Maranduba Por:Alcino Alves Costa

Alcino Alves Costa

A monstruosa perversidade de Canindé chocou a gente sertaneja. A notícia se espalhou por todos os quadrantes nordestinos. Era necessário deter a opulência, a grandeza e o poder do invencível bandoleiro. Os horrores de Canindé teriam uma dura resposta. Ordens e mais ordens são, com urgência, expedidas. Rádios e telégrafos não param. Lampião sofrerá uma perseguição medonha. Será caçado como se fosse um cão danado.Alagoas exige rigor total em sua fronteira. A linha do São Francisco será severamente fiscalizada, guardadas pelas forças comandadas pelo renomado José Lucena de Albuquerque Maranhão, matador, no dia 29 de junho de 1920, de José Ferreira da Silva, o pai de Lampião.Da Bahia são transmitidas sérias ordens destinadas para Jeremoabo, ordenando ao seu numeroso contingente que marche rápido e urgente, para as terras sergipanas.Mané Neto, o pernambucano de Nazaré, à frente de seus nazarenos, abala-se de Jatobá com destino à zona de atuação dos cangaceiros, região que havia se tornado o novo mundo de lutas e tropelias do grande guerreiro do Pajeú.

Assim que deixa Canindé, Lampião, levado por pesados pressentimentos, resolve se homiziar nas fazendas e terras de Piduca Alexandre e João Maria, os potentados da Serra Negra e irmãos do famoso comandante das forças baianas Liberato Carvalho. Sabe Lampião que os acontecimentos de Canindé despertariam um ódio brutal e uma fúria intensa nas volantes e nas autoridades. Na beira do São Francisco os nazarenos vasculham portos, estradas e veredas. Os de Nazaré e Lampião são ferozes inimigos. 


A Cruz dos Nazarenos em Maranduba

Nazaré é o pequeno povoado de Pernambuco onde quase todos que ali viviam eram mortais desafetos dos Ferreira, do riacho São Domingos. Está na história à valentia e o destemor dos "cabras" da antiga fazenda Algodões, bravos sertanejos que tendo sobre seus destinos a inimizade sanguinária do maior dos cangaceiros souberam dignamente enfrentá-lo, mostrando que eram "casca do mesmo pau". Inimizade velha, antiga, nascida desde o tiroteio travado entre os três perigosos irmãos e os homens da antiga fazenda Algodões, com Odilon Flor à frente. Naquele combate Livino Ferreira foi baleado pelo soldado do destacamento João Agostinho e posteriormente preso, após ser encontrado na casa de Chico Eusébio. 

Nesta ocasião os nazarenos Cícero Leite e Arconso " irmão de Mané Neto " aconselharam que o melhor seria matar Livino, pois só assim evitavam problemas futuros com ele. Odilon Flor rejeitou a idéia, preferindo levar o irmão de Lampião até a cadeia de Nazaré. No outro dia o ferido foi levado para Floresta.Em 1923 entram para as forças repressivas os dois primeiros nazarenos: Manuel de Sousa Neto e Odilon Flor.Lampião, entre aborrecido e magoado, vê sua própria gente, aqueles que desde criança conhece, pegar nas armas do governo para persegui-lo. Em pouco tempo, quase toda família nazarena, representada pelos seus jovens, formava nas fileiras perseguidoras dos bandidos da Ingazeira.

Família de valentes: os Jurubeba, os Ferraz, os Nogueira, os Soriano, os Gomes e os Flor; destemida e desassombrada gente que fazia o chão caboclo de Pernambuco tremer sob a mira de suas armas. Todos eles, sertanejos valorosos que tudo fizeram para exterminar os temíveis e medonhos Ferreiras.


Maranduba

Os "cabras" da terra de Domingos Soriano passam a ser comandados por um dos seus próprios filhos, o lendário Mané Neto, filho de Gregório Nogueira e irmão de Afonso e Arconso. Mané Neto torna-se um feroz perseguidor de Lampião e seus asseclas e, quando recebe a noticia do dantesco episódio de Canindé, corre apressado para as terras alagoanas.Sabe o nazareno que seu grande desafeto não está nas Alagoas. O cordão repressivo esticado por Lucena, na linha do São Francisco, impedia completamente a passagem dos facinorosos para aquele Estado.A "força", que vinha de Jatobá, descansou em Pedra de Delmiro e dali seguiu para Piranhas. Era pensamento do bravo militar em dar um aperto em Joca Bernardes e Pedro de Cândido, dois famosos coiteiros que gozavam de muita intimidade junto aos bandoleiros.

