Nazarezinho: Pela primeira vez estamos a nos debruçar sobre momento delicado e significativo ocorrido nesta região. Retornar no tempo significa interesse nas nossas origens. A história que estamos a abraçar é singular. A primeira pergunta que muitas pessoas fazem trata-se de uma interpelação ou curiosidade: Que dimensão se pode dar a família Pereira?
Ela no Nordeste se fixou e tem se ampliado das margens do rio
São Francisco, onde mencionamos Piranhas; seguimos em direção ao Norte e
abrigados os encontramos às margens do rio Pajeú em Serra Talhada e na ribeira
do Piancó, representada por Nazarezinho. Como trazer os Pereira para com a
presença dos cristãos novos entre nós?
Necessário se faz um estudo genealógico contundente,
específico e esclarecedor para que possamos nos aperceber da representatividade
desta ilustre família. Alguns aspectos são determinantes para com o processo
evolutivo desta região. A presença dos dirigentes da Casa da Torre é
determinante, no sentido da implantação de novos currais. Com a caminhada dos
vaqueiros até o Sul do estado do Piauí em determinado momento verificamos o
caminho de volta pelo gado gordo, que transitava na chamada Estrada Real, que
determina a espinha dorsal deste estado, servindo até os dias atuais, para seu
grande fluxo de riquezas e materiais de vários matizes. Esta estrada é
fundamental para levar a proteína até as populações do litoral, que se
dedicavam a glicose pela cana-de-açúcar e seus derivados. Para que estes conceitos sejam ampliados
recomendamos a leitura da obra de Rosilda Cartaxo –
Estrada das Boiadas (roteiro para São João do Rio do Peixe).
Paulo Medeiros Gastão
A geografia nos mostra de uma situação deveras interessante.
Sendo Nazarezinho considerado nosso centro, para o Norte temos o Rio Grande do
Norte; para o Sul Pernambuco e para oeste o Ceará. Conclui-se que o elemento –
divisa – encontra-se bem próximo. Se constitui erro designar como fronteira,
pois, é entre países que a denominação é correta. Que os futuros pesquisadores
não cometam este erro. Os deslocamentos para outros estados eram frequentes,
desde que não era permitida a presença de militares atuando fora do seu estado
de origem. Depois de algum tempo as divisas deixaram de ser problema para o
trânsito das volantes.
O mando regional era estabelecido pelo coronel. Desde o
século XIX que as patentes eram compradas. O imenso país, sem vias de acesso,
buscou o governo na figura do coronel o processo administrativo, de mando, das
diretrizes políticas e do conteúdo social. Era, portanto, o coronel, um
potentado por excelência. Para seu comando corria a riqueza da região,
concentrando inclusive as peças de ouro e deixando as localidades pobres ou de
pouca representatividade. Dai a grande concentração dos movimentos bélicos
terem ocorrido na área do campo e de pouca atuação nas comunidades que buscavam
a todo custo se tornarem núcleos denominados de cidade. Nos afirma Horácio de
Almeida, na sua História da Paraíba, que no Nordeste o aparecimento das cidades ocorre a partir de 1850.
A região recebe a Coluna Prestes oriunda do Norte, que tinha
alcançado Flores, hoje Timon, estado do Maranhão. O caso do padre Manoel
Otaviano, que resolveu defender seu rebanho tendo trágico fim, representa o
mais significativo episódio em terras paraibanas. Quando anos após eclode a
Revolta de Princesa, sob o comando do coronel Zé Pereira, chefe político e
filho de tradicional família da região oestana.
Mais uma vez temos o registro dos Pereira, fazendo história no seu
torrão natal. Não confundir este episódio isolado com a Revolução de 30, que atingiu
a nação.
A implantação de novos segmentos na região determinou a chegada
do barracão. Este por sua vez era controlado e mantido pelo coronel e servia
como fonte de abastecimento aos residentes na construção de açudes, estradas e
outros segmentos. Desta feita vamos nos deparar com grave situação, desde que,
ocorre um assassinato vitimando pessoa de representatividade na comunidade
local. O barracão funciona em São Gonçalo. É morto o sr. João Pereira e outros.
O moribundo pediu por várias vezes que não existisse vingança.
Cariri Cangaço presente em Nazarezinho, de Chico Pereira
Acreditamos que caso único no planeta, onde fica estabelecida
a conduta em não haver vingança. Gesto heroico e que deve ter sensibilizado a
todos que tomaram conhecimento da decisão. Com o passar do tempo aparece no
caminho a saga histórica de Chico Pereira.
