Cangaceiro Jararaca preso em Mossoró, junho de 1927
Em 3 de abril de 1927 Jararaca ataca a Vila de Carnaíba. Já se passaram 93 anos desde que a outrora bela e formosa Vila de Carnaíba de Flores, foi atacada pelo famigerado cangaceiro Jararaca. Nesta linda e aprazível cidade interiorana de Pernambuco, nasceu um dos poetas "mais grandes" da cultura nordestina. Compositor de temas vibrantes, poeta e folclorista, conhecido pelo nome de Zé Dantas.
José de Sousa Dantas Filho tinha apenas 6 anos de idade quendo isso aconteceu. Vou aqui homenagear, aproveitando o espaço, o Grande Poeta: Zé Dantas, grande compositor sertanejo, conhecido por suas belas canções, como “O xote das meninas”, “Derramar o Gás”, “A Volta da Asa Branca”, “O Forró de Mané Vito”, “Vozes da Seca”, “Vem Morena”, “Algodão”, “Cintura Fina”, “Imbalança”, “Mané e Zabé”, “Minha Fulô”, “Noites Brasileiras”, “São João na Roça”, “Paulo Afonso”, “Riacho do Navio”, “Sabiá”, “Samarica parteira”, “Siri Jogando Bola” entre outras obras.
Pois bem, voltemos ao ataque do cangaceiro Jararaca. Carnaíba das Flores, que está situada à margem direita do lendário Rio Pajeú. Foi assaltada pelo temível cangaceiro Jararaca e seu grupo de 13 cabras. Aqui esse artigo, iremos dissertar o histórico que o Padre Frederico Bezerra Maciel escreveu no seu livro CARNAÍBA, A PÉROLA DO PAJEÚ: "Procedente das bandas de Sítio dos Nunes, ao chegar ele, alta madrugada, em Carnaíba velha, espécie de subúrbio com casas separadas e esparçadas do outro lado do rio. Aprisionou o fogueteiro Faustino para que servisse de guia indicando as casas do telegrafista e dos comerciantes da vila. De 4 horas e 30 minutos para as 5 horas da manhã atravessou o denso e fofo areal do rio sêco com seu grupo e o prisioneiro guia entrando na rua principal pela passagem ao oitão esquerdo do vapor do descaroçador de algodão de manuel josé da silva.
Em todo o percurso da longa, alinhada e bela rua, arborizada de cajaranas e findando na igreja do orago Santo Antônio, foi o guia mostrando as casas comerciais e residenciais dos principais homens de dinheiro Manuel José, Zé Martins, Major Saturnino Bezerra, Zé Dantas (pai), enfim já perto da igreja do lado esquerdo de quem ia, a casa do telegrafista Emídio de Araújo conhecido por Emídio Grande. Na realidade não devia este ser chamado de telegrafista e sim de telefonista pois o que havia era um telefone na repartição pública federal para passar telegramas. Aproveitando-se ali de um descuido do grupo, conseguiu o fogueteiro fugir pela e cercas de pau a pique e avelós dos roçados das vazantes.
No largo patamar da igreja, os cabras, entre talagadas de cachaça, xaxavam, batendo como coice das armas na calçada e cantando mulher rendeira, com isso despertando os habitantes do lugar, que logo compreenderam tratar-se de cangaceiros. Em seguida, o próprio Jararaca deu três tiros na porta da entrada da casa do telegrafista, o qual respondeu, de dentro, com um tiro. Isto fez o grupo temer entrar na casa. Então, após uns quatro tiros na porta da casa vizinha, residência de Zé Veríssimo, que logo fugiu com a esposa pelo portao do muro, rebentaram
a porta da frente e nela entraram. Abriram a mala, quebrando-lhe a fechadura estragaram as roupas encontradas, rasgando um vestido e queimando outro, nada roubando porque seus donos quase nada possuiam. Vivia o pobre Zé Verissimo do modesto emprego de caixeiro de balcao na loja do major Saturnino, Na outra casa, pegada à de Verissimo, morava o cabo Severino, comandante do destacamento, que saiu correndo por detrás, sem detonar um tiro. Os cinco soldados do destacamento, que moravam juntos, em acanhado casebre de António Conserva, guarda da linha, situado no mesmo correr da rua, porem mais em cima, bem no oitão direito da igreja e distante do patamar da igreja de apenas 4 metros, também correram pelos fundos. O soldado Zé Inácio que morava bem na frente do telegrafista e que estava doente de febre tifoide, temendo por sua sorte, enrolou-se num cobertor e saiu pela cerca do quintal para a residència de Joaquim Leandro da Silva, conhecido por Joaquim Borrego, atrás da lgreja, o qual estava ausente.
