Quem foi Abilio Wolney

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Abílio Wolney, nasceu em Taipas, São José do Duro(Dianópolis), Goiás, hoje Tocantins, no dia 22 de agosto, terça-feira, de 1876. 
Filho de Joaquim Ayres Cavalcante Wolney (foto à direita) e de Maria Jovita Leal Wolney. Alfabetizado pelos pais e com noções de aritmética, foi levado da Fazenda para a Escola Primária, em sua terra natal. 


Após o curso básico, estudou em Salvador, na Bahia, onde fez curso prático de Medicina e Farmácia, licenciando-se para realizar pequenas cirurgias. Não tendo curso de Direito, inscreveu-se como Advogado Provisionado, na Ordem dos Advogados do Brasil, no Rio de Janeiro, sob o número 34. 


Naquela época, o pai de Abílio Wolney, conhecido como Coronel Joaquim Wolney, era dono de 14(catorze) fazendas e milhares de cabeças de gado, tudo espalhado pelas divisas de Goiás e da Bahia. 


Com 18 anos de idade, em 1894, foi eleito Deputado Estadual, surpreendendo o Norte de Goiás. Em 1896, tornou-se Agente dos Correios e Telégrafos, Secretário do Conselho Municipal e Juiz Adjunto de São José do Duro.  Em 1900, ao passar Abílio Wolney por Santana das Antas, em Goiás, como candidato a Deputado Federal, sugeriu a Moisés Santana e a outros Antenses, bem como à Câmara dos Deputados, em Goiás Velho, que mudasse o nome da cidade para Anápolis. 
Contando com 21 anos de idade, em 1897, casou-se com sua prima Josefa Ayres Wolney, tornando-se pai de Alzira, Mireta, Custodiana, Palmira e Jaime. 

Em 8 de abril de 1900, com 24 anos de idade, foi eleito Deputado Federal. Depurado pela Câmara dos Deputados, não chegou a tomar posse, o que lhe provocou profunda revolta, eis que, eleito pelo povo, não foi reconhecido pela Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro. 
Em 1902, funda, em sua cidade natal, uma Biblioteca Pública com 200 livros, destinada ao povo durense (de São José do Duro). 

Com 27 anos de idade, em 1903, recebe do Presidente da República Campos Sales, a Patente de Tenente-Coronel da Guarda Nacional.  Fundou em Goiás Velho, em 1912, o jornal Estado de Goiás, do qual Moisés Santana foi redator, conforme depoimento de Claro Augusto de Godoy e Altamiro de Moura Pacheco, às fls. 144, do livro Imprensa Goiana. Em novembro de 1920, com recursos próprios, iniciou uma estrada de rodagem entre São José do Duro e Barreiras, na Bahia, numa extensão de trezentos quilometros, conforme consta do livro "Quinta-feira Sangrenta", de Osvaldo Rodrigues Póvoa, página 97. Perseguido politicamente, em virtude dos acontecimentos do Duro, na Chacina Oficial da Polícia Estadual Goiana, foi, no entanto, anistiado em 1926, pelo Presidente da República Artur Bernardes. 
Em maio de 1904, foi nomeado Coletor Estadual, outrora chamado Administrador de Rendas do Norte de Goiás, com sede em Taguatinga. Eleito novamente Deputado Estadual, em 1909, tornou-se Presidente do Poder Legislativo do Estado de Goiás. 


Entre 1915 e 1918, dedicou-se a atividades agrícolas, construindo o primeiro Engenho de Ferro da região, com a finalidade de explorar a mandioca e a cana-de-açucar, conforme escreveu a Coquelin Leal da Costa, direto do Buracão, em 6 de junho de 1918. 

Vale lembrar que foram mortos na Chacina do Tronco, ocorrida em 16 de janeiro de 1919, a Quinta-Feira Sangrenta, João Batista Leal, Benedito de Cerqueira Póvoa, João Pinto Póvoa, João Rodrigues de Santana, Nilo Santana, Salvador Santana, Messias Camelo, Nasário do Bonfim e Wolney Filho, todos eles homenageados, posteriormente, na Capela dos Nove, construída numa das Praças de Dianópolis. 

