Morre Antonio Ferreira, Por:Antonio Amaury



Virgulino Ferreira e Antonio Ferreira

Era começo de Janeiro de 1927. Antônio Ferreira, junto de Luiz Pedro, Jurema e um outro rapaz, estava acoitado pelo coronel Ângelo da Gia, na fazenda Poço do Ferro, e jogavam baralho. Luiz Pedro estava numa rede e Antônio em pé. Antônio estava perdendo muito no jogo, enquanto disse a Luiz:

-Luiz, você está sentado nesta rede há muito tempo! Agora deixe que eu me sente um pouco aí.

O rapaz segurando o cano do fuzil, ao apoiar-se para levantar, bateu com a coronha no chão. A arma, destravada, disparou a bala que atingiu Antônio em cheio. Este, antes de cair, só teve tempo de falar:

-Matou-me, Luiz.



Luiz Pedro e Nenem, sua companheira

Lampião, que estava longe, ao receber a notícia, passou a noite na cavalgada para acertar-se do ocorrido na fazenda de seu amigo Ângelo. Perdera assim mais um irmão em sua história de cangaceiro, por um acidente estúpido. Ouviu e concordou com o parecer do próprio coronel sobre o acidente. Jararaca, um dos chefes cangaceiros, no entanto, propôs que todos os envolvidos pagassem com a vida, por não acreditar que se tratasse de um acidente. Ao saber que seria perdoado, Luiz fez um juramento a Lampião, que passou para a história.

-Seu capitão... O senhor poupou minha vida. Eu juro acompanhá-lo até o fim. No dia em que o senhor morrer, eu morro também!


Antonio Amaury entre Severo e Danielle Esmeraldo

A partir desse dia, Lampião decidiu proibir qualquer um de seus comandados de portar arma com balas na agulha. Também em sinal de luto, deixou de cortar os cabelos, que foi seguido por quase todos do grupo; afinal ele era um líder, em todos os sentidos, inclusive como exemplo a ser seguido nas coisas mais simples.

Antonio Amaury Corrrea de Araujo
Carlos Elydio

NOTA CARIRI CANGAÇO: A morte de Antonio Ferreira, irmão mais velho do líder Lampião se configura sem dúvidas um dos episódios mais pitoresco e marcantes da história do cangaço. De fato, Luiz Pedro acabou tombando no fatídico 28 de julho de 1938, em Angico, quando perderam a vida, Lampião, Maria e mais 8 companheiros.

18 comentários:

Anônimo disse...

Doutor Amaury, existe a versão que Luiz Pedro já havia saido do cerco em Angico e ouviu alguém lhe provocar quanto à essa dita "promessa" feita por ocasião da morte de Antonio Ferreira; daí ele haver voltado e morrer junto com o Lampião.
Essa versão é verdadeira, quem acabou chamando Luiz Pedro, no meio daquela confusão seria possível perceber algo do gênero..
pergunto ao mestre.

abraços de feliz 2010

Assis -Fortaleza

Unknown disse...

Caro Assis,

De fato esta é a versão correta (ao menos segundo informações de diversos presentes). A referida "provocação" (ou cobrança, melhor dizendo) foi feita por Maria Bonita.

Feliz 2010,

Antonio Amaury

Unknown disse...

Vale dizer que os fatos narrados, com relação ao episódio acima descrito, foram colhidos por mim junto de Isaias Vieira, cangaceiro vulgo Zabelê, que participou da cavalgada e do diálogo entre Luiz Pedro e Lampião.

Vale dizer que o cangaceiro que desejou matar os 3 participantes foi Sabino.

AInda para enriquecer um pouco mais a postagem acima, o nome do coronel Angelo da Gia era Ângelo Gomes de Lima, dono da fazenda Gia, que lhe empresta o apelido.

Anônimo disse...

Doutor Amaury, muito obrigado pela atenção do senhor em prontamente nos atender, muito obrigado mesmo.

Assis - Fortaleza

Anônimo disse...

Pessoal o Luiz Pedro chegou a ser considerado pelo próprio Lampião como o seu "novo irmão" depois da morte de Antonio Ferreira e mesmo tendo sido o causador do sucesso?

Lima Junior - Fortaleza

Unknown disse...

parabéns e obrigado pelas informações minunciosas à alguem que se interessa pela história do cangaço.

Augusto
Ipueiras-Ce

José Mendes Pereira disse...

Escritor Antonio Amaury: Eu já tinha conhecimento sobre esta morte feita por Luiz Pedro, mas não sabia o certo. Agora tomei conhecimento como ocorreu o assassinato de Antonio Ferreira. José Mendes Pereira - Mossoró - Rio Grande do Norte.

José Mendes Pereira disse...

Antonio Amaury: Por que os senhores escritores não colocam foto da cangaceira Lídia de Zé Baiano? José Mendes Pereira - Mossoró - Rio Grande do Norte

José Mendes Pereira disse...