Da Bahia viaja a volante comandada pelo tenente Liberato de Carvalho. Essa tropa não sabia nada sobre o ocorrido em Canindé. O destino dela era a fronteira desse Estado com Sergipe e o ponto visado era a fazenda onde residia o pai de Maria Bonita, a Malhada da Caiçara.Liberato havia recebido ordem de matar o pai da companheira de Lampião. Para sorte do inocente, cujo único pecado era ser genitor da famosa rainha do cangaço, o mesmo não se encontrava na fazenda. Estava no Estado de Alagoas visitando parentes em um lugarzinho bem perto de Arapiraca ou Porto Real do Colégio.Na Malhada da Caiçara, o irmão de João Maria é cientificado do terrível acontecido em Canindé, e para lá, imediatamente, se desloca.


Manoel Neto

O famoso militar baiano presta sua solidariedade ao derrotado tenente Matos. O clamor do povo era deveras sem igual. Maria Marques, Isaura e Anízia continuam a sofrer as dores dos suplícios recebidos. Canindé conhece os seus piores dias. O tenente, humilhado e derrotado, não tem forças para reagir. Jamais pensara em passar por tão dura prova. Jamais poderia imaginar que um matuto fosse capaz de impingir-lhe tão duro revés.Uma das supliciadas de Canindé (Maria Marques) é de Santa Brígida e parenta de alguns soldados da volante da Bahia. Os parentes, compadecidos e raivosos, jurando uma medonha vingança, procuram consolá-la. O "contratado" Elias é o mais furioso e o que fica mais tempo consolando sua patrícia, mas sem ter como minorar a dor que o ferimento causava na infeliz senhora.Liberato reúne seus homens e resolve seguir para Alagoas. Primeiro iriam até Pedra de Delmiro e do antigo reduto do cearense saberia que rumo tomar.Nada tinha a fazer no meio daquela gente ferida e apavorada. Restava, agora, encetar uma grande perseguição e procurar encurralar o bandido da Passagem das Pedras e sua turma sanguinária.Com sua gente abastecida, os bornais cheios de mercadorias do armazém do mestre Cícero, e depois de mais uma vez consolar o infeliz tenente, além de garantir ao povo que Lampião pagaria caro a sua ousadia, o oficial do exército dá sinal de partida. Sua volante, resoluta, disposta e destemida se encalça no rastro da nefasta caterva.

Ao chegar à famosa povoação alagoana o comandante da força baiana é avisado da passagem de Mané Neto. Retorna, então, para a beira do São Francisco. O destino agora é Piranhas. No espigão da serra ribeirinha faz parada. Envia um mensageiro até a cidade das margens do "Velho Chico". A presença de Mané Neto naquela localidade é confirmada. Imediatamente entra em contato com o pernambucano e acordam em atravessar o rio e caçar Lampião e sua malta juntos.As duas volantes formam um conjunto de verdadeiras feras; verdadeiros titãs; verdadeiros gigantes. No entanto, embrutecidos pelos anos de luta e combate, os de Nazaré haviam adquirido muito mais experiência. Naquela altura de suas andanças eram considerados verdadeiros mestres na arte de guerrear. 


Visita da Caravana Cariri Cangaço à Maranduba

Os baianos, sem possuírem aquele traquejo, uma vez que há menos de cinco anos combatiam Lampião e seus sequazes, mesmo assim, suportavam todo peso da medonha jornada. Ali estavam, sob o comando de Liberato, afamados valentões da Bahia. Homens do quilate de Elias Marques e seu filho Procidônio, o bravo Leonídio, João Pintadinho e seu irmão Martim; ainda Antônio Bolachão, João Batista, os rastejadores Joaquim Lima e Barbosa e alguns outros destemidos "contratados".As volantes unificadas seguem para Sergipe. O povoado ribeirinho de Cajueiro é o primeiro a ser visitado. Lá e em seus arredores vive uma leva muito grande de perigosos coiteiros: os Félix, os Rosas, os vaqueiros de Antônio Caixeiro e os da Badia.