Em março de 1926, vinculado ao Destacamento do General Mariante, passou a comandar, 450 homens para combater a Coluna Prestes pelos sertões do Brasil, especialmente, Alagoas, Ceará, Pernambuco, Piaui, Bahia e Minas Gerais, o que ocorreu, até outubro de 1926, quando a Coluna penetrou no Mato Grosso e alcançou a Bolívia. 

Consoante Jorge Amado, no livro Cavaleiro da Esperança, "Horácio de Matos, Franklin de Albuquerque e Abílio Wolney com os seus homens", os três formaram o trio invencível aplaudido pelo Governo de Artur Bernardes, no combate ao giro fantástico da Coluna. 

Cel. Abílio Wolney, o primeiro à direita de quem olha, de terno branco

Em 1931 e até 1937, tornou-se Prefeito de Barreiras, na Bahia, nomeado pelo Governador Juracy Magalhães. Dias antes, estivera preso no Quartel da Guarda Civil de Salvador, ao lado de Horário de Matos(Chefe de Lençóis), Franklin de Albuquerque(Chefe de Pilão Arcado), João Duque(Chefe de Carinhanha), Marcionílio de Souza(Chefe de Maracás), Cirilo Veado(Chefe da Barra). 

Terminada a sua contribuição como Prefeito de Barreiras, retornou, em 1938, a São José do Duro, dedicando-se exclusivamente às atividades de Advogado, Farmacêutico e Fazendeiro. 
Em 1946, quando já tinha setenta anos de idade, foi nomeado Prefeito de São José do Duro, sua terra natal, hoje Dianópolis, no Estado do Tocantins, pelo então Governador de Goiás, Interventor Federal General Felipe Antônio Xavier de Barros. 

Este foi o seu último cargo público e nele permaneceu até 1947, quando nas eleições gerais foi eleito para Governador do Estado, o Engenheiro Jerônimo Coimbra Bueno. Quando completou setenta e cinco anos de idade, passou a viver com Domingas Bispo de Souza, tornando-se pai de cinco filhos, cujos nomes são, Joaquim, Francisco, Mariazinha, Dorinha. Emílio, o filho caçula, nasceu, quando o Coronel Abílio já tinha oitenta e cinco anos de idade. Foi casado também com Eufrosina Santos(Dona Goiana. De seu relacionamento com Filomena Teles Fernandes de Miranda, nasceu em Barreiras, na Bahia, em 1934, Irani Wolney Aires que se casou com Zilmar Póvoa Aires e com quem teve os filhos Voltaire, Pery, Abílio, Zilmar, Norman e Margareth. 

Fazendeiro em sua Fazenda Jardim, Farmacêutico licenciado pela Universidade da Bahia e dono de laboratório, exercia também a Medicina, servindo-se da biblioteca de seu irmão estudante de medicina no Rio de Janeiro, Wolney Filho, que, de férias, foi precocemente assassinado no "barulho do duro" , no dia 16 de janeiro de 1919. 

A história dessa chacina foi contada no romance “O TRONCO”, de Bernardo Élis e transformada em filme pelo cineasta João Batista de Andrade, embora numa versão contestada pelos atuais familiares do Coronel. Com 89 anos de idade, e ainda mantendo o seu Escritório de Advocacia, eis que inscrito na OAB, sob o número 34, faleceu o Coronel Abílio Wolney, em 12 de setembro de 1965, sendo sepultado no Cemitério Local de sua terra natal, DIANÓPOLIS, como o mais autêntico líder das gargantas da SERRA GERAL.

fotografias: http://www.historiadebarreiras.com e www.dno.com.br
Mário Ribeiro Martins 
é escritor e Procurador de Justiça. 
(mariormartins@hotmail.com) 
Home Page:www.genetic.com.br/~mario
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11 comentários:

Helio disse...

Brilhante matéria do dr. Martins, sugiro ao amigo Severo que publique essa epopéia do Massacre dos Nove, será imperdivel.
SDS
Professor Mario Helio

José Mendes Pereira disse...

Amigo Severo:

Ah! Se eu tivesse assumido tantos cargos na minha vida. O homem era um verdadeiro colecionador de cargos. Poxa! Que sorte hein? Quem quer consegue.

