Nação Kariri e a "Mãe do Belo Amor" Por:Manoel Severo

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Praça do Cristo Redendor, em Crato
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Muitos vieram ao Cariri pela primeira vez. Crato, uma de nossas anfitriãs do Cariri Cangaço, maravilhosamente situada ao sopé da Serra do Araripe é também berço da Nação Kariri. Os Kariris eram um povo bravo, porém quieto, característica que acabou por batizá-los: Kariri no falar de Porto Seguro, significa: Calado, tristonho, sincero. Irineu Pinheiro em sua obra "O Cariri" diz que a palavra Cariri é oriunda de CAA (Mato) e IRA (Mel), ou CAI (Queimado), IRA (Mel) ou RIRÊ (Depois que). Os índios Cariris eram originários da Ásia e chegaram ao novo mundo pelos rios Amazonas e Tocantins.
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O cineasta Rosemberg Kariri nos traz com muita propriedade as origens desse povo forte e marcante; "Nação Cariri (Kariri ou Quiriri), os primitivos habitantes do Vale do Cariri e dos sertões nordestinos, do Rio São Francisco à Serra da Borborema, segundo versão de Capistrano de Abreu, provieram de “um lago encantado”, provavelmente do Amazonas ou Tocantins, sendo expulsos dessa região como do litoral pelos Tupinambás e Tupiniquins.Como se vê, a água era predominante na cultura desses silvícolas. Era tradição serem de uma bravura e ferocidade estupenda, e como símbolo e troféu dos seus feitos épicos e homéricos, se ornamentavam com dentes de tubarão, jacaré e onça.
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Os colonizadores, na sua gana predatória de domínio dos campos de criação de gado, tentaram eliminá-los nas chamadas “guerras justas”, cujos embates se alongaram de 1683 a 1713, nos cruentos e desumanos combates, conhecidos historicamente como “Confederação dos Cariris” ou a “Guerra dos Bárbaros”. E os conquistadores só conseguiram dominá-los e massacrá-los, graças ao esforço ponderável dos bandeirantes paulistas, em gente, armas e municiamento. Foi uma guerra de extermínio, autêntico genocídio, como se costumava realizar à revelia da lei e dos princípios éticos e humanitários, nas novas terras descobertas."
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E continua Rosemberg, "Os remanescentes da tribo dos índios Cariris, alocados no Vale Caririense, trouxeram codificada, na sua sensibilidade, intuição e memória, a evocação da imensa Bacia Amazônica, das suas enchentes devastadoras, e não foi difícil à sua fértil imaginação idealizar que todo o Vale Caririense fosse um mar subterrâneo, com imenso caudal represado pela Pedra da Batateira; e precisamente onde hoje está situada a Matriz de Crato fosse a cama da baleia ou “Iara”, a Mãe das Águas, e que, um dia, a Pedra da Batateira rolaria, e todo o Vale Caririense seria inundado, e ninguém conseguiria sobreviver.
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Os primeiros missionários que catequizaram os índios Cariris, no primeiro quartel do século XVIII, deixaram como lembrança uma imagem de Nossa Senhora, esculpida em madeira, com 40 centímetros de altura, tendo o Menino Jesus nos braços, a quem deram o nome de “Mãe do Belo Amor”, para atenuar os temores fatídicos da lenda e substituir os maus presságios da “Mãe das Águas” pela proteção carinhosa e afetiva da “Mãe do Belo Amor”. E a imagem foi colocada exatamente sobre uma pedra do Rio Granjeiro, debaixo de um nicho de palha. Quando da instalação da Paróquia, mais tarde, a imagem passou a ser venerada com a invocação de Nossa Senhora da Penha, por duas circunstâncias históricas: o fato de ela ter sido colocada sobre uma rocha, e de que os capuchinhos que construíram a capela de palha, onde se encontra a Igreja-Catedral, eram de origem francesa, donde a singularidade da denominação de “Nossa Senhora da Penha de França”.Outra versão lendária é a de que os índios vencidos, em lutas anteriores, haviam “encantado” (tampado) a grande nascente da Chapada do Araripe com a Pedra da Batateira, e que as águas acumuladas, no subsolo, acolhiam uma serpente sagrada, que faria deslocar a pedra, e todo o Vale do Cariri seria inundado, e que os índios Cariris voltariam a ser uma nação livre, senhores do mar, viveriam na paz e tranqüilidade de um Paraíso."
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Catedral da Sé, em foto de Dihelson Mendonça

Crato foi fundada em 1764. É considerada a Capital da Cultura do Ceará e conhecida como a Princesinha do Cariri. Possui cerca de 120 mil habitantes. Cercada pela deslumbrante Chapada do Araripe, com altitude de 430 metros e clima ameno, Crato é destino certo para quem deseja desfrutar das belezas e da tranqüilidade que a natureza pode oferecer.

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Seminário São José


NOTA DO CARIRI CANGAÇO: Texto contendo transcrições do livro "Eu sou a Mãe do Belo Amor" de Padre Antonio Vieira. Rosmberg Kariri, é cineasta, produtor e diretor de "Corisco e Dadá".
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3 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional Texto.
Muito bom mesmo.

Professor Mario Helio

Anônimo disse...

Prezados senhores,
Quando nos deparamos com a história cruenta da colonização de nosso Brasil, remontamos a dor do absurdo praticados pelo "povo civilizado", à exemplo do resto de nossa pátria, a nação Kariri, dizimada em nome do já naquela época forte sentimento mercantilista do imperialismo europeu, travestido de "missões de fé".
Ter a lenda da Batateira fazendo parte do dia a dia de nosso Cariri e demosntrar o verdadeiro respeito pelo povo que aqui morou e cuidou tão bem destas terras maravilhosas ao sope da Chapada.

Professora Ana

Anônimo disse...

mucho bom