Candeeiro e a Caravana Cariri Cangaço Por:Manoel Severo

Guanumbi, em Buique

Nasce o segundo dia da Caravana Cariri Cangaço. De Triunfo até Flores; outro importante cenário da época em que Virgulino Ferreira iniciava no cangaço; o trajeto de cerca de 20 Km descendo a serra possui uma paisagem exuberante, a neblina persistente da manhã, permanece,  trazendo  imagens  sensacionais. De Flores a Custódia e de Custódia a Arco Verde, 80 km ainda nos separavam de Buique. 

Guanumbi é um pequeno distrito de Buique. Saindo do centro da cidade percorremos 27 Km em estrada carroçável até chegar a casa de Manoel Dantas de Loyola, ou, Seu Né; ou melhor: Candeeiro. Seu Né, como todos acabam chamando o ex-cangaceiro, mora no número 19 da principal rua do lugarejo, bem em frente a pracinha. Dona Linda e dois dos quatros filhos estavam com o nonagenário no momento de nossa visita. Visitar Candeeiro nos remete a uma emoção impressionante, não só pelo personagem ali representado, mas pela força que aquele homem de 98 anos ainda exala. O sorriso franco e fácil, o olhar doce e curioso quando fala, não parecem ser de um homem que esteve nos hostes cangaceiras, ou de um dos cangaceiro s que conseguiu escapar do fatídico Angico.

Múcio Procópio e numero 19 da principal rua de Guanumbi

Aderbal Nogueira é recebido com carinho por toda família. Há 20 anos o documentarista da SBEC fazia as primeiras imagens do velho cangaceiro, na época ainda bastante taciturno, recatado, calado, mas completamente lúcido. Hoje lampejos de lucidez e lembranças, mas nas poucas que pudemos perceber, “bebemos na fonte”, foram mais de duas horas de uma visita inesquecível. A entrada no cangaço, as andanças com Jararaca, o baiano, as histórias com Virgínio, o Capitão, Angico, o tiro que esfacelou seu braço, as entregas, o tempo que era soldado da borracha,  o retorno, enfim. Passo a passo Candeeiro vai juntando pequenos  fragmentos de lembranças de um tempo que parece não sair de sua cabeça... 

Candeeiro e Manoel Severo
Afrânio, Candeeiro, Manoel Severo e Valentim  Antunes

“Certa vez Corisco observando um dos cangaceiros da família dos Ingrácias, um moreno ainda jovem com os cabelos encaracolados, era manhazinha e os cabelos desse cangaceiro estava molhado do sereno da noite, daí nasceu o apelito de Zé Sereno para o marido da Sila”


 Candeeiro, memória viva dos tempos do cangaço
Aderbal Nogueira entre o casal: Candeeiro e dona Linda

Dona Linda, sua esposa, a tudo escuta e acompanha, aqui e acolá um comentário, um reparo, uma outra lembrança. As fotografias selam o final de nossa visita e a certeza que a cada momento que passa, mais nos é caro compartilhar momentos de inegável valor histórico ao lado de personagens como Manoel Dantas de Loiola, ou seu Né, ou Candeeiro. A Caravana Cariri Cangaço agradece a toda família de Manoel Dantas de Loiola; um dos dois últimos cangaceiros vivos; pela acolhida por ocasião de nossa visita.

Manoel Severo

Um comentário:

Carlos Frota Cardoso disse...

Adoraria pelo menos tirar uma foto com o seu Né. Interessante é que ele é confundido com Lampião por estar ao lado de Maria Bonita lendo um jornal.

Outro fato interessante é por ele ser sobrevivente de Angicos.

Prometo que vou respeitar sua idade e sua privacidade, mas... o cangaço tem sido um dos objetos dos meus estudos desde os meus 15 anos.

Parabéns, seu Né! Parabéns, Dona Linda! Que Deus os abençôe!