Manisfesto Cariri Cangaço pela Restauração do Batalhão de Floresta

 Cariri Cangaço em momento especial do Manifesto de Restauração do Batalhão de Floresta em noite memorável

A noite de abertura do Cariri Cangaço Floresta marcou o lançamento do Manifesto Cariri Cangaço pela Restauração do prédio do antigo Batalhão de Floresta. O texto construído a partir da colaboração de historiadores e memorialista florestanos com destaque para o pesquisador Leonardo Ferraz Gominho e pela Curadoria do Cariri Cangaço, teve também como base o trabalho da FUNDARPE e o Inventário do Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco – Sertão do São Francisco – IPAC/PE. 

No ato da solenidade de abertura do Cariri Cangaço assinaram o referido Manifesto, a prefeita de Floresta, Rorró Maniçoba, o presidente da Câmara Municipal, vereador Murilo Almeida, Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço; Representando a SBEC, Archimedes Marques, representando o GECC, Juliana Pereira, representando o GPEC, Narciso Dias, representando o GFEC, Marcos de Carmelita, além de inúmeros pesquisadores de todo o Brasil, representantes da sociedade civil e  família florestana.

Para Manoel Severo "o Cariri Cangaço se une ao sentimento da família Florestana e a iniciativas já em curso como por exemplo o abaixo assinado promovido pela estimada Rosemere Novaes de Sá e a tantas outras inciativas do poder publico municipal; executivo e legislativo. Aqui não temos cores partidárias nem politicas, o objetivo é único e comum a todos: A restauração desse espetacular patrimônio histórico que não pertence apenas a Floresta ou a Pernambuco, mas ao Brasil, vamos enfrentar juntamente com a lideranças do município esse grande desafio."

 Prefeita Rorró Maniçoba assina o Manifesto
Manoel Serafim assina o Manifesto
Ana Gleide e professor Valmir da CESVASF assinam o Manifesto

Para o pesquisador Marcos de Carmelita, um dos representantes do GFEC-Grupo Florestano de Estudos do Cangaço " Vamos lutar pela valorização da cultura da nossa terra. Não admitiremos ser tratados como coadjuvantes, quando somos os atores principais . Floresta é a cidade mais rica do Brasil em historiografia cangaceira e no entanto, ainda não estamos na Rota do Cangaço em Pernambuco. Vamos combater o bom combate e exigir os nossos direitos e a pronta restauração do Batalhão".

Rosemere Novaes de Sá, responsável por iniciativa semelhante, quando lançou um abaixo assinado pela restauração do Batalhão revela: " O meu agradecimento é eterno. A oportunidade única de lutar pelo Batalhão e concedida pelo Cariri Cangaço junto a tantos intelectuais de renome, meu grande abraço ao senhor Manoel Severo."

