Marica Macedo do Tipi: Brava Sertaneja d’Aurora Por:José Cícero

José Cícero recebe o Cariri Cangaço no Tipi de Marica Macedo

Contemporânea da intrépida lavrense Fideralina Augusto Lima, Generosa Amélia da Cruz em Santana do Cariri;  além dos feitos e ações que nos remetem até mesmo a  heroína Bárbara de Alencar;  Maria da Soledade Lamdim – Marica Macedo do Tipi compôs com folga de mérito e valentia o histórico quarteto  das chamadas matriarcas dos sertões do Cariri. Filha de João manuel da Cruz(Joca da Gameleira) e de dona Joaquina de Sales Landim(D.Quinina) ambos descendentes dos "Terésios".

Nasceu ao que tudo indica no início de 1865  na localidade de Gameleira do Pau na  serra do Araripe  região do Jamacaru (bem ao lado da fazenda  Serra do mato do não menos famoso cel. Santana –  conhecido coiteiro de Lampião)  em Missão Velha.
Em 1891 após casar com José Antonio de Macedo(Cazuzinha) seu parente, o casal decide ir morar em Aurora  comprando a propriedade do sítio Sabonete onde mais tarde se formaria a vila Tipi; local onde  fixara residência até o fim da vida. A força do seu nome foi muito além  do riacho do Tipi de onde construiu o seu  poder. Que além de político era alicerçado no criatório de gado,  lavoura  de milho, algodão, casa de farinha e  engenho de rapadura. 


Gostava de  idéias  novas e pioneiras. Como por exemplo, quando Antonio Macedo (seu filho), assumiu a prefeitura em 1919 ela ordenou que o município fosse dividido em quatro partes  para facilitar   a administração. Cabendo a ela própria gerir os problemas e os interesses da região que ia do sítio Cobra, Sabonete, Mel e Tipi até à fronteira com a Paraíba. Há quem diga, que fizera inclusive.  uma excelente administração.

Da casa grande, quanto   da bagaceira do eito dava ordem  aos seus comandados com  a mesma autoridade e energia dos coronéis  do seu tempo. Suas determinações tinham verdadeira força de lei. Tornando-se, por conseguinte, uma mulher de invejável poder e respeito não somente no que tange às questões familiares, como inclusive  na política aurorense onde se pontificou por vários anos não, diretamente, mas através de filho,  parentes e aliados.

Casais Lamartine Lima e José Cícero no Cariri Cangaço Aurora com Manoel Severo

Esteve no centro de questões emblemáticas, a exemplo do chamado “fogo do Taveira” que redundou  na invasão e saque de Aurora em 1908 por mais de 600 jagunços sob o comando de Zé Inácio do Barro ante os auspícios de quase todos os coronéis da região. Quando foi deposto  por meio das balas o então intendente municipal Antonio Leite Teixeira Neto(Totonho de Monte Alegre) pondo em seu lugar o seu fiel aliado, o cel. Cândido do Pavão. Um episódio que de tão marcante ainda hoje ocupa lugar de destaque nos anais da história do Cariri, do  Ceará e do Nordeste.

O tal 'fogo do Taveira' aconteceu  entre os dias  16 e 17 de dezembro de 1908 no sítio Taveira de Aurora, situado já nos limites de Milagres  e contíguo ao Barro.  Quando num tiroteio fora morto o seu filho mais novo José Antonio de Macedo(Cazuza) de apenas 14 anos sendo também ferido o proprietário da casa .  Coincidentemente,  mesmo dia e  na mesma ribeira se dava a  polêmica demarcação das célebres  minas do Coxá pertencentes ao padre Cícero Romão Batista.  Objeto de disputa entre o sacerdote e pequenos sitiantes das imediações. O que decerto, contribuiu ainda mais para o acirramento dos ânimos entre a gente do coronel Totonho de Monte Alegre, Marica Macedo, Zé Inácio do Barro e coronel Domingos Furtado de Milagres.


Sabendo disso, Marica solicitou ajuda a Floro Bartolomeu que se encontrava nas imediações do sítio Maracajá(Pavão) com um grupo jagunços armados até os dentes.  Não querendo participar diretamente do conflito o representante do padre Cícero apenas usou do seu prestígio junto ao então governador do estado -  Nogueira Acióli que ordenara a retira imediata do destacamento policial que dava apoio ao cel. Totonho. O que facilitou ainda mais a estratagema para  a invasão e deposição do então intendente municipal.  Assim, o fogo do Taveira representou  o verdadeiro estopim para a invasão e saque de Aurora, por  cerca de 600 jagunços  a mando dos coronéis da região a pedido de Marica.

Nada acontecia na Aurora do seu tempo, tanto na política quanto nas questões mais comezinhas que não fosse do seu inteiro conhecimento. Influente e respeitada era de fato uma grande liderança. Ao passo que também, tinha a força de juiz, prefeito, delegada, assim como senhora de engenho e conselheira familiar.

Uma mulher sertaneja que, dentre outras qualidades, se notabilizou  sobretudo por está muito além do seu tempo... Morreu supostamente de ataque cardíaco em 6 de janeiro de 1924 na residência de sua filha, localizada  a rua José dos Santos, na beira fresca de Aurora.

Prof. José Cícero

Secretário de Cultura e Turismo
Pesquisador do Cangaço
e Conselheiro do Cariri Cangaço.
Aurora – CE.

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