Aos oitenta e cinco anos ainda fez um filho. Que velho macho!
Mas no dia 12 de setembro de 1965,finalmente colocaram em seu túmulo: "Aqui jaz Abílio Wolney"

Uma excelente matéria do Dr. Mário Ribeiro Martins.
Parabem Doutor, pelo seu valioso conteúdo.

José Mendes Pereira - Mossoró-RN

ENGENHEIRO GMARLON disse...

Caro Helio, parabens pela sugestão, pouco se divulga sobre a Chacina dos Nove, um episodio fenomenal envolvendo o coronel Abilio Wolney de Dianópolis, com grande ligação também com Sinhô Pereira e principalmente com Luiz Padre, vá lá Severo, vamos trazer essa historia para os amigos do cariri cangaço.

Marlon

IVANILDO SILVEIRA disse...

Excelente matéria do Dr.
Mário Ribeiro Martins.
Esse fato ocorrido em São José do Duro, hoje Dianópoles (em homenagem as várias Dianas), precisa ser melhor estudado, pois é uma página negra na história dessa cidade, e tem fortes relações com o estudo do coronelismo/cangaço.

Um abraço
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN

SOUSA NETO disse...

O Coronel Abílio Wolney desde criança fez-se querido pelo seu pai Joaquim pela acentuada inteligência. Porém a política e a família lhe fizeram valer muitos suplícios.
Como mostra a admirável matéria o Coronel Abílio entrou para a política ainda no ardor da mocidade com apenas 18 anos de idade e por ela viveu toda a sua vida atribulada.
O seu primeiro amargor foi no ano 1897. Por está sempre afastado de casa, a sua esposa Josefa Ayres se deixa conquistar pelo seu cunhado de nome Sebastião de Brito. Sebastião era casado com Auta Ayres Cavalcante.
Ainda por questões políticas em 23 de dezembro de 1918 o Coronel Abílio perde o pai Coronel Joaquim, morto covardemente na sua fazenda Buracão. Esse episódio resultou na fuga do Coronel Abílio para a Bahia onde se refugiou e foi o motivo que ocasionou a “Chacina do Tronco”.
Apesar de todos os infortúnios a persistência do Coronel Abílio Wolney lhe trouxe um reconhecido futuro.
Um abraço a todos.
Sousa Neto

Unknown disse...

Como se deu essa traição se o casamento, pelo texto, ocorreu em 1897 e dessa união, há o registro de cinco filhos. A traição se deu em 1897 mesmo?

Unknown disse...

conheci dianopolis em 1988, mas somente agora em 2017 que começei a ler a saga do coronel abilio volney, e digo que sem duvida é uma pagina da historia politica do nosso pais que devia ser divulgada com mais afinco.
sou um grande admirador de abilio wolney e quero ter oprazer de voltar a dianopolis e conhecer os decendentes desse homem que sem duvida foi um exemplo em liderança.

Anônimo disse...

eu queria saber como faço para saber mais sobre o ocorrido "chacina dos nove" ou "quinta feira sangrenta"?

Vaneska disse...

Estou lendo esse texto com o coração acelerado. Sempre soube pouco da história da minha família.
O coronel Abílio Wolney era avô do meu avô...
Neste momento, me sinto sem fôlego, de tanta admiração, respeito e orgulho da história desse homem.
Muita honra ser tataraneta dele.
Gratidão por compartilhar essa história. Vou estudar mais.

Abraços,
Vaneska.

Unknown disse...

Estamos trabalhando para o episódio de 100 anos do barulho(chacina dos noves),ate final do ano temos muito material coletado e compendiado,já existem muitas obras publicadas sobre este assunto,inclusive filme polêmico de João Batista de Andrade,baseado na obra de Bernardo Élis O Tronco.Muitas obras disponoveis na ADL(Academia Dianopolina de Letras).

Fernando Augusto disse...

A história dessa chacina é muito bem contada no livro "A Coluna Prestes", de Neill Macaulay, de 1977, no capítulo 6. Tenho uma edição que comprei de um sebo, pela internet, no site Estante Virtual.