toda essa gente sabia do roteiro de Lampião e seu bando. Era uma verdade. Naquelas paragens da beira do lendário rio sertanejo, o grande bandoleiro se considerava em sua própria casa. Mesmo assim, naquela passagem não iria se demorar. Sabia que seria tenazmente perseguido e apesar dos insistentes pedidos de seus comandados que desejavam realizar um baile, na fazenda Santa Cruz não se demorou. Apressado, se embrenhou na mataria.A volante vinha célere em seus pisos.surge, então, um grave obstáculo no meio da tropa. Sério inconveniente que, como adiante se verá, se tornou em uma total e absoluta tragédia.Quais os problemas surgidos?os homens de Pernambuco, veteranos das caatingas, achavam que possuíam uma ascendência muito grande sobre os da Bahia. Estes, na verdade, inexperientes e sem o traquejo dos pernambucanos, eram, como aqueles, valentes ao extremo. Todos eles acostumados com o mundo bravio dos sertões, uma vez que também eram filhos daquelas terras de sofrimento. 

Orgulhosos, não aceitavam as provocações e nem os "dixotes" dos do sertão do Pajeú.As desavenças aumentaram. O nunca esperado aconteceu. Os comandantes das volantes tomaram posição, cada um em favor de seus comandados. A soberbia do vesgo de Nazaré criava, ainda mais, em Liberato e seus comandados reações que estavam beirando ao desprezo e ao ódio. Se o nazareno queria porque queria demonstrar ser ele e os seus os maiores, os melhores, os realmente valentes; o irmão de João Maria não fazia por menos; asseverava alto e bom som, que sua volante era a que possuía os homens mais valentes do Brasil e do mundo. A porfia se tornou tão severa que não se pensava mais em Lampião, o empenho agora consistia em quem era quem na caça ao lendário bandoleiro.O despeito e a vaidade dos dois comandantes foram à causa da perdição dessa numerosa tropa.


Aderbal Nogueira em uma das pias da Maranduba

Os perseguidores já ultrapassaram os difíceis carrascos das serras do São Francisco. Agora caminham pelas terras brancas de Poço Redondo. Passam pelas lagoas da Pedra e do Curral. A tarde descamba. O sol vai se escondendo no horizonte. A caterva se destina a fazenda de China, o Recurso.Lampião e seu bando estão nos arredores da Queimada Grande de Piduca Alexandre, um dos irmãos do comandante baiano que está no encalço da malta bandoleira.a  jornada está sendo muito forte. Cada componente de uma das volantes não quer, sob pretexto algum, demonstrar fraqueza ou cansaço. Na verdade, o esforço que estão fazendo está deixando a maioria dos soldados completamente sem forças e extenuados.A sede, a fome e o sol escaldante deixam todos relegados a verdadeiros trapos humanos. E era este inesperado fator a grande vantagem dos bandoleiros perseguidos.O sertão está encoberto pelo manto escuro da noite.

Os enfraquecidos e combalidos "macacos" já estão desanimados. Formam pequenos e separados grupos, uns bem distantes dos outros.A noite chega e chega com uma escuridão de azeviche. Impossível alguém conseguir caminhar em hora tão imprópria.Mas, os obstinados comandantes não param. Desprezando todas as normas militares, dominados pelo orgulho, prepotência e empáfia, são impedidos de raciocinar corretamente. Imperdoável atitude que arruinou as volantes, jogando seus componentes numa das maiores tragédias da campanha cangaceira, com muitos feridos e outros mortos.A ordem era mostrar força e coragem, nunca sinais de fraqueza.A noite deixa todos sem saber para que lado seguir. Escutam o tilintar de chocalhos. Conhecem profundamente as coisas sertanejas. Sabem que as campainhas estão no pescoço da "miunça" (cabras ou ovelhas) de alguma fazenda próxima. Caminham na direção dos guizos. Sabiam que se espantassem as criações, elas correriam para o chiqueiro da propriedade que pertenciam.Assim foi feito.