Como nos posicionarmos frente a epopeia vivida por este
paraibano? No inicio do ano de 1959 de férias na minha cidade, Trinfo estado de
Pernambuco, recebemos a visita de um senhor que procurava pelo meu genitor. O
nome do meu pai é Manoel Gastão Cardoso que morou vários anos em Princesa e
dela se afastando por recomendação da própria família quando estourou a Revolta
de Princesa. Foi ele ao chegar a Triunfo funcionário da firma do coronel
Carolino de Arruda Campos, também conhecido pelo apelido de – Duduzinho. Tornou-se
almocreve e consequentemente conhecedor da região e seus habitantes. O período
das suas andanças está compreendido entre 1930 e 1940. Porém, o meu pai não se
encontrava na cidade naquele momento. Fizemos ver ao nobre pesquisador que
desconhecíamos documentos referentes ao assunto em questão, mas, na vizinha
Princesa ao chegar ao cartório, procurasse o senhor Zacarias Sitônio, meu
padrinho de batismo. Com ele tudo seria resolvido. E assim segue Pereira da
Nóbrega em busca de informes. Vez
primeira que estivemos com a ilustre figura do naquele tempo reverendo. Não
nos vimos nunca mais. Raras vezes trocávamos informações pelo telefone. A
última vez que tentamos trazer Chico Pereira foi para encenação da peça
Vingança, Não em teatro na cidade de Mossoró.
Proposta a ser analisada, mas infelizmente não se confirmou. Com algum
tempo tomávamos conhecimento que Chico teria de nós se despedido para ficar ao
lado do pai.
Caravana Cariri Cangaço na fazenda Jacu, da família Pereira, em Nazarezinho
Outro momento que gostaríamos de aqui registrar ocorreu no nosso
tempo de universitário na cidade do Recife. Para bem caracterizar no bairro do
Espinheiro. Em plena manhã de domingo encetamos
visita a nossa amiga Lília, por nós chamada de Lila, era ela nossa vizinha em
Triunfo na Rua da Caridade, hoje homenageada com o nome do homem que implantou
as Casas de Caridade, Rua Padre Ibiapina. Deveriam ter colocado - Rua Mestre
Padre Ibiapina. Pois bem, traquino e irrequieto sempre estávamos em cima do
muro e quando descíamos era para o lado da casa dela, recebendo bolo ou doces.
Ela não tinha filhos menores, e acreditamos ter a nós se dedicado pela nossa
tenra idade. Era seu marido o guarda-livros Sigismundo Pinto, oriundo do Vale
do Piancó e proprietário do Jornal ‘A Voz do Sertão’, que circulou por muito
tempo na cidade. Seus filhos Miranda, Vanice, Geraldo, Vanilda e Vanessa todos
com sobrenome Campos. A Vanessa é jornalista, trabalha como editora de assuntos
do sertão na empresa Jornal do Commércio em Recife e acaba de lançar livro
sobre o cangaço. Naquele domingo conhecemos uma grande figura, grande mulher.
Seu nome Jardelina que para a família era Jarda. Estatura mediana, magra, não
esboçava nenhum sorriso, pouco se comunicava, porém, demonstrava viver algum
problema de ordem familiar, pois, a roupa usada naquele momento era de cor
preta, significando o chamado luto fechado.
Não procuramos saber em detalhes de quem se tratava, nem por que aquele traje. Dias depois, tomamos conhecimento de quem se tratava e por não termos ainda nos ligado a história por ela vivida houve total desligamento e nunca mais nos vimos. Perdemos uma grande oportunidade em nos aproximarmos daquela que se casou ainda de menor, com o homem que amava e a ele continuou ligada até seu último suspiro e que trouxe ao mundo três crianças que se tornaram o orgulho dela, da família e de nós outros que deles nos aproximamos. Precisamos registrar com carinho seus nomes – Raimundo, Francisco e Dagmar. Todos receberam o melhor que ela poderia dar – a educação. Raimundo torna-se engenheiro; Francisco segue o caminho da religião sendo padre e Dagmar, agora como Albano, se fixa na Ordem dos Franciscanos Menores.
