Existia amor no Cangaço ? Por: Paulo Moura

Paulo Moura, Manoel Severo e Ângelo Osmiro

Esta intrigante frase, no meu entender, já por si só se responde. Escrevendo sobre um tema deste, me vem à memória frases de efeito que muita gente já leu por aí: 

Seria um: “Quem casa, quer casa”. Ou então: “Quem ama as rosas suporta os espinhos”, e  eu fico aqui a imaginar, será que era fácil se amar naqueles anos de chumbo, de fome, de seca, de correrias e de sofrimentos constantes? Debaixo de chuva, do sol escaldante, dormindo em cima de pedregulhos, sobressaltados, com medo! 

O sertanejo, devido ao tipo de vida que leva, diante da rusticidade do meio e das privações diárias é um ser que aprendeu a conviver com a falta de recursos e, conseqüentemente, com o sofrimento. Ainda temos a acrescentar que a rusticidade sertaneja está impregnada em seu ser. Herança de gente valente e guerreira. O amor que brota dele é natural. Ele ama o sertão amanhecendo, ele se emociona com a chuva que cai, com o sol se pondo e até mesmo com uma bela poesia. Mas a sua marca maior é aquela do ser rústico que deu-lhe a pecha de “Cabra Macho”.


imagem: cordelparaiba.blogspot.com

Daí eu fico a lembrar um verso lido por D. Helder Câmara, no CD Missa do Vaqueiro, do Quinteto Violado. Ele diz: “Vaqueiro meu irmão vaqueiro, pareces feito de pedra e no entanto tens voz e tens coração. Teu coração não anda se derramando, mas quando ama, ama!” Não quero afirmar aqui que um Canário de Adília a amava. Também não vou arriscar dizer que ele Não a amava. Pois eu não saberia dar a medida certa do amor que ela não recebeu. Acho que o que mais valia naquele tempo para um casal cangaceiro conviver dentro do mato era o companheirismo. A cumplicidade. Cumplicidade esta vista em Dadá de Corisco, em Maria de Lampião.  Essa era uma forma de amor. 


O amor de Durvinha por Virginio, como bem falou o João de Souza, que mesmo nos seus últimos dias de vida, casada com outro homem, jamais escondeu seu sentimento pelo primeiro companheiro. O amor do facínora Gato que, enlouquecido, entra na cidade de Piranhas para resgatar sua amada Inacinha das mãos da volante. Amor ou loucura? Então, neste interessantíssimo debate (EXISTIA AMOR NO CANGAÇO?) eu quero deixar minha humilde opinião, dizendo: Sim! Existe amor em TODO canto. Até mesmo no cangaço.

Paulo Moura, Poeta, Cordelista e Escritor
Sócio da SBEC

7 comentários:

ADERBAL NOGUEIRA disse...

Grande Paulo. Onde andavas que há tempos não dava sinal? Gostei das suas postagens recentes. Continue aparecendo e dando suas opiniões. Aderbal Nogueira

Anônimo disse...

Paulo poeta Moura, parabens pelo texto.

Dalinha

Anônimo disse...

Nas férias das recitatas, nosso amigo Paulo Moura dá uma canja aqui pra turma do cangaço.

C Eduardo

www.educarcomcordel.blogspot.com disse...

Grandes amigos/irmãos que tive a honra de conhecer em nossas viagens pelo sertão afora, nos idos de 2001 em diante. Severo, intime o carioca Carlos Eduardo para declinar sobre este tema (amor no cangaço)... esse cabra tem procedencia. Obrigado Dalinha. E ao mestre Aderbal meus respeitos e minha admiração. Voce esta que nem vinho antigo, o tempo passa e tu vai apurando!!!! rsrsrsrs

CARIRI CANGAÇO disse...

Bem, a intimação já está feita em público, rsrsrs.
Abração amigo Paulo.

Severo

Demetrius Calvin disse...

Muito bom, poeta Paulo Moura, grande abraço.

Demetrius

Demetrius Calvin disse...

Parafraseando D Helder Câmara, poderemos trazer como Paulo Moura fez, por mais cruenta que fosse a vida do cangaço, ali estavam homens e mulheres feitos de pedra, mas que possuiam coração.

Parabens a Paulo Moura
Demetrius