Nos Porões de Izaias Arruda Por:Bosco André

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Meu caro amigo Severo e companheiros de Cariri Cangaço, há uns tres meses recebemos aqui em Missão Velha a equipe de filmagem da mini-série "Sedição de Juazeiro". na oportunidade passamos alguns dias acompanhando a competente equipe que tem entre seus produtores o grande pesquisador e documentarista do cangaço Aderbal Nogueira.

Entre uma gravação e outra acabamos fazendo uma nova visita a Casa de Izaías Arruda, bem no centro de Missão Velha. naquela ocasião Aderbal com a competência que lhe é peculiar realizou o registro histórico de um dos lugares mais inusitados da edificação: Os famosos porões da casa de Izaias. Certamente todos os amigos se deleitaram com a matéria que Aderbal enviou para este mesmo blog do Cariri Cangaço, quem desejar ver novamente é só procurar no índice lateral e conferir.

Grupo de Izaias Arruda, o segundo à esquerda Zé Gonçalves

Pois bem, após a maravilhosa postagem de Aderbal , aqui em Missão Velha já começaram a aparecer  histórias e personagens que passaram ou fizeram parte da história dos famosos porões de Izaias. Hoje trago um episódio verídico e que por questões éticas não poderia declinar nomes. Mas vamos aos fatos.

Pelos idos de 1940 quando ainda existiam e eram respeitadas as chamadas "mangas de solta de gado" em cima da Serra do Araripe, que eram respeitadas desde remotas datas, ainda em épocas do cel. Franscisco Mascarenhas de Quental; época em que quem tinha alguma propriedade ao sopé da serra, era o detentor supremo de suas frentes até o limite de seu município. Então um determinado senhor de terras, abastardo , rico e poderoso, cercou as frentes dos sitios Bodó, Varzinha e Santa Rosa, então propriedades do senhor José Gonçalves de Lucena, outrora lugar tenente de Izaias Arruda; que de imediato preparou a desforra.

Zé Gonçalves Lucena

Enviou um compadre de sua inteira confiança, sr. Zé Ruberto, até o município de Jardim e ali foram arregimentados cerca de 80 homens para a destruição da referida cerca e consequente queima da madeira da  mesma, assim foram compradas 3 caixas de machado para a empreita da desforra, que deveria acontecer altas horas da madrugada e ao amanhecer do dia tudo estava consumado.

Os próximos passos ao fim do episódio foi uma representação judicial do rico proprietário contra Zé Gonçalves Lucena e seus homens, e dentre esses os principais cabeças, entre eles, o meu "entrevistado", que acabou sendo usado como uma espécie de bode expiatório, na época, pasmem, com apenas 12 anos de idade, mas escolhido como isca para pegar os "peixes graúdos". Fato consumado  o garoto de 12 anos foi tocaiado em uma vereda que levada à sua casa pelo inspetor de quarteirão , Manoel Fidelis e mais 10 homens. O menino matreiro e vivido, apesar da tenra idade, ao ser conduzido a delegacia, disse que precisava pelo menos avisar a sua mãe. Assim foi feito, levado à presença da mãe no sítio Bodó, quando abriram a porta o menino foi impedido de entrar em casa, deu um salto para dentro e acabou derrubando o delegado, no que sua mãe trancou a porta e ameaçou aos homens do delegado para que entrassem para vir tirar o menino de sua casa.

Bosco André

Ato contínuo chega o pai do garoto, também homem de confiança de Zé Gonçalves e o inspetor e seus homens se retiram da propriedade. O resultado desse episódio todo foi que o referido garoto, meu "entrevistado" e seu pai precisaram passar mais de 15 dias escondidos da polícia e da justiça, adivinhem onde? Pois é, dentro dos famosos Porões de Izaias Arruda, na época já pertencentes a José Gonçalves. Abração a todos e em setembro todos vamos fazer uma nova visita aos Porões durante o Cariri Cangaço.

Bosco André
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4 comentários:

ADERBAL NOGUEIRA disse...

GRANDE BOSCO, O QUE SERIA DE NÓS SEM A SUA PRESTIMOSA COLABORAÇÃO E CONHECIMETO. OBRIGADO PELAS AULAS DADAS A ESSE SEU ADMIRADOR E AMIGO. SAIBA QUE AINDA VOU ABUSAR MUITO DE SEU SABER, POIS QUEM BEBE DA FONTE NÃO CANSA DE TANTO APRENDER.
ADERAL NOGUEIRA

OBS: NUNCA COMI UM DOCE TÃO BOM EM TODA MINHA VIDA. PARABÉNS.

pedro luís disse...

BOSCO ANDRÉ, MEMÓRIA VIVA DA HISTÓRIA CARIRIENSE!!!

Anônimo disse...

Beleza de comentário - parabens. Abraço - Alfredo Bonessi - GECC -SBEC

José Mendes Pereira disse...

O que é escrito pelo pesquisador Bosco André, é sempre bem elaborado e muito interessante o que se ler.
Sou um dos fãs das suas histórias bem contadas.

Não por inveja, mas eu queria muito ter a falicidade que tem o Bosco André de redigir.

José Mendes Pereira - Mossoró-RN