Fogo das Ipueira dos Xavier em destaque em noite GECC-Cariri Cangaço

Audízio Xavier e Manoel Severo

Quem foi à reunião do GECC- Cariri Cangaço do último dia 06 de Maio teve a oportunidade de conhecer ou mesmo aprofundar-se em um dos mais pitorescos e marcantes episódios do cangaço de Lampião nos idos de 1927. O cenário era o município de Serrita, região de serra, fronteira com o estado do Ceará, terras bem próximas à Chapada do Araripe. De um lado Serrita em Pernambuco, do outro; Jardim, Barbalha e Missão Velha, no Ceará. De um lado a força do coronel Santana da Serra do Mato, do outro, coronel Chico Romão, ícone de Serrita e de toda região. É necessário traçar o perfil geográfico e político da região para compreendermos melhor o desenrolar dos fatos daquele longínquo fevereiro de 1927. 

A conferência seguida de debate teve como conferencista da noite o economista e pesquisador, Audízio Xavier, descendente de Pedro Xavier, um dos principais protagonista do episódio, mas, vamos a eles a partir dos relatos e depoimentos reunidos por Audízio Xavier:


Naquela época mandava em Serrita o coronel Chico Romão. Lampião era useiro e vezeiro em visitar a Chapada do Araripe, entrando sempre pelos municípios de Jardim, Barbalha, Porteiras e Missão Velha, todos no Ceará, sob as bênçãos do coronel Santana , da Serra do Mato. Ainda em 1925,  o rei dos cangaceiros pediu a Chico Romão para ser recebido em suas terras por ocasião de sua passagem por Serrita rumo ao Ceará. 

Naquela ocasião o mandatário de Serrita ajuizou não ser conveniente receber em suas terras o cangaceiro. Por manter laços de parentesco e amizade com a família Xavier; possuía 3 familiares casados com 3 familiares daquela família; se dirigiu ao patriarca das Ipueira, Coronel Pedro Xavier e lhe pediu que pela conveniência recebesse nas Ipueira, Lampião e seu bando.

Pedro Xavier de Sousa
 O presidente do GECC, Ângelo Osmiro deu às boas vindas a todos para a noite GECC - Cariri Cangaço no debate sobre o Fogo das Ipueira dos Xavier

O consentimento de Pedro Xavier se revelou logo em seguida em um grande constragimento. Na passagem do bando de Lampião naquele ano de 1925 pelas Ipueira dos Xavier, foi recebido com cordialidade e a todos foi servida refeição com  a marca da anfitriã família Xavier. O inesperado acabaria acontecendo a partir de um "gracejo" dirigido por um dos cangaceiros do bando a uma das filhas do cel. Pedro Xavier, Maria Xavier, na época com 25 anos.

Já prontos para seguirem viagem, o cel. Pedro Xavier se dirigiu a Lampião afirmando que não iria mais recebê-lo nas Ipueira em função do desrespeito do cabra com relação à sua filha. O chefe do bando perguntou qual seria a punição que deveria dá ao cabra, mas o cel. Pedro disse que a providência seria Lampião sair de suas terras imediatamente. Virgulino desceu do cavalo e diante de todos afirmou que quando voltasse à Ipueira seria para ver muito choro e sangue...

 Vagner Ramos e Arlindo
Tomaz Cisne e Audízio Xavier

Passaram dois anos e em fevereiro de 1927 Lampião buscou comprir com o prometido ao Cel. Pedro Xavier. Novamente vindo do Ceará, desta vez trazendo como refém Pedro Vieira, acercava-se das Ipueira para o combate de choro e sangue para a família Xavier. 

O fogo não se demorou muito, da casa grande foi rechaçado a bala por Dezim Xavier e poucos homens, Pedro Xavier que se encontrava na vila, do outro lado da estrada, seguiu para a casa, tendo uma crise de asma no caminho, todos pensavam que o mesmo havia sido atingido. Dezim logo alvejou a primeira e única vitima do combate, o cangaceiro Tempero, ou Musqueiro; o desenrolar do ataque era ouvido ao longe e logo muitos homens das redondezas ligados a Chico Romão e à família Xavier acorreram ao local, no total já se encontravam cerca de 120 homens para defender Pedro Xavier. 

 Nemésio Barbosa apontam a direção de onde vinham os cangaceiros e o exato local onde foi enterrado Pedro Vieira
 

Lampião ao perceber a nítida desvantagem na peleja e ao notar um de seus amuletos, tipo patuá, cortados a bala, se fez em retirada, não sem antes matar o refém Pedro Vieira e outro rapaz que havia anunciado sua chegada à Ipueira. Dessa forma a famosa Ipueira dos Xavier se uniu a Uiraúna na Paraiba e a Mossoró no Rio Grande do Norte como uma daquelas que expulsou Virgulino Lampião.

Os pormenores e detalhes desse Fogo, depoimentos e vídeos documentários sobre o episódio tornaram a apresentação de Audízio Xavier, primorosa; possibilitando a todos um maior entendimento sobre os acontecimentos ligados ao episódio. Ao final do encontro ficou certo uma nova apresentação de Audízio Xavier, desta feita sobre o ataque dos Irmãos Marcelino a família Xavier em Barbalha.

As reuniões do GECC-Cariri Cangaço acontecem sempre às primeiras terças-feiras de cada mês. Fique atento acompanhando este mesmo blog.

Manoel Severo
GECC - Cariri Cangaço 

2 comentários:

Audizio Xavier disse...

Caros amigos leitores do Blog Cariri Cangaço,

Vale ressaltar que o distrito de Ipueira localiza-se, no sertão pernambucano, a 22 Km da sede do município (Serrita/PE), 54 Km do município de Exu/PE e 134 Km de Juazeiro do Norte/CE. Ressalte-se ainda que o Fogo de Ipueira perdurou por mais de duas horas sendo combatido principalmente por membros da família Xavier e alguns moradores da Vila de Ipueira e cercanias. Para assustar Lampião, Pedro Xavier, após melhorar da crise de asma que foi acometido, gritava a expressão "retaguarda Chico Romão". Quando o Coronel Chico Romão chegou com seus homens, Lampião e seu bando já havia batido em retirada.

Atenciosamente,

Audizio Xavier

Audizio Xavier disse...

Toda essa história só pôde ser resgatada graças ao trabalho da historiadora e escritora Maria do Socorro Cardoso Xavier, que editou duas obras sobre o assunto, narrando tudo que ouvia de sua mãe sobre o Fogo de Ipueira. Sua mãe estava presente no dia em que Lampião atacou e foi rechaçado de Ipueira dos Xavier.