Aos Ventos que Virão... Por: Alcino Costa

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Cineasta Hermano Penna

Poço Redondo está sendo palco da filmagem do longa metragem “Aos ventos que virão”, filme que tem em Hermano Penna o seu diretor, ainda André Lavener como diretor fotográfico e Ana Clara Rafaldi, na condição de produtora executiva. O filme é estrelado pelo ator Rui Ricardo Diaz, aquele mesmo que fez o papel do presidente Lula no filme sobre a sua vida, ainda pelas atrizes globais Neuza Borges e Emanuelle Araújo, além do nosso sergipano Antônio Leite e outros atores da Bahia.

Este é o terceiro filme que Hermano Penna faz em Poço Redondo. Anteriormente, na década de 70, aconteceram duas filmagens em nosso município: “Mulher no cangaço” e “Sargento Getúlio”, este teve como ator principal o lendário Lima Duarte que passou alguns dias em nosso município, nos dando a honra de sua ilustre presença em nossa cidade.  Foi naquela época que Hermano, ao ler o livro de minha autoria “Lampião além da versão” ficou encantado com a história de Zé de Julião, no capítulo intitulado “Zé de Julião – a grande vítima do destino”.

Aquela comovente epopéia do moço de Poço Redondo nunca mais saiu da cabeça do extraordinário cearense do Crato, porém radicado há muitos anos em São Paulo. Hermano havia jurado consigo mesmo que um dia iria levar para o cinema aquele extraordinário épico de um homem que viveu uma vida de terríveis provações até ser assassinado naquele lutuoso dia 19 de fevereiro de 1961.

Zé de Julião é um famoso e saudoso filho de Poço Redondo. O seu pai, Julião do Nascimento, era o único homem daquele então arruado das brenhas sertanejas de Sergipe, possuidor de muitos bens, de vez que era proprietário de várias fazendas e um rebanho bovino avultado. Mesmo assim, o filho do fazendeiro, então recém casado com Enedina, numa decisão de extrema infelicidade, porém temeroso pela perseguição que as volantes lhe moviam, ingressou no bando de Lampião, levando consigo a sua querida esposa, que perdeu a vida ao lado de Lampião, Maria Bonita, e os demais oito companheiros no célebre cerco à Grota de Angico pelo tenente João Bezerra da Silva. Os anos se passaram. O projeto jamais saiu da cabeça de Hermano. Eis que, após muita luta e sacrifício, o sonho está sendo realizado. As filmagens tiveram seu início na semana passada, dia 19. O filme não segue propriamente a história e os acontecimentos da vida de Zé de Julião, segue o seu próprio caminho tão peculiar nos enredos e produções cinematográficas. Os nomes foram mudados. Zé de Julião passou a ser Zé Olímpio, e Enedina se tornou Lúcia. Enedina não vai morrer, ela acompanhará o marido até a sua morte em 1961.

Alcino Costa entre Juliana Ischiara e Ana Lúcia

O enredo do filme é emocionante. Por que “Os ventos que virão”? Vivia-se a esperança de Brasília, o então novo eldorado brasileiro. Naquele chão goiano estava sendo construída não só uma nova capital, mas as aspirações e os desejos de um povo. Recuperar a sua vida de empreiteiro naquele gigantesco canteiro de obras passou a ser o sonho de Zé de Julião, o nosso Zé Olímpio do filme. Aquela nova vida passaria a ser os ventos benéficos do futuro do homem que se tornou a grande vítima do destino. E assim, em sua sensibilidade artística, Hermano colocou o título “Aos ventos que virão”, aliás que nunca chegaram para Zé de Julião, na película por ele produzida.Deixando de lado a fantasia do filme que nasceu da mente arejada de seu produtor, necessário se faz falarmos um pouco da verdadeira história do real personagem que fez florescer o enredo de “Os ventos que virão”. Zé de Julião, nasceu José Francisco do Nascimento, naquele dia 19 de abril de 1919. O seu pai era um abastado fazendeiro para os padrões de Poço Redondo. Ainda muito moço contraiu matrimônio com uma parenta de nome Enedina. Na primeira quadra do ano de 1937 foi para a companhia de Lampião, levando ao seu lado a sua jovem esposa. No cangaço recebeu o nome de Cajazeira.

No pandemônio da Grota de Angico, vamos encontrá-lo naquele inferno. A sua esposa ali perdeu a vida. O cangaço morreu e Zé de Julião, após casar com uma irmã de Enedina, uma moça chamada Estela, arribou para as terras do sul, indo residir em Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro. Com a morte do pai foi obrigado a retornar ao Poço Redondo que ele tanto amava com a finalidade de cuidar dos bens deixados pelo genitor. Poço Redondo é emancipado em 1954. Zé de Julião se candidata a prefeito. A eleição terminou empatada entre ele e o seu opositor Artur Moreira de Sá. Por ser mais velho Artur ficou com os louros da vitória.

