Um olhar mais apurado Por:Paulo Britto

Tenente João Bezerra 

O que dizer? Será a irreverência dos tempos atuais? Será a liberalidade desmedida e irresponsável, respaldada na impunidade? E o que pensar?
Em terra de cego quem tem um olho é rei? Não, em terra de cegos fura-se o próprio olho para comungar com eles.

Os cães ladram e a caravana passa? Não, os cães ladram, atacam e mordem, e a caravana passa molestada e desmerecida. Vemo-nos agora submetidos à anticultura que confunde e desnorteia os menos informados que anseiam conhecer a verdade histórica e não têm o conhecimento necessário para excretar esses dejetos pseudo-literários. Abre-se espaço para as improbabilidades grotescas e desmedidas. Fomenta-se a irreverência, a ficção, a criatividade irresponsável, calcada em elucubrações, e devaneios de uma verdade insípida e renitente.

Deparamo-nos com escritos como: “Lampião, o invencível. Duas Vidas, duas mortes – O outro lado da Moeda” cheio de fundamentações infundadas, chegando ao absurdo de asseverar que o Lampião, morto na Grota do Angico, era um sósia: “arranjar o dublê de Lampião – um ladrão de cavalo preso em Alagoas adequado ao papel pela cegueira do olho direito”. Enquanto Maria Bonita, sua companheira, era “representada por um jovem (um homem, portanto), cujas feições lembravam as de quem ia tomar o lugar”. A despeito de todas as identificações feitas, não se conseguira descobrir que Maria Bonita era um homem.

No escrito “Lampião o mata sete”, que mexeu com o mito Lampião, causando grande rebuliço no ceio dos cangaceirólogos, coloca Virgulino Ferreira da Silva como homossexual, conivente com um romance entre a sua companheira e o seu mais fiel cangaceiro (Luiz Pedro do Retiro) de inúmeros combates. A verdade é que por mais que se antagonize o Rei do Cangaço, se chegar a alegações dessa natureza, choca os reais escritores e revolta os familiares.

Primeiro Cruzeiro em Angico

Agora, recentemente, nos vemos diante de mais um escrito, “A OUTRA FACE DO CANGAÇO - VIDA E MORTE DE UM PRAÇA”, que ao invés de procurar ressaltar a vida militar e morte do praça, ocorrida durante o combate de Angico, muda o foco, e de forma primária se expõe ao lançar calúnias e controverter os fatos, seguindo a linha dos antecessores citados. Embora trafegando, com as suas pesquisas recentes, nos mesmos caminhos que tantos já percorreram – distando mais de 70 (setenta) anos do ocorrido – esse autor descobriu fatos que pesquisadores que buscaram informações no momento próximo ao ocorrido e ao longo desses anos todos não descobriram.

O pesquisador, data vênia os demais pesquisadores, em entrevistas inéditas com participantes do combate, que nas suas existências longevas, não se cansaram em atender o intrépido autor que, em tempestuosos pensamentos contraditórios e formulando perguntas capciosas de sua conveniência para que o entrevistado, em resposta, num gesto de olho ou canto de boca confirme fatos que os demais deixaram escapar.

No escrito, (i) o comandante da volante (João Bezerra) mata o seu desafeto (o Soldado Adrião) de outra volante, que com ele disputava o amor de uma prostituta; (ii) se vê obrigado a matar seu companheiro (Lampião) de noitadas de carteado; e (iii) que 02 dias anteriores ao combate de Angico, com este estava carteando na fazenda do seu sogro (Francisco Corrêa). Por aí segue na mácula, no total desvario e com o pleno desconhecimento das personalidades de Francisco Corrêa de Britto e do próprio João Bezerra.