 Marcos de Carmelita assina o Manifesto
Archimedes Marques da SBEC assina o Manifesto
Rosemere Novaes de Sá assina o Manifesto
Veja o Manifesto Cariri Cangaço pela Restauração do Batalhão de Floresta
"As Razões do Manifesto...
O município de Floresta, a tradicional “Terra dos Tamarindos”, a “Filha do Pajeú”, “Floresta do Navio”; encravado em uma das mais importantes regiões de nosso sertão pernambucano, com história marcante e pujante desde os tempos quando era primitivamente ocupada por aldeia indígena, catequizada pelas primeiras missões dos jesuítas e capuchinhos franceses, passando pelas fazendas Curralinho, Paus Pretos e Fazenda Grande, ainda no século XVIII às margens do Rio Pajeú, e desaguando como o principal berço combatente ao banditismo rural – o Cangaço; através de seus filhos, homens bravos e probos, se une hoje, depois de 151 anos de sua fundação, na defesa da restauração de seu mais significativo monumento histórico: O Prédio do Batalhão.
Floresta tem o reconhecimento nacional a partir de sua clássica arquitetura, formada por um espetacular casario, referencia em todo o estado de Pernambuco e no nordeste, notabilizada principalmente pela sua beleza e uniformidade de suas fachadas, patrimônio esse ligado intimamente à sua tradição, memória e história e objeto de inúmeros estudos e trabalhos acadêmicos, como o realizado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Estatístico de Pernambuco – FUNDARPE, ainda no ano de 1983, quando foi constituída equipe multidisciplinar; formada por arquitetos, pesquisadores de história e outros auxiliares; coordenada pela arquiteta Neide Fernandes de Souza, para dar início ao inventário do patrimônio cultural do Sertão pernambucano do São Francisco, que teve seu resultado o “Inventário do Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco – Sertão do São Francisco – IPAC/PE”.
Na “Apresentação” do referido trabalho, vê-se que a microrregião foi escolhida por uma série de razões, podendo-se destacar, dentre elas, o aspecto de tratar-se de uma das regiões pioneiras na ocupação do interior do Estado, cujo acervo cultural é importante preservar, além de sua inegável potencialidade turística.
No momento em que todos se unem em prol da defesa da Restauração do antigo Batalhão de Floresta, nos cabe ainda ressaltar a importância do referido patrimônio como indutor do desenvolvimento da região, enquanto fomentador de iniciativas turísticas, voltadas para as áreas da cultura, tradição e conhecimento; molas mestras na direção da consolidação de um desenvolvimento saudável, inteligente e sustentável.
A partir desse significativo Inventário feito pela Fundação do Patrimônio Histórico e Estatístico de Pernambuco – FUNDARPE, que utilizou método de trabalho adotando o sistema desenvolvido pelo Conselho de Cooperação Cultural da Europa, atendendo às recomendações da UNESCO, contido na ‘Recomendação de Palma’” (Maiorca), reforça nosso empenho na direção dessa urgente iniciativa de restauração e preservação do referido “Batalhão de Floresta” ou como muitos chamam: Edifício da Antiga Força Pública.
O Edifício da Antiga Força Pública – O Batalhão de Floresta ...
De acordo com o “Inventário do Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco”, situa-se na Praça Major João Novaes, n.° 251, o edifício conhecido localmente como o prédio da Antiga Força Pública, ou como “o Batalhão”. “O edifício, assim como todo o passeio público de sua vizinhança, assenta-se elevado do nível da rua uns 60 centímetros. Apresenta fachada com 40 metros de extensão, destacando-se das demais edificações locais, formadas por casas de um pavimento”. Quanto à implantação do terreno, encontra-se livre dos dois lados e “integra o sítio histórico de Floresta”. “Edifício de interesse arquitetônico com planta retangular, desenvolvendo-se em dois pavimentos, apresentando na parte posterior, em perpendicular, ala de serviços com um pavimento. A fachada principal acompanha a maior dimensão do edifício e é simétrica em relação ao eixo vertical, configurando cinco tramos. O central, com a porta principal e uma janela rasgada com balcão e um pequeno frontão em arco. Colateralmente, segue-se um amplo tramo com duas linhas de seis janelas correspondentes, seguindo-se os tramos