João de Sousa Lima em uma das edições do Cariri Cangaço
Há muitos anos venho vasculhando os caminhos e veredas em busca das histórias do cangaço, ouvindo cangaceiros, soldados, coiteiros e testemunhas das histórias. Tanto chão percorrido para se chegar a uma pesquisa centrada e responsável. Tantas estradas vencidas, tantas rotas traçadas e atravessadas.No meio de tantos trajetos encontrei nosso povo, o nosso povo com seus sentimentos, suas façanhas, momentos vividos, capítulos registrados.
Feito águia que se eleva na amplidão do infinito, de olhar aguçado, procurando o que lhe sacia a fome, eu trilhei os sertões para saciar-me dos marcantes fatos vividos por homens e mulheres que viveram e viram passar em suas vidas os episódios do cangaço.Vi em tantos corações as marcas da dor. Em tantas almas as cicatrizes eternas de um tempo que parece nunca passar. Vi sorrisos escondidos em prantos e prantos que se aliviaram em risos. Vivi seus tormentos, entendi suas ações, sofri com suas histórias e seus lamentos. Mais também compreendi seus amores vividos, amores bandidos, amores roubados, sofridos e tantos outros nunca esquecidos, amores eternos, em cujas faces desaguam as lembranças desses amores amados entre dores, risos, prantos e encantos.
Esquadrinhei corações, muitos quase de pedras, outros apesar das idades ainda juvenis em suas recordações de que o amor havia sido eternizado. Aprendi em alguns momentos que o coração é terra que ninguém pisa e ao mesmo tempo é caminho que o homem anda. Vai entender as coisas do amor. Vai ouvir as histórias dos que viveram tão intimamente o cangaço, que viram suas vidas envolvidas nas diversas tramas desse mundo tão controverso.
Nunca julguei os atos do meu povo, apenas ouvi, considerei, me encantei, controlei as emoções quando elas pediam lágrimas para entender aqueles mundos tão diferenciados do meu. Um mundo tão distante de minha realidade e tão perto do meu entendimento. Quase um CHAMADO, como disse minha amiga, a índia Pankararé Alzira. Eu ouvi tantas histórias, muitas tristes, sombrias, desumanas e apesar de tudo elas me tornaram mais humano.
Não há que se ter um olhar que julgue as façanhas vividas por nossos povos. Não há que se ter preconceitos sobre os que eles viveram em suas trajetórias de vidas. Ao homem não cabe julgar os fatos.Dentre tantas histórias duras e inesquecíveis houveram recomeços, muitos que andaram à margem da lei se tornaram justos, fieis, honestos, amorosos.
Os Homens e Mulheres que tantas agruras viveram durante o cangaço, transformaram seus sofrimentos em caminhos coloridos e floridos.
Nessas estradas eu percorri muitas veredas, conheci muitas pessoas, descobri quão importante nosso povo é para a compreensão das atitudes tomadas em momentos da vida que marcam nossas histórias.Percorri muitos caminhos, veredas, estradas. Conheci histórias, vasculhei memórias, entendi meu povo.Cansado dos longos trajetos, me recolho para um descanso. As histórias, essas permanecerão eternamente dentro de mim, pois elas são como chamas que nunca apagam de nossas memórias.
A história segue seu rumo natural, creio ter deixado para a posteridade um relevante trabalho de pesquisa histórica. Meus escritos servirão para entender o que foi esse capitulo vivido em solo nordestino.
Fonte:http://joaodesousalima.blogspot.com.br/
João de Sousa Lima, Paulo Afonso-BA
Pesquiador e Escritor
Conselheiro do Cariri Cangaço
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