Tangidos pelos soldados os animais correm para a fazenda. A tropa se orienta pelo tilintar das sinetas. Horas depois desponta numa grande malhada. Estavam na afamada Queimada Grande.Os perseguidores estão vencidos pela sede e pela fome. Cansados e estropiados procuram o tão almejado e merecido descanso. Estão morrendo de sede. Saciar a feroz sede e a terrível fome que está destroçando os soldados é a principal e urgente prioridade dos comandantes.A água disponível é muito pouca. O vaqueiro e seus filhos se apressam em ir apanhá-la nas pias ali próximas. Potes e cabaças transportam o precioso liquido. A água é pouca. A soldadesca está morrendo de sede. velho vaqueiro é pai de Zé Joaquim, o rapaz que anos depois foi barbaramente assassinado pelo perverso Juriti. Antônio Joaquim oferece seus préstimos aos soldados, mas pouco conversa. Cumpre suas obrigações para com os militares sem, no entanto, demonstrar a menor alegria.Já é madrugada e ainda continua chegando "macaco". 


Lampião e Juriti

Um grupo confirmou que na Lagoa do Vestido e na Lagoa do Cocho ficaram vários companheiros arreados, por não suportarem a sede. Providências teriam que ser tomadas para acabar com o tormento dos companheiros.Os soldados são da Bahia, seu comandante ordena que João Pintadinho e seu irmão Martim sigam imediatamente, acompanhados de um dos filhos de Antônio Joaquim (Manoel) e levem água para os sedentos.O que a tropa não havia percebido era que a sisudez do vaqueiro tinha um motivo altamente justificável; Lampião e sua malta haviam deixado a fazenda naquela tardinha e, com toda certeza, estavam pernoitando pelas redondezas.Levado por um misterioso pressentimento, Lampião, em vez de pernoitar na grande fazenda de Piduca, que seria a opção coerente e certa, prefere viajar um pouco mais e ir dormir na fazenda Santo Antônio, há uma légua acima da Queimada Grande.À noite a "força" chega à fazenda do homem da Serra Negra.O combate será iminente. Soldado e bandido estão praticamente juntos.O relacionamento entre as volantes continua lastimável. Os dois comandantes, em vez de procurar acabar com o problema, deixam de lado os seus deveres e responsabilidades, desprezando a condição de chefes daqueles servidores da lei e da ordem; para, ainda mais, através de suas desmedidas vaidades, aumentarem a animosidade existente entre seus homens, esquecendo que aquela dura missão que lhes fora confiada tinha como especial finalidade o extermínio do flagelo, da peste que destruía tudo, o cangaço.

A porfia dos pernambucanos com os baianos havia se tornado num perigoso e grave problema. As volantes eram compostas de homens geniosos e soberbos. Todos, encaprichados, não queriam "dar o braço a torcer", não permitindo que um se mostrasse mais valente, mais forte, ou ainda, mais capaz do que o outro.A vaidade, o capricho e a soberbia foram alguns dos maiores males da gente sertaneja.Naquela mesma noite, mesmo com seus homens cansados e estropiados, Mané Neto, querendo se mostrar o homem de ferro, de sem igual resistência, que tanto alardeava, fez questão que seus comandados seguissem em frente, sem considerar a dramática situação que todos se encontravam. A ordem do militar de Pernambuco era uma afronta, um acinte a dignidade humana; seus comandados e os da Bahia estavam estropiados, esfolados e cansados da penosa caminhada. A noite é avançada. Por que seguir mais além?A ordem teve que ser comprida. A tropa nazarena seguiu em frente, foram dormir na fazenda Poço do Mulungu. Bem perto, menos de meia légua, do local onde Lampião e seu bando dormiam.Cedinho, ainda madrugada, os baianos despertam e viajam. Com eles à vontade de alcançar os pernambucanos ainda pela manhã.

Os baianos estão animados, alegres e descontraídos. À noite de descanso havia ajudado bastante. João Batista, zombando de Mané Neto, imita o seu caminhar desmantelado, defeito adquirido desde o combate da Serra Grande quando saiu baleado nas pernas.No Poço do Mulungu as volantes voltam a ficar juntas. Experientes, começam a sentir um clima de combate. Algo estranho, misterioso e diferente paira no ar. Todos se voltam para os perigos de um tiroteio. A iminente batalha forma uma cadeia de união que até então faltava entre eles. Só agora percebem que estão expostos e sujeitos aos mesmos perigos. A qualquer instante estarão enfrentando a cangaceirada, razão mais do que suficiente para que se unam e se preparem para a terrível luta que os espera.Ainda cedo chegam ao Santo Antônio. É o local aonde a cabroeira dormiu.Madrugadores, os cangaceiros haviam se retirado. Deixam uma verdadeira rodagem. Não se preocupam em esconder a trilha. Não se tem mais dúvida, o tiroteio será sem tardança.Apesar do descanso da noite a soldadesca ainda sofre com os rigores da fortíssima caminhada que estava encetando. Um grande número de soldados, principalmente os da Bahia, está destroçado, sem nenhuma condição física. Muitos deles já haviam atingido o limite máximo de suas resistências, estavam enfraquecidos e combalidos, por conseguinte não tinham condições de acompanhar o ritmo avassalador dos nazarenos que, doidos para se confrontarem com o grande inimigo, se distanciavam cada vez mais dos baianos.