extremos, onde no térreo há uma porta e, no pavimento superior, duas janelas. As esquadrias são de pranchas verticais de madeira. Todos os vãos externos da fachada principal têm meia cercadrua em forma de sanefa. O corpo principal é coberto em duas águas com telha canal paralelas à rua e com platibanda apenas na fachada principal. Ainda nessa fachada correm duas cornijas paralelas, uma na linha da platibanda e a outra na linha do balcão, dando ao edifício maior sentido de horizontalidade. No corpo anexo, a coberta tem águas em três sentidos. Os interiores sofreram pequenas intervenções, com o fechamento de alguns vãos, para adequação de uso. Nenhum dos ambientes é forrado, o que permite deixar à vista, no pavimento superior, o sistema de coberta: linhas com pontaletes. No térreo, piso de cimento queimado; no superior, assoalho, deixando à vista, para os ambientes térreos, o seu travejamento”.
Quanto à tipologia, vê-se no Inventário que o edifício foi “construído com a finalidade de seminário, sendo posteriormente ampliado. O corpo principal é do início do século XX, e o anexo que lhe foi acrescido, dos meados deste século. Apresenta corpo principal de planta retangular, com a extensão maior paralela à rua e circulação longitudinal no centro do edifício, normal ao acesso principal. A solução de planta, tendo circulação longitudinal paralela ao lado maior do retângulo, é encontrada em edificações deste tipo, podendo ser vista a do prédio de aulas do Colégio Nóbrega do Recife”.
Com relação ao Histórico, esclarece-se que, em 1912/1913, foi “construído o prédio para servir de seminário”. Em 1920, o “capitão Antônio David Gomes Novaes comprou o prédio, que estava inacabado, e ficou sem uso”. Em 1928, o “Grupo de Engenharia da Polícia Militar reformou e terminou o prédio para abrigar o 3.° Batalhão da Força Pública, para combater o cangaço”. Depois da Revolução de 1930, o Batalhão foi transferido de Floresta, ficando o prédio desativado. Em 1950, “por iniciativa da Professora Lindaura Gomes de Sá, passou a funcionar o Pensionato da Divina Providência, quando foi construído o anexo”, que, segundo o historiador Leonardo Ferraz Gominho, abrigava as atividades de tecelagem, corte e costura, oficina, todos do Centro Profissional fundado pela educadora florestana. 
Pelo Inventário, vê-se que, quanto ao sistema construtivo e materiais, trata-se de “construção em paredes auto-portantes de alvenaria de tijolos que suportam o travejamento do tabuado do pavimento superior e as linhas e pontaletes que formam a estrutura da coberta”.
Um Pouco da História...
Em seu livro “Floresta – memórias duma cidade sertaneja no seu cinqüentenário” (2.ª edição, pp. 217 a 219), o historiador Álvaro Ferraz registrou parte da história do prédio da antiga Força Pública, estreitamente vinculado ao combate ao cangaço. Segundo ele, aquele fenômeno, o cangaceirismo, “degenerou posteriormente para o banditismo de grupo que atingiu o máximo do seu desenvolvimento com a figura sinistra de Lampião”. “Para que fosse erradicado” – diz o historiador –, “tornou-se necessário que o Governador Estácio Coimbra localizasse em Floresta o 3.º Batalhão da Polícia Militar, depois duma perseguição tenaz por forças volantes que pagaram um pesado tributo à sua bravura e ao seu desprendimento”. E mais: “O chefe-de-polícia, Dr. Eurico de Souza Leão, foi o orientador dessa campanha, coroada aliás de um êxito quase completo”. Álvaro Ferraz esclarece que, “Depois da Revolução de 1930, o 3.º Batalhão voltou a aquartelar no Recife. Mas antes disto, a cidade presenciou, um tanto atônita, o espetáculo contristador de um levante de quartel, na noite do dia 6 de outubro de 1930, no qual perderam a vida estupidamente dois oficiais: o capitão João Jacó de Carvalho e o tenente José Coutinho da Costa Pereira”.
O historiador Carlos Antônio de Souza Ferraz, em seu livro “Floresta do Navio – Capítulos da história sertaneja” (p. 230), lembra que, “por escritura lavrada a 5 de julho de 1928, no recife, o Estado de Pernambuco adquiriu por 15.000$000 (quinze contos de réis), ao Sr. Antônio David Gomes Novaes, um imóvel de dois pavimentos” para aquartelar a tropa da Força Pública, recebendo a edificação melhoramentos e adaptações. “O prédio fora do bispado, com vistas ao seminário”, esclarece o historiador, acrescentando que no dia 16 de novembro de 1928 o 3.º Batalhão já estava devidamente aquartelado no imóvel, sob o comando do major Urbano Ribeiro de Sena.