Na eleição de 1958 voltou a ser candidato. No entanto, uma medida compreensível da justiça eleitoral desgraçou a sua vida e ela chegou com a obrigação de se cadastrar todos os eleitores para adquirir novos títulos. Esta nova lei foi à desgraça de Zé de Julião. Nenhum de seus adeptos recebeu seu título. Desesperado, no dia da eleição roubou as urnas. Foi perseguido como se fosse um cão danado. No dia 19 de setembro de 1959 foi preso e recambiado para a Penitenciária do Estado, em Aracaju. Após ganhar a sua liberdade, carregando o sonho dos ventos benéficos de Brasília, viajou para a nova capital. Eis que, misteriosamente, no aeroporto de Salvador, na Bahia, alguém cujo nome a história desconhece, o convenceu a não seguir a viagem tão sonhada para seguir o seu destino de dor e sofrimento, retornando ao Poço Redondo, aonde foi assassinado naquele dia 19 de fevereiro de 1961.  Que o nosso Hermano Penna, ao lado de sua competente equipe e de seus atores e atrizes tenham muito sucesso neste “Aos ventos que virão”, pois ele faz parte de nossa história sofrida e ao mesmo tempo bela deste tão amado Poço Redondo.

Em tempo: Você, meu leitor amigo, prestou atenção na repetição misteriosa do número 19 na vida e no destino de Zé de Julião? Nasceu em um dia 19, foi preso em um dia 19, morreu em um dia 19 e o filme baseado em sua saga começou num dia 19. Ainda mais, o nome de guerra, Cajazeira, tem nove letras.

Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo
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12 comentários:

Anônimo disse...

Espetacular artigo do senhor Alcino Costa, parabens.

Renata Figueiredo
Canindé

ADERBAL NOGUEIRA disse...

Mais um grande sucesso de Hermano Pena. Valeu, mestre Alcino, você é 10!

Demetrius Calvin disse...

Caros amigos do Cariri Cangaço, qual a cidade que mais "contribuiu" com cabras para o bando de Lampião?

Demetrius Calvin

João de Sousa Lima disse...

Como não ser apaixonado por Alcino?
caríssimo amigo sua amizade me honra e dignifica, assim como seu conhecimento e sua pesquisa nos traz o verdadeiro saber das histórias passadas na região de Poço Redondo, sua amada terra.
Meus parabéns e qualquer homenagem a sua pessoa torna-se urgente e necessário.
grande abraço
o amigo
joão de sousa lima

Helio disse...

Senhor Alcino, concordo com o João de Sousa Lima, todos que conhecem seu trabalho possuem respeito e admiração pelo senhor, uma reserva do estado do Sergipe pela sua dedicação, conhecimento e seriedade. Ao grande Alcino Costa o nosso reconhecimento, abraços a João de Sousa e a Severo.

Parabens

Professor Mario Helio

Anônimo disse...

Alcino Costa é verdadeiramente uma reserva moral e intelectual deste estado, muitas vezes esquecido pela federação. parabens Alcino por levar o nome de nosso Sergipe para o mundo.

Dr. Julio de Sousa Freitas
São Cristovão
Sergipe

Juliana Ischiara disse...

Caro Demetrius Calvin,

Respondendo a sua pergunta:

Após a travessia de Lampião para os estados da Bahia e Sergipe, os
municípios que mais viram seus filhos no cangaço foi o hoje município
de Paulo Afonso, naqueles idos pertencendo a jurisdição de Santo
Antônio da Glória, com 47 de seus jovens no cangaço. Sendo 28 rapazes,
17 moças e 02 mulheres casadas, Maria Bonita e Mariquinha, de Ângelo
Roque, o Labareda, perfazendo o total de 47 cangaceiros e cangaceiras
do Raso da Catarina.

Em Sergipe, no então município de Porto da Folha, hoje pertencente as
terras de Poço Redondo, foram para o bando de Lampião 35 de seus
jovens filhos. Sendo 27 rapazes, 06 mocinhas, e o casal Zé de Julião e
Enedina.

No mais, ratifico todos os comentários acima postados. Mestre Alcino é mesmo um fenômeno, não só por seus conhecimentos, mas pela grandeza de sua alma sertaneja e como ele mesmo diz, matuta. Um mestre no sentido literal da palavra, quem o conhece sabe do que estou falando, pois estamos sempre aprendendo com ele, não só sobre cangaço, mas sobre a vida.

Saudações Cangaceiras

Juliana Ischiara

João de Sousa Lima disse...

para Demetrius Calvin,
o lugar que mais deu cangaceiros e cangaceiras para lampião foi paulo afonso, um total de 47.

Demetrius Calvin disse...

Ao João de Sousa Lima e a Srta Juliana, muito obrigado pela atenção, isso só prova a seriedade do trabalho do site. Confesso que não esperava a resposta de minha pergunta de forma tão rápida. Muito obrigado mesmo.

Antes eu pensava que a cidade que mais tinha mandado homens para o cangaço havia sido carqueja.

Abraço e muito obrigado ao João e Juliana.

Calvin

Anônimo disse...