Victor Júnior, Paulo Gastão e Paulo Britto em momento de Cariri Cangaço

A censura é incabível, antipática e reprovável, mas a liberalidade desmedida e caluniadora desvirtua os valores morais. O que teremos para oferecer aos nossos descendentes e almejar para o futuro? Em sua folha de serviços prestados à corporação, segue abaixo um resumo da vida do Coronel João Bezerra da Silva, comandante das volantes por hierarquia e por se fazer líder irretocável dos que ali estavam tomando parte no combate de 28 de julho de 1938, em Angico/SE:

No combate de Angico, como Primeiro Tenente, já havia; participado de 03 (três) expedições de guerra fora do Estado de Alagoas, nas revoluções de 1925, 1930 e 1932; nomeado 09 (nove) vezes delegado; recebido 09 (nove) elogios e louvores em boletins da corporação; exercido o cargo de Prefeito Interventor na Cidade de Piranhas/AL; cumprido várias missões especiais; e travado vários combates com cangaceiros, inclusive Lampião.
Ao longo dos seus 35 (trinta e cinco) anos de carreira militar, consta nos seus apontamentos:

·       12 (doze) nomeações como delegado; 02 (duas) vezes como subdelegado;  02 (duas) vezes subcomandante da corporação;  12 (doze) vezes comandante de unidades da corporação; 17 (dezessete) vezes citados em elogios e louvores em boletins;  03 (três) expedições de guerra da história do Brasil; e 11 (onze) combates com grupos de cangaceiros liderados por Luiz Pedro do Retiro, Corisco, Gato, Zé Baiano, Português, Manoel Moreno, Moita Brava e o próprio Lampião.

Homem que dentro dos padrões éticos de liberdade, igualdade e fraternidade, alcançou o grau 18 do filosofismo, dentro daquela que é conhecida como a consciência oculta da humanidade, a maçonaria. Para esse homem não pedimos acalentos e salamaleques, mas se não temos afinidade com o que é justo e correto, e não tivermos provas irrefutáveis, pela total falta de veracidade das informações, não conturbemos o trabalho daqueles que empenharam anos de estudos num esforço sobre-humano para preservar a história como ela realmente se desenvolveu.

E agora? Diante da perplexidade... Qual é a regra dos tempos atuais? A regra é não ter regra? Como sempre, me coloco à disposição e um forte abraço a todos os amigos desse conceituado blog.

Paulo Britto .'.
Filho do Tenente João Bezerra
Recife-PE

5 comentários:

João Ulisses Azêdo disse...

A libertinagem da irresponsabilidade de se expressar, cai na velha máxima de que: "quem tem boca fala o que quer". Tal desmedida e irrefreada liberdade do pensar irresponsável, macula a garantia constitucional da liberdade de expressão dos que a utilizam com responsabilidade e respeito à verdade histórica. Deve-se ter respeito àqueles que, ao longo da história exerceram essa garantia com fidelidade científica e moral e, quanto aos "novos escritos", o conveniente é mantê-los nos registros, contudo, à ilharga da literatura séria, da pesquisa cientificamente comprovada, da verdadeira história dos acontecimentos e, sobretudo, dos homens e mulheres de moral ilibada que se dedicaram a trazer ao nosso conhecimento uma respeitada parcela da nossa história nacional e dos homens e mulheres que a construíram.
Parabéns Paulo Britto pelo brilhante texto que põe as mentes comprometidas com a verdade a pensarem sobre o assunto e sobre o desvirtuamento dos "novos escritos".
De: João Ulisses Azêdo
Advogado - Teresina/PI

ADERBAL NOGUEIRA disse...

Grande Paulo Brito, Filho do Lendário João Bezerra.
Amigo. Com certeza seu famoso pai deve ter sido um bom homem, prova é o filho que ora nos relata a sua vida e o qual tive o prazer de conhecer e me tornar um admirador.
Amigo, lhe disse uma vez "Paulo, tenha consciência que tudo que aparecer falando de Angico, seu pai vai estar no meio, quer no bem, quer no mal". Não sei se o amigo lembra.
O livro em questão é fruto de uma pesquisa feita por um colega, que é um homem também do bem. Quanto às suposições contidas no livro cabe a nós, pesquisadores e principalmente ao amigo, tentar provar ou desmentir as afirmações. A história é feita assim. Com certeza outras coisas surgirão ao longo do tempo. Mas com serenidade e comprometimento só uma história restará "A VERDADEIRA". Parabéns ao amigo por defender a memória de seu amado pai. Espero encontrá-lo em breve para conversarmos sobre o cangaço e principalmente sobre o Ten. JOÃO BEZERRA.
Abraço e saudações.
Aderbal Nogueira

IVANILDO SILVEIRA disse...

