Morre o coronel Joaquim Wolney Por:Alcino Costa

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O então presidente (governador) de Goiás, o desembargador João Alves de Castro, pressionado por Ramos Caiado, envia uma tropa militar composta de 60 soldados para o Duro. A soldadesca e seus chefes se abalam para os cafundós da Serra Geral. Estão acompanhados do juiz Celso Calmon Nogueira da Gama e do promotor Francisco de Borja Mandacaru de Araújo. O comando está sob a responsabilidade do tenente Antônio Seixo de Brito e dos alferes Catulino Antônio Viegas, Ulisses de Almeida e Francisco Sales.A tropa e a comissão, após estafante jornada, chegam ao Duro. Arrogantes, os militares e os representantes da justiça se aquartelam nas duas mais importantes residências da povoação, duas casas dos Wolney, a casa grande da esquina e o sobrado.Joaquim e Abílio são avisados. Estão precavidos. Esperam, fortificados, em seu famoso reduto, a fazenda Buracão. Os jagunços e cangaceiros mais destemerosos da região ali estão. Todos fortemente armados, preparados para o sangrento embate. Uma verdadeira praça de guerra. O clima é de angustiante espera.

A discórdia surge no seio dos do governo. O juiz desconfia do promotor. Dizem ser ele amigo dos Wolney. Mandacaru é substituído. Em seu lugar assume o intendente de Natividade, coronel Diocleciano Nunes da Silva. Raivoso, em virtude da punição injusta que recebera, o promotor faz chegar aos dois coronéis caçados, a informação terrível. A tropa viera com ordem de assassinar os dois, pai e filho. O passar dos dias demonstra um quadro diferente. Uma trégua que ninguém julgava acontecer está reinando. Alguns soldados adoecem e são tratados pelo genro do coronel Abílio, o único médico da terra, o doutor Abílio Faria. O juiz mostra-se preocupado em fazer retornar a paz no povoado e toma uma decisão importante. Deseja visitar os coronéis. É o que faz. É gentilmente recebido. O trato que lhe dão é especial. Alegre, o magistrado diz que sua principal missão é pacificar e tranquilizar o Duro e suas famílias, e para que tudo isto aconteça é necessário que pai e filho devolvam o inventário de Vicente Belém e efetue o desarmamento da jagunçada. O velho Joaquim, com suas barbas longas e brancas como a neve, simpatiza e acredita na importante autoridade. O seu filho pensa o contrário. Não gosta e não confia no representante da justiça. A habilidade do juiz domina o coronel dos Gerais. O inventário é restituído. Os jagunços são dispersos. A paz voltará aos lares do Duro.Puro engano.

Ana Lúcia e Alcino Alves da Costa

Nem o juiz e nem as autoridades governamentais cumpriram o que foi acertado com Joaquim Wolney. Foi feito justamente o contrário. É decretada a prisão de Joaquim e Abílio. A decisão judicial é entregue ao coitado do oficial de justiça (Justino Pereira Bento) que treme como se atacado repentinamente pela mais severa maleita. Só em pensar que será obrigado a levar aquela ordem maldita aos poderosos e temidos coronéis do Buracão, seu corpo se desmancha em suor. Mediante o pavor de Justino, a autoridade judicial manda o tenente Antônio Seixo de Brito, acompanhado pelos alferes Sales e Catulino e mais trinta soldados, para o cumprimento da ordem.

Ainda muito cedo, antes do nascer do sol, o oficial de justiça e a tropa se acercam da casa-grande.Naquela madrugada, o coronel, como sempre fazia, estava indo para o seu principal divertimento, caçar. Acompanhado de um fiel cabra, o destemido Antônio Caboclo, o velho, com suas longas barbas alvejantes, cavalga em seu cavalo de estimação, andeja pelo canavial. Imaginava está indo para uma outra sua fazenda – Açude. Ledo engano. Não. Não estava. Estava viajando para a eternidade.Na semi-escuridão divisa os soldados que o cerca, grita:- Meu filho! Estamos cercados.Do Buracão, Abílio escuta o grito do pai. Ainda está deitado. Levanta-se agoniado. Apanha rápido a “Winchester”, calibre 22, e tenta salvar o genitor.  Outros gritos ecoam no silêncio daquela pavorosa madrugada:- Me socorra, meu filho! O lendário coronel estava sendo barbaramente assassinado. Alucinada, a soldadesca do tenente Brito varava o corpo do ancião e de seu fiel escudeiro a tiros, facadas e coronhadas. Queriam mais. O coronel teria que ser humilhado naquilo que ele tinha de mais sagrado em seu corpo. A barba. E como se fossem verdadeiras feras puxam, com brutalidade, os fios da venerável barba branca do senhor daquelas paragens dos Gerais goianos.

A repercussão do covarde assassinato de Joaquim Wolney e o desfecho no Duro, aguardem a próxima postagem...

Alcino Alves da Costa
O Decano, Caipira de Poço Redondo
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2 comentários:

José Mendes Pereira disse...

Um Excelente texto.
Vamos dar continuidade a nossa história?

José Mendes Pereira - Mossoró-Rn

Julio Cesar disse...

Alcino...
Seus textos são deliciosos de ler.
Essa história está fascinante e estou ansioso para continuar a ler.

Um grande abraço meu amigo...