A Casa de Lídia Recebe o Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022

Caravana Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022 na casa da cangaceira Lídia

O Cariri Cangaço é uma grande construção coletiva, a união de fatores, recursos e esforços dos vários parceiros e colaboradores é que contribui sem dúvidas, para o sucesso do evento, e em Paulo Afonso não foi diferente. "A Comissão Organizadora em Paulo Afonso, com o Conselheiro João de Sousa a frente, e os Conselheiros; Flavio Motta, Marcus Vinícius e Luma Holanda, além de uma grande equipe de retaguarda nos deram as condições necessárias para realizar esse grande evento, a presente visita às ruínas da Casa da Cangaceira Lídia é um exemplo disso" reforça Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço.

Manoel Severo, Betinho Numeriano, Ivanildo Silveira, João de Sousa, Valdir Nogueira, 
José Irari, Zé Tavares e Louro Teles
Manoel Severo, Ivanildo Silveira, João de Sousa, Valdir Nogueira, 
José Irari, Manoel Belarmino e Herton Cabral
Mestre dos Cordéis Jurivaldo e Louro Teles

Para o Conselheiro Cariri Cangaço, pesquisador e escritor Louro Teles , da cidade de Calumbi "O Cariri Cangaço sempre nos surpreende com uma agenda muita rica, as conferências, os debates e essas visitas são simplesmente sensacionais, pisar o chão onde tudo aconteceu, sentir a atmosfera, realmente mais uma vez estamos todos de parabéns".

Quem nos conta é João de Sousa Lima: "Saímos da sede de Paulo Afonso, na direção da BR 210 e chegamos aqui na entrada do famoso povoado Salgadinho, situado nas margens da exuberante Serra do Padre, nessa casa histórica, um dos mais selvagens cangaceiros do bando de Lampião, acabou se rendendo aos encantos sublimes da mais deslumbrante flor germinada em seus campos: a belíssima Lídia Pereira de Souza; uma formosa morena de traços perfeitos e sedutores e curvas delineadamente sensuais. Lídia Pereira de Souza viria um dia a se tornar a bela cangaceira Lídia.... de Zé Baiano."

Pedaços da História se perdem por entre as ruínas da casa da cangaceira Lídia...
Felipe, filho do companheiro Louro Teles

Com a palavra, João de Sousa Lima: "Lídia era filha do modesto casal Luís Pereira de Souza e Maria Rosa Figueiredo, conhecida pela alcunha de Dona Baló, uma exímia rendeira e costureira. O Salgadinho por ser um dos lugares percorridos pelo Rei do Cangaço e seus seguidores, na época em que as andanças do capitão Virgolino atingiu seu apogeu em terras baianas, me foi bastante informativo enquanto eu realizava pesquisas para o livro: Lampião em Paulo Afonso. Por dezenas de vezes estive nesta localidade, registrando as histórias contadas pelos velhos remanescentes da luta cangaceira e neste período, uma das coisas que mais despertou minha atenção foi conhecer a casa onde nasceu a bela cangaceira Lídia, de Zé Baiano. Contra todas as possibilidades e intempéries, as ruinas ainda teimam em continuar refletindo o passado esquecido pelo tempo, local de onde saiu Lídia para acompanhar o "gorila de Chorrochó".

João de Sousa Lima e o resgate da trágica história de Lídia e  Baiano
Bismarck Oliveira, Manoel Severo, Ivanildo Silveira, Joao de Sousa, 
Valdir Nogueira e Nivaldo Pereira
Manoel Severo fala da importância do cenário histórico da casa de Lídia
Celso, Manoel Severo, Ivanildo Silveira, João de Sousa, Luma Holanda e Valdir Nogueira

A Conselheira Cariri Cangaço Luma Holanda em suas palavras ressaltou a importância de resgatar a Casa de Lídia "como lugar de memória, consolidando a vocação natural dos cenários históricos ligados ao cangaço em Paulo Afonso, à exemplo do Museu Casa de Maria Bonita", defende Luma Holanda.

Na visita à Casa de Lídia, por entre os mandacarus e xique xique, 
a melodia e o lamento da sanfona de Ciço do Pife...

Dois momentos marcantes durante a visita às ruínas da casa da cangaceira Lídia. O primeiro foram os acordes solenes e cheios de nordestinidade do grande artista e maestro da banda de pífanos do Riacho do Meio em São José do Egito, Cícero Sebastião, o querido Ciço do Pife que à sombra do rei do baião, Luiz Gonzaga, encantou a todos os presentes.