Liberato percebe que seus comandados não estão suportando aquela duríssima jornada e, preocupado, ver seus soldados dispersos e muito afastados uns dos outros. Procurou agrupá-los; porém, temendo a reação de seu colega que bem poderia imaginar que tudo não passava de uma manobra para não enfrentar o rei dos cangaceiros, resolveu silenciar e deixar tudo correr conforme o momento se apresentasse. Jamais daria lugar para o nazareno pensar que ele e os seus teriam medo de enfrentar os facinorosos comandados pelo capitão do cangaço.A trilha é fácil, muito clara. Os bandidos caminham na direção dos cerrados de cipó de leite da Maranduba, braba caatinga de Poço Redondo.Os "fechados" da Maranduba eram, e ainda são, uns dos mais falados daquela região sertaneja de Sergipe. Mataria grossa: o cipó de leite, o bom nome, o angico, a aroeira, a braúna, a barriguda, a umburana, a quixabeira e o umbuzeiro fazem daqueles desertos, moradia do gato, da ema, do caititu, do tatu-bola e do peba. Baixadas e grotões onde só vaqueiros campeões corriam atrás de bois; corredores famosos como os Soares, o maioral Milinho; João Preto, os Teobaldo, os da Cuiabá e os de João Maria: Adolfo e Manezinho Cego, o famoso Manezinho de Rosara.Bem próximo, naquele emaranhado quase que intransponível de caatinga, está o coito de Lampião. É naquele local que as mulheres cangaceiras esperam seus homens que retornam de mais uma de suas costumeiras razias

.Os soldados vão chegando.Chegam numas pias. Espantados, vêem pingos d"água que caem da madeira que cobre a fonte de pedras. À hora havia chegado. Os bandidos estavam nos arredores acoitados.Ao redor do lajedo apenas uns quinze homens das volantes. O grosso da tropa está atrasado. Alguns soldados estão na casa velha da Maranduba e outros ainda nem lá chegaram. Mané Neto, louco por uma desforra, resolve não esperar os retardatários, segue em frente, sabe que os homens de Lampião estão bem próximos, ali naquela mataria.No entanto, não sabe o valente militar que a natureza havia presenteado aquela parte da caatinga com um extraordinário anel, formado por um maravilhoso circulo. Sete umbuzeiros circundam belamente as pias. É uma paisagem de raríssima beleza. É nesse anel modelado por sete umbuzeiros que Lampião se refugia com sua cabroeira.Havia chegado naquele mesmo instante. Coisa pra menos de meia hora. Demorara-se um pouco nas pias e agora espalhava seus homens pelas sombras dos umbuzeiros.A alegria é geral. Abraços e vivas faz a felicidade de todos. Os bandidos formam uma só família. Vivem irmanados pela dor e pelo sofrimento.

Alcino Alves Costa
Fonte:revistacaninde.blogspot

NOTA CARIRI CANGAÇO: Nossa visita à Maranduba em 2011 foi sem dúvidas muito marcante, não só por estarmos pisando um dos solos mais emblemáticos de toda a saga cangaceira de Virgulino Ferreira, mas principalmente por ter sido nossa última grande caminhada ao lado do Mestre Alcino Alves Costa pelas terras de nosso Sertão Alegre.

Um comentário:

Professor JM disse...












Sinto muito por não ter conhecido este grande e dedicado historiador e homem do povo. Fui agraciado com um dos seus livros, presente de um amigo comum,poucos dias antes da sua morte, o qual guardo com grande cuidado e sempre o releio, mormente para sentir o orgulho e a ênfase que ele dava às historias do cangaço.