Arte de Aldemir Martins
"Fugindo de Mossoró e tendo no encalço as forças volantes do Rio Grande do Norte e Paraíba, totalizando mais de 200 homens, Lampião descamba para a região do Cariri cearense, rumo a Aurora, para o refúgio de Izaias Arruda...Chegando ao lugar Ribeiro..."
A tropa que teve encontro com os bandoleiros foi a do tenente Arruda, em piquetada no sítio Ribeiro, onde aconteceu um fato tão misterioso, quanto engraçado. Não obstante o lugar se achar “ bem guarnecido “, ao clarear a barra , “ O
Grupo de Bandoleiros, sem sofrer o menor revés, passou entre as trincheiras,
nas quais os soldados dormiam, para só despertarem depois, com cerrada
fuzilaria, quando os bandidos não estavam mais ao alcance da pontaria da polícia”
O Grupo ocultou-se no vale do Bordão de velho.
Do local onde estava, lampião enviou dois cabras ‘a casa de João Cabral,
morador ali perto, convidando-o a vir a sua presença. João Cabral atendeu e
Lampião disse-lhe estar com fome e sede, pedindo alimento e água para o grupo,
no qual foi atendido. Marchando pelo pé da Serra da Várzea Grande, Lampião chega a fazenda Malhada Funda, onde faz alto, sendo recebido por Gregório Gonçalves, que, após saber
com quem estava falando, perguntou a Lampião em eu podia servi-lo.
Amarílio Gonçalves Tavares
Este respondeu “ só quero comida para minha rapaziada. Gregório Mandou matar o
boi que estava no curral, e duas ou três ovelhas. Os cangaceiros estavam com
tanta fome, que não esperaram. Comendo as carnes sapecadas. Os quartos de
Ovelha, eles colocaram nos bornais sobressalentes, junto com farinha e
rapadura. Ao retirar-se, Lampião levou João Teófilo como guia. Este saiu montado num
burro que o bandoleiro havia tomado de um cidadão que estava comprando
rapaduras. O Bando saiu na direção sudeste do município. Lá muito adiante, o
guia foi substituído por outro de nome David Silva, tendo Lampião recomendado a
João Teófilo pra só voltar quando escurecesse, e que não fosse pelo mesmo
caminho.
Continuamos a narrativa, baseada no livro do Major: “Em sua marcha, Lampião procurou a Serra do Coxá, na divisa do município de
Aurora com o de Milagres, burlando a vigilância dos policiais, de tal modo que
estes se afastavam do ponto em que estavam os bandidos, tomando o rumo de Boa
Esperança, serrote do Cachimbo, Riacho dos Cavalos, Ingazeiras e Milagres. Como se Vê, Lampião era um perito em estratégia Militar. Uma de suas táticas
consistia em ludibriar a polícia que andava no seu encalço, como fez, quando
procurou a Serra do Coxá. Deste modo, tornou-se inócua a providência do Major
Moisés, designando o tenente Caminha para colocar piquetes nas estradas, uma
vez que, por estas, não passarias o grupo de bandidos.
Enquanto Lampião ficava escondido na Serra do Coxá, O tenente Manoel Firmo
seguia para o lado oposto, isto é com a sua tropa, passava de trem por Aurora,
em demanda ao cariri, sem dar satisfações ao seu chefe, major Moisés, que
naqueles dias se encontrava em nossa cidade, em tratamento de saúde. Com o
tenente Manoel Firmo, viajavam os tenentes Luis Leite, Laurentino, Moura
Germano, em passeio a Juazeiro e Crato, totalmente despreocupados com os
bandidos. Para piorar a situação do “comandante das tropas“ em operações”, chegavam em
Aurora o contingente comandado pelo tenente Agripino de Lima, que conduzia trinta
e quatro animais de montaria, tomados a fazendeiros de Icó, Pereiro e
Jaguaribe.
Virgulino Lampião
Se no combate travado com os bandidos, na serra da Macambira, havia cerca de 400 praças, como se explica ter o major Moisés levado para Ipueiras apenas 15 soldados. Descoberto o paradeiro de Lampião no alto da serra do Coxá, destacaram-se elementos de confiança para, aproximando-se do grupo, conhecerem melhor a sua posição, dentre eles Miguel Saraiva, tio de um dos bandoleiros e morador nas proximidades. Foi então que o Major Moisés e Isaías Arruda conceberam um estratagema, que consistia em preparar um almoço para Lampião e seus cabras, na casa de José Cardoso, em Ipueiras, e juntos, abaterem o bandido, e juntos, abaterem o bandido nas hora conveniente.
Miguel Saraiva se faz acompanhar de oito homens que se apresentam a Lampião, fingindo que são perseguidos pela polícia, e para melhor comover o chefe do bandoleiros, lamentam e choram a sua desgraça, tentando com isso, infiltrar-se no bando. “Alguns bandoleiros aceitaram a presença de novos companheiros, mas Lampião logo faz sentir que não acolhia em seu grupo pessoas que lhe fossem estranhas” os oito homens de Miguel Saraiva tinham recebido instruções para atacar os bandido na hora em que o grupo “ descansasse” a armas para almoçar.
