Cariri Cangaço chega à 18ª edição na cidade de Exu


Reprodução na íntegra de entrevista prestada pelo Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo ao blog paraibano, Festar Muito, ao jornalista José Carlos dos Anjos Wallach.

Uma permanente busca pela história e pelas verdades do cangaço no Brasil. Esse é o fio condutor do Cariri Cangaço, um evento que se realiza anualmente desde 2009, reunindo historiadores, pesquisadores e, em muitos casos, testemunhas da atuação dos cangaceiros no Nordeste.
Ele explica que o Cariri Cangaço é um evento de cunho turístico-cultural e histórico-científico, que reúne os mais destacados pesquisadores e historiadores das temáticas cangaço, coronelismo, misticismo, messianismo e correlatos ao Sertão nordestino. “Em seu oitavo ano, configura-se como o maior e mais respeitado evento do gênero do país”, garante.Manoel Severo Gurgel Barbosa, fundador e curador do Cariri Cangaço, respondeu por email algumas perguntas do blog, contextualizando o evento e dando a exata noção sobre sua dimensão e objetivos.
As discussões de sua programação são conduzidas por personalidades locais, regionais e nacionais. São promovidos debates, palestras, visitas técnicas e acadêmicas, mostras de cinema e vídeo, exposições de arte e feiras literárias.
Itinerante, o Cariri Cangaço já passou por 19 cidades dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Alagoas e Sergipe desde 2009, quando realizou-se pela primeira vez.

Resultado de um sonho
O evento era um sonho recorrente de Manoel Severo quando garoto: “Desde menino me encantava com as histórias dos cangaceiros, suas sagas, aventuras, e notadamente o bando de Lampião; sem dúvidas o de maior destaque e de maior longevidade dentre todos. A motivação pelo fascínio daquele menino, ainda com seus oito anos de idade, pelo universo do cangaço, talvez se confunda com o fascínio que até hoje o cangaço desperta em todos os amantes e curiosos da temática”, explica o criador do evento.
Já adulto, ele focou a literatura sobre o cangaço e consolidou a paixão pelo tema: “Me dediquei a buscar novas fontes. Participar dos primeiros seminários seria inevitável, e assim aconteceu em Serra Talhada, Mossoró, Paulo Afonso. Nesse vai e vem por entre as terras pisadas por Lampião, acabamos por nos aproximar dos ‘vaqueiros da história’ e a partir dai resolvemos criar o Cariri Cangaço. Desde o primeiro momento recebemos o incondicional apoio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), e ainda de várias outras instituições tanto governamentais como não governamentais”, conta.
Hoje o Cariri Cangaço é mantido pelo Instituto Cariri do Brasil, uma entidade cultural de personalidade jurídica, e tem um Conselho Consultivo com 30 membros, pesquisadores das temáticas nordestinas. Também é apoiado pelos principais grupos de estudos do cangaço do brasil (SBEC – GECC – GPEC – GFEC), além de órgãos e instituições dos municípios que sediam o evento.

Só o debate
Manoel Severo explica que o evento não nasceu com o sentimento de fazer apologia ao cangaço, aos cangaceiros ou à violência, assim como não busca por elementos que endeusem Virgulino Lampião, ou qualquer outro personagem dessa saga nordestina, que classifica como “penosa e cheia de dor”.
O historiador reafirma que o sentimento que move a todos que fazem o Cariri Cangaço é o de criar um ambiente de debate e aprofundamento. Ele considera que o grande legado do evento é trazer luz a muitos dos aspectos desse tema controverso.

A entrevista:
Polêmica virou história
Festar – Qual a definição do Cariri Cangaço sobre a atuação dos cangaceiros no sertão nordestino? Há posicionamentos distintos que apontam os cangaceiros como bandidos comuns, outros que os colocam na condição de integrantes de um movimento que se rebelou contra injustiças dos senhores de posses na região: o que há de verdade nessas duas visões?
Severo – Costumamos dizer que a polêmica entre o caráter do cangaço, ou de Lampião: herói ou bandido, já faz parte de um tempo passado. Atualmente com o desenvolvimento de um novo olhar sobre o cangaço, principalmente com a chegada das universidades, temos a cada dia uma convicção mais lúcida de que Lampião e o Cangaço representam História e dessa forma precisam ser estudados e compreendidos. Certamente existem olhares e definições distintas, mesmo entre os maiores pesquisadores, mas até esses pensamentos distintos e controversos são importantes na direção da busca da verdade histórica.
Festar – E como a Paraíba se insere no mapa do cangaço nordestino?
Severo – Notadamente dentro do que chamamos de “primeiro reinado” de Virgulino Ferreira; entre os anos de 1922 e 1928; o estado da Paraíba veio a se consolidar como um dos cenários mais importantes das ações do bando mais famoso do cangaço. Municípios como Princesa, Sousa, Cajazeiras, enfim, se tornaram protagonistas de ações importantes de Lampião e seu bando. Personagens como coronel Zé Pereira, Marcolino Diniz, Clementino Quelé, Meia Noite, Sabino Gomes, dentre tantos outros confirmam a Paraíba como um dos estados centrais da ação de Virgulino.
Festar – O senhor, como estudioso do tema e pesquisador, vê algum link entre o cangaço vivido no início do século passado e situações vivenciadas hoje nas pequenas cidades do interior nordestino?
Severo – Temos uma tendência natural em estabelecer algum tipo de relação entre a violência da época do cangaço e situações vividas atualmente em alguns rincões de nosso sertão, entretanto, eu particularmente não acho conveniente esse tipo de comparação. Não se pode estabelecer nenhum tipo de similaridade entre o caráter de um fenômeno como o cangaço e a violência de hoje, são situações totalmente distintas, com origens efetivamente distintas e capilaridades também distintas. Não se pode ter uma visão míope sobre as duas coisas.
Festar – O próximo evento do Cariri Cangaço ocorrerá em Exu (PE). O que está programado? Qual a temática dessa vez? Qual a expectativa do número de participantes? Será apresentado lá algum estudo novo sobre o cangaço?
Severo – Sem dúvidas. Exu será nossa 18ª edição, o estado de Pernambuco que já realiza o Cariri Cangaço em Floresta e Nazaré do Pico, consolida sua presença no Cariri Cangaço com Exu e Serrita entre os dias 20 e 23 de julho deste 2017. Estamos trabalhando uma programação que possa contemplar a grandeza histórica e a tradição desses dois municípios. Teremos Conferencias sobre um dos maiores vultos históricos do Brasil, a heroína, filha de Exu, Bárbara de Alencar; sobre um dos mais emblemáticos conflitos familiares do Brasil, envolvendo as famílias Sampaio, Alencar e Saraiva; um momento importante sobre o Fogo da Ipueira dos Xavier, uma das mais importantes resistências a Lampião, acontecida em Serrita, e sem dúvidas estaremos também reunindo os maiores pesquisadores sobre o mais ilustre filho de Exu: Luiz Gonzaga. Realmente um grande inesquecível evento.
(*) Manoel Severo Gurgel Barbosa é fundador e Curador do Cariri Cangaço, Presidente do Conselho Consultivo, Diretor da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço; Diretor do GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará; Sócio Honorário do GPEC e do GFEC.
(José Carlos dos Anjos Wallach)
http://festarmuito.com/cariri-cangaco-chega-a-18a-edicao-na-cidade-de-exu/

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