Combate do Tenório e o Corpo de Levino Ferreira Por:Luiz Ferraz Filho

Uma das mais confusas e esquecidas passagens sobre o período do cangaço é a morte de Levino Ferreira. Estive no local do combate juntamente com os amigos pesquisadores Geraldo Antônio Junior (pesquisador e youtuber) , Fabiano Ferreira (historiador de Flores-PE) e João da Capoeira (membro do IHGPAJEU), onde colhemos alguns relatos de moradores descendentes de quem viu de perto o Combate da Baixa do Tenório, entre 4 e 5 de julho de 1925.

Lampião estava na Fazenda Melancia, município de Flores - PE, onde torturou o fazendeiro José Calú e liberou alguns viajantes que ele havia sequestrado na estrada. Depois partiu com seus cangaceiros até chegar na casa de Sebastião Cordeiro (Sebasto), morador da localidade Baixa do Juá, no Tenório. Lá foi bem recepcionado pelo fazendeiro onde jantou e encontrou dormida para todos. A casa ficava no pé da Serra Vermelha, marco divisório entre os municípios de Flores e Betânia, e onde existe um local conhecido por Furna de Lampião. 

Na região encontramos o agricultor Raimundo Cordeiro, 79 anos, neto de Sebasto. 'Meu pai contava que Lampião estava muito desconfiado. Alguns cangaceiros jantaram e armaram rede para dormir nas árvores do terreiro da casa. Meu avô ofereceu uma rede, mas Lampião não quis e disse que iria ficar em pé. Quando foi meia noite ele disse que a casa estava cheirando a sangue e mandou os cangaceiros se levantarem. Saíram da casa e com pouco tempo o tiroteio começou', falou Raimundo Cordeiro. O combate foi contra a volante paraibana do tenente José Guedes que vinha em perseguição ao bando e acabou perdendo o seu sub-comandante, sargento Cícero de Oliveira, que tombou com um tiro na testa.




Luiz Ferraz Filho e a pesquisa do combate do Tenório

Várias versões já foram ditas e escritas sobre o Combate do Tenório (Baixa do Juá). Alguns escritores relatam que Levino morreu dentro da cozinha de uma casa na escuridão da noite. Uma segunda versão cita que o rastejador Belarmino Morais viu o vulto de um cangaceiro em cima do serrote de pedra gritando e atirou. Já outra versão sobre a morte de Levino diz que ele foi ferido no terreiro de uma casa, foi socorrido e morreu oito dias depois. 

Na mesma região outro relato interessante encontramos do morador Luis Pereira da Silva (Luis de Puliça), nascido e criado no lugar e que foi nosso guia até o local do combate. Eles nos confidenciou uma versão local totalmente diferente das outras versões sobre a morte de Levino Ferreira. Segundo ele, os moradores mais velhos diziam que o combate aconteceu a tarde e no início da noite o irmão de Lampião foi ferido pela volante paraibana do tenente José Guedes. Ao ver o irmão ferido, o Rei do Cangaço - que já conhecia bastante o lugar - providenciou fazer o transporte do ferido nas costas rumo a furna da Serra Vermelha, enquanto outra parte do bando seguia atirando pela estrada para distrair e confundir a polícia. Transportado nas costas de um dos cangaceiros, Levino Ferreira faleceu no meio do caminho antes de chegar na furna da serra. 

Quando amanheceu o dia, Lampião deu a ordem pra cortar a cabeça de Levino e mandou sepultar o corpo. Durante os anos seguintes nunca se soube o local exato ou qual a identidade dos três cangaceiros que faleceram no combate da Baixa do Juá, no Tenório. Sabe-se pela tradição oral dos moradores que um corpo foi sepultado embaixo de um juazeiro e outros dois corpos tiveram a ossada encontrada nos anos 60 e 70 no local do combate quando fizeram o alicerce para construir uma casa e no arado da terra para plantar. Vale ressaltar que anos depois há relatos de fragmentos de ossos humanos também encontrados na furna da serra que segundo moradores o cangaceiro Lampião se escondeu. 

O corpo do cangaceiro sepultado no Juazeiro foi o único desenterrado posteriormente pelas volantes que chegaram na localidade dias após o combate. Uma moradora da época indicou o local para o capitão José Caetano e o tenente Higino Belarmino fazerem a identificação. Como estava sem a cabeça, não houve certeza na identificação. 

Eis a dúvida. Porque sepultar o corpo de apenas um cangaceiro embaixo de um juazeiro e deixar os outros dois corpos de cangaceiros ao relento no campo de batalha sem nenhuma sepultura. Alguém pode até cogitar que esse corpo sepultado no juazeiro venha a ser o sargento Cícero de Oliveira, porém, a Força Volante encontrou o corpo sem a cabeça. Se fosse um policial volante não necessitaria de uma pessoa da região pra localiza-lo, pois, a própria volante já saberia o local e não utilizaria dessa prática de cortar a cabeça de um companheiro de farda. Pelo visto, esse corpo sepultado no juazeiro era um importante cangaceiro do reinado lampionico. Seria este o corpo do famoso Levino Ferreira da Silva ???.

Luiz Ferraz Filho, Pesquisador ;Presidente da Comissão do Cariri Cangaço Serra Talhada

FONTE CONSULTADA:

(CARVALHO, Rodrigues de; Serrote Preto, Lampião e seus Sequazes)

(AMAURY, Antônio & FERREIRA, Vera; O Espinho de Quipá) 

(FERRAZ, Marilourdes; O Canto do Acauã)

(MACIEL, Frederico Bezerra;  Lampião, seu Tempo e seu Reinado) 

(LIRA, João Gomes de; Memórias de um Soldado de Volante)

Um comentário:

fabianoferreira77@hotmail.com meu facebook disse...

Gostei da matéria, as várias versões contadas e mais novidades trazidas por moradores da região, história essa que envolve certo mistério sobre onde teriam sido sepultados as as cabeças dos corpos dos cangaceiros e principalmente a de Levino? Seria muito interessante pelo menos construir um cruzeiro com uma placa e os nomes dos que tombaram nesse combate, tanto do volante quanto dos cangaceiros que tombaram nesse combate, nesse local que fica próximo pelo lado sul a furna de Lampião e pelo lado Norte ao velho Juazeiro, testemunha de acontecimentos marcantes naquele tempo difícil para os sertanejos. Parabéns professor Luiz Ferraz, e um forte abraço a você, ao professor Geraldo também youtuber do canal Cangaçologia, a mestre João da Capoeira, membro do IHGP, e a todos vocês que fazem parte do Cariri Cangaço.