Narciso Dias, Geziel Moura, Jorge Remigio e Jair Tavares em dia de Cariri Cangaço
Há muito que as peripécias de Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampião tem sido onipresentes no imaginário de várias gerações de escritores, poetas, repentistas, músicos, sertanejos, e estudiosos que militavam/militam na área da pesquisa cangaceirista, como elemento demarcador de sua onipotência. Essa imagem que compôs o cenário de minha trajetória como leitor da temática lampiônica vem sendo amplamente ratificada e/ou citada por vários autores.
Ainda na perspectiva do que se criam/creem, sobre os feitos extraordinário e até mesmo sobre-humano de Lampião, pretendo por meio deste ensaio, fazer tessituras que poderiam ajudar a pensar sobre tais feitos, muitas das vezes, transcendentais daquele cangaceiro. Contudo, não me detive ao longo deste estudo, na formulação de juízos de valores dos métodos historiográficos utilizados por pesquisadores da área, se eram eficazes ou não, se estavam certos ou errados. Minha intenção foi confrontar as manifestações literárias daqueles autores, com o que a ciência aponta sobre o tema elencado.
Colher de prata da época do cangaço, acervo João de Sousa Lima
Nesse sentido, muitos textos lampiônicos, atribuem a Virgolino Ferreira da Silva, a rotineira análise toxicológica em alimentos, sólido e/ou líquido, oferecidos por pseudos-coiteiros, supostamente contaminados por venenos, sendo que a detecção de tal substância mortífera era realizada, pela mudança de coloração assumida por uma colher de prata, que entrava em contato com tal alimento.Sobre aquela mudança de coloração ocorrida na colher “especial” de Lampião, Mota (1976, p.09) diz:
"No sertão pernambucano, uma mulher pretendeu envenená-lo. Lampião convidou-a a beber da cachaça em primeiro lugar. Ela desculpou-se, alegando que estava purgada. Virgolino tirou do embornal uma colher de prata e meteu-a no copo. A colher enegrece. Lampião percebe a cilada, agarra pelos cabelos a ousada sertaneja, amarra-a ao tronco de uma árvore, embebe-lhe de querosene as vestes e queima-a viva, desfechando-lhe, por fim, um tiro de misericórdia no seio estorricado” (grifo nosso).
Por essa manifestação, podemos inferir que o tempo para que a colher de prata mude de cor, ou seja, ocorra reação de oxidação é reduzido e quase que instantâneo ao contato com o alimento envenenado. Entretanto, o escurecimento da prata ocorre ao longo de tempo razoável, em decorrência do contato deste metal com o oxigênio, presente no ar e com compostos contendo enxofre, produzindo uma camada de Sulfeto de prata (Ag2S), de matiz azulada, e que torná-se escura ao longo de reação lenta.Geralmente os compostos sulfurados, estão presentes em ambientes, cuja poluição do ar encontrá-se em nível elevado.
Por outro lado, quero analisar formas de detecção da presença de possíveis venenos, usualmente utilizados naquela época, e para isso elegemos os seguintes: Estricnina, Arsênico e Cianureto.Ressalto que poderia existir outros tipos de venenos, sendo esses os mais comuns.
Geziel Moura
Pesquisador
Um comentário:
Gostei da explicação sobre a relação da colher de prata com o enxofre, formando sulfato de prata pois lenda mundial dizia que se descobria algum veneno e just in time. É um antigo fake.
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