagageiro do tenente, estes sob as ordens de João Bezerra. Lampião estava em Angico, segundo as suas afirmativas, com 55 homens e ainda esperando Corisco, com mais 9 asseclas.

O moço da Bahia atesta que foi ele o responsável pelas coordenadas que culminaram com o cerco e o jamais esperado resultado daquela inesquecível empreitada. Mané Véio, pleno de convicção, afirma ter sido ele quem orientou João Bezerra no instante final do ataque dizendo-lhe que dividisse os quarenta homens em grupos de cinco e todos investissem sobre o riacho e o coito de uma só vez. No dizer do baiano, assim foi feito e o lendário combate demorou aproximadamente trinta minutos. E o resultado todos conhece. Em Angico morreram Lampião, Maria Bonita, Enedina, mais oito cangaceiros, e o próprio cangaço.


Diz à história que após tirar a vida de Luís Pedro, Mané Véio decepou as suas mãos, na pressa de se apossar dos anéis que enfeitavam os dedos do famoso assecla. Enriquecido com o saque e não querendo perder todo aquele cabedal: dinheiro, jóias, ouro e outros objetos, o valentão da Santa Brígida deixou à volante e arribou no mundo. Não podia retornar para a Bahia, o seu sertão e nem a sua tão amada Santa Brígida. Ali havia praticado um bárbaro crime. Num instante de completa insanidade, e acometido de extremado ciúme, assassinou a sua esposa Cidália. O processo era sério e grave. Se caísse nas mãos da justiça iria ser condenado.


Seguiu um novo caminho. Coragem tinha de sobra para enfrentar qualquer desafio. E lá se foi o matador de cangaceiro para o distante e desconhecido Estado de Goiás; mas, esse capítulo fica para a próxima postagem, aguardem...


Continua...


Alcino Alves Costa
O Decano, Caipira de Poço Redondo
Sócio da SBEC, Conselheiro Cariri Cangaço

5 comentários:

Anônimo disse...

Alcino seu texto é primoroso, obrigado por nos proporcionar conhecer esses personagens que pouco se ouve falar.

Netinho

www.educarcomcordel.blogspot.com disse...

Mestre Alcino sempre nos encantando com seus textos brilhantes.
Um abraço, grande amigo!


Paulo Moura

Anônimo disse...

Narrativas importantes que sem duvidas enriquecem com mais detalhes o ambiente e a época em que aconteceram os tantos episódios da Era Do Cangaço. Daqui também do semi árido baiano onde nasci observei que do CUMBE, hoje cidade de Euclides da Cunha a Olindina e além, das poucas raríssimas cidade não invadidas por cangaceiros foram Caldas de Cipó e Nova Soure, cidades limítrofes e cujas sedes distam apenas 16 kms. Cipó, por resistir e também por pagar por isso, e Nova Soure por ter como Padroeira local a Nossa Senhora da Conceição, confirmando-se sem margem de dúvidas o respeito que havia por parte de Lampião que jamais incomodou os habitantes deste e de outros municípios.
ranieri caetano - poeta autor de Apologia das Águas-1999

João M. da Silva disse...

Gostaria que ficasse claro que ao matar a esposa mané veio, deixou um filho chamado ABÍLIO MARQUES DA SILVA, que foi criado pela avó, eu sou filho de ABÍLIO e neto do mané Véio, embora eu gostasse de ouvir as histórias do meu avô meu pai jamais o perdoou nem mesmo falou com ele até seus últimos dias.

João M. da Silva disse...

Gostaria de me comunicar com familiar Marques da Silva,que possa existir aí pela região meu e-mail: kafingadodo@hotma.com