Uma viagem de muitas alegrias e uma tristeza Por: Aderbal Nogueira

Aderbal Nogueira e sertão da Bahia

A Caravana Cariri Cangaço - GECC foi para mim uma viagem de muitas alegrias e uma tristeza. Alegria em reencontrar grandes amigos, porque não dizer "IRMÃOS" João de Souza, Jairo Luiz, Antônio Vilela, Mestre Alcino, entre outros que sempre estão a nos esperar. Alegria maior em reencontrar meu amigo Candeeiro, seu Né, como é carinhosamente chamado Manoel Dantas Loyola, que me chama de 'Derval'.

Parece que foi ontem que estive com ele e sua generosa família pela primeira vez. Há aproximadamente 18 anos atrás, onde a incerteza de uma boa acolhida me fez parar na entrada da vila e ficar cerca de 15 minutos hesitando em me aproximar de sua pessoa. Mas, para minha surpresa, a receptividade foi supercalorosa e ao longo desse tempo a amizade entre sua família e a minha só aumentou, a ponto de Eliza, sua filha, me chamar de irmão. Para mim não importa mais quem foi seu Manoel Dantas Loyola, pois agora para mim ele é apenas seu Né.

Tenente João Gomes de Lira

Tristeza profunda também ao passar na entrada de Nazaré e não avistar mais aquela cadeira de balanço ali em frente da casa onde sempre encontrava nosso fiel amigo João Gomes de Lira. Quanta saudade. Dezenas de viagens e sempre ele estava ali. Calmo, com uma serenidade que me impressionava, com uma segurança plena que nos dava a idéia de como devia ter sido na juventude. Dessa vez não tive coragem de entrar em sua casa, agora vazia, sem a sua presença. Somente a casa. Com certeza alguém estava lá dentro, alguém de sua família que sempre nos recebeu tão bem. Em outra viagem vou criar coragem e lá vou adentrar e tenho certeza que a receptividade será a mesma.

Ao entrarmos na estradinha de terra para a casa de seu Luiz de Cazuza o meu desejo não iria se realizar. Sabia que meu querido amigo não estaria mais lá para nos recepcionar e prosear horas a fio, rindo e contando histórias de sua vida centenária. Seu Luiz foi, sem dúvida, aquele que mais me fez rir das histórias do Cangaço. Com ele vi que até nas horas tristes se tira momentos interessantes. Sei que para algumas pessoas como Paulo Gastão, Ângelo Osmiro e alguns outros que tiveram a honra de conhecê-lo mais de perto, essa dor da falta ainda vai durar. Lá não pude conter as lágrimas ao abraçar sua filha, e chorei por dentro e por fora.

Para terminar, agradeço a todas essas pessoas que, de uma maneira ou de outra, me contando as suas vidas, sem querer me fizeram uma pessoa melhor.

Aderbal Nogueira
Sócio da SBEC, Diretor do GECC
Conselheiro Cariri Cangaço

7 comentários:

José Lima Dias Júnior disse...

Prezado Aderbal,

Apesar de não conhecê-lo fiquei tocado pelas sinceras palavras em depoimento sobre o ex-cangaceiro Manoel Dantas Loyola, o "Candeeiro" e o tenente João Gomes de Lira. Apesar de vivenciarem o mesmo contexto histórico, não é cabível retirar de ambos o papel (volantes X cangaceiros)histórico, pois tornaram indeléveis (apesar de estarem em lados opostos, nada pode apagare e nem eliminar a representatividade de cada um) para a compreensão do cangaceirismo, a memória e a história do Nordeste.

Atenciosamente,
Prof. Lima Júnior

Anônimo disse...

Belas palavras do amigo Aderbal, puro sentimento. Lendo seu texto me bateu uma saudade imensa das inumeras viagens que fizemos a visitar essas pessoas maravilhosas que conhecemos nesse sertão.
Que os que partiram para outro plano tenham encontrado o caminho da luz.


Angelo Osmiro
Fortaleza-CE

AFRANIO disse...

é verdade......fica um vazio a cada lugar q passamos e lembramos dos amigos q se foram, e que compartilhamos horas de prosas, cantorias. mas tb a de ressaltar os novos amigos, como a simpatia do sr. Ulisses, sobrinho do ten. lira, q nos recebeu como se ja nos conhecesse.

