Existia amor no Cangaço ? Por: Maristela Mafuz

Maristela Mafuz e Alfredo Bonessi

Minha visão a respeito desse "amor no cangaço", baseia-se em grande parte, em conversas que tive com Sila e na observação de suas reações em dados momentos, coisas que pude ver durante o tempo que convivi com ela. As meninas, ao entrarem espontaneamente, tinham a visão romântica de que escapariam da submissão a que estavam destinadas e teriam uma vida de aventuras e liberdade. 
Essa ideia já fazia parte do imaginário na época.

Como a realidade se mostrou cruel e oposta aos sonhos, que opção restava a elas? Aprender a viver nessas condições. RESIGNAÇÃO é uma das palavras que define o comportamento adotado por elas. Obrigadas a aceitar o que não podia ser mudado, seguiram vivendo do único modo que lhes era possível. Amargando dores de todos os tipos, porém firmes, lutando junto àqueles homens que acompanhavam.

Apesar de tudo, esses eram os homens com quem podiam contar e que, de uma forma ou de outra, também as protegiam. Aí surge a CUMPLICIDADE, outra palavra que define o comportamento delas. O 'amor' nasceu desse misto de sentimentos contraditórios vividos por elas. Ódio pela agressão, reconhecimento pela proteção... E a contradição: “esse homem ora me agride, ora me defende...” O que isso representou na cabeça dessas mulheres? Quem pode dimensionar as cicatrizes psicológicas dessas meninas-mulheres?  A submissão e o medo imperavam. O que fazer, senão suportar aquilo, firme e quieta? (adiantaria gritar ou tentar fugir?) RESIGNAÇÃO + CUMPLICIDADE: Para mim esse foi o Amor que existiu no cangaço.

Maristela Mafuz
Laser Vídeo

3 comentários:

IVANILDO SILVEIRA disse...

PARABÉNS MARISTELA..

SUAS EXPLANAÇÕES, ACIMA POSTADAS, ANALISARAM COM " ALMA DE MULHER ", O TEMA ORA PROPOSTO...

GOSTEI, FALOU COM PROFUNDIDADE E CONHECIMENTO...

ABRAÇO
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN

Anônimo disse...

A submissão e o medo imperavam, precisa dizer mais alguma coisa? Parabens Maristela

Ana Paula

Anônimo disse...

Maristela sintetizou muito bem o sentimento que eu penso tenha sido o tipo de “amor” que ligava homens e mulheres, melhor dizendo, macho e fêmea, naquele mundo estranho do cangaço: o somatório de resignação e cumplicidade. As mulheres que buscavam a liberdade ao acompanhar os cangaceiros, certamente ficaram frustradas, mas estavam sem saída. As que foram forçadas a viver aquela vida, não tiveram escolha, tinham que dar um colorido ao seu viver na caatinga. A vida do crime é um caminho sem volta.

C Eduardo