A familia deste, como todas as outras da vila, deitadas no chão, temendo as balas. Depois da casa de Veríssimo, entraram os cangaceiros, forçando porta e janela, na residéncia do major Saturnino, situada a 18 casas abaixo. O major estava fora. E sua esposa, D. Naninha Grande, ficou sozinha com a fuga de seu filho, Zé Bezerra, pelo quintal. Os cabras respeitaram a mulher, mas roubaran rifle e dinheiro. Daí seguiram para a residència de Manuel José, no outro cordão de rua, bateram na porta. A esposa Maria Brasileiro foi atender. Dois cangaceiros entraram e foram logo exigindo dinheiro. Manuel José apareceu e disse que o dinheiro estava guardado na loja. Enquanto um cangaceiro acompanhava Maria Brasileiro até a loja, o outro ficou mantendo o esposo como refém. Na loja Maria teve a presença de espirito de não mostrar o cofre mas tão somente a gaveta do balcão com o apurado do dia e que na ânsia foi logo raspado pelo cangaceiro. Muito dinheiro miúdo em moedas e cédulas, importancia total pequena. O outro companheiro tão preocupado em manter o refém nem atinou mandar abrir o baú onde estavam guardadas as jóias, no qual se sentara de propósito Manuel José. Logo que o primeiro voltou e os dois iam começar contar o dinheiro, ouviram-se tiros do lado de fora. Os dois fugiram levando o dinheiro.
Os carnaibanos começaram a se movimentar para a reação. Ora, cada comerciante mantinha cabras para defesa em casos como este. Por exemplo, Major Saturnino tinha os cabras João Mororó e João Teotônio; Zé Martins tinha Mané Quitola; Luís e Eliseu Cassiano tinham João Lessa; Zé Dantas tinha Zé Marques, Manuel José tinha seu cunhado Zé Vital... E muitos possuíam armas próprias. Uns 20 decididos carnaibanos pulavam de um muro para outro a fim de estabelecer os planos de resistência e tomavam posição nas entreabertas das janelas e em outros resguardos. Os soldados voltaram para o embate. Dois deles que estavam no quartel estabelecido numa casa quase em frente da de Manuel José não podendo fugir começaram a atirar para o ar a fim de intimidar, mais com isso gastando multa munição atoa. Nesse então, das janelas da rua começaram a partir tiros esparsos de ponto. Depois fechou-se o tempo.
Por trás do antigo cemitėrio morava um cidadão da Barra de São Serafim, chamado Manuel Florentino. Conseguiu ele entrar no beco formado pelo vapor de Zé Jordão e o chalé de Zé Martins e fazendo frente ao beco de Manuel José. Deitado, amparou-se nuns paus, ali colocados deitados, a modo de dique para as águas das enxurradas da rua nos tempos de chuva. Dali atirava de ponto na direção do beco de Manuel José, para onde havia corrido alguns cangaceiros por causa dos tiros disparados de vários pontos da rua. Nessa corrida um dos cangaceiros deixou cair seu fuzil no meio da rua. Parte dos cangaceiros, da porta e das janelas da morada de Manuel José, atirava para dentro da rua respondendo aos detensores.
Outra parte, da esquina do fim do muro da mesma casa respostava ao beco. Pedro Orenuno ordenou a seu companheiro recém-chegado, Pedro Martins, a ir ver o Fuzil caido para com ele fazer boca de fogo, isto é, lhe dar cobertura sustentando o fogo. Arrastando-se, o xará apanhou o fuzil e permaneceu ali, no mesmo ponto, deitado, atirando. Quando o tiroteio já com quase 2 horas cessou um pouco, disse Pedro Florentino ao outro: só se tomar o portão do oitão.
Quando atravessou a rua entrou no beco, recebeu Pedro Florentino as cargas de um rifle peiado e de um fuzil, utilizados por dois cangaceiros. Por sorte apenas um balaço de fuzil o atingiu na parte superior da coxa atravessando-a sem atingiu o osso. Colando-se na parede, revidou Pedro Florentino e de ponto no cangaceiro do rifle, acertando-lhe na mão, o qual deixou a arma no canto da parede e nesta imprimindo de sangue sua mão ferida. Pelo portão detrás do muro, ainda na mesma casa fugiram os restantes cangaceiros. Abrindo a porteira do curral, pularam a cerca que dá para a vazante e desta ganhararm o rio. Prenderam Manuel Torquato para mostrar o caminho do Sítio dos Nunes.
Pegaram dois cavalos para os baleados. Torquato safou-se, dizendo; - Lá vem a policia! Rumaram eles para o Serrote do Capim ou para a serrinha dos Eustórgios. Atrás deles, saíram alguns mascates de Carnaiba, como Zé Agostinho conhecido por Zé Boa Vista, Elpidio do Velho Brejeiro, os empregados de Zé Martins, além de João Mororó... não os encontrando, nem deles tendo noticia. Também não tinham rastejadores para tomarem a pista. Afora o rifle, peiado com um lenço grande, deixado no beco, foi encontrado, dentro da roça, um bornal com farinha, carne e rapadura, cuja correia partira, de certo, no momento de seu possuidor pular a cerca.
Os cangaceiros, como os militares da policia, não possuíam tática de guerra. Tipico o ataque de Jararaca a Carnaíba. Por isso, o que Ihes faltava em estratagema, sobrava em desmandos e perversidade. Somente Lampião, naquela época no Sertão, sabia usar de tática e que táticas geniais! Mais tarde surgiria seu irmão Ezequiel com pendores táticos, mas prematuramente morto."
Do livro CARNAÍBA, A PÉROLA DO PAJEÚ do escritor Padre Frederico Bezerra Maciel. Fonte:http://meneleu.blogspot.com/
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