IVANILDO SILVEIRA disse...

AMIGO ADERBAL,

QUE DEPOIMENTO EMOCIONANTE......VINDO DO CORAÇÃO E DO SENTIMENTO DE UMA PESSOAL ESPECIAL, QUE NÃO ESQUECE OS AMIGOS...

REALMENTE, LUIZ DE CAZUZA E JOÃO GOMES DE LIRA, SE FORAM....DEIXARAM MUITAS SAUDADES, E, OS SEUS NOMES REGISTRADOS NOS ANAIS DA LITERATURA CANGACEIRÍSTICA..

SAUDADES....SAUDADES....ESSA É A PALAVRA..!!

Abraço a todos.

IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN

Anônimo disse...

CARO AMIGO ADERBAL QUE TEXTO LINDO E EMOCIONANTE, FIQUEI TOCADO QUANDO LI E COMEÇO A PASSAR UM FILME NA MINHA CABEÇA E LEMBREI DE OUTRAS PESSOAS QUE FIZERAM A SAGA DO CANGAÇO E NOS DEIXOU, MAS SEM ANTES DA SUAS VALOROZAS CONTRIBUIÇÕES PARA HISTÓRIA.TEMOS A SORTE DE VOCÊ FAZENDO O REGISTRO DE TUDO ISSO, PARABÉNS AMIGO E CONTINUE A FAZER HISTÓRIA COM SUA CAMÊRA MOVIDO PELOS MAIS NOBRES SENTIMENTOS QUE O SER HUMANA PODE TER.
GRANDE ABRAÇO

JAIRO LUIZ OLIVEIRA
CONSELHEIRO CARIRI CANGAÇO
PIRANHAS ALAGOAS

Juliana Ischiara disse...

Sem sombra de dúvidas, um dos textos mais tocantes e emocionantes que li aqui no blog. Infelizmente as pessoas não cultuam o hábito de exteriorizarem o que realmente sente. Na grande maioria das vezes os sentimentos são vistos como pieguice. Lamento que seja assim, assim como Aderbal, não me furto de dizer que amo, que gosto, que admiro, sou eternamente grata por todos os amigos que tenho, por todas as pessoas que amo, que admiro e respeito.

Parabéns Aderbal, seu texto além de muito bonito e tocante, desperta a reflexão... devemos sim, ser gratos a todas as pessoas que de uma forma ou de outra passou e passará por nossas vidas, pois todas tem em particular sua importância.

Realmente não é e não foi fácil voltar a casa de alguns amigos e lá não encontrá-los fisicamente, acredito que a saudade foi o sentimento mais latente, mais sentido por ocasião de cada visita. O lenitivo está em sabermos que todos eles continuarão vivos em nossas lembranças e corações.

Por falar em muitas alegrias e uma tristeza... foi um momento de muita alegria e indescritível felicidade reencontrar meu querido e amado mestre Alcino as margens do Velho Chico, porém, foi deveras triste me despedir dele em Maranduba, sei que logo estaremos juntos, pois a saudade que sinto dele já começou a apertar meu coração, que chegue a Semana Santa para novamente possamos nos abraçar. Meu amor, admiração e respeito por você querido mestre perpassa o universo da fiscidade, que Deus lhe conserve por muitos e muitos anos perto de todos nós.

Abraço fraterno

Juliana Ischiara

Anônimo disse...

Aderbal,

O seu artigo foi deveras maravilhoso. Felizes são aqueles que sente na alma a falta e sudade de alguém, mas que,aquela pessoa querida jamais sai de sua lembrança e de suas recordações.

Não posso deixar de agradecer a Juliana pelas lindas e comoventes palavras que ela me dispensou. Eu sou um venturoso por tê-la em minha vida. Não tenho nenhuma dúvida, e as repito com muito amor, que Juliana hoje é minha filha espiritual e ontem, em outra vida, ela foi minha filha de sangue.
Juliana, eu não tenho palavras para lhe dizer o tamanho sublime e descomunal do amor que eu sinto por você.

Aderbal, você tem um espírito de luz. Você jamais esquece de seus amigos, vivos ou mortos.

Abraços

Alcino Alvs Costa
O Caipira de Poço Redondo