Simultaneamente, os soldados e jagunços puseram-se discretamente em volta de casa, prontos para fechar o cerco aos bandidos, no momento oportuno. Mas o ardil fracassou, porque Lampião, sagaz, arisco e desconfiado, chegou e rejeitou o almoço oferecido por Miguel Saraiva. E colocou sua gente em pontos diversos e estratégicos.Eis como o major Moisés descreveu o tiroteio:
Izaias Arruda
“ Conhecido o fracasso do estratagema, fomos impelidos a atacar os bandidos,
com ímpeto, de sorte que, em pouco tempo, estavam debaixo de cerrada fuzilaria.
A luta teve início pouco mais ou menos ‘as 12 horas do dia 7 de julho, tendo
uma duração de mais de três horas, terminou infelizmente, porque os bandido
caíram em fuga, e no campo deixaram dois mortos, um queimado, que recebeu
vários ferimentos, e outro também morto na ocasião em que fugia”. Essa foi a história narrada pelo major Moisés no citado livro. Entretanto,
existe outra versão para o episódio segundo nos contaram Róseo Ferreira e
Vicente Ricante que , na época, moravam nas proximidades da fazenda Ipueiras, a
coisa aconteceu assim.
O Major Moisés Leite e o Coronel Isaías Arruda combinaram um plano de acabar com Lampião, assim que este chegasse em Ipueiras, pois sabiam que o grupo vinha desmuniciado e bastante desfalcado, em conseqüência da derrota sofrida em Mossoró e das deserções que se seguiram ao frustrado ataque aquela cidade norte riograndense. Lampião ficara na manga com a cabroeira. Convidado pra almoçar na casa de José Cardoso, na citada fazenda Ipueiras, o Rei do Cangaço compareceu com alguns dos seus rapazes. Quando Miguel Saraiva chegou e pôs sobre a mesa o alguidar contendo o almoço envenenado, Lampião tirou do bornal um colher de latão e meteu-a na comida. Quando puxou a colher, o bandido notou mudança de cor e deu alarme.
“ninguém come desta comida. Esta comida está envenenada! Nisso, Lampião e seus cabras conseguem romper o cerco de um cordão de jagunços e soldados a paisana que se formara em volta da casa, e correm pra a manga onde ficara a maior parte da cabroeira, sendo atacados pelo cabras de Isaías e soldados do major Moisés.
Arte de Aldemir Martins
Ao mesmo tempo em que estrugiu a fuzilaria, os atacantes lançaram fogo na
manga, por todos os lados do local em que estavam os cangaceiros. Lampião
investiu várias vezes contra os atacantes, conseguindo, por fim, escapar por um
corredor. Lampião perdeu dois cangaceiros, um queimado e ferido por ocasião do
ataque. O Outro, com ferimento no ouvido, ficou em Ipueiras, em tratamento, mas
os coiteiros acabaram de mata-lo, tocando fogo no cadáver... Ao escapar do cerco de Ipueiras, lampião tomou o rumo da serra do Góes, perto de
São Pedro do Cariri, atual Caririaçu. Veja o leitor o Zig- zag feito por Lampião para confundir a polícia. No dia 7 de julho, saiu de Ipueiras, desceu
pelo riacho do Pau Branco, atravessou o rio Salgado no lugar Barro Vermelho,
passou pelos sítios Jatobá e Brandão, fazendo “ alto “ em Vazantes.
Na serra dos quintos, fez um refém – o Sitiante Joaquim de Lira – para ensinar
o caminho para a serra do Góes, onde chegou, no início da noite. Na manhã do
dia 9, Lampião deixou a serra do do Góes e rumou para o município de Milagres,
atravessando a via ferrea no lugar Morro Dourado. O Major Moisés havia mandado tomar as ladeiras da Serra do Mãozinha e São
Felipe, por onde poderia passar o bandoleiro. Mas Lampião, mais uma vez, conseguiu
burlar a força policial e penetrou no estado da Paraíba, pela serra de Santa
Inês, no rumo de Conceição do Piancó, de onde prosseguiu em fuga para Pernanbuco.
Amarílio Gonçalves Tavares
TEXTO RETIRADO NA INTEGRA DO LIVRO AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE,
AMARÍLIO
GONÇALVES TAVARES P. DE 138 A 146 IOCE, 1993 - CAPÍTULO 15
(Cortesia do Envio: Luiz Domingos de Luna)
FONTE:http://www.icoenoticia.com/2009/05/lampiao-no-municipio-de-aurora.html
(Cortesia do Envio: Luiz Domingos de Luna)
FONTE:http://www.icoenoticia.com/2009/05/lampiao-no-municipio-de-aurora.html
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