Ha pouco mais de 5km do entrada do centro de Açu, pela BR 304, entramos no trevo que da acesso ao Santuário. Percorremos; eu, Tailene e Emily, também cerca de 5 km nesse trecho do acesso asfaltado, quando de repente, "do meio do nada" erguida num descampado típico da nossa caatinga sertaneja, desponta a imagem da Beata Irmã Lindalva. A surpresa tomou conta de todos nós; explico: na verdade imaginávamos que iríamos encontrar um templo, uma igreja ou uma capela, enfim, mas apenas aquela estátua no meio do sertão árido e cheio de fé, tão próprio do povo nordestino, trazia e celebrava o martírio dessa religiosa pouco conhecida pela grande maioria de nós.
Essa maravilhosa fé que move o sertanejo é capaz de nos proporcionar momentos absolutamente impactantes, como esse ao chegarmos no Santuário da Irmã Lindalva e perceber o tamanho da devoção do povo do sertão, capaz de demonstrações extraordinárias de amor e esperança em dias melhores.
Irmã Lindalva, cujo nome completo é Lindalva Justo de Oliveira, era uma religiosa brasileira da Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Nascida em 20 de outubro de 1953, no município de Açu, no Rio Grande do Norte, foi assassinada com 44 facadas, em 9 de abril de 1993; uma sexta-feira santa, em Salvador, Bahia ; quando se defendia de um assédio sexual por um homem que morava neste abrigo Dom Pedro II, onde realizava sua dedicação religiosa. Conhecida como mártir pela Igreja Católica, ela foi beatificada em 2 de janeiro de 2007 e sua festa é celebrada no dia 7 de janeiro. Os seus restos mortais repousam na Capela das Relíquias da Beata Lindalva, em Salvador, mas o seu testemunho continua vivo na Igreja e a sua memória no coração de tantos devotos.
Recorremos à Revista "Arautos do Evangelho" para trazer a história da Beata Lindalva: "Nascida em 20 de outubro de 1953, no seio de uma família camponesa do município de Açu, no Rio Grande do Norte, recebeu as águas batismais três meses depois de vir à luz. O pai, João Justo da Fé, pequeno proprietário, cultivava seu sítio para manter uma família numerosa de 16 filhos. Era homem piedoso e de caráter forte. Admirava as histórias dos Patriarcas do Antigo Testamento e em algo os imitava. Maria Lúcia, a mãe, tinha consciência do compromisso que assumira ao contrair matrimônio: a formação dos filhos. Nessa católica família refletia-se o amor entre pais e filhos, mas igualmente não faltavam a disciplina e a severidade, quando era necessário corrigir os pequenos caprichos e as travessuras infantis. Desde criança, Lindalva demonstrava propensão para ajudar os outros e se sensibilizava com o sofrimento alheio. Não lhe agradavam as brigas e nunca se zangava. Gostava de correr, banhar-se na lagoa próxima ou subir em árvores para comer os frutos recém-colhidos. Mas seu brinquedo favorito era modelar bonecas de barro, que deixava secando ao sol, e depois coser roupinhas para elas, com retalhos de tecidos. Revelando-se uma menina muito madura para sua jovem idade, tinha consciência do sacrifício dos pais para manter e educar a numerosa prole, e queria auxiliá-los de alguma forma. Assim, estava sempre disponível para ajudar à mãe, aprendendo muito cedo a cozinhar e a costurar. E procurava imitar o exemplo de sua progenitora que, apesar de pobre, tirava de sua parca despensa para socorrer outros mais necessitados. Os filhos cresceram, precisavam estudar e as exigências aumentaram. João decidiu mudar-se para Açu, onde vários deles conseguiram emprego. Lindalva cursava o Ensino Fundamental e trabalhava como babá na casa de uma família abastada. Quando algum conhecido precisava de ajuda, por doença ou qualquer outro motivo, recorria a ela. “Você deve ter vocação para enfermeira, porque está sempre disponível e faz tudo com alegria!” — dizia-lhe uma de suas companheiras.Começou a estudar enfermagem para poder doar-se mais e tomou a grande decisão de sua vida: em setembro de 1987, escreveu à Provincial das Filhas da Caridade, pedindo admissão como postulante. “Faz muito tempo que sinto o desejo de entrar na vida religiosa, mas somente agora estou disponível a seguir o chamado de Deus. Estou pronta para dedicar-me ao serviço dos pobres”, escreveu ela.
Admitida dois meses depois, foi enviada para fazer o postulantado na comunidade do Educandário Santa Teresa, em Olinda, Pernambuco. Esse período não foi senão um contínuo exercício do propósito que fizera, de basear sua vida espiritual na felicidade em Cristo e no bem do próximo. O testemunho de suas superioras durante essa fase foi sempre de admiração por sua disponibilidade, humildade e alegria na doação aos outros, quer aos pobres ou idosos, quer às outras irmãs, na vida comunitária. Progredia na vida interior, entregando-se mais e mais nas mãos d’Aquele ao qual se havia abandonado, confiando-Lhe inteiramente seu destino, tal qual recomenda o Rei Profeta: “Confia ao Senhor a tua sorte, espera n’Ele, e Ele agirá” Sob o olhar atento das superioras, foi admitida no noviciado, dando um passo mais decidido na entrega a Jesus, dentro do carisma de sua Congregação: o serviço aos pobres e necessitados. Na festa da Virgem do Carmo, 16 de julho de 1989, vestiu o hábito de Filha da Caridade e passou a chamar-se Irmã Lindalva. Em carta a uma amiga, nesse mesmo ano, manifestou como se sentia realizada na vida religiosa: “Aqui tudo é graça! Vivemos num profundo silêncio e união com Deus. (…) Os meus pensamentos e o desejo que tenho de amar a Deus sobre todas as coisas fazem com que eu me sinta muito feliz. Outra parte da nossa vida é o amor às pessoas que conquistamos, mas é através do amor a Deus que amamos as criaturas; somente não devemos deixar que este amor seja maior que o amor a Deus”. Algumas de suas cartas confirmam a plenitude desta entrega ao Senhor, e revelam a autenticidade da vocação que escolhera. “Estou muito feliz. (…) O meu destino está nas mãos de Deus, mas desejo de todo coração servir sempre com humildade, no amor de Cristo”, escrevia a uma amiga, em março de 1988.









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