Por uma Maiêutica do Cangaço Por:Juliana Ischiara

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Alcino Costa e Juliana Ischiara, na bela Piranhas - AL

Oh! Céus, até quando vamos ser uma nação tão carente de heróis, porque será que temos a mania de querer fabricar aquilo que não nos foi permitido naturalmente? Até quando vamos continuar, como dizem os sábios e heróis de fato, os nossos sertanejos, “querendo entrar no céu a força”? Por que será que a preocupação dos nossos pares pensantes é rotular, conceituar em vez de analisar com neutralidade?

A cantilena é a mesma: mesmo depois de 72 anos de morte física do cangaço, Lampião,” herói ou bandido?”

Não nos preocupamos em entender o fenômeno social, mas a preocupação latente é apenas desvendar esta difícil dúvida, que assola ou povoa algumas mentes brilhantes. Herói ou bandido? E por falar nisso, convido todos a ler o livro de Dr. Antonio Amaury e Carlos Elídio, que tem exatamente este título, ‘herói ou bandido?’. Neste livro, os autores nos convidam à reflexão.

Fenômenos como conselheirista ou messianismo, cangaço, coronelismo, tenentismo, etc., etc., etc., surgidos e forjados no esteio social, político, econômico e cultural, que tem como pano de fundo uma complexidade tão maior, tão superior a rotulações, que se tornam reféns das análises caquéticas.

As volantes eram tão bandidas e tão criminosas quanto os cangaceiros, ressaltando que os cangaceiros se propunham ao banditismo mesmo, que não negavam suas intenções, que eram homens à margem da sociedade e que viviam na ilicitude. E as volantes? Pelo que me consta, estes homens tinham a obrigação de serem lícitos e probos, mas o que faziam? Assolavam os sertões com sua agressividade, sua violência e pilhando, não só os cangaceiros que tombavam sob suas miras, mas os sertanejos desprotegidos, à mercê de uma guerra que não era deles. Quantos homens e mulheres tiveram suas vidas ceifadas pelos cangaceiros e pelas volantes?

Se por um lado tínhamos os cangaceiros, oficialmente bandidos, por outro tínhamos as volantes, que ao invés de cumprirem suas obrigações enquanto promovedores da ordem social, cometiam os mais diversos crimes e atrocidades.

Juliana e o Portal de Entrada de Piranhas

Os sertanejos já não sabiam o que era pior e, muitos, até afirmaram em seus depoimentos aos pesquisadores, que preferiam os cangaceiros, pois estes eram mais amenos que os militares. O fato é que se existiram heróis, com certeza não foram nem os cangaceiros e muito menos os militares.

É verdade que muitos sertanejos foram vilipendiados pela sorte, porém, muitos outros buscavam se beneficiar da situação, tirando proveito dos dois lados, digo, das duas facções.

Acho que já passa da hora de pararmos de brincar de Indiana Jones e levarmos mais a sério a construção histórica, pelo menos a do nordeste brasileiro.

Reescrever é preciso, dado aos inúmeros fatos inventados ou vislumbrados por aqueles que vêem os fatos históricos com o coração, com paixão. Vamos ser mais racionais, mais neutros, deixando de lado nossas opiniões pessoais. Vamos deixar a história falar por seus próprios meios, pois nossa obrigação, enquanto pretensos pesquisadores, é tão somente facilitar a busca pela verdade, real ou algo que se aproxime dela. A maiêutica socrática.

Juliana Ischiara
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2 comentários:

Anônimo disse...

Minha cara Juliana,

Só teria a dizer que o teu texto está perfeito. Realmente as tuas ideias vão de encontro com as minhas, pois acredito que já passamos da fase de uma simples narrativa factual da vida dos cangaceiros, é preciso ousar, tentar entender a complexidade desse movimento buscando a imparcialidade e até mesmo a desconstrução dos ditos heróis.

Parabéns!

Prof. Wescley Rodrigues
João Pessoa - PB

Juliana Ischiara disse...

Caro Wescley,

Grata por suas palavras. A idéia e essa, imparcialidade, pois já é chegada a hora de tomarmos outros caminhos.

Saudações

Juliana Ischiara