Autoritarismo x Capitalismo no Tempo do Cangaço, Por: Carlos Eduardo Gomes

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Lívio, Carlos Elydio, Valdir, Vilela, Amaury, Carlos Eduardo e Severo
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Por volta de 1936 o turco Benjamim Abrahão, teve a brilhante idéia de registrar em imagens o cotidiano do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o conhecido cangaceiro Lampião. Pesquisadores do assunto acreditam, que naquele momento esse senhor tentava obter lucro com a venda dessas imagens, uma coisa que muita gente não vê com bons olhos, classificam esse desejo de resultados materiais como ambição, uma condição vista por grande parte da sociedade como negativa. Abrahão, quando teve a idéia de filmar o grupo e saiu em busca de financiamento e apoio técnico para seu projeto, talvez não estivesse consciente de criar um registro para a história, certamente não queria ameaçar o Governo Federal, no entanto, teve seu material confiscado pela censura do regime autoritário de Getúlio Vargas, que sentiu-se desafiado pelo atrevido imigrante e seu filme.
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Benjamim Abrahão
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Apesar da violência aplicada pelo censor, aquilo que inicialmente era uma tentativa de fazer dinheiro e ganhar notoriedade, um legitimo direito da livre iniciativa, acabou virando uma preciosidade histórica, por serem as únicas imagens em movimento de Lampião e seu bando, registrando sua indumentária, pequenos hábitos, e características. A censura da época considerava estar agindo em defesa do interesse nacional, os tecnocratas usando do autoritarismo concedido pelo regime daquele tempo, apreenderam e ocultaram essas fitas sem nenhuma preocupação com a preservação desse material. Sem nem se dar conta que estariam subtraindo da história regional e do Brasil, um registro tão importante. Pensavam apenas nos resultados imediatos, preservar o poder e o controle de qualquer forma.
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Banjamim Abrahão e o Rei dos Cangaceiros, 1936
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Os pesquisadores da história de Lampião, podem agradecer a ambição de Benjamim Abrahão, representante nesta circunstância, do capitalismo tão criticado, por terem a chance de ver um pequeno trecho recuperado de sua obra e com isso conferir informações que poderiam ser consideradas imprecisas na ausência do filme. Dá para imaginar como seria bom termos o trabalho completo?
Quem julgava estar agindo com nobreza nesta ocasião eram os censores, no entanto, hoje a história não avalia tão bem o ato do autoritário regime nacionalista contra o aventureiro do cinema, o especulador.
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A censura não é uma coisa do passado, infelizmente continua presente, muitas vezes disfarçada, aniquilando idéias e diminuindo a importância daquilo que os donos do poder não consideram útil. A autoridade do líder deve ser conquistada sabendo ouvir, ponderar e decidir. A liberdade de opinar e agir dentro das normas estabelecidas é fundamental para garantir o desenvolvimento. É preciso entender que a criatividade e o progresso são frutos da liberdade de dizer o que pensa, de criar, as vezes o que a princípio não parece tão útil, mas se o homem não ousar ficaremos condenados ao que temos hoje.
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Dona Fátima, Carlos Eduardo, Pereira, Peixoto Junior, Paulo Brito, Severo e Napoleão Tavares Neves
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Adam Smith escreveu no "A Teoria" a famosa observação que ele repetiria mais tarde no "Riqueza das Nações": que os homens interesseiros, egoístas, são freqüentemente "levados por uma mão invisível sem que o saibam, sem que tenham essa intenção, a promover o interesse da sociedade". Isto porque, havendo liberdade, o lucro dependerá da livre concorrência em apresentar ao público aquilo que o público espera de melhor.
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Carlos Eduardo Gomes
Sócio da SBEC
Rio de Janeiro-RJ
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3 comentários:

Anônimo disse...

Senhor Carlos Eduardo, concordo plenamente com o senhor, mesmo movido pelo espírito comercial, o Turco Benjamim acabou trazendo uma contribuição imensaurável para todos que pesquisam a história do cangaço e do nordeste.
parabéns pela matéria.
Abração me amigo Severo.

Dilsinho - Fortaleza

Anônimo disse...

Severo, é uma satisfação contribuir com seu trabalho, mesmo que de forma modesta. Infelizmente nao sei escrever, mas me esforço para apresentar meus pontos de vista. Escrevi um comentário num dos artigos publicados no blog, comparando o Cariri Cangaço com a música "New York, New York", que diz que a cidade nunca dorme. Pois é assim que vejo o blog e o blogueiro, nunca dormen e os visitantes da página têm sempre um artigo novo, uma foto original, que despertam a vontade de comentar e participar. Parabéns pela continuidade do Cariri Cangaço. Em setembro de 2009 ele aconteceu ao vivo no Ceará, mas continua acontecendo continuamente na internet, para todo o Brasil e o mundo.

Um grande abraço,
Carlos Eduardo Gomes.
Rio de Janeiro

Anônimo disse...

É isso aí, e não pode dormir mesmo, rsrsrs
Se não a desconstrução cultural acaba com nossas tradições e nossa historia.
valeu

Rita Novaes-Fortaleza