Padre Cícero e Lampião Por:Cicinato Neto

Cicinato Neto e Manoel Severo

Gostaria também de participar do debate sobre o relacionamento entre o padre Cícero e Lampião. Como pesquisador e estudioso do cangaço, gostaria de ressaltar os aspectos seguintes:


a) Não acredito na hipótese de que o padre Cícero tenha sido o responsável direto pelo deslocamento do bando de Lampião à cidade de Juazeiro em 1926. A presença de Lampião na "Meca do Cariri", na verdade, constituiu-se um grande empecilho para o padre, criticado diariamente nos jornais da capital, especialmente "O Nordeste" por ser um suposto protetor de bandidos. Os homens ligados a Floro Bartolomeu e ao Batalhão Patriótico, encarregados de combater a Coluna Prestes, usaram a influência do sacerdote para conseguir convencer Lampião a ir para o Juazeiro. O padre, desnorteado pelos acontecimentos (Floro agonizava no Rio de Janeiro e morreria logo em seguida), foi incapaz de evitar a chegada dos cangaceiros;

Padre Cícero e Benjamin Abrahão

b) Alguns escritores enfatizam que o padre protegia a família de Lampião em Juazeiro e que, por isso, mantinha contatos diretos com ele. Na célebre visita do cangaceiro, em março de 1926, Lampião teria sido inclusive recebido pelo padre Cícero. Não há provas irrefutáveis de que isso tenha acontecido. Mas, controvérsias à parte, o que se observou é que, no período depois do ano de 1927, ninguém mais falou de algum contato entre Lampião e o Padre. As supostas cartas que o sacerdote enviava ao chefe cangaceiro não foram mais mencionadas. Lampião, vaidoso como era, não deixaria de mencionar, aos quatro ventos, o recebimento de uma carta dessas ? ou não?

c) sobre o relacionamento entre Lampião e o padre Cícero, acho que era o chefe cangaceiro que fazia tudo para alardear uma suposta tolerância do religioso à existência do seu bando. Lampião aproveitava-se do temperamento do taumaturgo e propagandeava isso como um apoio. Na verdade, o padre acolheu multidões e, homem do seu tempo, teve que conviver com facínoras e homens cruéis. O preço a pagar pela sua liberalidade foi ser visto, pelas gerações posteriores, ora como pusilânime, ora como coiteiro, ora como um coronel de batina.

cicinato.blogspot.com
Cicinato Neto
Pesquisador, Escritor
Sócio do GECCO

3 comentários:

ADERBAL NOGUEIRA disse...

Amigo. O nosso intuito maior em fazer certo tipo de provocação é para realmente colocar os amigos pesquisadores a frente de debates salutares. Pois só assim tiramos nossas dúvidas e aprimoramos nossos conhecimentos.
Parabéns e sempre alerta.
Aderbal Nogueira

Anônimo disse...

Grande Cicinato, seu livro é um dos melhores que li sobre a cronologia do cangaço. parabens pelo artigo.

Alberto Lima

Anônimo disse...

Nada acontecia no Cariri ou talvez no nordeste sem que Padre Cícero tivesse conhecimento, daí penso que a visita de Lampião também era do conhecimento do Santo de Juazeiro.

Gregório de Matos