Comemorar o Centenário de Emancipação Política de Juazeiro do Norte é dar um mergulho na história política do Cariri no início do século XX. É estimular os munícipes a cultuarem os vultos que fizeram a nossa História e levá-los a refletir sobre o passado histórico, que culminou com a publicação da Lei 1.028, de 22 de julho de 1911 que criou o Município de Juazeiro do Norte.
A proclamação da emancipação não se operou da noite para o dia. Ela resultou de um longo e doloroso processo marcado pelo impulso daqueles que a pregavam. O Início seguramente não teve um caráter nitidamente popular. Esta participação, entretanto, surgiu como não poderia ser diferente estimulado pelas forças políticas local, os comerciantes, a imprensa, as elites, os intelectuais que tinham no “O Rebate” um instrumento eficaz para divulgar ideais libertários, tornando inevitável uma confrontação com o Crato no campo político que significou um avanço em direção ao desmembramento do Juazeiro do território cratense.
Marcado pela égide do progresso crescente no início do século XX, pautou o Juazeiro suas questões com vistas a esse paradigma. Naquela fase inicial avultam como importantes para o estudo da formação política de Juazeiro os números do “O Rebate”. Este Jornal, nos legou, através dos seus artigos, um impressionante painel histórico do Juazeiro e do Cariri, que traduz e espelha uma estrutura de poder típica de uma época marcada pela instabilidade política. Ler “O Rebate” é deixar-se transportar para o ambiente dos conflitos que decidiram os rumos da História Política de Juazeiro e do Cariri. Em retrospecto, é ver que a emancipação pode ser analisada, no Juazeiro, preponderantemente e superficialmente por duas vertentes. Por um lado a luta inspirada basicamente na retórica audaz do Padre Peixoto que fez até sérios apelos às armas no “O Rebate”, que não chegou a se consumar; mas que, profundamente, conseguiu despertar, estimular e mobilizar os sentimentos da população de Juazeiro. De outro, a voz serena do Padre Cícero que, ao atuar ali com agudo espírito de moderação, conduzia diplomaticamente a emancipação pelo lado político. Esse dualismo evidencia, apenas, a coragem do Padre Peixoto e a diplomacia do Padre Cícero no refinamento do impulso cívico do povo do Juazeiro que laborou e apoiou a tarefa de defendê-la. O Padre Alencar Peixoto se destacava, sobretudo, em momentos de extrema ebulição sem arredar, um só instante, dos seus desfraldados ideais, onde tripudiava em torno das supremas questões reinantes e dos preconceitos que medravam e robusteciam a árvore da discórdia no Cariri. Não era uma agitação demagógica e superficial.
A insurreição do Juazeiro estava, portanto, ancorada num projeto de emancipação que gradativamente se tornou inapelável. Longe estava o desejo de autonomia municipal de idéias débeis, volúveis, vacilantes ou estéreis. A força desse momento pode muito bem ser traduzida no arrebatado discurso do Pe. Alencar Peixoto, que ao exibir a flâmula do “ O Rebate” assim se manifestou:
“ Este Retalho de pano será a minha mortalha se porventura, na defesa do Juazeiro, eu morrer...”
Compreender este período é arrostar a realidade que cercou nossos antepassados, nossos heróis e todos aqueles que lidaram com a mudança, com a dinâmica da busca da novidade que engendraria as estruturas de um município em gestação.
Hoje, é um dever de todos os que aqui estão estabelecidos, continuar lutando para defender os interesses de Juazeiro. Honrar os nossos antepassados é não tergiversar diante da adversidade. É perceber, como os nossos heróis compreenderam, que o interesse coletivo agredido não pode ficar condicionado, apenas, à vontade do sistema, a interesses de uma restrita clientela, grupo ou partido; mas, sobretudo, à Verdade, à Justiça, à Liberdade, à Paz e à Independencia.
Paulo Machado
Membro da Comissão do Centenário
2 comentários:
Parabéns ao senhor Paulo Machado por definir em linhas claras e lúcidas o desenrolar da emancipação do município de Juazeiro do Norte.
Em 2011 temos a grande data do Centenário e com certeza convidamos a todos para visitarem a terra de Padre Cícero.
Ribamar Lopes - Salesianos
Juazeiro do Norte
Doutor Paulo Machado merece nossos cumprimentos por seu texto, nos trazendo o sentimento verdadeiro que norteia o juazeirense nas vésperas da festa do centenário.
Saudações,
Professor Mario Helio
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