Maria de Fátima de Morais Pinho, professora adjunta do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri – Urca.
Estará neste dia 11/12/2019 , às 10h da manhã no Campus Gragoatá, a defender sua tese visando obtenção do grau de Doutor, Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense.
A tese em foco tem por objetivo analisar as teias de notícias e representações construídas na imprensa sobre o padre Cícero Romão Baptista ao longo de cinco décadas (1870-1915). Durante sua vida e após sua morte, o sacerdote foi transformado numa espécie de celebridade, tudo a seu respeito e em torno dele desperta a atenção da grande e pequena imprensa dentro e fora do Brasil, constituindo-se, possivelmente, no personagem mais polemizado, noticiado e debatido do sertão brasileiro da história contemporânea do Brasil. Nesse sentido, busca-se discutir, a partir de dois momentos distintos - a instauração, na imprensa, do debate sobre os “fatos extraordinários do Juazeiro” nas últimas décadas do século XIX e a inserção do sacerdote na política partidária na segunda década do século XX - a formação de teias de notícias acerca do acontecimento chamado “padre Cícero”, identificando as permanências ressignificadas na produção e na construção de múltiplas representações e sentidos.
Na primeira parte, portanto, é discutida a presença do padre Cícero na imprensa antes e depois dos fatos extraordinários do Juazeiro com a análise da formação de uma rede de notícias na divulgação dos mesmos, buscando perceber as representações construídas sobre os principais protagonistas - a beata e o padre -, mas, sobretudo, identificando em que momento da narrativa Cícero assumiu o papel de destaque e de que forma se deu a instauração do debate maniqueísta sobre o sacerdote. Na segunda parte, é observado um conjunto de narrativas e imagens (fotos, charges, alegorias carnavalescas e teatrais) que circularam na imprensa sobre a atuação política do padre Cícero, analisando como essas redes de notícias contribuem na formação, conformação e consolidação de representações do sacerdote enquanto politiqueiro, cangaceiro, criminoso, explorador, fanatizador.
Fátima Pinho em sua palestra no Cariri Cangaço Fortaleza 2018
Saiba mais sobre a postulante...
Maria de Fátima de Morais Pinho nasceu em Várzea Alegre em 1966. Filha do ex-vereador e conhecido político da cidade, Raimundo Morais Pinho e de Vicência Alves Pinho, mais conhecida como Noêmia. Na década de 80, após voltar a residir em Várzea Alegre, começou a integrar a Sociedade São Vicente de Paula, na conferência dos Jovens, da qual foi presidente. Sendo indicada pelo padre Mota para representar a paróquia na Comissão diocesana, passou a militar na Pastoral de Juventude do Meio Popular – PJMP. Era um momento político marcado pela redemocratização do País, após 20 anos de ditadura Militar. Os movimentos da chamada “Teologia de Libertação”, tinham grande atuação no seio da Igreja Católica e nas comunidades. Neste período, começou a trabalhar como professora de religião na escola Presidente Castelo e no Colégio São Raimundo Nonato.
Em decorrência da sua militância na PJMP e como servidora, fez parte do grupo que protagonizou a primeira greve dos servidores municipais de Várzea Alegre em 1988, reivindicando melhorias salarias. Como consequência da greve, começou a organizar, juntamente com outros servidores (as) o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Várzea Alegre, constituindo-se sua primeira presidente. Nos anos que ficou à frente do Sindicato, empreendeu a luta pela implantação do salário mínimo (neste período o salário dos servidores não chegava nem a meio salário). Para tal ingressou na justiça do trabalho com mais de duzentas ações, luta concluída por Vicente Julião que lhe sucedeu em 1992, quando foi morar em Fortaleza.
Fátima Pinho é hoje professora adjunta do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri. Doutorando em História Social pelo programa de Pós-graduação (Interinstitucional UFF/URCA) em História, Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional do Cariri (2002), possui especialização em Planejamento Educacional pela Universidade Vale do Acaraú (1998) e graduação em História pela Universidade Regional do Cariri (1992). Desenvolve pesquisa sobre Religiosidade Popular com foco no padre Cícero. É também seu o Trabalho de pesquisa intitulado: NO SILÊNCIO OBSEQUIOSO, PREPARO MINHA PRÓPRIA DEFESA PADRE CÍCERO: arquivista de si mesmo
O presente trabalho tem por objetivo analisar a prática contumaz do padre Cícero Romão Baptista em, ao longo de sua trajetória religiosa e política, copiar e guardar todos os documentos escritos, hemerográficos e iconográficos, constituindo um considerável e consistente arquivo de si que dava conta, igualmente, de aspectos da história política, econômica e social não apenas da localidade em se estabelecera, Juazeiro do Norte, mas do Ceará e do Brasil nas primeiras décadas da República Velha. O chamado “grande arquivo do padre Cícero” é composto por cartas e telegramas tanto de natureza eclesiástica quanto cartorial, fotografias, artigos de jornais, películas de filmes, etc. Neste trabalho tomando como referência as reflexões do historiador francês Philippe Artierés publicadas na revista Estudos Históricos em 1998, intituladas “Arquivar a própria vida”.
Maria de Fátima de Morais Pinho
Universidade Regional do Cariri
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