RETIFICAÇÃO:

Caro Severo,

Preciso fazer uma correção em nosso artigo "Aos ventos que virão".
Poço Redondo não foi emancipado em 1954 e sim em 1953, através da Lei
número 525 - A de 25 de novembro de 1953. A primeira eleição aconteceu
no dia 03 de outubro de 1954, Eleição em em que os candidatos a
prefeito Zé de Julião e Artur Moreira de Sá tiveram votos iguais,
portanto empatados, e como Artur era o mais velho foi eleito o
primeiro prefeito de Poço Redondo.

A segunda eleição foi aquela que Zé de Julião roubou as urnas no dia
03 de outubro de 1958, o dia daquela eleição. O mesmo foi perseguido
como um cão danado, até a sua prisão e morte por assassinato no dia 19
de fevereiro de 1961.

Gostaria de externar o meu agradecimento aos confrades que com tanta
fidalguia fizeram os seus comentários, os quais me deixaram deveras
emocionado.

Abraços a você Severo, e a todos estes queridos amigos e a minha
querida amiguinha Juliana.

Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo

José Mendes Pereira disse...

São coincidências incríveis, igualmente às de Lampião. Diz que quando Lampião ainda na juventude, trabalhador, responsável, uma cigana lá da feira de Pariconhas, ao ler a sua mão, disse-lhe que tivesse cuidado com o número SETE, pois ele seria a sua perdição”. 01 – LAMPIÃO, CAPITÃO BANDIDO ASSECLA E CANGAÇO, todas têm sete letras. 02 – Lampião trabalhou como almocreve do coronel Delmiro Augusto Gouveia, que, CORONEL, DELMIRO, AUGUSTO, GOUVEIA todas têm sete letras. 03 – Delmiro foi morto a tiros, no dia 10 de outubro de 1917. Lampião também, na grota de ANGICOS, palavra também com sete letras. 04 – Também foi de 21 o número de anos de diferença entre as mortes de Delmiro Gouveia e Lampião. Múltiplo de sete. 05 – Os seus supostos traidores: Pedro de CÂNDIDO, Joca Bernardo de ALMEIDA, Domingos VENTURA e ANTONIO de Chiquinha (que traiu o comparsa de Lampião, o Zé Baiano) todas estas palavras têm sete letras. 06 – JULHO, mês que ele foi assassinado, representa o sétimo mês do ano. 07– O dia da sua morte, VINTE E OITO, é múltiplo de sete. 08 – Ano de sua morte, 1938, tem quatro algarismos, que somados, totalizam 21, que é múltiplo de sete. 09 – Maria Sulena da Purificação, e José Ferreira da Silva, mãe e pai de Lampião, foram mortos no Estado de ALAGOAS, que também tem sete letras. 10 – Lampião foi morto no Estado de SERGIPE, que também tem sete letras. 11 – No dia 28 de julho de 1938, Lampião foi morto pela volante de policial, João Bezerra, BEZERRA, na grota de ANGICOS, no Estado de SERGIPE, todas têm sete letras. 12 – MOSSORÓ também tem sete letras, e foi invadida por Lampião às 17 horas da tarde de 13 de junho de l927. A cidade estava em festa, promovida pelo o clube de futebol, Humaitá FUTEBOL e HUMAYTÁ, ambos, têm sete letras. 13 – Também tem sete letras o nome do coronel RODOLFO, prefeito de Mossoró, que organizou a resistência contra o cangaceiro. 14 - Lampião conheceu Maria Bonita no interior da Bahia, em Santa BRÍGIDA, que também tem sete letras. 15 – A metralhadora que exterminou a vida de Lampião, era da marca HOT-KISS, que também tem sete letras. 16 – Lampião entrou para o cangaço aos 24 anos. Seu primeiro e único patrão, foi o Sinhô PEREIRA, que também tem sete letras. 17 – CORISCO, um dos cangaceiros de maior confiança e amigo fiel de Lampião, tem sete letras. 18 – ABRAHÃO era um libanês que vivia em Juazeiro, ajudando o padre Cícero. Foi ele quem pela primeira vez conseguiu a permissão de Lampião para fotografar o bando, em 1935. Abrahão é o sétimo patriarca da Bíblia, e também tem sete letras. 19 – O coronel Joaquim Resende, que antes não tinha o mínimo respeito por Lampião, sua patente, CORONEL, tem sete letras; seu nome, JOAQUIM, tem sete letras, e seu sobrenome, RESENDE, também tem sete letras. 20 – Os seus dois professores, SORIANO E JUSTINO, ambos, os seus nomes têm sete letras. 21 – O homem que comunicou ao prefeito Rodolfo Fernandes a sua invasão a Mossoró, Antonio Pereira Lima, o nome ANTONIO e sobrenome PEREIRA, têm sete letras. 22 – Os seus antecessores do cangaço, JESUÍNO, ANTONIO SILVINO E PEREIRA, também têm sete letras. 23 – O padre que o batizou, QUINCAS, também tem sete letras.
José Mendes Pereira - Mossoró-Rn.

José Mendes Pereira disse...

Juliana Ischiara:
Esta sua resposta ao confrade Demetrius Calvin, não só foi importante para ele, como foi para mim.
Obrigado pela carona que você me deu.

José Mendes Pereira - Mossoró-RN.