O historiador Leonardo Ferraz Gominho afirma que o soldado Luís registrou, na parte posterior central da platibanda, a conclusão da pintura do prédio: agosto de 1928. No seu livro “Floresta – uma terra, um povo”, Vol. 14 (Coleção Tempo Municipal – Centro de Estudos de História Municipal da Fundação de Desenvolvimento Municipal do Interior de Pernambuco - FIAM, p. 178), conta que foi decisiva a atuação do Dr. Olympio de Menezes – florestano e deputado estadual nas legislaturas de 1925/27 e 1928/30 (Governos de Sérgio Loreto e Estácio Coimbra) – “para a instalação do Terceiro Batalhão da Polícia, em Floresta”. Gominho narra (vol. 15, pp. 79 a 80, mesma coleção), com detalhes, o levante referido por Álvaro Ferraz, por ocasião da Revolução de 1930. Segundo ele, “os fatos desenrolados no 3º Batalhão, por ocasião desse movimento revolucionário, ficariam por muito tempo na memória do seu povo. O major Nélson Leobaldo – amigo de Theóphanes –, no Comando havia quatro meses, conquistara a confiança e a amizade dos comandados. Manifestou o propósito de reação, ‘salientando que dispunha de muito elemento civil que podia armar com os fuzis disponíveis existentes em depósito’. Já havia, entretanto, um plano de revolta. Aderiram à Revolução o capitão Pedro Cavalcanti Malta, os tenentes José Coutinho da Costa Pereira e Francisco Ibraim de Lira, o sargento José de Andrade e outros companheiros. Por volta das cinco da tarde teve início o movimento. O comandante foi ferido. O capitão João Jacó observou o sargento Andrade apontar-lhe o fuzil. O sargento, que estava sentado no pedestal da bandeira que havia em frente ao Batalhão, disparou sua arma, atingindo o capitão no peito, fazendo-o tombar sem vida e cair à direita do portão central do prédio. A mesma bala que lhe varou o tórax perfurou a janela em frente à qual o capitão estava. O sargento Pedro Monteiro foi alvejado pelo tenente Costa Pereira e reagiu, atingindo-o com um tiro de fuzil, matando-o. Iniciou-se então a luta armada entre os fiéis do governo e revolucionários, todos militares. Foram trocadas balas entre os soldados que se entrincheiravam na escadaria que havia em frente à casa de Fortunato Gominho (Siato) e os que estavam no prédio do Batalhão. Em desvantagem, o capitão Pedro Malta correu e se escondeu na casa de Cícero Rufino de Sá (rua Fausto Ferraz, n.º 176). Os outros revolucionários, sentindo a derrota, também deixaram o local. A população estava apavorada e insegura. Boa parte dos habitantes da cidade buscou refúgio nas fazendas, dificultando-se o abastecimento da tropa que, ‘no dia 8, outra coisa mais não tinha, se não carne verde’. ‘Todas as forças revolucionárias se aproximavam de Floresta e insistiam para que o major Nélson depusesse as armas’. As primeiras forças a entrar em Floresta foram as comandadas pelo coronel Sobreira e  major João Costa, que se entenderam  com o comandante”.
Considerações Finais...
Diante do acima exposto, empreendemos o presente Manifesto na direção da pronta Restauração do Prédio da Antiga Força Pública – Batalhão de Floresta, situado na Praça Major João Novaes, n. ° 251, no centro histórico desta cidade por sua declarada a importância ambiental, urbanística, histórica, arquitetônica e cultural, não só para o município de Floresta, mas para todo o estado de Pernambuco e todo o Brasil.

Assinaturas dos Signatários"

Cidadania Sertaneja desde pequena...Yasmim Almeida, filha do casal Junior e Ranaíse Almeida assina o Manifesto.
Atual situação do prédio do Batalhão de Floresta

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço comenta "estaremos a partir de agora, juntamente com as autoridades locais e também com os grupos de estudos do cangaço e sociedade civil organizada iniciando os contatos para a entrega do Manifesto às autoridades estaduais de Pernambuco, como também estaremos acompanhando passo a passo as repercussões e providências".

Cariri Cangaço Floresta
26 de Maio de 2016, Câmara Municipal
Fotos: Kiko Monteiro , Junior Almeida e Elvis Lima

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