LI E FIQUEI SURPRESO COM O LIVRO:

“A OUTRA FACE DO CANGAÇO - VIDA E MORTE DE UM PRAÇA”, do amigo Antonio Vilela, ali, há afirmações do ESCRITOR, de que o Cel. JOÃO BEZERRA , por ocasião do combate de Angico, em que morrera Lampião e mais 10 cangaceiros, em fogo amigo, matou o SOLDADO ADRIÃO, em virtude de que, já haviam desavenças anteriores entre ambos, em face, sobretudo, da disputa por uma mulher.(motivo principal)..

Analisei os argumentos trazidos pelo autor do polêmico livro, e, pessoalmente, não encontrei SUBSTRATO PROBATÓRIO SUFICIENTE, a inferir uma afirmativa tão séria de que o Cel. João Bezerra teria matado o soldado ADRIÃO...

A esta altura, os estudiosos do cangaço já estão digerindo a obra, acima mencionada, e, certamente, chegarão ás suas conclusões........pois, eu já cheguei as minhas...

MATÉRIA MUITO POLÊMICA, E, DIFÍCIL DE COMPROVAÇÃO SE UTILIZANDO OS MÉTODOS MAIS RIGOROSOS DE PESQUISA..E, CONFRONTAÇÃO DOS FATOS/PESSOAS..

COM A PALAVRA, OS ESTUDIOSOS DO CANGAÇO..!!!

abraço a todos
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN

Benner Roberto Ranzan de Britto disse...

Escrever é uma arte, mas dependendo da forma que for escrita... revela o “artista”.
No artigo em comento, a alegação que o Cel. João Bezerra era amigo íntimo de Lampião (carteava e fornecia balas/munições), é velha e até hoje não comprovada. Mas ao expressar fato novo, que o Cel. João Bezerra matou/assassinou* o Soldado Adrião pela cobiça comum por uma mulher (relacionamento extraconjugal)... Espera-se do Autor o mínimo de veracidade nas suposições/afirmações (o ônus da prova é de quem afirma)!!!
*Imputar falsamente fato definido como crime (Calúnia - art. 138 do Código Penal) é atentar contra a honra e a reputação do ofendido (Dano Moral - art. 186 do Código Civil).
In casu, a liberdade de expressão não constitue direito absoluto, sendo relativizado quando colide com o direito à proteção da honra e da imagem dos indivíduos (art. 5º, X da CF).
Apesar da principal característica dos direitos da personalidade ser a intransmissibilidade, a imagem e a honra de quem já faleceu não deixa de merecer proteção, como se fossem coisas de ninguém, elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como bens imortais que se prolongam para muito além da vida.
São os herdeiros necessários detentores do direito de defender a imagem e a honra do falecido, pois eles, em linha de normalidade, são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula.
Assim sendo, bom é que cada um analise e revise cuidadosamente o que escreve, antes de publicar suposições sem cunho fático-probatório!


Cordialmente,

Benner Britto
Advogado

Anônimo disse...

TOTALMENTE IRRESPONSÁVEIS AS AFIRMAÇÕES DO INCONSEQUENTE AUTOR. É IMPRESSIONANTE COMO A NECESSIDADE DE APARECER A QUALQUER CUSTO, FAZ COM QUE AVENTUREIROS DA LITERATURA DESONREM CRUELMENTE PESSOAS QUE JÁ DESCANSAM NA ETERNIDADE, E MAIS AINDA, PESSOAS COM UM GRANDE PASSADO HISTÓRICO.
SIMPLESMENTE LAMENTÁVEL, MAS OS LEITORES CERTAMENTE SABERÃO JULGAR SE ESSES DEVANEIOS MERECEM SER CONSIDERADOS OU NÃO.

James Fonseca