Em seguida em momento não menos solene, o capelão do Cariri Cangaço, Padre Agostinho, dirigiu palavras aos presentes, seguidas de suas bênçãos sacerdotais para em seguida emocionar o sertão cantando "à capela" a Ave Maria Sertaneja...

capelão do Cariri Cangaço, Padre Agostinho e as bênçãos em plena caatinga sertaneja...
José Irari, casal Bismarck Oliveira, Valdir Nogueira, casal Geraldo Ferraz, Roberto Batista, Luma Holanda e Kiko Monteiro
Manoel Belarmino, Edson Araújo, Herton Cabral, Luiz Ferraz Filho e Jorge Figueiredo

"No fim do ano de 1931, o cangaceiro Zé Baiano ficou doente de um tumor grande que impediu o bandoleiro de andar nas caatingas. Aí Lampião levou Zé Baiano para a casa de um antigo coiteiro chamado Luiz Pereira na localidade Salgadinho perto de Paulo Afonso. Ali o cangaceiro ficou 15 dias sendo cuidado por Luiz Pereira e dona Maria Rosa. Quando ficou curado o cangaceiro foi embora, levando Lídia, a sua filha mais nova. Lídia era uma linda menina mocinha de apenas 15 anos de idade quando deixou seus pais para acompanhar o terrível e cruel cangaceiro Zé Baiano" relata o Conselheiro Cariri Cangaço, Manoel Belarmino.

Cangaceiro Zé Baiano
Junior Almeida e Manoel Belarmino
Josué, Carlos Alberto da Silva, Odilon Nogueira e Darlan
Otavio Cardoso

"Chegar até esse cenário histórico tão representativo para a historiografia do cangaço ao lado de tantos pesquisadores e escritores, conhecer de perto esse recorte da episódio da chagada e permanência de Zé Baiano enfermo, a partida dele levando a menina Lídia, o episódio posterior da traição de Lídia e sua consequente morte trágica, reforça a necessidade de restauração dessa casa, que é testemunha importante da historia do cangaço" reforça o pesquisador de Floresta Betinho Numeriano.

Para o Conselheiro Cariri Cangaço Narciso Dias, presidente do GPEC, "na noite de abertura do Cariri Cangaço Paulo Afonso, passamos às  mãos do prefeito municipal, um abaixo assinado onde destacamos a importância para a historiografia do cangaço e para turismo de conhecimento, do restauro da casa de Lídia, e agora, nesta espetacular visita in loco, só confirmamos essa urgente necessidade".

Padre Agostinho, capelão do Cariri Cangaço
Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço

Vamos recorrer ao Conselheiro Cariri Cangaço Manoel Belarmino mais uma vez "o cangaceiro Zé Baiano (foto) era loucamente apaixonado por Lídia. O cangaceiro mais apaixonado de todos. E Lídia a mais bela das cangaceiras. Zé Baiano era um dos cangaceiros mais cruéis do grupo de Lampião e o mais curioso com a sua amada Lídia. Dizem que Zé Baiano tinha muita riqueza, era agiota, possuía muito dinheiro emprestado a comerciantes e possuía uma quantidade grande de joias valiosas, inclusive escondidas ou enterradas na forma de botija. Havia no grupo de cangaceiros um rapaz da mesma região de Lídia e que já se conheciam desde antes dos dois entrarem no cangaço. Era Demócrito e que no cangaço tinha o nome de guerra de Bem-te-vi. Os dois se gostavam e, às escondidas, tinham um relacionamento. Sempre que Zé Baiano viajava Lídia se encontrava com o Bem-te-vi."

E segue Belarmino: "O cangaceiro Coqueiro se apaixonou por Lídia. E sempre a seguia e presenciava a cangaceira mais linda transando sob as moitas de cipó de leite com o seu amado secreto Bem-te-vi quando das viagens de Zé Baiano. Naquele mês de julho de 1934, nas Pias das Panelas, nas proximidades do Riacho do Cartavo, quando Zé Baiano retornou de uma viagem do Alagadiço que havia feito com Lampião, o cangaceiro Coqueiro resolveu contar tudo, exatamente na hora da janta, no coito, no momento em que todos estavam reunidos. Ao ouvir a delação de Coqueiro, Zé Baiano ficou parado, estarrecido. Olhou para Lampião esperando alguma ordem. Um silêncio tomou conta do coito. Lampião tirou o chapéu... coçou o quengo. Levantou-se do cepo. Não quis mais comer. E continuou calado."

Zé Tavares, Ciço do Pife, Padre Agostinho, Louro Teles, Celso e Zé Irari
Conselheiro Cariri Cangaço Mucio Procópio, Nivaldo Pereira e Junior Almeida
Darlan
Caravana Cariri Cangaço Paulo Afonso em visita a casa de Lídia

O Desfecho...
"Depois de um tempo em silêncio, Lampião disse que Se Baiano tomaria as providências de Lídia e os cangaceiros resolveriam o caso de Bem-te-vi e Coqueiro. Depois da sentença de Lampião, Zé Baiano mandou que o cangaceiro Demudado amarrasse Lídia num pé de umburana ali mesmo próximo das Pias onde estava o coito. E Lampião ordenou que o cangaceiro Gato matasse o cangaceiro traidor 'Bem-te-vi' e o delator 'Coqueiro'." Encerra Manoel Belarmino.

Visita a Casa de Lídia
Cariri Cangaço Paulo Afonso
26 de março de 2022

Um comentário:

Povo unido contra o racismo disse...

Tempo de memória e história do cangaceiro