Não procuramos saber em detalhes de quem se tratava, nem por que aquele traje. Dias depois, tomamos conhecimento de quem se tratava e por não termos ainda nos ligado a história por ela vivida houve total desligamento e nunca mais nos vimos. Perdemos uma grande oportunidade em nos aproximarmos daquela que se casou ainda de menor, com o homem que amava e a ele continuou ligada até seu último suspiro e que trouxe ao mundo três crianças que se tornaram o orgulho dela, da família e de nós outros que deles nos aproximamos. Precisamos registrar com carinho seus nomes – Raimundo, Francisco e Dagmar. Todos receberam o melhor que ela poderia dar – a educação. Raimundo torna-se engenheiro; Francisco segue o caminho da religião sendo padre e Dagmar, agora como Albano, se fixa na Ordem dos Franciscanos Menores.
Em busca de ampliar nossos conhecimentos nos deparamos com Rosilda
Cartaxo, a mulher que ganhou título de baronesa de São João do Rio do Peixe que
nasceu em Cajazeiras e foi sua cabeça lavada na mesma pia onde o padre Rolim
foi batizado.
Para nosso estudo recomenda-se a leitura de ‘Estradas das Boiadas’ e em particular ‘Mulheres do Oeste’. Dentre importantes e representativos nomes de mulheres da região nos deparamos com Jardelina Pereira Nóbrega – Jarda. Relata a escritora: “Se hoje eu falo de Mulheres do Oeste, o espaço devia ser todo seu – Jarda – a medida do amor. Certa vez encontrei-a na igreja, ajoelhada, terço na mão, soletrando mágoas e rimando solidão. As rosas deixadas no beiral da Casa Grande de Nazarezinho se despetalaram. Só a saudade de Chico Pereira não passava. Registramos que Dom Adelino Dantas dirige carta a escritora logo que recebe seu livro. Mais adiante temos – Jarda não guardava mágoas pelo título de cangaceiro dado a Chico Pereira. Aceitou. Feliz teria ficado se esta carta fazendo-o Mártir tivesse lhe chegado às mãos. Se um dia Chico fora chamado de bandido, um Bispo da Bahia Dom Adelino Dantas, chamou-o de Mártir, perdoado foi quando a família criou a frase “VINGANÇA, NÃO”, maior atestado de humanismo. A autora finaliza sua homenagem a esta grande mulher assim relatando: Jarda tem neste espaço todo o carinho dos Dantas lá do Serrote, em São João do Rio do Peixe, que fez a pousada de Chico!
Continua...
Texto apresentado pelo pesquisador e escritor Paulo Gastão em Conferência do Cariri Cangaço em Nazarezinho, dentro do Parahyba Cangaço em junho de 2013.
Paulo Medeiros Gastão
Sócio Fundador da SBEC
Conselheiro Cariri Cangaço
Para nosso estudo recomenda-se a leitura de ‘Estradas das Boiadas’ e em particular ‘Mulheres do Oeste’. Dentre importantes e representativos nomes de mulheres da região nos deparamos com Jardelina Pereira Nóbrega – Jarda. Relata a escritora: “Se hoje eu falo de Mulheres do Oeste, o espaço devia ser todo seu – Jarda – a medida do amor. Certa vez encontrei-a na igreja, ajoelhada, terço na mão, soletrando mágoas e rimando solidão. As rosas deixadas no beiral da Casa Grande de Nazarezinho se despetalaram. Só a saudade de Chico Pereira não passava. Registramos que Dom Adelino Dantas dirige carta a escritora logo que recebe seu livro. Mais adiante temos – Jarda não guardava mágoas pelo título de cangaceiro dado a Chico Pereira. Aceitou. Feliz teria ficado se esta carta fazendo-o Mártir tivesse lhe chegado às mãos. Se um dia Chico fora chamado de bandido, um Bispo da Bahia Dom Adelino Dantas, chamou-o de Mártir, perdoado foi quando a família criou a frase “VINGANÇA, NÃO”, maior atestado de humanismo. A autora finaliza sua homenagem a esta grande mulher assim relatando: Jarda tem neste espaço todo o carinho dos Dantas lá do Serrote, em São João do Rio do Peixe, que fez a pousada de Chico!
Continua...
Texto apresentado pelo pesquisador e escritor Paulo Gastão em Conferência do Cariri Cangaço em Nazarezinho, dentro do Parahyba Cangaço em junho de 2013.
Paulo Medeiros Gastão
Sócio Fundador da SBEC
Conselheiro Cariri Cangaço
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