Bruno Paulino
Fui pela primeira vez em Canudos
em 2007, assistir o espetáculo Os Sertões,
montado pelo diretor teatral José Celso Martinez. Era um jovem de 17 anos
querendo compreender alguma coisa do livro vingador de Euclides da Cunha, que
eu vinha lendo desde que me entendi por gente. Outra vez fui numa excursão, dez
anos depois, com um grupo de amigos no ano de 2017. Todas essas viagens tiveram
significados muito particulares para mim. Então, por isso, pela terceira vez,
visitei a cidade de Canudos na Bahia. Uma terceira expedição de amor àquela
cidade. Continuo, como pesquisador e sujeito, em busca do mistério daquele
lugar, sagrado para uns e maldito para outros tantos. Quando assunto é
Conselheiro e Canudos, creio que somos todos sempre meros principiantes.
Lá estive no último fim de semana
participando da I Feira Literária de Canudos-BA (22,23 e 24 de novembro, de
2019), estiveram reunidos no evento os maiores pesquisadores do tema Antônio
Conselheiro e Canudos no Brasil: Pedro Lima Vasconcelos, Luitgarde Oliveira,
Sergio Guerra, Fabio Paes, Aleiton Fonseca, Antônio Olavo, Evandro Teixeira, Oleone
Coelho e o cantor Jereba dentre outros.
A feira foi um sucesso, sem dúvidas, pois conseguiu o nobre objetivo de
envolver parte significativa da comunidade canudense, sobretudo, fiquei feliz
de ver a participação das crianças expondo seus trabalhos através da
flicanzinha, emocionante.
Paula Georgia e Bruno Paulino
Saímos de Quixeramobim na madruga
às três horas da manhã da sexta, 22. Embarcaram comigo nessa aventura os
amigos: Pedro Igor, Rabelo, Paula Georgia e Neto Camorim. No caminho conversas
diversas, o som moderno dos Novos Baianos alternando com a melodia amorosa e
saudosista das canções de Roberto Carlos; a paisagem sertaneja e muita estrada
pela frente. Chegamos em Canudos quase duas da tarde, antes almoçamos no
distrito de Bendengó, a terra onde caiu o meteoro que no ano passado foi uma
das poucas peças a resistir ao incêndio no museu nacional, mais simbólico
impossível.
Na sexta à tarde ainda assistimos
algumas mesas-redondas e conferências, visitamos uma exposição e compramos
livros, pegamos o sol se pondo lindo do mirante onde está assentada uma estatua
do Conselheiro que abençoa a cidade; e definitivamente não existe por do sol
mais bonito que o de Canudos. À noite uma banda de pífanos se apresentava no
palco principal do evento – uma tenda de circo improvisada - enquanto eu
comprava artesanatos. Logo depois nos jardins do memorial, escambei alguns de
meus livros com outros autores entre conversas e troca de contatos de whatsapp.
Entrega do Diploma do Cariri Cangaço ao Professor Luiz Paulo Neiva em Canudos
A noite fechou magicamente com um show de Fabio Paes cantado clássicos de Canudos e outros Cantos do Sertão, foi nesse momento que ao lado dos escritores; Oleone Fontes, Pedro Igor e Zé Bezerra entregamos com muita honra e de forma solene, o Diploma do Cariri Cangaço ao Curador da FLICAN, professor Luiz Paulo Neiva; em representação a Manoel Severo e toda a família Cariri Cangaço, como o primeiro passo para realizarmos o grande Cariri Cangaço Canudos em 2021 !!!
Sábado de manhã, 23, visitamos o
Parque Estadual de Canudos, guiados pelo professor Neto Camorim, que já fez
inúmeras visitas ao parque. Emocionei-me, sobretudo, ao ver o marco denominado
“Outeiros de Maria” para homenagear as mulheres canudenses vitimas do massacre
republicano, que durante a guerra, às seis da tarde, se reuniam para rezar,
entoar ladainhas e incelenças. Não preciso e nem quero lembrar o triste destino
que muitas delas tiveram após a guerra.
Outra alegria que tivemos foi
reencontrar dentro do parque, as margens do Cocorobó, com o professor Pedro
Lima Vasconcelos, que me presentou com seu trabalho Antônio Conselheiro por ele mesmo, onde recupera os manuscritos do
beato. O professor comentou conosco que está escrevendo um novo trabalho que em
breve virá a publico, como o sol estava insuportavelmente quente a conversa não
se prolongou.
Saindo do parque fomos ao
jorrinho, um balneário local, almoçamos um “bodinho baiano” e peixe com baião
de dois. De lá partimos para ver o jogo do Flamengo, com o amigo Pedro Igor, flamenguista
dos mais doentes. Findado o jogo só festa. Canudos estava feliz como todo o
resto do Brasil pelo titulo do time brasileiro em cima do River Plate, mesmo
não torcendo pelo rubro-negro guardarei para sempre essa lembrança comigo. Para
findar a noite um show sensacional de Gereba, entoando os versos: “... A história fará sua homenagem à figura
de Antônio Conselheiro...”. Domingo de manhã, antes de
retornar à Quixeramobim, visitamos Canudos Velha e enquanto olhava para o
pequeno museu histórico, montado por seu Manoel Travessa, lembrei-me do filme
Bacurau, e era impossível não pensar: Canudos
é hoje! Pegamos a estrada no caminho de volta. Canudos, até breve, volto
outra vez!
Bruno Paulino, Quixeramobim-Ceara
Pesquisador, poeta e escritor
27 de novembro de 2019
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