Ilustre escritor: Não sei se me é dado o direito de falar um pouco sobre a minha Mossoró, em relação à morte cruel e desumana de Jararaca. Os fortes e corajosos homens que combateram Lampião, foram uns verdadeiros heróis. Mas mesmo, talvez, sem direito a protestar o que fizeram com o cangaceiro, tenho a lhe dizer que as autoridades, as quais deveriam ter protegido o facínora, findaram sendo mais cruéis do que mesmo os homens fora-da-lei. Veja este depoimento, o qual o senhor escritor já falou: Segundo o escritor e jornalista mossoroense, Geraldo Maia, que no depoimento baseado que Pedro Sílvio de Morais, um dos integrantes da escolta que matou o cangaceiro, fez ao historiador de Mossoró, Raimundo Soares de Brito, dizia o depoente: “-Pelas onze e meia horas da noite, de um luar claro e frio, do mês de junho, uma escolta composta de oficiais, sargentos e praças, conduziu em automóvel o bandido, dizendo que ele iria a para Natal. No momento da saída e ao dar entrada no carro, Jararaca disse que tinha deixado as alpargatas na prisão, e pediu ao comandante para mandar buscá-las, pois não queria chegar na capital com os pés descalços. O tenente-comandante então disse que em Natal lhe daria um par de sapatos de verniz (palavras que o senhor já falou em seu texto). Quando os automóveis pararam no portão do ccemitério,Jararaca interrogou: - Mas isto aqui é o caminho de Natal? Como resistisse descer do automóvel, um soldado, empurrando-o, deu-lhe uma pancada com a coronha do fuzil. No cemitério, mostraram-lhe uma cova aberta lá num canto, e um deles perguntou-lhe: -Sabe para que é isso? -Saber de certeza não sei não, mas, porém estou calculando. Não é para mim? Agora, isso só se faz porque me vejo nestas circunstâncias, com as mãos inquiridas e desarmadas! Um gosto eu não deixo para vocês: é se gabarem de que eu pedi que não me matassem. Matem! Matem que matam, mas é um homem! Fiquem sabendo que vocês vão matar o homem mais valente que já pisou neste... Mas o Jararaca não teve tempo de dizer o que queria. Um soldado, por trás dele, deu-lhe um tiro de revólver na cabeça. Ele caiu e foi empurrado com os pés para dentro da cova". Que maldades fizeram com o cangaceiro! Ele era desumano? Era. Mas não deviam ter feito tamanha atrocidade com o rapaz. Na minha opinião, Mossoró foi heroína e covarde ao mesmo tempo. José mendes Pereira - Mossoró - Rio Grande do Norte.

celso do rio de janeiro disse...

caro antonio amaury sabendo que vc e a maior autoridade sobre lampiao que existe no brasil gostaria de sanar uma duvida que nao consigo nem aqui na web quem foi que gravou a cança cujos os versos sao quem disser que o amor nao mata nunca teve uma paixao o amor mata mais gente dos que os cabras de lampiao gostaria tambem do nome da musica celso do rio de janeiro agradeço pela atenaço

Anônimo disse...

caros amigos,tire uma dúvida esse fato ocorreu mesmo com antonio,ou com o outro irmão de lampião livino?abraços

Cllau disse...

É vdd que esse irmão de lampião virou mestre da jurema sagrada e hoje é conhecido como mestre José Buíque?

BOLSONARO PRESIDENTE disse...

Levino morreu em 1925 e Antônio Ferreira morreu em 1927

Unknown disse...

Parabéns Antônio Amaury falar sobre a história do cangaço sou fã de Lampião

Unknown disse...

Boa noite! Se possível alguém sabe falar quem era o pai de Antônia Ferreira irmão de Virgulino e também o porquê de Antônio Ferreira ter matado José Nogueira?

Dalto Motta disse...

Boa noite, lendo o livro " No tempo de Lampião" de Leonardo Mota, essa passagem é contada de maneira diferente, onde os cangaceiros envolvidos com a morte de Antônio, são assassinados sumariamente por Lampião e Sabino...

Anônimo disse...

Acredito que Antônio Ferreira não foi morto como contam!
Acredito que queria sair do bando, e por esse motivo foi criada essa história de morte, evitando assim perseguição!
Antônio Ferreira saiu do bando e passou a viver no Ceará, trabalhando como sapateiro, casando e constituindo família!
Lampião confiava desconfiando de qualquer pessoa e qualquer pessoa ficaria no mínimo indignado com alguém que matou seu irmão mais velho, e jamais lhe presentearia com o título de irmão!
Tem muita história sendo replicada sem estudo!
...

Lucas Barbosa disse...

Saudações fraternas a todos. O trabalho do Dr. Antônio Amaury fora imprescindível para a literatura e historiografia do cangaço. Embora com pouquíssimo tempo de estudos, eu imagino que tenho o direito de opinar leniente e amistosamente conforme as minhas pesquisas. No livro de Luiz Rubem, "Lampião em 1926", há uma reportagem de jornal, do final do ano de 1926, noticiando a morte de Antônio Ferreira. Todas as informações conferem com a asserção sobre a morte do irmão mais velho de Lampião, a única ressalva que eu faria seria à data da morte. Eu, por muito tempo, imaginava que, de fato, Antônio morrera no início de janeiro de 1926, mas depois de ver a notícia, eu imagino que Antônio Ferreira tenha morrido como nos mostrou o ilustre e saudoso Dr. Amaury, no entanto, teria sido em dezembro de 1926 e não em janeiro de 1927. Estou sujeito a dissuadir-me desta opinião, mas faço-a com máxima venha ao legado de Dr. Amaury e a inúmeros pesquisadores.